sexta-feira, 24 de agosto de 2018

At 12.1-19 Mas... a conjunção divina





Introdução.
1o. momento: A conjunção bendita: At 12.5

O contexto de Atos 12 não podia ser mais lúgubre.
A igreja encontra-se dispersa desde a perseguição que os juDeus deflagraram em At 8.1. Quando Herodes percebeu que perseguir os cristãos gerava trunfos políticos, ele mesmo assumiu este encargo. “Por aquele tempo, mandou o rei Herodes prender alguns da igreja para os maltratar, fazendo passar a fio de espada a Tiago, irmão de Joao. Vendo isto ser agradável aos juDeus, prosseguiu, prendendo também a Pedro. E eram os dias dos pães asmos” (At 12.1-3). O objetivo da prisão era claro: maltratar e matar.
Como sempre na história da humanidade, os homens tornam-se joguetes de disputas políticas, sendo manipulados e usados como moeda de troca.
Pedro foi parar na cadeia. O ambiente era de tensão. Tiago fora executado, gerando um aumento na popularidade de Herodes que tinha índices de aprovação semelhantes ao de Temer. Vaidoso e inescrupuloso, uma verdadeira "raposa", termo nada polido que Jesus usou para se referir a este líder (Lc 13.32) Herodes decidiu aumentar seu prestígio mandando maltratar e matar.  
Por ser o líder mais proeminente Pedro atraiu a atenção das autoridades e levado preso, aguardando ser o próximo executado.
Neste contexto de perplexidade, quando todos os fatos indicavam mais uma tragédia, surge uma bendita mudança nos acontecimentos.

"Mas havia oração incessante a Deus, por parte da igreja,
a favor de Pedro" (At 12.5).

O que pode alterar uma situação, um rumo, uma direção que parece inevitável?
Martin Loyd Jones, conhecido pregador reformado de Londres, pregou um sermão de uma hora em apenas uma expressão de Ef 2.4 que diz: Mas Deus, sendo rico em misericórdia, e por causa do seu grande amor com que nos amou, nos deu vida”. Ele afirma que a expressão “Mas Deus”, deve estar sempre presente no coração e nos lábios da igreja. O extremo da situação humana, o desespero da condição caída da humanidade, torna-se a oportunidade para Deus.

Em At 12.5, esta conjunção bendita surge para mudar a direção que as coisas caminhavam. A mudança se deu quando a igreja decidiu se por de joelhos para implorar a intervenção divina, sabendo que o Todo-Poderoso poderia mudar o curso da história e fazer algo novo.

Esta é a grande verdade sobre a oração.
A oração tem o poder de subverter, de alterar os rumos da história. Não havia, aparentemente, nada que pudesse mudar a direção daqueles fatos, mas as orações que chegam ao trono da graça do Senhor dos Exércitos, são efetivas. No outro dia Pedro deveria estar diante de Herodes e as expectativas não eram muito boas, a julgar pela jurisprudência: Tiago, irmão de João havia sido martirizado recentemente e Pedro seria o próximo (At 12.2).

Esta conjunção adversativa mas, muda os rumos da história, muda as tendências dos fatos, muda a situação, porque há um Deus que ouve as orações e pode, segundo o seu querer, mudar e transformar todas as coisas.
As orações que fazemos são poderosas por que são colocadas nas mãos daquele que destrói e estabelece reis, que é o Senhor da história, e tem todo poder no céu e na terra. A Igreja de Jesus pode interpor-se, a favor de pessoas e situações, com "orações incessantes".
Considere na sua vida pessoal, quais são as cadeias que devem ser quebradas? Pense em nossa situação histórica, o que Deus pode fazer no meio de tanto caos e desesperança? “Deus é poderoso para fazer infinitamente mais do que pedimos ou pensamos, conforme o seu poder que opera em nós” (Ef 3.20).

Esta conjunção, não é apenas um dado gramatical, antes abre possibilidades para o poder de Deus. Sublinhe esta verdade na Bíblia. Preste atenção em todas as vezes que conjunções adversativas aparecem na Bíblia: “Mas, porém, contudo, entretanto”. Todas as vezes que elas aparecem apontam para o surgimento de um fato novo, que altera a tendência dos acontecimentos aparentemente imutáveis e intransponíveis. Sempre há grandes mudanças quando Deus se interpõe. Sempre há possibilidade de mudanças quando existe o mas do sobrenatural. Sempre existe chance para o impossível, quando esta impossibilidade é fecundada por orações piedosas de pessoas que creem e não se rendem diante do óbvio, mas aguardam as manifestações maravilhosas do Deus que tem todo poder.
Que bendita conjunção!!!

2o. momento: Orando sem entender as possibilidades da oração. At 12.12-15

O texto diz que “mas havia oração incessante da igreja a favor de Pedro”. Por causa das orações da igreja, uma intervenção sobrenatural acontece. Pedro é miraculosamente liberto.
Então, acontece algo inusitado.
Quando Pedro bate na porta da casa onde os irmãos se reuniam para orar, Rode, uma menina escrava, vem atender à porta, e tão emocionada fica ao ver Pedro que não abre o portão, mas corre para informar aos irmãos que Pedro estava livre. A igreja que orava pela libertação, enfrenta aqui um dilema: Ela não crê que Pedro possa ter sido libertado e afirma que se tratava de seu anjo, uma espécie de crendice popular que ainda se encontrava no meio da igreja primitiva.
Entenderam o que aconteceu?
A igreja ora por um milagre mas não acredita no milagre.
Pede por algo sobrenatural mas não crê na intervenção sobrenatural.

Impressiona-me muitas orações feitas por homens de fé, com incredulidade. Aparentemente isto é contraditório e paradoxal, mas certamente mais comum que imaginamos. Orações veementes que são erguidas ao trono de graça, mas que são acompanhadas por um estranho misto de incredulidade. assim é esta oração da Igreja primitiva em favor de Pedro.

Ilustração 1
Algum tempo atrás, recebi no meu e-mail esta interessante estória. Naturalmente não é verdadeira, mas é muito criativa.
Em Aquiraz, no Ceará, Dona Tarcília Bezerra construiu uma expansão de seu cabaré, cujas atividades estavam em constante crescimento após a criação de seguro desemprego para pescadores e vários outros tipos de bolsas.
Em resposta, uma igreja evangélica local iniciou uma forte campanha para bloquear a expansão, com sessões de oração de manhã, à tarde e à noite.
O trabalho de ampliação e reforma progredia célere até uma semana antes da reinauguração, quando um raio atingiu o cabaré queimando as instalações elétricas e provocando um incêndio que destruiu o telhado e grande parte da construção.
Após a destruição do cabaré, o pastor e os crentes da igreja passaram a se gabar “do grande poder da oração”.
Então, Dona Tarcília processou a igreja, o pastor e toda congregação sob o argumento que eles “foram os responsáveis pelo fim de seu prédio e de seu negócio, utilizando-se da intervenção divina, direta ou indireta e das ações ou meios.”
Na contestação à ação judicial, a igreja, veementemente, negou toda e qualquer responsabilidade ou qualquer ligação com o fim do edifício.
O juiz, a quem o processo foi submetido, leu a reclamação da autora e a resposta dos réus e, na audiência de conciliação, comentou:
– Eu não sei como vou decidir este caso, mas uma coisa está patente nos autos: Temos aqui uma proprietária de cabaré que firmemente acredita no poder das orações e uma igreja inteira declarando que as orações não valem nada!

Ilustração 2
Certo pastor orava por muitos anos pela conversão de sua mae, e um dia, ao encontrar-se com o Rev. Antonio Elias, ele lamentou a dureza do coração da mae, e como Deus não havia ainda mudado seu coração. O velho pastor perguntou: “quando você ora, você realmente crê que Deus pode converter o coração dela?”. Ele respondeu: “às vezes sim, às vezes não”. E ele respondeu: “Pare então de orar e peça sua igreja para orar por sua mãe”. Foi o que ele fez. Um mês depois, sua mãe se rende aos pais de Jesus reconhecendo seu pecado e a necessidade de Jesus em sua vida.

Pedro estava preso, as perspectivas não eram boas. Tiago em condições idênticas, tinha sido sumariamente executado. Pedro estava à beira do cadafalso e a igreja, aflita, acuada e amargurada, resolve orar incessantemente ao Senhor, em favor de Pedro.
O que os irmãos pediam nas orações não sabemos, mas certamente o pedido básico delas era que Deus o livrasse. Esta era a razão das calorosas reuniões de oração, e Deus responde de forma maravilhosa. A sua libertação ocorreu de forma tão impactante que o próprio Pedro acreditava ser uma visão (At.12.9), a escrava ficou paralisada diante da situação e a igreja não acreditou que aquilo fosse realidade.

A Igreja orava, mas tem dúvidas quando Deus responde
O mais inusitado do texto é que sofre a Igreja que ora e intercede tinha sérias dúvidas sobre a intervenção de Deus. Por mais que cressem em Deus, não foram capazes de compreender que Ele poderia fazer infinitamente mais que pediam ou pensavam, porque o que pedia ia além das suas pressuposições teológicas e da limitada fé.
Eram crentes incrédulos que oravam, suas orações abrigavam sérias contradições... A menina Rode é repreendida e chamada de louca quando comunicou que Pedro estava do lado de fora. A igreja orava pela sua libertação, e quando a resposta ocorre, atribui aquilo a uma dissociação mental da menina que a primeira a presenciar a resposta de Deus à oração de sua igreja.
Certo colega sempre nos alertava sobre o problema de orarmos pedindo chuva mas saímos de casa sem levar o guarda-chuva...
Quantas vezes você já orou sem fé? Vivendo uma enorme crise dialética entre o fato de saber que Deus pode, mas duvidando que ele fará? Sejamos honestos. Você nunca orou assim?
Estudando o Sermão da Montanha, fiquei perplexo com a oração dominical. Quantos pedidos fazemos naquela oração, mas será que realmente queremos e cremos no que pedimos? Encorajei no meu grupo de estudo as pessoas a orarem aquela oração por frase, perguntando:
-Eu oro para que o nome de Deus seja santificado. Tenho vivido de forma que santifica seu nome?
-Oro para que venha o reino de Deus. Será que realmente me interesso pelo reino de Deus?
-Oro: “Perdoa nossas dívidas assim como perdoamos os nossos devedores” mas será que realmente estamos entendendo o que pedimos?
-Oramos: “Não nos deixe cair em tentação”, mas aquilo que é a minha tentação tem sido alimentado e nutrido diariamente. O que mais quero é cair na tentação porque ela me atrai, seduz, mesmo quando eu sei que ela está me destruindo e me afastando de Deus.
Situações semelhantes podem ser encontradas quando oramos, sem que creiamos que Deus responde as orações, afinal, eu nem mesmo estou certo de que ele as ouve, quando mais que ele as responde.
A Igreja primitiva, não criou uma estrutura para abrigar a resposta de Deus, mas estabeleceu um paradigma mental de que Deus não responderia. Então, não é de se admirar que quando Deus responde eles pensam tratar-se de um fantasma.
Lembram-se da oração do homem que traz seu filho possesso de um espirito maligno a Jesus. Quando jesus afirma que “tudo é possível ao que crê”, o que ele respondeu? "Eu creio Senhor, ajuda-me na minha falta de fé” (Mc. 9.23). Não tem sido assim a realidade de nossas débeis e incrédulas orações? Quantas vezes passamos por conflitividade semelhante, orando, sem entender as possibilidades da oração.

3o. momento: "Agora sei verdadeiramente" (At 12.11)

Apesar de crermos em Deus e nas possibilidades da oração, o grande problema de nossa vida, é a incapacidade de realmente estarmos cônscios da toda realidade que cerca o mundo espiritual. Temos conhecimento, mas não sabemos... por isto nosso saber é duvidoso e pusilânime.

Parece que Pedro viveu semelhante realidade.

Quando o anjo do Senhor o livra das cadeias, o fez tocando-lhe o lado, falando com ele, conduzindo-o no meio dos dois guardas adormecidos que estavam a seu lado e de dois guardas despertos. Foram designadas quatro escoltas de quatro soldados, fazendo um turno diário de 6 horas. Eram quatro guardas por turno, dois acorrentados à Pedro, cujas algemas se soltaram sem uso de chave, e dois que ficavam pelo lado da cela. Pela primeira vez na história, temos um relato de “portões eletrônicos”, já que eles se abriram “automaticamente”, mas Pedro ainda encontra-se sem saber se aquilo é real ou apenas um sonho, ele ainda não sabia verdadeiramente. Pedro segue o anjo, as algemas se soltam de seus braços, ele passa a primeira sentinela, então os portões se abrem automaticamente, e ele passa pelos outros dois guardas, mas ele não sabe verdadeiramente se aquilo é, de fato, um milagre.
O vs 11 afirma: “Então, Pedro, caindo em si, disse: agora sei verdadeiramente”. Para saber verdadeiramente, é necessário sair do transe temporário. Pedro "cai em si" para tomar conhecimento do fantástico que ocorrera em sua vida. Nem sempre temos a capacidade de perceber o que Deus está fazendo na nossa história. Estamos presenciando o milagre mas não estamos ainda cônscio de que aquilo de fato está acontecendo, porém, chega uma hora, em que surge a consciência abençoada do “agora sei”.

Mesmo experimentando as ilimitadas possibilidades de Deus podemos ainda estar como quem sonha, sem ter pleno conhecimento da intervenção de Deus sobre nossa vida. O milagre pode ter acontecido e ainda não tomarmos consciência, ainda não sabemos. Muitos sabem sem saber verdadeiramente, até que no final de sua dramática experiência confessa: "Na verdade falei do que não entendia, coisas maravilhosas demais para mim, cousas que eu não conhecia. Eu, te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te veem" (Jó 42.3b e 5)

O Salmista
Assim aconteceu com o salmista, reconhecendo a ação de Deus: "Agora sei, que o Senhor salva o seu ungido" (Sl 20.6). É preciso chegar a um momento em nossa vida no qual podemos afirmar com segurança: “Agora Sei!” Este conhecimento ou reconhecimento é a abertura para uma nova etapa de relação, e assim as coisas passam a ter nova coloração e a relação com Deus passa a ter novo sabor. É conhecer a Deus de outro modo, não como uma ideia de um sonho ou delírio.

Paulo
Talvez Paulo tivesse isto em mente ao escrever: "E se antes conhecemos a Cristo segundo a carne, já agora não o conhecemos deste modo” (2 Co 5.16).

Conclusão:
Desta forma temos três distintos momentos neste texto:
A.    O momento no qual Deus intervém na história fazendo com que algo sobrenatural mude o curso da história. É o momento da intervenção divina.

B.    O momento no qual, as orações são respondidas mas ainda estamos sem saber se ela é verdadeira ou não.

C.   O momento final, no qual caem todas as nossas defesas e incredulidade e podemos afirmar seguramente: “Agora Sei verdadeiramente”.

A fé madura é aquela no qual, não sossegamos com as impossibilidades, mas experimentamos a ação de Deus e chegamos ao final declarando: “Agora sei, verdadeiramente”.

Em que estágio de sua fé você se encontra?

Nenhum comentário:

Postar um comentário