Introdução
Todos nós já vimos a clássica cena de um filme épico, quando os reis voltam vitoriosos da batalha e todas as pessoas estão na rua para receberem os heróis da guerra e celebrarem a vitória conquistada. O clima festivo, os despojos sendo repartidos, o cortejo e os brados de vitória estão presentes. O rei chegou vitorioso!
Em Mateus 21, vemos a cena do rei Jesus, chegando a Jerusalém. O rei da paz chegando na cidade da paz. As pessoas saem às ruas gritando e saudando o Messias:
“E a maior parte da multidão estendeu as suas vestes pelo caminho, e outros cortavam ramos de árvores, espalhando-os pela estrada. E as multidões, tanto as que o precediam como as que o seguiam, clamavam: Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana nas maiores alturas!” (Mt 21.8,9).
Três coisas acontecem com a chegada do Rei Jesus:
1. A chegada do Rei Jesus é cumprimento da palavra – “Ora, isto aconteceu para se cumprir o que foi dito por intermédio do profeta: Dizei à filha de Sião: Eis aí te vem o teu Rei, humilde, montado em jumento, num jumentinho, cria de animal de carga.” (Mt 21.4,5).
Apesar do povo estar surpreendido e do desenrolar dos fatos, o texto bíblico faz questão de frisar que este evento está interligado a uma antiga profecia dada por Deus ao profeta Zacarias, 600 anos a.C.: “Alegra-te muito, ó filha de Sião; exulta, ó filha de Jerusalém: eis aí te vem o teu Rei, justo e salvador, humilde, montado em jumento, num jumentinho, cria de jumenta.” (Zc 9.9). Não se trata de um evento desconexo, mas interligado a uma série de fatores muito mais amplos.
A vinda do rei faz parte de todo um projeto e cronograma de Deus.
O que nos ensina o evento profético?
A. Deus dirige a história – Os fatos inusitados, os eventos históricos, a pandemia, seguem uma agenda divina.
B. Nada pode impedir que os planos de Deus se cumpram – Quem controla a agenda, quem faz a agenda, quem é Senhor da história é Deus, que no seu tempo, dentro de seu plano, fará cumprir tudo aquilo que ele mesmo designou.
Roma, ONU, Bolsonaro, Lula, STF, tudo isto está num pacote de Deus. Ele usará tudo isto para cumprir seu propósito. Esta é a diferença clássica entre a visão da história na perspectiva humanista e na perspectiva cristã:
Visão humanista da história : A história não tem coerência nem propósito. Ela é cíclica e dentro desta série de casualidade e acasos, os eventos se manifestam. Os eventos se dão aleatoriamente pelo uso do poder ou pela força humana. Não há presença divina.
Visão cristã da história: A história segue um plano divino. Deus é Senhor da história. Nenhum evento é desproposital, todos possuem intencionalidade. “Os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis” (Rm 11.29). Ele tem todo controle: “é ele quem muda o tempo e as estações, remove reis e estabelece reis; ele dá sabedoria aos sábios e entendimento aos inteligentes” (Dn 2.21). Por isto é importante lembrar que “os céus dominam” (Dn 4.26).
C. As circunstâncias imprevisíveis, adversas, estranhas, fazem parte do projeto de Deus. Ele usará tudo conforme sua vontade.
Nesta semana escrevi um artigo chamado: “tempo de recuperar a visão”, mostrando como Paulo desejava ir para a Ásia e depois para a Bitinia, com sua equipe missionária, contudo Deus, que é o autor e senhor das missões, disse não aos seus projetos e fecha todas as portas. Até que uma nova visão foi dada: “passa a Macedônia e ajuda-nos”. (At 16.9).
Diante disto, devemos perguntar:
§ O que Deus deseja nos ensinar deste tempo de pandemia?
§ Será que Deus não está levando a igreja a repensar sua estratégia e método para os últimos dias? Antes da volta de Cristo?
§ Precisamos saber lidar com novos tempos, as abordagens e anseios desta geração. Deus pode estar nos fazendo refletir exatamente sobre sua obra e avanço missionário.
2. A chegada do Rei traz inquietações. “E, entrando ele em Jerusalém, toda a cidade se alvoroçou, e perguntavam: Quem é este?” (Mt 21.10)
A tradução livre de Eugene Peterson, capta muito bem estas inquietações: “Algumas pessoas, irritadas perguntavam: O que está acontecendo aqui? Quem é esse?” (Mt 21.10). e “Jesus foi direto ao templo e expulsou todos os que fazem comércio ali” (Mt 21.12)
A chegada do rei alvoroça a cidade. As pessoas não estão entendendo o que está acontecendo. A chegada do rei mexe com as estruturas religiosas, e ele estabelece juízo restaurando o propósito de Deus para seu povo.
Tais inquietações levam-me a três considerações:
A. A vinda do rei interfere primeiramente no culto e na adoração. O templo tinha perdido a compreensão da razão de existir, e ignorava o propósito do templo e da sua espiritualidade.
Jesus restaura a visão, citando o profeta Isaias: porque a minha casa será chamada Casa de Oração para todos os povos. (Is 56.7). Mateus relata a reação de Jesus: “E disse-lhes: Está escrito: A minha casa será chamada casa de oração, vós, porém, a transformais em covil de salteadores” (Mt 21.13). A primeira transformação que vemos é no meio da igreja. Jesus vai direto ao templo. Uma reforma profunda precisava acontecer.
Muitas pessoas tem me perguntado: O que acontecerá à igreja depois da pandemia? E minha resposta é a mesma. Deus está no controle de todas as coisas. A pandemia vai trazer novas percepções para o povo de Deus. A igreja se fortalecerá neste tempo, como historicamente sempre se fortaleceu em tempos de calamidas. A igreja é de Cristo e a vinda do rei confronta e faz o seu povo relembrar a razão de sua existência.
B. A vinda do rei reestrutura o templo – “Vieram a ele, no templo, cegos e coxos, e ele os curou.” (Mt 21.14). A tradução da Bíblia “A mensagem” diz: “Agora havia espaço para cegos e aleijados se reunirem. Elas vieram a Jesus e ele os curou”. Dando ideia de que, na burocracia e na estruturação do templo, o propósito central do templo, que era trazer cura às pessoas e criar espaço para aqueles que sofrem, agora se realizava.
Igrejas institucionalizadas demais, burocratizadas demais, transformam-se mais em empresas que em lugar de adoração. Lamentavelmente não é raro vermos pessoas negociando a fé e instrumentalizando as pessoas.
C. A Vinda do rei reorienta o propósito – Jesus coloca ênfase em algo já esquecido na estrutura do templo: “A minha casa será casa de oração para todos os povos”. Este era o propósito do templo.
Será que estamos sabendo a razão de nossa existência? Para que existe a igreja? Muitos tem achado que a igreja é até mesmo desnecessária... muitos tem se afastado da igreja e isto não tem a ver com pandemia, e certamente isto se dá porque perderam a capacidade de entender para que existe a igreja.
Honestamente falando, não é fácil perder a compreensão da razão da existência da igreja? Transformando-a apenas numa agencia humana de pessoas boas e generosas?
3. A chegada do rei traz alegria e esperança – vemos a multidão cantando entusiasmada:
“E as multidões, tanto as que o precediam como as que o seguiam, clamavam: Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana nas maiores alturas!” (Mt 21.9).
Quando li este texto, fiquei pensando nestes dias de aflição, insegurança, incerteza, e como é importante olhar para a figura do rei! Quando João estava chorando em Apocalipse 5 porque ninguém era capaz de abrir o livro, ele olhou para o céu e viu o Cordeiro no meio dos 24 anciãos, reinando na glória. A visão de quem Cristo é, restaura nossa confiança e traz consolo. Precisamos novamente cantar com alegria. Lembro-me da alegria do povo do interior, em igrejas que pastoreei cantando com vontade:
“Canta meu povo, alegra meu povo, que a festa não vai acabar.
Quando findar na terra, no céu vai continuar”
Ou de um tradicional hino que diz:
“Canta minha alma, canta ao Senhor!
Rende-lhe sempre, ardente louvor!”.
Como estamos precisando cantar novamente:
“Glória, glória, aleluia!
Vencendo vem Jesus!”
em ritmo de marcha e conquista.
A vinda de Jesus a Jerusalém traz esperança, faz o povo se lembrar que Deus não se esqueceu deles. “Bendito o que vem em nome do Senhor!” . Que lembrança maravilhosa. Deus está entre nós! O rei não era César, nem Roma, com toda sua arrogância e imperialismo. O rei era aquele que vinha em nome de Yahweh!!!
Isto me leva ainda a fazer três considerações:
A. Jesus vem no meio da opressão romana. O povo de Israel também vivia dias de tristeza e insegurança. Eram explorados e oprimidos pelos soberbos romanos que davam a impressão de terem todo poder.
É neste contexto que se dá a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém. Renasce a esperança messiânica. “Este é o profeta Jesus, de Nazaré da Galileia!” (Mt 21.11). Este homem que vem das regiões esquecidas da Galileia, vem em nome do Senhor. Deus está entre nós!
Fico me perguntando:
§ Será que somos capazes de discernir o rei no meio desta pandemia?
§ Como a igreja está interpretando e vai reagir a este novo tempo?
§ Como entendemos a vinda do Messias: Isto nos causa admiração, júbilo, louvor, ou ainda não nos impede de caminhar oprimidos?
B. Jesus traz alegria! Por que as pessoas estão tão comovidas a ponto de tirar suas roupas e atirarem no chão, de cortarem folhas de palmeiras para jogar na frente do Messias?
Nestes dias de pandemia, estamos abatidos.
Nesta semana conversei com um querido irmão que me disse: “Pastor, estou com medo desta pandemia!” e eu respondi: “Meu irmão, eu também estou com medo!” No grupo de pastores do nosso presbitério, tenho visto também este cansaço existencial. Um colega disse no grupo de pastores depois da morte de um colega em Goiânia, segundo as informações que tenho, este já é o 17o pastor de nossa denominação que morreu de covid-19. “Estou muito triste!
Precisamos colocar os olhos na entrada triunfal do rei. As coisas não tinham mudado, o Império Romano ainda dominava, mas a realidade da entrada do rei traz uma renovada alegria. Hoje igualmente precisamos colocar os olhos em Jesus. Ainda não vencemos a pandemia, mas o rei está vindo. “Hosana ao que vem em nome do Senhor!
C. Avinda do rei, traz esperança!
Olhar para Jesus nos renova, nos faz sonhar, crer, esperar coisas noivas.
Alguns anos atrás era pastor em Cambridge-MA, e convidamos um coral inteiro de Londrina-PR, para nos visitar no verão! Imagine que loucura: um coral inteiro! Eles vieram com regentes, orquestra, 62 pessoas, e fizemos um plano de atividades com a presença deles. Um dia, terminamos o culto à tarde, era uma época de calor, e como nos verões em Boston, temos claridade até as 21.30 hs, resolvemos ir para a escadaria do templo e cantar. Muitas pessoas estavam andando na calçada, estávamos localizados próximo ao metrô e o coral havia ensaiado alguns hinos clássicos em inglês. As pessoas paravam e aplaudiam o coral. Depois disto, resolvemos sair cantando na rua indo até a estação do metrô que ficava a uns 100 metros de distância, na Central Square, onde paramos rapidamente e continuamos cantando. De repente, uma pessoa estranha, meio maltrapilha, veio na minha direção, parou a uns 40 cms do meu rosto e disse em inglês: “I’m the boss here!” (eu sou o chefe aqui). Na minha cabeça só veio uma compreensão: “A new boss is coming!” (um novo rei está chegando!).
Precisamos de esperança em tempos de desalentos e desanimo. A vinda do rei Jesus traz esperança!
Conclusão:
Apesar da glória do rei, e de todos seu domínio, o destino do rei, é a cruz! A mesma multidão que neste domingo grita: “Hosana ao Filho de Davi. Hosana ao quem vem em nome do Senhor!” gritará no domingo seguinte: “Solta a Barrabás! Crucifica este!”
Naquela cruz, o rei seria humilhado.
Mas naquela cruz horrenda ele conquista as maiores vitórias:
§ Vitória sobre Satanás – Na cruz ele triunfou sobre principados e potestades. (Col 2.14-15_.
§ Na cruz ele nos livrou da condenação eterna, assumindo nosso lugar. O castigo que nos traz a paz estava sobre ele e pelas suas pisaduras fomos sarados.
§ Na cruz, ele cria uma nova sociedade. Seu povo escolhido, sua igreja, que tem uma dimensão universal e que proclama a vitória pelo sangue do Cordeiro.
O rei chegou!
E isto muda todo cenário.
Maranatha, vem Senhor Jesus!
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