Introdução:
Coelho Neto afirma: “não me
impressiona a morte, mas o morrer”. Tenho chegado à conclusão de que não me
impressiona nem a morte nem o morrer, mas o viver. A forma como se vive
determina a forma como se morre. Uma atitude de fé, em vida, dá segurança
quando se tem que enfrentar a morte.
O versículo acima surpreende-nos,
porque ao olhar para esta afirmação entendemos que, na verdade, Deus tem uma
perspectiva completamente distinta da nossa quando se trata da vida e da morte.
A morte para nós, por mais esperada que seja, é sempre difícil e dolorida, tem
um aspecto embutido da dor e da perda, mas para Deus, a morte de seus santos,
dos seus eleitos, é preciosa.
Fica em nossa mente uma pergunta:
Por que a morte dos santos é preciosa aos olhos do Senhor?
Primeiro, é bom observar que Deus
não tem prazer na morte de todos, mas apenas na dos seus santos.
Deus não encontra prazer na morte
de todos, mas de alguns.
O contrário é afirmado
categoricamente no livro de Ezequiel: “Deus
não tem prazer na morte do ímpio” (Ez 18,23,32). O texto não fala do
perverso, do homem mau. Geralmente associamos o ímpio ao perverso, mas a pessoa
pode ser perversa sem ser ímpia, pelo contrário, pode ser muito religiosa; mas
o contrário também é verdadeiro: uma pessoa pode ser ímpia sem ser perversa.
Por definição, ímpio significa “não pio”, sem vida de piedade, que não
reconhece Deus na sua vida, e não o inclui na sua agenda. Boa parte das pessoas
que amamos não são más, nem perversas, mas são indiferentes às verdades do
evangelho, alheias à vida de Deus, e sem esperança neste mundo. Podem ser
pessoas amáveis, agradáveis, simpáticas, o problema delas não está nos seus
relacionamentos pessoais, mas tem a ver com Deus.
Se você quer avaliar se você é
uma pessoa ímpia, pergunte a si mesmo: Deus ocupa minha agenda? Eu oro pedindo
sua direção para minha vida? Dentre as minhas prioridades posso dizer que Deus
ocupa alguma delas?
Muitas pessoas dizem: “Ah! Eu não
creio nesta ideia de inferno”, mas você sabia que Jesus falou muito sofre o
inferno e sobre o julgamento de Deus àqueles que não deram ouvidos à sua
palavra? Chegamos portanto, a um impasse: ou Jesus estava equivocado sobre seus
conceitos de vida após a morte, ou nós estamos equivocados. Jesus afirmou aos
seus discípulos: “Não temais aqueles que
podem matar vosso corpo. Antes temais àquele que pode fazer perecer tanto sua
alma como seu corpo no inferno”.
Jesus falou de pessoas, dando-lhe
nomes, como no relato do rico e de Lázaro. A compreensão de Jesus sobre a vida
após a morte era muito concreta e palpável. Ele fala disto com muita segurança
e sem nenhuma indecisão.
Segundo, porque na morte dos seus santos, Deus vai poder reencontrá-los
sem as barreiras naturais da nossa transitoriedade. Deus vai abracar
àqueles amados e redimidos pelo sangue do seu Filho Jesus.
Todas as vezes que alguém querido
morre, é natural que exaltemos suas virtudes, e de fato, muitos foram pessoas
justas, bondosas e queridas. Mas precisamos também lembrar que o encontro
destas pessoas com Jesus na eternidade não é resultado de suas virtudes e
conquistas morais, nem pelo cumprimento das leis, nem pelo currículo religioso.
O apóstolo Paulo afirma que
gostaria de ser encontrado diante de Deus, não com suas roupas pessoais da
justiça própria, mas com as vestes de Cristo. “E ser encontrado nele, não com as roupas da justiça própria, mas com as
vestes de justiça de Jesus” (Fp 3.10). Isto é revolucionário porque sempre
pensamos nos céus em termos de méritos e conquistas, mas Paulo estava falando
de que o único mérito para nos apresentarmos diante de Deus são os méritos de Cristo.
Em Apocalipse 7, temos o relato
de muitos povos, tribos e nações se apresentando diante de Deus. No vs 10, João
que recebia a revelação e tinha esta imagem diante de si, pergunta a um dos 24
anciãos: “Quem são estes de brancos
vestidos, donde vem e quem são”, e a resposta é surpreendente: “Estes são os que lavaram suas vestiduras no sangue
de Jesus, seus vestidos branquearam pelo seu sangue, razão pela qual se
encontram diante do Altar”. Marque a frase “razão pela qual”. Esta é a razão. Não estão ali por méritos e
conquistas pessoais, mas por terem alvejados suas roupas no sangue do Cordeiro.
Terceiro, porque a morte não é o ponto de partida para Deus, mas o
ponto de chegada. Em geral vemos a morte com o fim, Deus a vê como começo.
Quando Jesus está se despedindo
dos discípulos ele lhes disse: “Não se
turbe o vosso coação, credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai
há muitas moradas, se assim não fora, eu vo-lo teria dito, pois vou
preparar-vos lugar. E quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos
receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também” (Jo
14.1-4). Jesus está preparando morada para os seus filhos. Lugar permanente
onde passaremos o resto de nossa história juntos.
Um texto sobre a morte, sempre me
tem surpreendido. Ele fala de Abraão. “Morreu
Abraão, em ditosa velhice, avançado em dias, e foi recolhido ao seu povo”. O
nosso destino final é ali, quando seremos recolhidos ao nosso povo, àqueles que
viveram e morreram na fé, baseadas na obra de Cristo. Morrer é chegar ao
destino final. Hora do começo. Ponto de partida.
Conclusão:
Por estas razões é preciosa é aos
olhos do Senhor a morte de seus santos.
Para nós, morte é desalento, dor,
tristeza.
Para Deus, morte é momento
glorioso. Por isto é comum usar um vocabulário bem especifico entre o povo de
Deus. Quando alguém morre dizemos: “foi promovido à glória”. A bem da verdade,
trata-se disto mesmo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário