quarta-feira, 30 de março de 2022

Fp 2.18-25 Amigos, fonte de encorajamento

 





 

 

 

Introdução

 

Como vimos anteriormente o livro de Filipenses fala-nos de quatro ladrões da alegria: Pessoas, coisas, circunstâncias e preocupações. Se é certo que diariamente temos que nos encontrar com estas forças que roubam nossa energia e minam nosso contentamento, podemos também afirmar que existem realidades que nos restauram profundamente. Dentre estas citamos as pessoas que atravessam nossa vida.

 

Existem amizades funcionais: existem apenas enquanto exercemos determinadas funções ou trabalhamos na mesma empresa. Nós dependemos deles e eles de nós. É um relacionamento pragmático. Não há nada errado com tais relacionamentos, eles exercem esta função limitada mas necessária.

 

Mas existem pessoas que insistem em transitar no nosso universo. São amigos mais chegados que irmãos. Pessoas que atravessam os anos conosco. Podemos estar pertos ou longe que mesmo assim nossas vidas estarão sempre se cruzando. Tais amigos são fontes de encorajamento.

 

Neste texto Paulo fala de dois amigos leais que ele teve no ministério. É bom lembrar que nem sempre seus colegas foram tão leais assim. Ele mesmo cita Demas, que o abandonou e Alexandre, o latoeiro, que lhe causou grandes males. Mas Epafrodito e Timóteo são citados aqui como encorajadores. Este texto é um dos mais afetivos de Paulo e com menor ênfase teológica. O que havia de especial nestes dois irmãos?

 

1.     Eram pessoas interessadas no problema dos outros – (Fp 2.20-21)

 

Paulo enfatiza este aspecto na vida de Timóteo: “Ele cuida dos vossos interesses.” (vs 20) Não é muito encontrar este tipo de pessoa, e muitas vezes nós também não somos pessoas preocupadas com o bem estar do outro. Em geral estamos envolvidos com as agendas e interesses particulares e temos pouco tempo e disposição para realmente nos interessarmos pelo problema do outro. Mas Timóteo era diferenciado, e Paulo faz menção de sua positiva atitude.

 

Tenho um irmão muito querido, a quem Deus o fez próspero. Ele realmente aprendeu a ganhar dinheiro, e esta é uma arte muito complicada, somos mais propensos a não administrarmos bem e dispersarmos o que temos, sem planejamento a longo prazo, com  negócios mal feitos. Mas este irmão é diferenciado na arte de fazer negócios.

 

Quando ainda morava nos Estados Unidos, e como o dólar estava alto, lhe liguei dizendo que se ele achasse um negócio bom e barato, que me falasse pois gostaria de investir parte das minhas reservas nisto. Ele sorriu e me respondeu: “Se eu achar um negócio bom e barato, eu compro pra mim.”

 

Apesar desta cena jocosa, a verdade é esta mesma. Quantas pessoas estão realmente interessadas na vitória, conquista e bem estar do outro? Tenho aprendido a duras penas, que as pessoas são mais capazes de chorar com os que choram do que alegrar-se com os que se alegram. Rick Warren afirma que “fracasso gera comunidade, sucesso gera competição.” Então, quando pessoas ao nosso redor estão indo bem e nós não temos a mesma projeção e as mesmas conquistas, ficamos frustrados e tristes com a vitória dos outros.

 

Quantas pessoas que realmente sensíveis a ponto de cuidar do interesse dos outros? Esta é a primeira coisa que Paulo fala do seu amigo e discípulo Timóteo. Pessoas assim são fontes de encorajamento.

 

2.     Tinham o caráter provado. (Fp 2.22)

 

O que Paulo está dizendo aqui é muito importante. Timóteo tinha sido testado quanto à sua integridade e caráter e fora aprovado.

 

Um provérbio antigo afirma o seguinte: “Se quiser saber como será uma pessoa, coloque-a numa posição de autoridade.” Nem todos são aprovados quanto à sua vaidade, luxúria, integridade, poder, sucesso. Na hora do teste, muitos fracassam.

 

Paulo afirma que ele tinha um caráter provado. Mas surge no texto um adendo importante quanto a isto: “Ele servia o Evangelho.” Sua vida era vivida em torno da mensagem de Cristo. o que o norteava era a mensagem da cruz. O evangelho era o fundamento de seu caráter, ele estava firmado nos valores do reino e na ética de Cristo.

 

Alguns anos atrás preguei um sermão sobre o texto de Jeremias que afirma: “Maldito o homem que confia no homem.” Naquela ocasião tentei demonstrar que o texto não está ensinando que nunca podemos confiar em ninguém, mas que não podemos colocar a nossa salvação em pessoas. O povo de Deus estava deixando de obedecer ao Senhor, para colocar sua confiança no poderio bélico do Egito diante da ameaça dos caldeus, e Deus estava mostrando que eles estavam equivocados pois faziam “da carne mortal o seu braço.” Eles deveriam confiar em Deus, mas estavam confiando nos seus recursos e olhando para outras pessoas em quem pudessem buscar refúgio ao invés de buscar socorro em Deus.

 

Na época dei exemplo de pessoas. Amigos e irmãos que em situação de teste foram absolutamente leais e fieis. São pessoas em quem eu aprendi a colocar minha confiança. Um amigo meu cuidou de contas que tinha que pagar nos Estados Unidos quando voltei para o Brasil. Ele tinha cheques assinados, meu cartão de crédito e minha senha. Este amigo tem caráter aprovado quanto à forma como lida com finanças.

 

3.     Lutam conosco nossas lutas.  (Fp 2.25)

 

Se nos dois primeiros tópicos, Paulo se referia a Timóteo, nos próximos fará referência a outra pessoa que o encorajava grandemente: Epafrodito. Paulo afirma que ele era “cooperador e companheiro de lutas.”

 

Um companheiro de lutas é o nosso aliado. Não foge nas horas dos embates, não se acovarda diante da pressão, enfrenta o conflito conosco, coloca-se à disposição mesmo se tiver o risco de perder reputação ou precisar investir dinheiro e tempo.

 

Você tem um companheiro assim, que luta contigo as suas lutas? Que te defende? Que te apoia? Que chega junto quando todos fogem? Você é companheiro neste nível? As pessoas podem contar contigo em situações de tensão e perigo?

 

Neste texto Paulo fala de uma severa enfermidade contraída por Epafrodito e quanto a doença deste amigo o abalou emocionalmente. Paulo é muito afetivo neste texto. Ele afirma que a cura deste irmão foi um ato misericordioso de Deus para com ele, porque se aquele amigo morresse isto lhe traria grande tristeza. Tenho entendido que, a morte de um amigo meu, ou de uma ovelha querida, parece sempre me deixar mais pobre. É assim que me sinto. Mais pobre de relacionamentos, de afeto, de companheirismo.

 

Epafrodito era capaz de profundos sacrifícios para cuidar dos outros. Pessoas assim andando ao nosso lado se transformam numa grande fonte de encorajamento.

 

4.     Sempre nos alegram quando chegam -  (Fp 2.28)

 

Você tem amigos assim? Estar perto deles é uma fonte de alegria e contentamento? A presença deles é restauradora, você gosta de compartilhar sua história com ele?

 

Que bom poder encontrar pessoas que trazem alegria ao nosso coração. Paulo envia Epafrodito a Filipos porque sua presença traria encorajamento e alegria para aquela comunidade. Sua alegria era contagiante, sua presença animadora.

 

Algumas pessoas são deprimentes. Transformam o ambiente em algo negativo, seus comentários são tóxicos, e quando saem trazem leveza e harmonia. Mas este companheiro de Paulo era o contrário, sua presença trazia alegria.

 

Conclusão

Diante destas considerações queria fazer algumas aplicações.

 

A.   Ore para que Deus lhe dê amigos assim. Eles são fonte de ânimo e restauram nossa alma. Timóteo animava Paulo e animaria a igreja (Fp 2.19). Nada é mais importante em tempos de tristeza, desânimo, desencojaramento que uma palavra de exortação, de ânimo.

 

B.    Honre amigos com estes – (Fp 2.29). Nem sempre valorizamos muito bem os amigos que temos. Não lhe damos o devido valor. Precisamos ter mais atenção, cuidar mais, ser mais generoso e intencional com amizades assim.

 

C.    Olhe para tais amigos como pessoas que nos ajudam a conhecer melhor o grande amigo Jesus.

 

Achei interessante a menção que Paulo faz de Timóteo colocando na perspectiva da obra de Cristo. “Ele servia o Evangelho.”

 

Não há caminho melhor para entendermos o evangelho do que nos encontrarmos com pessoas que trazem um aperitivo do seu para nossas almas. São amigos assim que nos ajudam a conhecer melhor a beleza da obra de Cristo.

 

D.   Lembre-se do grande amigo: Jesus.

 

Falar de amizade é fazer exegese dos céus. Gosto da frase Hans Burke: ”O reino de Deus é um reino de amigos.” Jesus o Filho de Deus, nos amou a tal ponto que certa vez ele se referiu aos seus discípulos da seguinte forma: “Não os tenho chamado de discípulos, mas amigos”. Eles eram discípulos? Sim. Isto mudou a relação deles para Jesus? Talvez sim, talvez não. Talvez agora eles ainda o amassem mais, por ver o grande amor que ele tinha pelo seu povo.

 

Jesus tinha real amor e interesse pelas pessoas.

 

Assim afirma João: “Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, a ponto de sermos chamados filhos de Deus; e, de fato, somos filhos de Deus.”(1 Jo 3.1). Paulo ainda diz: “Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores.” (Rm 5.8)

 

Jesus realmente lutou nossas lutas. Ele sofreu a punição da cruz, assumindo nossa condenação e julgamento. Morreu em nosso lugar, morreu a nossa morte. Ele nos deu sua justiça, e foi condenado a fim de que fossemos justificados através de sua obra.

 

E finalmente, sua presença sempre traz encorajamento.

 

Um antigo hino diz:

“Nome santo incomparável,

tem Jesus o amado meu.

Este nome traz conforto, hoje e sempre onde for.

Nome bom, doce a fé, a esperança do porvir.”

 


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