segunda-feira, 2 de abril de 2012

Gn 11 Babel

Introdução: 

Um dos textos mais conhecidos da Bíblia encontra-se em Gn 11.1-9, no relato da torre de Babel. Curiosamente não me recordo de ter ouvido algum sermão falando deste assunto. 

Afinal, que lições podemos aprender desta narrativa biblica? 

Neste texto vemos um povo buscando grandeza: “Vinde, edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo tope chegue até os céus e tornemos célebres o nosso nome para que não sejamos espalhados por toda a terra” (Gn 11.4). 

O que vemos, porém, é que este esforço se tornou um retumbante fracasso. 
“Ali confundiu o Senhor a linguagem de toda a aterra e dali o Senhor os dispersou por toda superfície dela” (Gn 11.9). A busca da grandeza e glória, de chegar aos céus, revelou-se trágica. O homem perdeu o senso de direção, porque quis “chegar até os céus”. 

Até hoje o que vemos são seres humanos “playing God”, (brincando de Deus), querendo assumir o lugar e bancar a divindade. No filme Jurassic Park temos uma cena em que um cientista afirma: “Nós não podemos querer brincar de Deus, se a natureza extinguiu os dinossauros, é porque era necessário que assim acontecesse”. 

Nos tempos de Galileu, quando o homem descobriu que não era a terra o centro do universo (Geocentrismo), e sim o sol (Heliocentrismo), 
O homem achou que agora ele poderia assumir o lugar da divindade, mas assim tem sido desde o inicio da criação. Homens tentam ser Deus. Homens pensam que são Deus, e alguns tem certeza de que são Deus. 

 Babel representa todo esforço da humanidade para excluir Deus. É o que Henry Nowen chamou de “Teomania”. Esta tentativa luciférica e adâmica do homem em querer assumir o lugar de Deus, ser Deus. 

Certa pessoa chegou cúmulo de afirmar: “Não gosto deste negócio de Deus ser Deus”. Eu repliquei que só existe um que pode ter a prerrogativa da divindade, e este ser é o próprio Deus. 

Historicamente podemos afirmar que existem alguns núcleos centrais que dominam o pensamento humano, pelo menos 4 blocos da ciência podem aqui ser citados. 

A. Na ciência Social: Marxismo – Pior que a visão econômica, com o inevitável totalitarismo, temos na sua raiz o Materialismo dialético”, afirmando que a história é movida não por ação divina mas por lutas de classes. 

B. Na Filosofia: Existencialismo – Sartre, Nietzsche e Camus afirmam que a existência precede essência. Você tem que viver o “aqui e agora”, porque o que importa é viver. Esteja feliz com sua vida, e isto basta! Não existe ideia de eternidade. 

C.  Na Biologia e genética: Evolucionismo – Mais que o problema relacionado à discussão se o homem veio ou não do macaco, fruto de um evolucionismo cego, temos aqui o conceito filosófico da “Geração espontânea “. A vida é uma mera sucessão de acasos, coincidências naturais. Não há Deus! Seu expoente máximo foi Charles Darwin. 

D. Na Psicologia e Psiquiatria. Toda a base da psicologia é humanista. A psicoterapia secular exclui Deus. A Psicanálise é uma das suas linhas mais conhecidas. Freud tentou dinamitar Deus em livros como “Totem e Tabu”, “O mal estar da civilização” e “Moisés e o Monoteísmo”. Religião nada mais é que “Uma neurose obsessivo-compulsiva. 

Em todos estes movimentos filosóficos, temos o mesmo pensamento de Babel: 
Ter o domínio, 
        assumir o poder, 
              controlar, 
                 ser igual a Deus e se possível, ser Deus. 
Como Lúcifer decidiu fazer. 

A grande tentação para Adão foi a de que não mais haveria barreiras para seu conhecimento, e “como Deus”, seria conhecedor do bem e do mal. 

A sugestão da serpente é que Deus estava escondendo o jogo, sendo mal intencionado. 

Babel. 
A tentação aliada ao seu orgulho levou-o fatalmente à queda. 

No Budismo, uma das religiões que atualmente tem uma enorme penetração no mundo de intelectuais e artista, a figura de Deus é um completo ausente. Estranhamente é uma religião sem Deus. Para o budismo, a divindade está dentro de você. Busque-o através da meditação, você vai encontrá-lo não fora de você, já que a divindade é você mesmo! Sua plena potencialidade vem através do Nirvana, o encontro com o nada, e a ausência de conflitos e dor: Sua divindade interna. 

Babel sugere um universo fechado. um mundo sem transcendência.
O homem está entregue a si mesmo (sem janelas, confuso e disperso). 

Conseqüências: 

1. Confusão interior. 
Angústia, desordem, caos, desespero. 
No existencialismo os temas centrais sao "Náusea, angústia primal. 

2. Quebra da comunicação: A quebra de comunicação  e diálogo. Não nos entendemos... Falamos, mas o que o outro entende? Surgem as guerras, conflitos tribais, políticos, dificuldade do marido e esposa falarem a mesma linguagem, divisão, divórcio, confusão. Distanciamento Pais/Filhos. 

Babel e Pentecostes 
A Bíblia nos mostra uma unidade de pensamento. 
Todas as suas partes estão interligadas. Existe um texto, no Novo Testamento, que nos mostra um aspecto completamente diferente de Babel, sua narrativa correlata pode ser encontrada em Atos 2, no evento do Pentecostes. 
“Estavam, pois, atônitos e se admiravam dizendo: Vede! Não são, porventura, galileus, todos esses que ai estão falando? E como os ouvimos falar, cada um em nossa própria língua materna”(At 2.8). 

Ocorre aqui o inverso de Babel. 
Pessoas com linguagens distintas passam a falar na mesma língua materna. 
O caos desfeito e a confusão são desfeitos, o mal entendido desaparece e a comunhão se estabelece. A ordem começa com Deus, no derramamento do seu Espírito Santo, (Pentecostes), e não no esforço humano da supremacia. 

Babel gera confusão, caos e competição. 
No Pentecostes, Deus reveste os homens de poder, é uma operação que desce “do alto”. 

A raça humana não consegue se entender sem Deus. Falamos idiomas distintos. Temos a mesma língua mas não sabemos nos comunicar. Se você acha que se comunica bem, pergunte à sua esposa. 

Os lares encontram enormes dificuldades para se entenderem. 

Só é possível falar a mesma linguagem que o Espírito Santo gera esta identificação. Nossa comunicação se torna mais confusa quando buscamos a auto exaltação e a auto-glorificação. 

Paulo exorta a duas irmãs de Filipos parem pensarem concordemente no Senhor, para se entenderem (Fp 4.2); exorta também a comunidade de Corinto, para que fosse unida, na mesma disposição mental e no mesmo parecer. (1 Co 1.10). Isto só é possível quando o Espírito Santo media o diálogo. Quando buscamos auto-glorificacão, o investimento será em indústrias e armas bélicas. Nos armamos. 

A tentativa de deificação do homem, de alcançar os céus, precipita o homem na confusão e no desamor. 
Babel mostra o homem perdendo o ponto de referência comum com o semelhante. 

No Pentecoste vemos a raça humana reencontrando a capacidade do dialogo. 

Conclusão:
Se seu casamento, sua igreja, sua família não está falando a mesma linguagem, só Deus poderá nos ajudar a entender o outro. 
Em Babel vemos divergência, em Pentecoste, convergência; 
Em Babel confronto, no Pentecoste, encontro. 

Somos sempre exortados na Palavra de Deus a termos um coração quebrantado. Deus já ensinava através dos profetas que Deus não se agradava de sacrifícios, mas de um coração quebrantado, isto é demonstrado claramente no Sl 51.16-17. 

A religiosidade mecânica em torno de ritos não é o que Deus deseja de seu povo, e sim um coração sensível. O caminho passa pela rendição. “ Deus resiste aos soberbos, contudo aos humildes concede a sua graça”. Babel é o oposto do Evangelho. Babel é auto-afirmação, controle, domínio, supremacia, arrogância e orgulho. Evangelho é rendição, quebrantamento, retorno a Deus, dependência. 

No Evangelho transferimos nossos direitos a Deus e destronamos o EU. Certamente não existe mensagem secular que fale da gente morrer para o EU, mas Jesus foi enfático ao afirmar: “Se o grão de trigo não morrer, fica ele só; mas se morrer, produz muitos frutos” (Jo 12.24). 

O modelo de Jesus é sua entrega a nosso favor. 
Olhando para Jesus vemos sua humildade, sua dependência do Pai, e seu desejo de servir. 
Tudo isto é oposto a Babel.

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