quinta-feira, 7 de abril de 2022

Fp 3.12-16 Prossigo para o Alvo

 



 

 

 

Introdução

 

Estudiosos do comportamento humano afirmaram que Paulo foi o homem mais feliz do mundo por sua declaração: “Aprendi a viver contente em toda e qualquer situação.” (Fp 4.11)

 

Não é fácil viver uma vida de contentamento. Com muita facilidade nos tornamos amargos com a vida e com as pessoas, cínicos em relação ao mundo e descrentes em relação à Deus. O livro de Eclesiastes afirma: “Eis o que tão somente achei, que Deus fez o homem reto, mas ele se meteu em muitas astúcias” (Ec 3.8). Por causa da natureza caída da raça humana, por decisões erradas que assumimos, ou por sofrermos o efeito do mal praticado por outras pessoas, facilmente nos tornamos pessoas amargas e ressentidas. Perdemos a alegria e contentamento. Temos muito mas nos sentimos pobres; somos abençoados, mas ficamos procurando razões para tristeza e não raras vezes somos consumidos pelo sentimento de inadequação, incompletude, frustração, raiva e tristeza. Perdemos a simplicidade do evangelho e a da vida.

 

Neste texto, Paulo faz algumas declarações sobre sua própria experiência. Queremos entender como este homem que viveu tantas frustrações, perseguições, foi açoitado várias vezes, e que antes de sua conversão era um homem violento, aprendeu a “viver contente em toda e qualquer situação”.

 

Eis alguns dos princípios que norteavam sua vida:

 

  1. Nunca deixe de avançar! “Não que eu já tenha recebido ou tenha já obtido a perfeição; mas prossigo para alcançar aquilo para o que também já fui conquistado por Cristo Jesus.” (Fp 3.12)

 

Muitas pessoas deixam de caminhar.

Isto acontece na vida profissional, de pessoas que se contentam com pouco e não querem aperfeiçoar e melhor.

Isto acontece no casamento, quando pessoas se acomodam a uma vida sem cuidado e prazer, e se contentam com o mínimo.

Isto acontece na fé, quando decidimos ficar no ABC da fé, e nos tornamos infantis e imaturos nas coisas espirituais.

 

Paulo reconhece sua realidade. Ele sabe que apesar de já ter sido conquistado por Cristo ele ainda está longe de ser o que Jesus gostaria que ele fosse. Por isto afirma: “Não que eu já tenha recebido ou tenha já obtido a perfeição; mas prossigo. ”Ele reconhece suas limitações, e está afirmando que ele precisa continuar crescendo, que perfeição é algo muito longe de sua realidade, mas que ele deve continuar crescendo na direção de Jesus.


Eventualmente percebo que alguns incidentes podem se tornar paralisantes para muitas pessoas. Um abuso sofrido, a perda do emprego, o divórcio, a perda financeira, ou mesmo uma enfermidade. Mas a verdade é que a vida continua, preciso continuar honrando a Deus e continuar avançando na minha experiência de fé, em santidade, na intimidade com Deus. A Vida cristã não pode ser fragmentada, apesar de todos os percalços que experimentamos. É preciso continuar olhando para Jesus, devemos continuar prosseguindo para o alvo.

 

  1. Caminhe para conquistar, mas sinta-se conquistado – “Prossigo para alcançar aquilo para o que também já fui conquistado por Cristo Jesus.” (Fp 3.12)

 

Esta dialética cristã é muito importante.

Paulo já tinha usado esta mesma forma didática para descrever a fé cristã no capítulo anterior, ao afirmar: “Desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor” (Fp 3.12), e em seguida dizer: “Pois ele é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar.” (Fp 3.13).

 

Precisamos entender como funciona esta equação. 

"Conquistar aquilo para o qual fui conquistado.” 


Um dos lados desta equação é a seguinte:

Precisamos entender a beleza da nossa aceitação diante de Deus. Já fomos conquistados por Cristo Jesus, já fomos considerados justos diante de Deus, já fomos perdoados, redimidos. "Agora, pois, nenhuma condenação há para aqueles que estão em Cristo Jesus." (Rm 8.1). Somos filhos amados e conquistados pelo sangue. Isto retira de nós o perigo de nos sentimos devedores. O texto afirma que já fomos conquistados... Jesus já nos comprou, já somos salvos, a eleição, regeneração e conversão são obras completas e já realizadas por Cristo a nosso favor. Em teologia isto é chamado de santificação inicial, a obra de Deus a nosso favor. 


Por outro lado, devemos prosseguir e neste sentido “estamos sendo salvos”, caminhamos no processo da contínua obra renovadora e santificadora de Deus em nós. Isto é chamado em teologia de santificação contínua. Já tenho, mas preciso ter. Já sou, mas preciso ser. Já sou amado de Deus, não preciso temer reprovação nem condenação, mas não posso parar nesta afirmação, senão corro o risco de desenvolver uma "graça barata" e viver um discipulado sem custo. O Espírito Santo está trabalhando em nós, e devemos nos esforçar para caminhar na direção de Deus. É Deus fazendo em nós, “ele realiza tanto o querer quanto o realizar” ele inicia a obra. Ele é o “autor e consumador da fé” (Hb 12.2), mas somos nos convidados para continuar crescendo na graça, buscando sua intimidade. Ele não nos convida para um relacionamento de cobrança, mas de amor; não de medo, mas liberdade.

 

Esta é a propulsão da graça. O evangelho faz você entender o grande amor de Deus. Seu coração tem sido tocado por isto? Isto deve nos motivar a um relacionamento de santidade, pureza e amor diante de Deus. O Evangelho nos comunica a mensagem de um Deus nos chamando para um relacionamento de amor. “...Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13.1). Este é o princípio do Evangelho: “Nós amamos porque ele nos amou primeiro” (1 Jo 4.19). Somos convidados para um relacionamento de afetividade. Este amor de Deus nos leva a responder a sua bondade a nós ministrada, com amor e desejo de não viver uma vida impura e de pecado.

 

O que faz minha vida significativa é a graça e o amor de Deus. Quando os discípulos retornaram de sua viagem missionária em Lucas 10, eles estavam muito empolgados com os resultados. “Até os demônios se nos submetem pelo teu nome”. Haviam descoberto o potencial de poder e a autoridade que tinham no nome de Jesus, mas Jesus coloca seus corações no lugar certo ao afirmar: “Alegrai-vos não porque os demônios se vos submetem, e sim porque os vossos nomes estão arrolados no livro da vida” (Lc 10.17). A fonte da alegria é a compreensão do amor de Deus por nós. Mas esta compreensão maravilhosa do perdão e aceitação de Deus, deve nos levar a uma vida santa.

 

Deus deseja que você aprecie a vida e não apenas a suporte. Que você entenda claramente o que ele fez, e por causa do que ele fez, você viva uma vida de compromisso com o reino. A base da nossa fidelidade não é para conquistar o céu. Isto seria meritório, estaria em nós o poder de "ganhar a salvação", mas a base de nossa vida é a gratidão. "Prossigo para alcançar aquilo para o que também já fui conquistado por Cristo Jesus." A verdadeira vida começa quando a graça de Deus e a obediência andam juntos. Ele está trabalhando a nosso favor e a resposta de gratidão nos levará a querer viver uma vida de santidade e temor diante dele. Fazemos porque ele faz.

 

  1. Não fique amarrado ao passado – gente amarga não cresce na vida – Esquecendo-me das coisas que para trás ficam, prossigo para o alvo”. (Fp 3.13). 

 

Podemos pensar neste versículo em três dimensões práticas:

 

Quando pensamos institucionalmente. Toda organização precisa olhar para frente, não dá para viver de história. Igrejas que vivem apenas apenas de sua história, tornam-se monumentos ao invés de serem movimentos. É muito fácil e perigoso nos transformarmos em museu: Nossa história, nossa tradição e deixarmos de entender o que Deus deseja fazer. A história é importante para nossa identidade, mas a história pode se tornar um peso para a compreensão de um novo tempo e novos métodos. Se uma igreja (ou empresa) não considerar os novos tempos ela tende a se tornar obsoleta e incapaz de responder às perguntas que surgem.


Neste sentido, o saudosismo pode se tornar um grande inimigo. Pessoas que olham para sua instituição e dizem: “Antigamente fazíamos assim”. Na verdade não dá para continuar fazendo da mesma forma. Novos tempos exigem novas respostas. 

 

Podemos pensar profissionalmente. Muitas pessoas se acomodam, não pensam sobre as novas exigências do mercado. Acreditam que, porque sempre fizeram assim e deu resultado, os resultados continuarão aparecendo, e está claro que as coisas não funcionam desta forma. É preciso atualizar-se, continuar estudando, pesquisando. Vendo novas oportunidades, alargando a visão. 


Neste sentido, a displicência e obsolescência podem ser fatais. Podemos nos tornar profissionais incapazes de atender as demandas atuais do mercado de trabalho.

 

Podemos pensar pessoalmente. Creio que este texto está falando disto. Ninguém pode crescer e caminhar em segurança, olhando para trás. O olhar precisa estar adiante.

 

O perdão de Deus não leva em conta quem você era. Paulo sabia disto, ele mesmo afirma que noutros tempos havia sido “blasfemo e insolente”, mas que havia recebido misericórdia e Deus havia lhe dado uma vocação (1 Tm 1.12,13). O perdão de Deus não leva em conta o que você fez. “Deus não leva em conta os tempos de ignorância mas notifica a todos os homens que se arrependam.” (At 17.30) O perdão de Deus nos é concedido pelos méritos de Jesus. Como vimos, estamos conquistando aquilo para o que também já fomos conquistados.

 

Mas, apesar de toda beleza do Evangelho, ainda podemos nos tornar vítimas de grandes inimigos como a amargura e o ressentimento. Pessoas com olhar preso ao passado, que não são capazes de superar as ofensas, não conseguem avançar. Elas ficam atadas à sua dor, se tornam traumatizadas e vitimizadas. Portanto, perdoe como Deus perdoou. Deus não fez um registro de nossos pecados. Ao nos perdoar ele rasgou o escrito de dívidas que era contra nós e cancelou a nossa dívida. Ele nos perdoou, ele zerou a conta. Faça o mesmo com as pessoas que te magoaram, se quiser avançar. 

 

A vida pode deixar um rastro de boas razões para estarmos com raiva, ressentimento e amargura. Envelhecer com amargura é uma péssima opção. A ira, o ódio e o ressentimento são péssimos conselheiros. Traições, acusações, infidelidade, podem nos transformar em pessoas amargas e impedir que avancemos. podemos ficar presos ao passado.

 

Certa pessoa sempre comprava seu jornal diário numa banca de revista próxima de sua casa, mas o dono daquela banca era uma pessoa muito grossa e deselegante no trato. Um dia, ao fazer a compra, recebeu um destrato tendo um amigo do seu lado. Quando estavam indo embora ele disse:

-“Por que você não deu uma resposta à altura para aquele jornaleiro?”

Ele respondeu: - “Não me preocupo, ele sempre trata as pessoas desta forma”.

- “Por que você ainda continua comprando seu jornal aqui?”

Ele novamente respondeu: “Porque não quero que sua atitude determine minha resposta”.

 

Muitos são dirigidos pela culpa, vivendo de remorso e dominados pela vergonha. Permitem que o passado controle seu futuro. Muitos são dirigidos pelo ressentimento e pela raiva. Pessoas assim não avançam. Precisamos lembrar que aqueles que o magoaram no passado não poderão continuar a feri-lo, a menos que você se agarre à dor através do ressentimento. Esquecendo-me das coisas que para trás ficam, prossigo para o alvo”.

 

  1. Não perca o foco de sua vida: prossiga para o alvo. “Prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.”(Fp 3.14)

 

Só existe uma coisa realmente significativa e na qual você deve investir inteiramente sua vida: Deus. Este deve ser o foco de nossa vida. O resto é periférico e circunstancial. Pessoas sem foco vêem muitos ângulos, mas não chegam a lugar algum, porque seu foco é difuso e disperso.

 

O nosso alvo deve ser o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus. Nosso alvo não é ser rico, ou bem sucedido, mas santo. Não é ter significado ou receber aplausos dos homens, mas andar com Deus. Afinal, que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?

 

Paulo diz: “Prossigo para o alvo”. 

Rick Warren afirma: “Você está tão perto de Deus quanto escolhe estar.” (Vida com propósito, pg 79).

 

Qual é o foco de sua vida? Sua vida é construída como você a enxerga. A perspectiva que você tem determinará a maneira como investirá seu tempo, gastará seu dinheiro, usará seus talentos e valorizará seus relacionamentos. Como você vê a vida? Qual é seu alvo?

 

Henry David Thoreau observou que infelizmente as pessoas geralmente vivem num “desespero silencioso”, ou numa “distração sem objetivos”. Sem um propósito claro para fundamentar as decisões, usar o tempo e empregar os recursos, e por isto ficam sem alicerce.

 

Nada é mais importante que conhecer os propósitos de Deus para nossa vida. Sem propósito, a vida não passa de um movimento sem sentido, uma série de acontecimentos circunstanciais, por isto, edifique sua vida através de verdades eternas. Deus não é apenas o ponto de partida de nossa vida, mas é a fonte e o alvo dela.

 

  1. Não seja severo nem indulgente com você – “Andemos de acordo com o que já alcançamos” (Fp 3.16) Não sou nem mais nem menos, apenas aquilo que Deus me deu. Não preciso me comparar a ninguém.

 

    1. Talentos? Não os enterre. A quem muito se dá muito se exige. Ande de acordo com aquilo que Deus já lhe deu, mas não deixe de andar de acordo com o que Deus já lhe deu. Em geral, vivemos muito aquém daquilo que Deus deseja fazer com nossa vida.

 

    1. Recursos? Use-os de forma adequada. Aprenda a ganhar dinheiro, investir com sabedoria o que ganha, mas aprenda também a ser generoso, aprenda a repartir (Ef 4.28). Invista na obra, no reino, na sua igreja. Por que você insiste em não cooperar?

 

c.     Oração? Aprenda interceder pelos outros. Não ore apenas por você, mas por outras pessoas e realidades de seu tempo

 

d.      Evangelização? Testemunhe! Fale do amor de Deus às outras pessoas.

 

Conclusão:  

Olívia trabalhava num emprego nos Estados Unidos, limpando sempre várias casas no mesmo dia. Ao terminar o serviço em uma, pegava o carro e ia para a outra casa. Durante 5 anos fazia o mesmo roteiro, voltando à auto-estrada, andando 2 milhas e virando à direita até o próximo domicílio. Um dia, porém, estavam reformando a estrada, e ela teve que descobrir outro caminho fazendo uma rota alternativa por dentro. Para sua surpresa, descobriu que as casas estavam muito perto uma das outra, cerca de 400 metros. Por não conhecer a rota alternativa ela sempre dava uma grande volta.

 

O exemplo da Olívia mostra como podemos gastar tanto tempo andando em círculos, sem objetivo e sem descobrir o caminho mais simples. Esta rota alternativa já foi construída por Jesus, quando ele assumiu minha culpa e vergonha, morrendo em meu lugar. Ali descobrimos que o caminho de Jesus é mais simples, que seu jugo é suave e seu fardo é leve.

 

O grande desafio da vida é prosseguir em direção ao prêmio da soberana vocação. A vida que Deus, através de Cristo nos doou, gratuitamente. Só desta forma, teremos vida plena.

 

 

 

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