Introdução
Uma senhora que frequentava nossa comunidade, gostava de ironizar a fé dos crentes, dizendo o seguinte: “Todos falam dos céus, mas ninguém quer morrer.” Outra pessoa fez o seguinte comentário. “Não tenho medo de morrer, mas não estou com pressa.” Outro disse o seguinte: “A última coisa que quero fazer na vida é morrer!”
Paulo olhava para a morte de uma forma surpreendente: “Para mim, o viver é Cristo e o morrer é lucro.” Ele não via grande problema com a morte. De uma forma jocosa e com sátira ele zomba da morte no seu sermão em 1 Co 15: “Onde está, ó morte, o teu aguilhão!” Aguilhão é o ferro de cutucar o boi. Paulo estava dizendo que, pelo fato de Cristo ter vencido a morte, a morte já não imprimia pavor.
Na verdade, a morte é a grande angústia humana, principalmente para aqueles que não tem esperança. O que acontece depois da morte? Como será a vida depois da morte? Haverá vida depois da morte?
O que levou Paulo a ter esta ousada visão da morte?
1. Ele tinha a perspectiva, que permeia todas as Escrituras do Antigo e Novo Testamento, de que a morte é apenas uma passagem.
O fato de entendermos que a morte não é um ponto final, mas um até logo, traz enorme alívio ao coração. Não lidamos com a morte com desesperança.
Jesus via assim a morte. Apenas uma transição. Quando o ladrão na cruz lhe disse: “lembra-te de mim quando estiveres no teu reino”, ele respondeu: “Hoje mesmo estarás comigo no paraíso.” (Jo 23.43). Quando os discípulos ficaram assustados com o anúncio de sua morte, ele disse: “Não se turbe o vosso coração, credes em Deus, crede também em mim, na casa do meu Pai há muitas moradas” (Jo 14.1), e em seguida afirmou: “...e quando eu for, e vos preparar morada, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde estou, estejais vós também.” (Jo 14.5). Curiosamente ele usa a expressão: “para que onde eu estou”, (no grego “ego eimi”), ele não diz: “para que onde eu estiver”, mas onde “eu estou”. Não fala da sua relação com a eternidade como algo que ainda viria, mas como algo real, concreto, imediato, já presente.
No livro de Eclesiastess lemos: “O pó volte a terra e o espírito volte a Deus que o deu.” (Ec 12.7), referindo-se à morte. Portanto, morrer é apenas um retorno. Não é o fim, mas o começo. O corpo vai se decompor, mas o espírito continua vivo, rumo à eternidade, voltando para seu criador.
Jesus transita entre o temporal e o eterno, sem qualquer aflição ou crise. Assim aconteceu como fizeram os cinco missionários que foram executados na tentativa de aproximação com uma tribo remota no Equador. Eles foram assassinados a flechas, mas tinham revolver dentro do avião e poderiam ter usado, mas preferiram não tratar a situação com violência, e morreram.
2. Porque na perspectiva cristã, morrer é melhor. “Para mim o viver é Cristo, e o morrer é lucro!”. Isto pode nos assustar, mas é a realidade.
Minha sogra, quando ficou viúva, um dia passou na sala e viu a foto dela e seu marido abraçados e sorrindo, e disse: “Muito bonito para você. Está ai tranquilo, ao lado de Jesus, e eu aqui sofrendo.”
O cristão não aspira nem celebra a morte. Na visão cristã a morte é a última inimiga a ser destruída”. Morte é consequência do pecado e traz sofrimento, ruptura e dor. Mas aqueles que colocaram sua fé em Cristo, sabem das promessas dos céus e vivem nesta esperança.
Parece que esta geração, não quer ouvir falar muito do céu. Os cânticos antigos sempre falavam do céu, hoje raramente você ouve um hino sobre o céu. Creio que é uma forma inconsciente de negar a realidade da morte, ou não querer conversar sobre este assunto, afinal, morte ainda é um grande tabu.
Conheci um pastor de Belo Horizonte, que tinha uma grande família. Oito irmãos. Sua mãe adoeceu gravemente e todos foram para o hospital. Ela já estava bem idosa, mas como toda família era crente, começaram a orar pela cura da mãe. Quando chegou a vez deste filho visitá-la, já que não podiam estar todos no quarto, ele disse que estavam orando por ela, e ela respondeu: “parem de orar, vocês estão impedindo o meu encontro com Jesus.” E de fato, ela morreria naquele mesmo dia.
Quando Dr. Russel Shedd contraiu um câncer, sua saúde que sempre fora tão boa, (eu tive oportunidade de ouvi-lo pregando aos 86 anos de idade), ele fez o seguinte comentário sobre sua enfermidade, na medida em que sua saúde definhava: “eu estou me desmamando da terra”. Achei interessante sua colocação. Precisamos aprender a nos preparar para deixar as propostas que a vida terrena quer nos oferecer, e confiar na provisão de Deus para nossa eternidade.
3. Morte traz regozijo – “Estar com Cristo é incomparavelmente melhor.” Paulo não disse isto porque ele estivesse desistindo da vida, não. Ele na verdade estava querendo ensinar quão empolgante é a morte em si.
Certo homem rico e excêntrico, mudou-se para o oriente e comprou uma linda casa, com belas mobílias, enfeites, quadros e tapetes. Quando retornou ao seu país, decidiu trazer até mesmo partes daquela casa, como colunas e mármores, para construir um novo castelo no país de origem. No seu retorno, todo seu coração e afeição foram colocados na construção da nova mansão. Mas em seguida ele adoeceria gravemente, e diante do doutor implorava: “doutor, não me deixe morrer. Não quero deixar minha casa.”
A atitude deste homem difere completamente da atitude do cristão, que diante da morte afirma: “Obrigado Senhor, estou voltando para casa”.
Quando meu sogro faleceu, um dos pastores que realizava o culto fúnebre, fez a seguinte afirmação: “Ele não partiu. Ele chegou!”. Na verdade, esta é a visão cristã. Deus nos leva de volta para a casa que ele preparou para seu povo amado.
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