Introdução
Um dos grandes problemas da vida é a imaturidade.
Muitas pessoas se recusam a crescer. Crescer dói, traz responsabilidades e muitos acreditam naquele slogan do “seu barriga”, da Escola do Professor Raimundo: “A vida é uma escola e eu vim aqui pra merendar.” São pessoas infantilizadas na forma de falar, seu estilo de vida, e forma de vestir. Não querem envelhecer e não querem crescer.
Muitas outros apodrecem mas não amadurecem. Ano após ano com mesmo comportamento debiloide, falta disposição para exercerem suas faculdades adultas.
Em 1 Co 13.11 lemos o seguinte:
Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, pensava como menino; quando cheguei a ser homem, desisti das coisas próprias de menino.” (1 Co 13.11).
Infelizmente muitos ainda:
· Falam como menino
· Sentem como menino
· Pensam como menino
Lidar com pessoas imaturas é cansativo. Certa pessoa fez o seguinte comentário: “gente assim me dá uma canseira...”
Erich Fromm afirmou:
“O amor imaturo diz: Eu te amo por que preciso de ti.
O amor maduro diz: Eu preciso de ti porque te amo.”
Assim como a imaturidade na vida é um grande problema e um grande desafio, na vida cristã, a imaturidade é também um grande desafio.
Paulo demonstra grande preocupação com os irmãos da igreja de Corinto:
“Eu, porém, irmãos, não vos pude falar como a espirituais, e sim como a carnais, como a crianças em Cristo. Leite vos dei a beber, não vos dei alimento sólido; porque ainda não podíeis suportá-lo. Nem ainda agora podeis, porque ainda sois carnais.” (1 Co 3.1,2)
O autor aos hebreus revela grande preocupação pela imaturidade cristã:
“A esse respeito temos muitas coisas que dizer e difíceis de explicar, porquanto vos tendes tornado tardios em ouvir. Pois, com efeito, quando devíeis ser mestres, atendendo ao tempo decorrido, tendes, novamente, necessidade de alguém que vos ensine, de novo, quais são os princípios elementares dos oráculos de Deus; assim, vos tornastes como necessitados de leite e não de alimento sólido. Ora, todo aquele que se alimenta de leite é inexperiente na palavra da justiça, porque é criança.”(Hb 5.11-13).
Como desenvolver a vida cristã?
Precisamos amadurecer. A situação de infantilidade da igreja muitas vezes é preocupante. Ao invés de termos família, temos um berçário. Na família, as pessoas crescem e cuidam umas das outras, no berçário, todas as crianças choram porque estão com fome ou porque sentem desconforto pessoal. A igreja muitas vezes se parece com uma creche.
Então, como desenvolver nossa vida cristã?
Este texto fala-nos de algumas coisas que são necessárias para nosso crescimento.
1. Só é possível crescer com coerência e integridade. “Assim, pois, amados meus, como sempre obedecestes, não só na minha presença, porém, muito mais agora, na minha ausência, desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor.”(Fp 2.12)
Uma vida coerente não precisa de público para sua integridade. Paulo exorta duas vezes os irmãos de Filipos a este tipo de comportamento. Em um texto anterior ele diz: “Vivei, acima de tudo, por modo digno do evangelho de Cristo, para que, ou indo ver-vos ou estando ausente, ouça, no tocante a vós outros, que estais firmes em um só espírito.” (Fp 1.27)
A integridade impede a vida dupla, vida de máscaras. Integridade tem a ver com a pessoa não fragmentada, dividida ou esquizofrenizada. Ela é o que é. Você não precisa temer que ela tenha outro comportamento diferente se está diante do público ou na sua vida privada. Uma vida fragmentada do tipo “o médico e o monstro”, é um desastre para o crescimento na vida cristã. Não é possível crescer numa vida dupla.
Recentemente estive em uma igreja em São Paulo. Um pastor querido de uma grande igreja, pastoreando a mesma comunidade por mais de vinte anos, tinha uma vida secreta. Um dia a verdade veio à tona. Ele teve casos com várias mulheres, e vivia neste comportamento duplo de forma quase insuspeitável, até que a verdade veio a público.
Fico me perguntando como ele conseguiu viver? Como conseguiu manter sua vida de farsa? Como conseguiu subir no púlpito e pregar todos os domingos? Como ele conseguia ministrar a Santa ceia à sua comunidade?
Paulo fala da necessidade das pessoas desenvolverem a sua salvação, não só na sua presença, porém, muito mais na sua ausência. Só é possível crescer com integridade. Reputação pública não pode ser maior que caráter. Carisma sem caráter é uma tragédia.
2. Vida cristã se desenvolve com temor e tremor – “Desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor.”(Fp 2.12)
Duas palavras são aqui colocadas juntas: temor e tremor
Elas aparecem juntas outras vezes na Bíblia, como no livro de Salmos: “Servi ao Senhor com temor e alegrai-vos nele com tremor.” (Sl 2.11). Não apenas temor, mas com tremor. Aparece também em 1 Co 2.3: “E foi em fraqueza, temor e grande tremor que eu estive entre vós.”
Estas duas palavras tem a ver com reverência, sacralidade, mistério. Não com medo. Tanto é que nos Salmos ela está associada a alegria: “Alegrai-vos nele com tremor.”
Precisamos crescer espiritual numa atmosfera de sacralidade. Foi o que Deus disse a Moisés: “Deus continuou: Não te chegues para cá; tira as sandálias dos pés, porque o lugar em que estás é terra santa.” (Ex 3.5) Precisamos desenvolver uma compreensão e ter convicção de sacralidade. Pessoas levianas com o sagrado perdem o temor e são incapazes de se admirar com as coisas espirituais. No livro de Atos lemos um relato de como a Igreja Primitiva reagia diante daquilo que Deus estava fazendo entre eles: “Em cada alma havia espanto.”
A Bíblia até mesmo menciona a reação de Satanás diante de Deus. Honestamente, o diabo possui uma atitude diante de Deus bem melhor do que muitos. “Crês tu que Deus é um só, fazes bem, porque até o diabo crê e treme.” (Tg 2.19). O diabo crê, ele não tem qualquer dúvida sobre a realidade de Deus, e de que ele é um só. Em segundo lugar, ele treme, ele se abala diante de Deus. Se o diabo age desta forma diante de Deus, não deveríamos nós, em muita maior medida, ter um comportamento de temor diante do Sagrado?
Se quisermos desenvolver a salvação e crescer na vida cristã, tudo que fazemos deve ser feito numa esfera de reverência, com temor e tremor. Estamos diante de Deus. Não há espaço para agir de outra forma a não ser com profundo temor. Tira as sandálias dos pés, porque o lugar em que estás é terra santa!
3. Vida cristã se desenvolve entendendo a grande dialética cristã: Fazemos porque Deus faz em nós!
O vs 12 diz: “Desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor!” Mas o vs 13 dirá: “Porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer quanto o realizar.”
Percebem a dialética do texto?
Devemos fazer sabendo que é Deus quem faz! Isto dá um enorme nó na mente de muitos leitores da Bíblia: Nós fazemos ou é Deus quem faz?
Vamos por parte.
Antes de mais nada, o texto diz que devemos desenvolver a nossa salvação. Não diz que geramos a nossa salvação. Ela é obra exclusiva de Deus, que através do Espírito Santo nos regenera, nos dá novo nascimento, nos converte e nos santifica. Você só pode desenvolver a obra da salvação, porque Deus é quem iniciou a obra da salvação. “Tudo provém de Deus!”
Alguns dizem: Se é Deus quem faz, então não é nossa responsabilidade fazer. Não devemos fazer nada. Veja como a Palavra de Deus não tem este tipo de crise. Soberania de Deus e responsabilidade humana andam juntas. Quando pessoas dizem: “Nada podemos fazer por que é Deus quem faz”, e colocam a responsabilidade da salvação apenas em Deus, então o texto bíblico afirma: “Precisamos fazer: Desenvolvei a vossa salvação!” Desta forma rejeita o discipulado sem obediência e a graça barata. Quando dizem: “Nós é quem devemos fazer as coisas, a responsabilidade é nossa!” A Bíblia responde: “Deus é quem efetua em vós tanto o querer quanto o realizar.” E retira assim qualquer presunção de que o homem, por si só, sem o agir de Deus, possa fazer algo. Portanto a Bíblia rejeita tanto o hiper-calvinismo quanto o arminianismo.
O que a Bíblia diz: Responda com obediência, desenvolva o que Deus lhe tem dado, o dom da vida, sabendo que Deus é aquele que faz em nós, através de nós, e a despeito de nós.
Esta dialética é usada algumas vezes na Bíblia. Por exemplo: A Bíblia ensina que Deus está conduzindo a história por sua soberana vontade, e tudo será feito conforme Deus quer. Diante disto alguns afirmam: “Se Deus fará conforme ele deseja fazer, porque precisamos orar?” Se Deus, em última instância, fará seu plano, nossa oração não vai mudar o plano de Deus, então, não precisamos orar.
Este tipo de leitura é equivocado. Por que então deveríamos orar?
Deixe-me apresentar duas razões básicas:
A. Jesus orava. Se Jesus orava, mesmo sendo Deus, devemos entender então que oração é algo necessário para a vida cristã.
B. Jesus mandou seus discípulos orarem. Ele não diz: “Se orares”, mas “quando orares”. Entrarás no teu quarto e orarás em secreto, e teu pai que te vê em secreto, te recompensará.
Precisamos orar, porque faz parte do discipulado cristão.
Devemos, portanto, desenvolver nossa salvação sabendo que sem Deus, jamais avançaremos, sem a sua graça e seu poder somos incapazes. Deus realiza em nós tanto o querer quanto o realizar.
Querer tem a ver com o processo volitivo. Com a vontade. Deus precisa inclinar nosso coração à santidade, o Espírito Santo nos transforma, nascemos de novo pela sua obra em nós, ele nos impulsiona para a luz, em direção a Deus. Como filhos da luz, gerados pelo Espírito, fugimos das trevas, temos tristeza pelo pecado. Sem este impulso essencial, não avançaremos na vida cristã.
Realizar, tem a ver com a capacidade para executar. Às vezes queremos fazer, mas não fazemos. Queremos emagrecer, mas não conseguimos, queremos ser mais disciplinados, não conseguimos, queremos ir para a academia não conseguimos. Não é assim a nossa vida? E se tratando das coisas espirituais, ainda é mais difícil: queremos fazer as obras de Deus, mas lá estamos de novo praticando o erro. Deus então, precisa nos dar a vontade e a força para realizar sua obra.
Numa viagem à Grécia, subimos ao Parthenon Center, uma das obras mais maravilhosas da arquitetura do mundo antigo que fica em Atenas. Apesar do prédio não ter mais o teto, as colunas permanecem inabaláveis. O que surpreende os estudiosos atualmente é a precisão daquelas colunas. Elas estão milimetricamente paralelas e uma definição de linhas retas paralelas é que são duas retas distintas que possuem o mesmo coeficiente angular, nunca se cruzam e não há ponto em comum entre elas, por isto elas não se encontram. Mas aqui está algo curioso: As linhas paralelas se encontram na eternidade. Elas terão um ponto de convergência no infinito no qual se encontrarão. Não é algo surpreendente?
Talvez isto nos ajude a entender a questão da soberania de Deus e da responsabilidade humana: Elas não cabem na mente humana, porque são dialéticas e aparentemente paradoxais, mas na eternidade, andam perfeitamente juntas. Por isto, desenvolvam a vossa salvação, sabendo que é Deus quem realiza em vós tanto o querer quanto o realizar. Não fique com crise com isto. A Bíblia não tem esta crise.
4. Vida cristã progride num ambiente de louvor e gratidão: “Fazei tudo sem murmurações nem contendas.” (Fp 2.14).
“Sem murmuração”. Não dá para crescer num ambiente de mau humor, reclamação e raiva. Há pessoas que vivem em contendas e agem com raiva em relação à vida. São do tipo de pessoas dizendo: “oh céus! oh vida!, oh céus!” reclamando o tempo todo, provocando querelas todo tempo, nada satisfaz. Coração insatisfeito não traz glória a Deus.
O salmista diz: “Agrada-te do Senhor, e ele satisfará os desejos do seu coração.” Precisamos nos agradar de Deus mas muitas vezes fazemos o contrário: ficarmos insatisfeitos com Deus. Ter alegria no que ele faz, e no que ele nos dá é essencial para nosso crescimento. Uma vida sem gratidão não glorifica a Deus. Precisamos mudar o mau hábito de viver uma vida de constante tristeza. Ninguém cresce num ambiente de murmuração e contendas. N. V. Peale afirma: “Ser agradecido faz todas as coisas melhores.”
5. Vida cristã se desenvolve com santidade – “para que vos torneis irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração pervertida e corrupta, na qual resplandeceis como luzeiros no mundo.”(Fp 2.15)
Muitas vezes nos perguntamos: O que está acontecendo com esta geração que perdeu a noção de princípios e valores morais?
Mas quando lemos este texto entendemos que a questão não tem a ver com esta geração, mas tem a ver com a natureza humana. Paulo afirma que a geração de seus dias era pervertida e corrupta. Este é um diagnóstico bem duro.
Quando olhamos para a geração atual, vemos as mesmas características. Muitos jovens crentes, quando chegam na universidade, se perdem com a promiscuidade e permissividade. Culpados, deixam de ler a Bíblia, se afastam de da comunhão com Deus e da igreja, perdem sua autoridade espiritual e são incapazes de testemunhar a Cristo. Eles se quedam diante da geração pervertida.
Mas o que diz o texto: Devemos resplandecer como luzeiros no mundo. Nosso papel é ser luz no meio das trevas. A falta de santidade, enfraquece o testemunho do evangelho, distancia as pessoas de Deus, dá espaço ao maligno. Se você deseja crescer em Cristo, é necessário viver como filho de Deus inculpável. É interessante que este texto fale de uma vida inculpável. Com culpa, não crescemos. Há muitas pessoas no meio da igreja carregados de culpa, vivendo na prática do pecado, desobedecendo a Deus e assim perdem a comunhão com Deus. Mas o texto fala também de filhos de Deus irrepreensíveis. Isto é, ninguém pode apontar o dedo e acusar.
Só é possível crescer com santidade. Vida constante de obediência, pedindo ao Espirito para que tenham força para viver sem culpa e sem nada que os acuse ou os condene.
6. Preservando a Palavra da vida – “Preservando a palavra da vida, para que, no Dia de Cristo, eu me glorie de que não corri em vão, nem me esforcei inutilmente.” (Fp 2.16)
A Palavra de Deus deve ser preservada. Ultimamente alguns estão equivocadamente afirmando que a Palavra de Deus precisa ser atualizada. Preservar é manter o que é, sua essência, seu pensamento. Atualizar é rejeitar alguns pontos que se tornam ofensivos à geração pervertida e corrupta. Se a Bíblia fala de pecado num tom mais forte, precisamos adequá-la à mentalidade moderna. Isto significa suprimir a verdade, torná-la mais branda com o pecado.
Recentemente até mesmo algumas traduções bíblicas tem sido “atualizadas”. Uma linguagem mais ofensiva ao pecado precisa ser retirada para que o evangelho possa ser mais aceito. Quem tenta fazer isto se esquece que a mensagem do evangelho é sempre ofensiva. O amor de Deus é uma ofensa ao pecador. A cruz é uma ofensa à crueldade e à injustiça. A morte de Cristo é uma agressão: um homem justo morrendo pelos pecadores.
Jesus teve que lidar com isto. Depois de um duro sermão, os discípulos começaram a se afastar dele e alguns não mais o seguiam. “Muitos dos seus discípulos, tendo ouvido tais palavras, disseram: Duro é este discurso; quem o pode ouvir? Mas Jesus, sabendo por si mesmo que eles murmuravam a respeito de suas palavras, interpelou-os: Isto vos escandaliza? À vista disso, muitos dos seus discípulos o abandonaram e já não andavam com ele. Então, perguntou Jesus aos doze: Porventura, quereis também vós outros retirar-vos?” (Jo 6.60,61; 65-67).
Viram o que Jesus afirma: “Isto vos escandaliza?” O Evangelho é um escândalo. A cruz é um escândalo. O amor de Deus pelo pecador é escandaloso.
Por esta razão, desejar crescer na fé, e desenvolver a nossa salvação, deve ser nossa agenda principal.
Você tem desenvolvido sua salvação?
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