domingo, 12 de agosto de 2018

At 11.19-30 Marcas de uma igreja saudável





Mark Dever escreveu o livro “Nove marcas de uma igreja saudável”, que se tornou uma referência em eclesiologia, no qual fala das características presentes numa igreja bíblica, entre elas, pregação expositiva, discipulado, correto conceito de conversão, etc.

Não é muito difícil perceber que existem dois tipos de igrejas: a saudável e a neurótica, a que traz cura e a que adoece. A neurótica se caracteriza por enfermar seus membros. Muitas pessoas doentes aderem à igrejas doentes para retroalimentarem sua neurose e culpa. Não é de se surpreender que no Brasil muitas comunidades são completamente esquizofrenizadas. Estruturas doentes atraem pessoas doentes, uma vez que o abusador precisa de pessoas que aceitam ser abusadas, assim como o masoquista precisa de seu par, o sádico.

Igrejas bíblicas e saudáveis, porém, possuem características bem marcantes, e podem ser encontradas em toda história da igreja. Neste texto vemos uma igreja com tais marcas, e são estas marcas que queremos estudar:

1.       Igrejas saudáveis transformam oposição em oportunidades de testemunho – “Então, os que foram dispersos por causa da tribulação... anunciando o evangelho do Senhor Jesus” (At 11.19ª e20c).

Por causa da oposição os judeus iniciaram um violento processo de perseguição, matando Estevão, enviando Paulo como soldado da cruzada a Damasco, na Síria, e os cristãos, ao invés de se sentirem acuados e amedrontados, transformaram a situação em oportunidade de pregar o evangelho.
Igrejas sofrem perseguição, mas se elas tem saúde, o resultado será crescimento e expansão. Ameaças nunca intimidaram igrejas saudáveis, antes se tornaram o motivo para ainda se consagrarem mais e investirem suas vidas no reino de Deus.

Na China, na época de Mao Tsé Tung, os comunistas perseguiram brutalmente a igreja. Os templos foram transformados em lugares de propaganda do partido, e os pastores foram colocados em cadeias ou executados. Acreditava-se que assim poderiam inibir os discípulos de Cristo. A perseguição avançou e os crentes foram presos, mas ali na cadeia começaram a orar e estudar com mais afinco a palavra de Deus. Os líderes da revolução vermelha entenderam que haviam errado, já que juntos na cadeia, sendo sustentados pelo dinheiro público, os cristãos se tornavam cada vez mais fortes. Então resolveram dispersá-los, enviando-os a trabalhar como carteiros nas províncias mais longínquas, dando-lhes salário para sua sobrevivência. Transformaram os cristãos que estavam na cadeia em missionários sustentados pelo comunismo. Resultado: estima-se que hoje, a igreja da China seja a maior igreja do mundo, com cerca de 120 milhões de pessoas.

Igrejas saudáveis transformam oposição em oportunidade.

2.       Igrejas saudáveis colocam seus olhos no mundo – “se espalharam até a Fenícia, Chipre e Antioquia, não anunciando a ninguém a palavra, senão somente aos judeus... alguns deles, porém... falavam também aos gregos, anunciando-lhes o evangelho do Senhor Jesus”(At 11.19-20).
A igreja de Cristo, dispersa pela soberana direção de Deus, precisa olhar adiante e ver os campos que já estavam brancos para a colheita. Começaram anunciando aos judeus, por conveniência cultural e linguística, e avançaram aos gentios. O mundo agora era o campo no qual deveriam semear a Palavra. Saíram da província à qual estavam circunscritos e adentraram um desafiador campo missionário, cumprindo assim, o mandato de Cristo de que deveriam pregar o evangelho a todas as etnias, até os confins da terra.

Eles foram para Fenícia, que ficava ao Norte de Israel, margeando o mar Mediterrâneo, região das conhecidas cidades do Novo Testamento: Tiro e Sidom; foram para Chipre, uma ilha que ficava no mar Mediterrâneo e para Antioquia da Síria, cerca de 500 kms de Jerusalém, onde acontece este avivamento descrito no texto que ora analisamos.

A mensagem agora extrapola os limites de Jerusalém, Judeia e Samaria, chegando aos gentios. A obra de Deus avança. O evangelho precisa ser anunciado ao mundo e a igreja coloca seus olhos para fora de si mesmo e de sua zona de conforto. Esta é uma característica presente em todas igrejas saudáveis. Elas não se limitam aos seus projetos pessoais, mas avançam além de suas paredes e olham para fora, percebem as necessidades do mundo que precisa da mensagem de salvação.

3.       Igrejas saudáveis são agentes de Deus na salvação de vidas –A mão do Senhor estava com eles, e muitos, crendo, se converteram ao Senhor” (At 11.21).

Não temos nenhuma dificuldade em crer que salvação é obra exclusiva do Espírito Santo, e nem de crer que Deus deseja instrumentalizar seu povo para trazer a salvação. As conversões aconteciam porque a mão do Senhor estava com eles. A igreja é o agente de Deus proclamando, pois “...como ouvirão se não há quem pregue?” (Rm 10.14).

Antioquia da Síria experimenta o mover do Espírito Santo e as pessoas se convertem a Cristo. Muitos ficam ainda hoje impressionados com grandes movimentos de cura e libertação, mas a maior obra que Deus realiza no coração do homem é sua salvação, livrando-o da ira vindoura e dando-lhe uma vida eterna com Deus. A redenção ocorre quando o homem deixa de confiar em si mesmo para salvação e coloca sua confiança na obra redentora de Cristo Jesus. Por isto os discípulos “anunciavam o evangelho” (At 11.20), eles não anunciavam cura, mas salvação.

4.       Igrejas saudáveis mobilizam recursos para a expansão do reino – (At 11.22). “A notícia a respeito deles chegou aos ouvidos da igreja que estava em Jerusalém; e enviaram Barnabé até Antioquia” (At 11.22).

Sabendo dos fatos, a igreja de Jerusalém se mobiliza para apoiar o trabalho, e envia Barnabé, um líder maduro e amoroso, para dar suporte à obra de Deus na cidade de Antioquia. Barnabé era um discipulador excepcional, foi ele quem cuidou de Saulo quando, recém convertido, chegou à igreja de Jerusalém e ninguém queria se aproximar dele por causa da sua fama de perseguidor. Agora, a igreja considera e decide enviar este homem caracterizado pela sua bondade, fé e por ser cheio do Espirito Santo (At 11.24). A igreja envia o que ela tem de melhor, para cuidar dos novos convertidos e da igreja recém surgida na Síria.

A igreja mobiliza seus recursos pessoais e financeiros para apoiar o trabalho missionário. Enviando Barnabé para cuidar dos novos convertidos. Esta é uma marca visível de igrejas saudáveis. Cuidado e nutrição.

5.       Igrejas saudáveis sentem alegria e nutrem os novos convertidos – “Tendo ele chegado e, vendo a graça de Deus, alegrou-se e exortava a todos a que, com firmeza de coração, permanecessem no Senhor” (At 11.23).

Isto pode parecer o óbvio na vida de todas igrejas, mas a realidade é que nem todas igrejas são acolhedoras e amáveis para aqueles que chegam, algumas comunidades se tornam até mesmo hostis. Para alguns, a chegada de novas pessoas gera certo desequilíbrio e desconforto. Fui pastor de uma igreja que começou a ter um crescimento significativo, e uma distinta senhora foi me reclamar porque estava chegando na igreja e não encontrando vazio seu lugar onde sempre estava assentada.
Com ironia eu disse que isto não iria acontecer mais, porque o conselho da igreja tinha decidido comunicar aos visitantes, a partir do próximo domingo, que eles deveriam procurar outras igrejas e não mais viessem à nossa porque estávamos tendo problema de espaço. Eu perguntei o que ela achava, e ela riu meio desconcertada e disse: “acho meio radical, mas ás vezes é necessário”. Ai então, tive oportunidade de falar um pouco do que o evangelho nos ensina.

Quando Barnabé chega à Antioquia, e vê aquelas pessoas se rendendo a Cristo, seu coração se alegrou. A igreja é um organismo vivo, e por isto, uma das suas características é a reprodução, outra é a nutrição. Esta igreja bíblica, se alegra com os novos convertidos e encoraja a fé dos novos irmãos, “exortando a todos que, com firmeza de coração, permanecessem no Senhor” (At 11.23).

A igreja precisa ter uma mentalidade de cuidado para com aqueles que chegam. O diabo sempre se opõe, veementemente, aos que tomam posição espiritual e assumem a fé em Cristo. Estas pessoas precisam de apoio espiritual. Foi isto que Barnabé fez. Igrejas saudáveis são amáveis e acolhedoras, prontas para receber e cuidar.

6.       Igrejas saudáveis preocupam-se com os marginalizados e dispersos – “E partiu Barnabé para tarso, à procura de Saulo” (At 11.25)

Desde seu fracasso ministerial, Saulo desapareceu do cenário. Sua impulsividade inicial trouxe oposição e colocou a igreja em risco, e a igreja o despediu, e ele seguiu para as regiões desérticas da síria e da Galácia e não era mais conhecido das igrejas da Judeia (Gl 1.21,22). Estudiosos afirmam que seu exilio forçado durou entre 12-14 anos. Paulo não mais estava no ministério, carregando consigo o estigma do fracasso inicial como pastor. Quando Barnabé chega a Antioquia, logo viu que aquela comunidade precisava de uma estrutura teológica mais profunda, precisava de um mestre, e ele sai à procura de Saulo, reintegrando ao ministério. Tarso ficava cerca de 150 km distante de Antioquia, e este trajeto poderia ser feito também através do mar. O ministério de Paulo não seria conhecido se não houvesse a figura de Barnabé, e juntos, por mais de um ano, ensinaram numerosa multidão (At 11.26).

7.       Igrejas saudáveis imitam Cristo no seu estilo de vida – “Em Antioquia foram os discípulos, pela primeira vez, chamados cristãos” (At11.26).

O termo “cristão”, hoje mundialmente adotado para designar aqueles que adotam o cristianismo como sua fé, foi pela primeira vez usado fora de Israel.
Este termo não pretendia ser elogioso, mas depreciativo. Cristãos significa, literalmente ”pequenos Cristos”. Era uma forma de ironizar os discípulos, que tinham intenso desejo de imitar o seu mestre, adotar o seu ensino e estilo de vida, a ponto de serem apelidados de cristãos. Isto demonstra como esta igreja queria se parecer com Cristo. Igrejas saudáveis procuram imitar Jesus, sua forma de falar, de agir e ser, são verdadeiros seguidores de Cristo.

8.       Igrejas saudáveis são generosas com seus recursos – “Os discípulos, cada um confome as sus posses, resolveram enviar socorro aos irmãos que moravam na Judeia” (At 11.29).

O que aconteceu aqui?

Um profeta chamado Ágabo, dava a entender pelo espirito que uma grande fome estava por vir, e então os irmãos de Antioquia, muitos deles novos convertidos, resolveram enviar recursos para que os presbíteros da igreja em Jerusalém pudessem cuidar dos necessitados.
Este texto nos aponta dois princípios sobre a generosidade com a obra de Deus:

a.       Eles se anteciparam com seus recursos – Não esperaram que a emergência surgisse. A fome “estava para vir”, mas não era ainda uma realidade. Muitos não se preocupam em que a igreja tenha provisão para responder às necessidades. A lição que aprendemos aqui é que a igreja precisa de provisão, planejamento, ações pastorais e missionárias, e que os recursos antecipados podem ajudar e direcionar a ação da liderança.

b.      Cada um, contribuiu conforme as suas posses – temos aqui o princípio bíblico da proporcionalidade. Precisamos aprender a contribuir conforme as posses que temos. Aqueles que ganham mais precisam contribuir com valores mais significativos, mas aos olhos de Deus o que vale não é o quanto você dá, mas o quanto você tem deixado de dar. Deus o tem abençoado? Abençoe também! Deus o tem abençoado muito? Abençoe muito também!

Muitas pessoas ficam discutindo se devem ou não dar o dizimo e eu particularmente acho esta discussão pobre. Dizimo é referência, precisamos dar mais que 10%, dízimos é ponto de partida. Infelizmente nunca vi alguém questionando o dizimo porque acha que deve dar mais, em geral vejo pessoas questionando porque acham que devem dar menos.

Conclusão

George Barna, no seu livro, Igrejas amáveis e acolhedoras, lista algumas características do que, as igrejas acolhedoras NÃO FAZEM.
A.      Não limitam a Deus
B.      Não perdem tempo em discussões inúteis
C.      Não desprezam seus visitantes
D.      Não se afastam da sociedade
E.       Não tomam a rota segura. Não tem medo de ousar, de crer que novas e surpreendentes coisas podem acontecer.
Estas são algumas marcas de igrejas saudáveis.






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