quinta-feira, 13 de junho de 2013

Ap 5.1-14 Jesus: A Hermenêutica da História




Introdução:

Frequentemente ouvimos pessoas dizendo: “Aonde é que este mundo vai parar?” Este questionamento reflete a perplexidade algumas pessoas diante de certos acontecimentos ou situações. Muitas coisas nos deixam perplexos: Bioenergia, clonagem, internet, rede mundial de computadores, viagens espaciais, pesquisas na área de medicina com incríveis avanços, o avanço interminável da ciência e da tecnologia, as aberrações morais dos casamentos homossexuais, milhões de abortos e a violência sexual e da guerra. Seitas cada vez mais exóticas e estranhas… Diante de tudo isto, a tendência nossa é do catastrofismo, ficarmos imaginando um mundo cada vez mais caótico e desgovernado. É preciso ter calma, mais ainda, é preciso entender que a história não segue uma tendência caótica, Deus não perdeu o rumo da história e o livro de Apocalipse nos ensina sobre isto. Cremos num Deus que é soberano sobre tudo e que dirige a história. Nada de histeria ou fanatismo. A visão deste capítulo reflete exatamente isto e serve de consolo, conforto e esperança para o povo de Deus.

Compreendendo Apocalipse:
O livro de Apocalipse é uma revelação feita pelo próprio Senhor Jesus a João, na Ilha de Patmos. Cristo está ensinando a Igreja sobre o plano de Deus para a história. A mensagem básica de Apocalipse é esta: Deus governa a história e trará sua consumação em Cristo. O coração da mensagem de Apocalipse é o cap. 4 e 5.
No cap. 4, como vimos, João tem a visão de Deus sentando em seu trono 4.2. Aqui vemos Deus como Rei do Universo, ele não é um monarca local, mas o Soberano Senhor de todos os impérios e governos. Por sua autoridade, vontade e palavra, foram criados o universo, muitos anos atrás. (4.11), e sua vontade é que agora, todo o universo se junte para glorificar o Cordeiro de Deus. (5.11-14) e este dia está chegando!
Do trono é que a história terá seu desfecho final e será completamente entendida, naquele dia cantaremos: “Aleluia! Pois reina Senhor, alegremo-nos e exultemos, pois são chegadas as núpcias do Cordeiro, cuja esposa a si mesma se ataviou”. Ap 19.6-7 Deus nos mostra neste livro, como ele tem controlado a história, quão poderoso ele é e o que o futuro pode nos trazer. Em Apocalipse vemos revelado o fato que as promessas de Deus são verdadeiras e fiéis e que seu poder é invencível. A partir do capítulo 4 já podemos glorificar o nome do Senhor e dizer: Santo, Santo, Santo, é o Senhor todo Poderoso!”. (4.8) Será que já somos capazes de perceber quão tremendo e desafiador é o livro de Apocalipse?
Veja novamente (Ap 1.1). Deus mostra aos seus servos “as coisas que em breve devem acontecer”. As coisas vão acontecer, porque Deus é Senhor da história e certamente concluirá seus desígnios e propósitos para que sua palavra se cumpra. Em Ap 1.4 Deus afirma que ele é o  “que era, que é, e que há de vir”. 1:4 Deus é! Ele é auto sustentado e todo suficiente. Deus era e tem sido desde a eternidade. Ele é o criador e dono de todas as coisas. O futuro que virá já está definido por Deus. Jesus voltará! E não há força que possa deter sua vinda. Deus vai se manifestar e executar o curso da história como ele deseja.
O livro de apocalipse é um livro centralizado em Deus. É um livro escrito para provocar nossa imaginação. Neste livro vemos algumas figuras indeléveis da verdade que nós precisamos trazer para o nosso coração: Deus é o Rei, Ele governa! Ele faz tudo quando lhe apraza. Ninguém pode voltar e dizer, o que você tem feito? (Dn 4.35)  Sua bondade, autoridade, poder são as fontes de todas as bençãos Ap 22.1; 4.2. O clímax da história se dará quando “O reino deste mundo torna-se o reino do Senhor e do seu Cristo” (Ap. 11.15) Todos os inimigos serão postos debaixo de seus pés, porque  Jesus é o rei  dos Reis e Senhor dos senhores. (Ap 19.16; I Co. 15.24-25)

O mistério do livro.
O capítulo 5 nos fala de um livro, este livro está na mão direita do Pai e representa o plano eterno de Deus. Este livro simboliza o propósito de Deus para todo universo e a toda as criaturas. Se relaciona com o plano de intervenção de Deus na história humana, segundo o que é revelado nos caps que seguem a abertura dos setes selos. Este livro é “livro da história do homem”.[1] Ellul acrescenta: “É o livro dos segredos e do sentido da história humana, simultaneamente acabado, certificado mas incompreensível, ilegível, que, por outro lado, se revela como uma sucessão de tempo que na verdade deve realizar-se continuamente. Este livro contém, portanto, o segredo da história dos homens, da humanidade, mas este segredo é forçosamente a revelação das forças profundas da história e mais ainda da ação de Deus na história dos homens”.[2] Por isso se fala do trono, (o lugar onde Deus reina e pronuncia a sua decisão), e somente o Cordeiro imolado pode abri-lo, porque sendo perfeitamente obediente, realizou a vontade do Pai. Todo julgamento recai sobre Jesus. Só o Cordeiro pode abrir o sentido da história. O sentido da história não é fruto de casualidade, de acasos, de automatismos, mas fruto da soberania de Deus e um certo número de forças abstratas que serão reveladas na abertura do selo destes livros.
Há sete selos, mas apenas seis dão os componentes da História; o sétimo desemboca nas trombetas. Os seis primeiros selos nos fornecem o sentido e a matéria profunda da história; o sétimo, o segredo último.
Está na mão de Deus - diz respeito à sua ação, e como Deus ele é o que “está assentado no Trono”. Refere-se a sua soberania.

Escrito por dentro e por fora! É completo e acabado, não se pode acrescentar nada, mas também que existe uma leitura. O sentido do livro está oculto e é impossível de conseguir sem abrir o livro, e está selado com sete selos. Por outro lado, demonstra que se foi escrito é por busca alguém para lê-lo. Portanto, não é um ato de Deus para si mesmo, nem um segredo que Deus quer guardar, pelo contrário, é uma revelação.

O rolo selado significa o plano não revelado e cumprido por Deus. Significa um fechamento radical. Se os selos continuam fechados, os propósitos de Deus não serão conhecidos nem realizados. Abrir o rolo e desatar-lhe os selos significa não somente revelar o plano de Deus, mas realizá-lo. Por isso, um forte anjo clama: “Quem é digno de abrir o livro de desatar os selos?” Ap 5.2. A questão não é de força nem de poder, mas de dignidade.
Que livro é este? Quem pode consumar a obra que é necessária? O Livro tem muitas coisas escritas; O livro é selado; Não está acessível ao público, não é aberto. Ninguém, em todo o universo, nem no céu, nem na terra, nem debaixo da terra podia abrir o rolo e ver o seu conteúdo. O livro tem códigos e tem chaves, é selado. Por causa disto João chora, e chora muito.

Por que João chora tanto?
Você entenderá o significado destas lágrimas se entender que abrir este rolo significa o cumprimento do plano divino para a história. Quando se abre este rolo e são desatados os selos, o universo é governado a favor do Reino de Deus e da sua igreja, pois é o glorioso propósito de Deus que está se realizando, seu plano está sendo executado.
O livro está nas mãos daquele que está assentado no trono, do rei. Nenhuma outra pessoa tem acesso a ele. Só uma pessoa tem pleno conhecimento do que nele está contido: o rei! Esta livro refere-se à história, e só Jesus pode dar pleno sentido à história, com suas ambigüidades e contradições. A vida de Cristo revela-nos o paradoxo deste mundo: Deus é rejeitado no próprio cosmos criado por ele mesmo. “Veio para os que eram seus, e os seus não o receberam”. Onde encontrar sentido nesta caótica história? Só seremos capazes de interpretar corretamente a história a partir da pessoa de Jesus Cristo, que abriga em si mesmo, toda esta contradição, terminando sua vida num tribunal de exceção, sendo absolvido por Pilatos: “Não vejo nele crime algum”, e mesmo assim sendo levado ao madeiro.

Quem é digno?
Os poderosos não podem; Seja este poder político ou financeiro. Os grandes líderes religiosos não podem; Sistemas econômicos não podem; Os intelectuais, sábios e mágicos, não podem.. João chora porque ninguém pode abrir desatar os selos – 5:2 O choro de João reflete a triste situação das comunidades cristãs perseguidas e não tendo aparentemente ninguém para protegê-las. Hoje também somos tentados a pensar que Deus não controla mais a história. Não temos a mesma perseguição daqueles dias, mas temos tantos outros fatores que nos levam a pensar que a história está sem rumo.
O livro de apocalipse diz que não. “Jesus recebe o livro da mão de Deus (5.7) e torna-se assim, Senhor da História (5.13), é ele quem vai assumir o controle dos acontecimentos e executar o plano de Deus[3] Os acontecimentos do mundo se desenrolam sob a absoluta soberania do Senhor dos senhores.

Um ancião começa a falar (5.5), não é um forte e poderoso anjo que fala, mas um ancião, alguém que experimentou em sua vida os efeitos da redenção. Ele começa a falar a João sobre a maravilhosa mensagem da redenção. “Ele venceu para abrir o livro e os seus sete selos”.
Aqui vemos uma realidade não muito rara em Apocalipse: A combinação de símbolos, opostos entre si (Leão &Cordeiro). Aquele que abre o livro é ao mesmo tempo um leão, forte, corajoso, destemido, e um Cordeiro, frágil, indefeso. Figuras opostas. Este cordeiro tem sete chifres (símbolo de autoridade, força e poder). Os sete chifres representam a plenitude do poder de Cristo. E sete olhos (símbolo de absoluta compreensão de tudo, nada foge ao seu olhar, tudo está sob seu controle. Ver Zc 4.10). Ray Summers afirma: “O Cordeiro tem sete chifres, o número perfeito. Está ele, portanto, perfeitamente aparelhado para destruir a oposição que fazem ao seu Reino. Tem sete olhos (…) isto, sem dúvida, representa a vigilância incessante e perfeita a favor de seu povo”. [4]
Chama-nos a atencao neste texto, que um dos anciãos afirma que o Leao da tribo de Judá vai abrir o selo, mas quando João vê, diante do trono, a imagem que surge é a do cordeiro, como tendo sido morto. O ancião fala do leão, figura de poder; João vê o cordeiro, símbolo de fragilidade. Isto aponta para o fato de que uma é a visão do Cristo glorificado, claramente perceptível para a igreja glorificada, que já se encontra no céu; outra é a imagem do Cristo sacrificado, perceptível aos que ainda militam neste mundo. João vê o cordeiro, mas isto lhe basta!
Na cruz, Jesus venceu o pecado, a morte e satanás. Note com cuidado os nomes dados a Cristo: “O Leão da tribo de Judá”, uma referência clara a Gn 49.9,10. Venceu a satanás e conquistou o direito de governar o universo de acordo com o plano de Deus.
Para abrir o livro o Cordeiro teve que vencer 5.5  E isto lhe dá o direito de ter acesso ao livro que se encontra na mão direita do rei.
Este texto demonstra que Deus executará seus planos por meio da cruz. Deus governa a história e trará sua culminação em Cristo. O Livro de Apocalipse é como uma sinfonia visual acerca do sábio julgamento de Deus e suas recompensas.

Por toda esta compreensão, este livro torna-se um livro de louvor.
Canta-se muito em Apocalipse. O livro traz a letra de vários hinos e aclamações. O vs. 7 registra o momento em que o Cordeiro  toma o livro e quando isto acontece, vs. 8, surge uma grande celebração e exaltação ao Cordeiro.
Existem aqui três hinos, vindos de diferentes adoradores:
Primeiro hino: 5.9,10  Entoado pelos 4 seres viventes com os 24 anciãos e se dirige ao Cordeiro aclamando sua dignidade para receber o livro e abrir o selo.
Segundo hino: 5.11,12  Proclamado em grande voz por “milhões de anjos”. Reconhece ser o Cordeiro digno de todos os atributos possíveis. São 7 atributos (7 é número de totalidade e perfeição): Poder, riqueza, sabedoria, força, honra, glória e louvor. Os grandes senhores daquele tempo exigiam para si todas estas coisas. O coral afirma que só o Cordeiro merece isso.
Terceiro hino: Abrange o mundo inteiro e se dirige a Deus e ao Cordeiro, atribuindo-lhe 4 coisas. (4 é símbolo de totalidade, englobando tudo): Louvor, honra, glória e poder A festa de louvor termina com o amém dos 4 seres viventes. Jesus é adorado. O Cordeiro é exaltado por causa de sua obra redentora. Ray Summers descreve esta obra redentora com quatro qualidades específicas:
i.      é para Deus, primariamente - compraste para Deus”;
ii.     é pelo sangue de Cristo - “foste morto…e com teu sangue compraste”. Esta referência é direta à morte sacrificial de Jesus na cruz;
iii.   é ilimitada -  “homens de toda tribo, raças, língua, povo e nação”. A graça de Deus é para todos.
iv.   faz dos remidos um reino - “Os fizeste um reino de sacerdotes e reinarão sobre a terra”. Tornam-se sacerdotes para servi-lo aqui neste mundo.[5]

Qual é o conteúdo do louvor?
Louvam ao Cordeiro pelo seu sacrifício;
Louvam ao Cordeiro pelas bençãos que ele trouxe através de sua morte.
Louvam porque ele é digno – 5,9,12

Conclusão:
Em Apocalipse a idéia do trono é central, aparece 17 vezes apenas entre o capítulo 4-7. Jesus, o Cordeiro que foi morto, o Leão da tribo de Judá, encontra-se diante do trono, em pé. Ele abre o livro, e a história encontra seu significado na sua pessoa e obra. Todos os eventos subseqüentes estão sob o controle do cordeiro, como veremos no capítulo 6,7.

Vivemos entre dois tempos:

O Já e o ainda não
O Passado e o futuro
A primeira e a segunda vinda.

Stott afirma que fisicamente é impossível olhar em direções opostas ao mesmo tempo, isto demonstra nossa dificuldade em perceber o todo.

Já temos a redenção... mas a redenção plena ainda é futura
Já temos uma nova criação, mas a nova terra criada em Cristo ainda não é perceptível
Jesus reina, mas ainda não...
Hb 2.8

O Livro da história está nas mãos de Jesus
Ele é o centro, o sentido último.
A cruz é o epicentro da história
Em Cristo convergem todas as coisas, tanto as da terra como dos céus
Ele é o primeiro e o último
O que era, que é, e que há de vir.
Jesus Cristo é o mesmo, ontem, hoje e será para sempre.
Ele é o Alfa e o Ômega
O princípio e o fim
Foi morto, mas vive
Em Cristo encontramos a razao última de todas as coisas.
Nossa dor, confusão, angústia, lutas, contradições, paradoxos, podem apenas ser elucidados em Cristo.
Por isto ele afirma: “Aquele que crê em mim, nunca será confundido”.



[1] Ellul, Jacques - Apocalipse: Arquitetura em movimento, São paulo, Ed. Paulinas, 1979, pg. 161
[2] Idem, pg. 161
[3] . Mesters, Carlos - Esperança de um povo que luta,  Petrópolis, Vozes
[4] Summers, Ray . A mensagem do Apocalipse: Digno é o Cordeiro. 3a. edição, Rio de janeiro, JUERP, 1978.
[5] . Summers, Ray . Idem  1978,  pg. 133.

Nenhum comentário:

Postar um comentário