Introdução.
1o.
momento: A conjunção bendita: At 12.5
O contexto de Atos 12 não podia ser mais
lúgubre.
A igreja encontra-se dispersa desde a
perseguição que os juDeus deflagraram em At 8.1. Quando Herodes percebeu que
perseguir os cristãos gerava trunfos políticos, ele mesmo assumiu este encargo.
“Por aquele tempo, mandou o rei Herodes
prender alguns da igreja para os maltratar, fazendo passar a fio de espada a
Tiago, irmão de Joao. Vendo isto ser agradável aos juDeus, prosseguiu,
prendendo também a Pedro. E eram os dias dos pães asmos” (At 12.1-3). O
objetivo da prisão era claro: maltratar e matar.
Como sempre na história da humanidade, os
homens tornam-se joguetes de disputas políticas, sendo manipulados e usados
como moeda de troca.
Pedro foi parar na cadeia. O ambiente era de
tensão. Tiago fora executado, gerando um aumento na popularidade de Herodes que
tinha índices de aprovação semelhantes ao de Temer. Vaidoso e inescrupuloso, uma
verdadeira "raposa", termo nada polido que Jesus usou para se referir
a este líder (Lc 13.32) Herodes decidiu aumentar seu prestígio mandando
maltratar e matar.
Por ser o líder mais proeminente Pedro atraiu a
atenção das autoridades e levado preso, aguardando ser o próximo executado.
Neste contexto de perplexidade, quando todos os
fatos indicavam mais uma tragédia, surge uma bendita mudança nos
acontecimentos.
"Mas havia oração incessante a Deus, por
parte da igreja,
a favor
de Pedro" (At
12.5).
O que pode alterar uma situação, um rumo, uma
direção que parece inevitável?
Martin Loyd Jones, conhecido pregador reformado
de Londres, pregou um sermão de uma hora em apenas uma expressão de Ef 2.4 que
diz: Mas
Deus, sendo rico em misericórdia,
e por causa do seu grande amor com que nos amou, nos deu vida”. Ele afirma
que a expressão “Mas Deus”, deve
estar sempre presente no coração e nos lábios da igreja. O extremo da situação
humana, o desespero da condição caída da humanidade, torna-se a oportunidade para
Deus.
Em At 12.5, esta conjunção bendita surge para
mudar a direção que as coisas caminhavam. A mudança se deu quando a igreja
decidiu se por de joelhos para implorar a intervenção divina, sabendo que o
Todo-Poderoso poderia mudar o curso da história e fazer algo novo.
Esta é a grande verdade sobre a oração.
A oração tem o poder de subverter, de alterar
os rumos da história. Não havia, aparentemente, nada que pudesse mudar a
direção daqueles fatos, mas as orações que chegam ao trono da graça do Senhor
dos Exércitos, são efetivas. No outro dia Pedro deveria estar diante de Herodes
e as expectativas não eram muito boas, a julgar pela jurisprudência: Tiago,
irmão de João havia sido martirizado recentemente e Pedro seria o próximo (At
12.2).
Esta conjunção adversativa mas, muda os rumos da história, muda as tendências dos fatos, muda
a situação, porque há um Deus que ouve as orações e pode, segundo o seu querer,
mudar e transformar todas as coisas.
As orações que fazemos são poderosas por que
são colocadas nas mãos daquele que destrói e estabelece reis, que é o Senhor da
história, e tem todo poder no céu e na terra. A Igreja de Jesus pode
interpor-se, a favor de pessoas e situações, com "orações
incessantes".
Considere na sua vida pessoal, quais são as
cadeias que devem ser quebradas? Pense em nossa situação histórica, o que Deus
pode fazer no meio de tanto caos e desesperança? “Deus é poderoso para fazer infinitamente mais do que pedimos ou
pensamos, conforme o seu poder que opera em nós” (Ef 3.20).
Esta conjunção, não é apenas um dado gramatical,
antes abre possibilidades para o poder de Deus. Sublinhe esta verdade na
Bíblia. Preste atenção em todas as vezes que conjunções adversativas aparecem
na Bíblia: “Mas, porém, contudo, entretanto”. Todas as vezes que elas aparecem
apontam para o surgimento de um fato novo, que altera a tendência dos
acontecimentos aparentemente imutáveis e intransponíveis. Sempre há grandes
mudanças quando Deus se interpõe. Sempre há possibilidade de mudanças quando
existe o mas do sobrenatural. Sempre
existe chance para o impossível, quando esta impossibilidade é fecundada por orações
piedosas de pessoas que creem e não se rendem diante do óbvio, mas aguardam as
manifestações maravilhosas do Deus que tem todo poder.
Que bendita conjunção!!!
2o.
momento: Orando sem entender as possibilidades da oração. At 12.12-15
O texto diz que “mas havia oração incessante da igreja a favor de Pedro”. Por causa
das orações da igreja, uma intervenção sobrenatural acontece. Pedro é
miraculosamente liberto.
Então, acontece algo inusitado.
Quando Pedro bate na porta da casa onde os
irmãos se reuniam para orar, Rode, uma menina escrava, vem atender à porta, e
tão emocionada fica ao ver Pedro que não abre o portão, mas corre para informar
aos irmãos que Pedro estava livre. A igreja que orava pela libertação, enfrenta
aqui um dilema: Ela não crê que Pedro possa ter sido libertado e afirma que se
tratava de seu anjo, uma espécie de crendice popular que ainda se encontrava no
meio da igreja primitiva.
Entenderam o que aconteceu?
A igreja ora por um milagre mas não acredita no
milagre.
Pede por algo sobrenatural mas não crê na
intervenção sobrenatural.
Impressiona-me muitas orações feitas por homens
de fé, com incredulidade. Aparentemente isto é contraditório e paradoxal, mas
certamente mais comum que imaginamos. Orações veementes que são erguidas ao
trono de graça, mas que são acompanhadas por um estranho misto de
incredulidade. assim é esta oração da Igreja primitiva em favor de Pedro.
Ilustração 1
Algum tempo atrás, recebi no meu e-mail esta interessante
estória. Naturalmente não é verdadeira, mas é muito criativa.
Em Aquiraz, no Ceará, Dona Tarcília Bezerra construiu uma
expansão de seu cabaré, cujas atividades estavam em constante crescimento após
a criação de seguro desemprego para pescadores e vários outros tipos de bolsas.
Em resposta, uma igreja evangélica local iniciou uma forte
campanha para bloquear a expansão, com sessões de oração de manhã, à tarde e à
noite.
O trabalho de ampliação e reforma progredia célere até uma
semana antes da reinauguração, quando um raio atingiu o cabaré queimando as
instalações elétricas e provocando um incêndio que destruiu o telhado e grande
parte da construção.
Após a destruição do cabaré, o pastor e os crentes da igreja
passaram a se gabar “do grande poder da oração”.
Então, Dona Tarcília processou a igreja, o pastor e toda
congregação sob o argumento que eles “foram os responsáveis pelo fim de seu
prédio e de seu negócio, utilizando-se da intervenção divina, direta ou
indireta e das ações ou meios.”
Na contestação à ação judicial, a igreja, veementemente,
negou toda e qualquer responsabilidade ou qualquer ligação com o fim do
edifício.
O juiz, a quem o processo foi submetido, leu a reclamação da
autora e a resposta dos réus e, na audiência de conciliação, comentou:
– Eu não sei como vou decidir este caso, mas uma coisa está
patente nos autos: Temos aqui uma proprietária de cabaré que firmemente
acredita no poder das orações e uma igreja inteira declarando que as orações
não valem nada!
Ilustração 2
Certo pastor orava por muitos anos pela
conversão de sua mae, e um dia, ao encontrar-se com o Rev. Antonio Elias, ele
lamentou a dureza do coração da mae, e como Deus não havia ainda mudado seu
coração. O velho pastor perguntou: “quando você ora, você realmente crê que Deus
pode converter o coração dela?”. Ele respondeu: “às vezes sim, às vezes não”. E
ele respondeu: “Pare então de orar e peça sua igreja para orar por sua mãe”.
Foi o que ele fez. Um mês depois, sua mãe se rende aos pais de Jesus
reconhecendo seu pecado e a necessidade de Jesus em sua vida.
Pedro estava preso, as perspectivas não eram
boas. Tiago em condições idênticas, tinha sido sumariamente executado. Pedro
estava à beira do cadafalso e a igreja, aflita, acuada e amargurada, resolve
orar incessantemente ao Senhor, em favor de Pedro.
O que os irmãos pediam nas orações não sabemos,
mas certamente o pedido básico delas era que Deus o livrasse. Esta era a razão
das calorosas reuniões de oração, e Deus responde de forma maravilhosa. A sua
libertação ocorreu de forma tão impactante que o próprio Pedro acreditava ser
uma visão (At.12.9), a escrava ficou paralisada diante da situação e a igreja
não acreditou que aquilo fosse realidade.
A Igreja
orava, mas tem dúvidas quando Deus responde
O mais inusitado do texto é que sofre a Igreja
que ora e intercede tinha sérias dúvidas sobre a intervenção de Deus. Por mais
que cressem em Deus, não foram capazes de compreender que Ele poderia fazer
infinitamente mais que pediam ou pensavam, porque o que pedia ia além das suas pressuposições
teológicas e da limitada fé.
Eram crentes incrédulos que oravam, suas orações
abrigavam sérias contradições... A menina Rode é repreendida e chamada de louca
quando comunicou que Pedro estava do lado de fora. A igreja orava pela sua
libertação, e quando a resposta ocorre, atribui aquilo a uma dissociação mental
da menina que a primeira a presenciar a resposta de Deus à oração de sua igreja.
Certo colega sempre nos alertava sobre o
problema de orarmos pedindo chuva mas saímos de casa sem levar o
guarda-chuva...
Quantas vezes você já orou sem fé? Vivendo uma
enorme crise dialética entre o fato de saber que Deus pode, mas duvidando que
ele fará? Sejamos honestos. Você nunca orou assim?
Estudando o Sermão da Montanha, fiquei perplexo
com a oração dominical. Quantos pedidos fazemos naquela oração, mas será que
realmente queremos e cremos no que pedimos? Encorajei no meu grupo de estudo as
pessoas a orarem aquela oração por frase, perguntando:
-Eu oro para que o nome
de Deus seja santificado. Tenho vivido de forma que santifica seu nome?
-Oro para que venha o
reino de Deus. Será que realmente me interesso pelo reino de Deus?
-Oro: “Perdoa nossas
dívidas assim como perdoamos os nossos devedores” mas será que realmente
estamos entendendo o que pedimos?
-Oramos: “Não nos deixe
cair em tentação”, mas aquilo que é a minha tentação tem sido alimentado e
nutrido diariamente. O que mais quero é cair na tentação porque ela me atrai,
seduz, mesmo quando eu sei que ela está me destruindo e me afastando de Deus.
Situações semelhantes podem ser encontradas
quando oramos, sem que creiamos que Deus responde as orações, afinal, eu nem
mesmo estou certo de que ele as ouve, quando mais que ele as responde.
A Igreja primitiva, não criou uma estrutura para
abrigar a resposta de Deus, mas estabeleceu um paradigma mental de que Deus não
responderia. Então, não é de se admirar que quando Deus responde eles pensam
tratar-se de um fantasma.
Lembram-se da oração do homem que traz seu
filho possesso de um espirito maligno a Jesus. Quando jesus afirma que “tudo é
possível ao que crê”, o que ele respondeu? "Eu creio Senhor, ajuda-me na minha falta de fé” (Mc. 9.23). Não tem
sido assim a realidade de nossas débeis e incrédulas orações? Quantas vezes
passamos por conflitividade semelhante, orando, sem entender as possibilidades
da oração.
3o.
momento: "Agora sei verdadeiramente" (At 12.11)
Apesar de crermos em Deus e nas possibilidades
da oração, o grande problema de nossa vida, é a incapacidade de realmente estarmos
cônscios da toda realidade que cerca o mundo espiritual. Temos conhecimento,
mas não sabemos... por isto nosso saber é duvidoso e pusilânime.
Parece que Pedro viveu semelhante realidade.
Quando o anjo do Senhor o livra das cadeias, o
fez tocando-lhe o lado, falando com ele, conduzindo-o no meio dos dois guardas
adormecidos que estavam a seu lado e de dois guardas despertos. Foram designadas
quatro escoltas de quatro soldados, fazendo um turno diário de 6 horas. Eram quatro
guardas por turno, dois acorrentados à Pedro, cujas algemas se soltaram sem uso
de chave, e dois que ficavam pelo lado da cela. Pela primeira vez na história,
temos um relato de “portões eletrônicos”, já que eles se abriram
“automaticamente”, mas Pedro ainda encontra-se sem saber se aquilo é real ou
apenas um sonho, ele ainda não sabia verdadeiramente. Pedro segue o anjo, as
algemas se soltam de seus braços, ele passa a primeira sentinela, então os
portões se abrem automaticamente, e ele passa pelos outros dois guardas, mas
ele não sabe verdadeiramente se aquilo é, de fato, um milagre.
O vs 11 afirma: “Então, Pedro, caindo em si, disse: agora sei verdadeiramente”. Para
saber verdadeiramente, é necessário sair do transe temporário. Pedro "cai
em si" para tomar conhecimento do fantástico que ocorrera em sua vida. Nem
sempre temos a capacidade de perceber o que Deus está fazendo na nossa
história. Estamos presenciando o milagre mas não estamos ainda cônscio de que
aquilo de fato está acontecendo, porém, chega uma hora, em que surge a consciência
abençoada do “agora sei”.
Jó
Mesmo experimentando as ilimitadas possibilidades
de Deus podemos ainda estar como quem sonha, sem ter pleno conhecimento da intervenção
de Deus sobre nossa vida. O milagre pode ter acontecido e ainda não tomarmos consciência,
ainda não sabemos. Muitos sabem sem saber verdadeiramente, até que no final de
sua dramática experiência confessa: "Na
verdade falei do que não entendia, coisas maravilhosas demais para mim, cousas
que eu não conhecia. Eu, te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te veem"
(Jó 42.3b e 5)
O
Salmista
Assim aconteceu com o salmista, reconhecendo a ação de Deus: "Agora sei, que o Senhor salva o seu
ungido" (Sl 20.6). É preciso chegar a um momento em nossa vida no qual
podemos afirmar com segurança: “Agora Sei!” Este conhecimento ou reconhecimento
é a abertura para uma nova etapa de relação, e assim as coisas passam a ter
nova coloração e a relação com Deus passa a ter novo sabor. É conhecer a Deus
de outro modo, não como uma ideia de um sonho ou delírio.
Paulo
Talvez Paulo tivesse isto em mente ao escrever: "E se antes conhecemos a Cristo
segundo a carne, já agora não o conhecemos deste modo” (2 Co 5.16).
Conclusão:
Desta forma temos três distintos momentos neste
texto:
A.
O
momento no qual Deus intervém na história fazendo com que algo sobrenatural
mude o curso da história. É o momento da intervenção divina.
B.
O
momento no qual, as orações são respondidas mas ainda estamos sem saber se ela
é verdadeira ou não.
C.
O
momento final, no qual caem todas as nossas defesas e incredulidade e podemos afirmar
seguramente: “Agora Sei verdadeiramente”.
A fé madura é aquela no qual, não sossegamos
com as impossibilidades, mas experimentamos a ação de Deus e chegamos ao final
declarando: “Agora sei, verdadeiramente”.
Em que estágio de sua fé você se
encontra?
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