Introdução:
Frequentemente
ouvimos pessoas dizendo: “Aonde é que este mundo vai parar?” Este
questionamento reflete a perplexidade algumas pessoas diante de certos
acontecimentos ou situações. Muitas coisas nos deixam perplexos: Bioenergia,
clonagem, internet, rede mundial de computadores, viagens espaciais, pesquisas
na área de medicina com incríveis avanços, o avanço interminável da ciência e
da tecnologia, as aberrações morais dos casamentos homossexuais, milhões de
abortos e a violência sexual e da guerra. Seitas cada vez mais exóticas e
estranhas… Diante de tudo isto, a tendência nossa é do catastrofismo, ficarmos
imaginando um mundo cada vez mais caótico e desgovernado. É preciso ter calma,
mais ainda, é preciso entender que a história não segue uma tendência caótica,
Deus não perdeu o rumo da história e o livro de Apocalipse nos ensina sobre
isto. Cremos num Deus que é soberano sobre tudo e que dirige a história. Nada
de histeria ou fanatismo. A visão deste capítulo reflete exatamente isto e
serve de consolo, conforto e esperança para o povo de Deus.
Compreendendo Apocalipse:
O
livro de Apocalipse é uma revelação feita pelo próprio Senhor Jesus a João, na
Ilha de Patmos. Cristo está ensinando a Igreja sobre o plano de Deus para a
história. A mensagem básica de Apocalipse é esta: Deus governa a história e
trará sua consumação em
Cristo. O coração da mensagem de Apocalipse é o cap. 4 e 5.
No
cap. 4, como vimos, João tem a visão de Deus sentando em seu trono 4.2. Aqui
vemos Deus como Rei do Universo, ele não é um monarca local, mas o Soberano
Senhor de todos os impérios e governos. Por sua autoridade, vontade e palavra,
foram criados o universo, muitos anos atrás. (4.11), e sua vontade é que agora,
todo o universo se junte para glorificar o Cordeiro de Deus. (5.11-14) e este
dia está chegando!
Do
trono é que a história terá seu desfecho final e será completamente entendida,
naquele dia cantaremos: “Aleluia! Pois
reina Senhor, alegremo-nos e exultemos, pois são chegadas as núpcias do
Cordeiro, cuja esposa a si mesma se ataviou”. Ap 19.6-7 Deus nos mostra
neste livro, como ele tem controlado a história, quão poderoso ele é e o que o
futuro pode nos trazer. Em Apocalipse vemos revelado o fato que as promessas de
Deus são verdadeiras e fiéis e que seu poder é invencível. A partir do capítulo
4 já podemos glorificar o nome do Senhor e dizer: Santo, Santo, Santo, é o Senhor todo Poderoso!”. (4.8) Será que já
somos capazes de perceber quão tremendo e desafiador é o livro de Apocalipse?
Veja
novamente (Ap 1.1). Deus mostra aos seus servos “as coisas que em breve devem acontecer”. As coisas vão acontecer,
porque Deus é Senhor da história e certamente concluirá seus desígnios e
propósitos para que sua palavra se cumpra. Em Ap 1.4 Deus afirma que ele é
o “que
era, que é, e que há de vir”. 1:4 Deus é! Ele é auto sustentado e todo
suficiente. Deus era e tem sido desde a eternidade. Ele é o criador e dono de
todas as coisas. O futuro que virá já está definido por Deus. Jesus voltará! E
não há força que possa deter sua vinda. Deus vai se manifestar e executar o
curso da história como ele deseja.
O
livro de apocalipse é um livro centralizado em Deus. É um livro escrito para
provocar nossa imaginação. Neste livro vemos algumas figuras indeléveis da
verdade que nós precisamos trazer para o nosso coração: Deus é o Rei, Ele
governa! Ele faz tudo quando lhe apraza. Ninguém pode voltar e dizer, o que
você tem feito? (Dn 4.35) Sua bondade,
autoridade, poder são as fontes de todas as bençãos Ap 22.1; 4.2. O clímax da
história se dará quando “O reino deste
mundo torna-se o reino do Senhor e do seu Cristo” (Ap. 11.15) Todos os
inimigos serão postos debaixo de seus pés, porque Jesus é o rei
dos Reis e Senhor dos senhores. (Ap 19.16; I Co. 15.24-25)
O mistério do livro.
O
capítulo 5 nos fala de um livro, este livro está na mão direita do Pai e
representa o plano eterno de Deus.
Este livro simboliza o propósito de Deus para todo universo e a toda as
criaturas. Se relaciona com o plano de intervenção de Deus na história humana,
segundo o que é revelado nos caps que seguem a abertura dos setes selos. Este livro é “livro da história do homem”.[1]
Ellul acrescenta: “É o livro dos segredos
e do sentido da história humana, simultaneamente acabado, certificado mas
incompreensível, ilegível, que, por outro lado, se revela como uma sucessão de
tempo que na verdade deve realizar-se continuamente. Este livro contém,
portanto, o segredo da história dos homens, da humanidade, mas este segredo é
forçosamente a revelação das forças profundas da história e mais ainda da ação
de Deus na história dos homens”.[2]
Por isso se fala do trono, (o lugar onde Deus reina e pronuncia a sua
decisão), e somente o Cordeiro imolado pode abri-lo, porque sendo perfeitamente
obediente, realizou a vontade do Pai. Todo julgamento recai sobre Jesus. Só o
Cordeiro pode abrir o sentido da história. O sentido da história não é fruto de
casualidade, de acasos, de automatismos, mas fruto da soberania de Deus e um
certo número de forças abstratas que serão reveladas na abertura do selo destes
livros.
Há sete selos, mas apenas seis dão os componentes da
História; o sétimo desemboca nas trombetas. Os seis primeiros selos nos
fornecem o sentido e a matéria profunda da história; o sétimo, o segredo último.
Está na mão de Deus - diz
respeito à sua ação, e como Deus ele é o que “está assentado no Trono”. Refere-se a sua soberania.
Escrito
por dentro e por fora! É completo e acabado, não se pode acrescentar nada, mas
também que existe uma leitura. O sentido do livro está oculto e é impossível de
conseguir sem abrir o livro, e está selado com sete selos. Por outro lado,
demonstra que se foi escrito é por busca alguém para lê-lo. Portanto, não é um
ato de Deus para si mesmo, nem um segredo que Deus quer guardar, pelo
contrário, é uma revelação.
O
rolo selado significa o plano não
revelado e cumprido por Deus. Significa um fechamento radical. Se os selos
continuam fechados, os propósitos de Deus não serão conhecidos nem realizados.
Abrir o rolo e desatar-lhe os selos significa não somente revelar o plano de
Deus, mas realizá-lo. Por isso, um forte anjo clama: “Quem é digno de abrir o livro de desatar os selos?” Ap 5.2. A
questão não é de força nem de poder, mas de dignidade.
Que
livro é este? Quem pode consumar a obra que é necessária? O Livro tem muitas
coisas escritas; O livro é selado; Não está acessível ao público, não é aberto.
Ninguém, em todo o universo, nem no céu, nem na terra, nem debaixo da terra
podia abrir o rolo e ver o seu conteúdo. O livro tem códigos e tem chaves, é
selado. Por causa disto João chora, e chora muito.
Por que João chora tanto?
Você
entenderá o significado destas lágrimas se entender que abrir este rolo
significa o cumprimento do plano divino para a história. Quando se abre este
rolo e são desatados os selos, o universo é governado a favor do Reino de Deus
e da sua igreja, pois é o glorioso propósito de Deus que está se realizando,
seu plano está sendo executado.
O
livro está nas mãos daquele que está assentado no trono, do rei. Nenhuma outra
pessoa tem acesso a ele. Só uma pessoa tem pleno conhecimento do que nele está
contido: o rei! Esta livro refere-se à história, e só Jesus pode dar pleno
sentido à história, com suas ambigüidades e contradições. A vida de Cristo
revela-nos o paradoxo deste mundo: Deus é rejeitado no próprio cosmos criado
por ele mesmo. “Veio para os que eram
seus, e os seus não o receberam”. Onde encontrar sentido nesta caótica
história? Só seremos capazes de interpretar corretamente a história a partir da
pessoa de Jesus Cristo, que abriga em si mesmo, toda esta contradição,
terminando sua vida num tribunal de exceção, sendo absolvido por Pilatos: “Não
vejo nele crime algum”, e mesmo assim sendo levado ao madeiro.
Quem é digno?
Os
poderosos não podem; Seja este poder político ou financeiro. Os grandes líderes
religiosos não podem; Sistemas econômicos não podem; Os intelectuais, sábios e
mágicos, não podem.. João chora porque ninguém pode abrir desatar os selos –
5:2 O choro de João reflete a triste situação das comunidades cristãs
perseguidas e não tendo aparentemente ninguém para protegê-las. Hoje também
somos tentados a pensar que Deus não controla mais a história. Não temos a
mesma perseguição daqueles dias, mas temos tantos outros fatores que nos levam a
pensar que a história está sem rumo.
O
livro de apocalipse diz que não. “Jesus
recebe o livro da mão de Deus (5.7) e torna-se assim, Senhor da História
(5.13), é ele quem vai assumir o controle dos acontecimentos e executar o plano
de Deus”[3]
Os acontecimentos do mundo se desenrolam sob a absoluta soberania do Senhor dos
senhores.
Um
ancião começa a falar (5.5), não é um forte e poderoso anjo que fala, mas um
ancião, alguém que experimentou em sua vida os efeitos da redenção. Ele começa
a falar a João sobre a maravilhosa mensagem da redenção. “Ele venceu para abrir o livro e os seus sete selos”.
Aqui
vemos uma realidade não muito rara em Apocalipse: A combinação de símbolos,
opostos entre si (Leão &Cordeiro). Aquele que abre o livro é ao mesmo tempo
um leão, forte, corajoso, destemido, e um Cordeiro, frágil, indefeso. Figuras
opostas. Este cordeiro tem sete chifres (símbolo de autoridade, força e poder).
Os sete chifres representam a plenitude do poder de Cristo. E sete olhos
(símbolo de absoluta compreensão de tudo, nada foge ao seu olhar, tudo está sob
seu controle. Ver Zc 4.10). Ray Summers afirma: “O Cordeiro tem sete chifres, o número perfeito. Está ele, portanto,
perfeitamente aparelhado para destruir a oposição que fazem ao seu Reino. Tem
sete olhos (…) isto, sem dúvida, representa a vigilância incessante e perfeita
a favor de seu povo”. [4]
Chama-nos
a atencao neste texto, que um dos anciãos afirma que o Leao da tribo de Judá
vai abrir o selo, mas quando João vê, diante do trono, a imagem que surge é a do
cordeiro, como tendo sido morto. O ancião fala do leão, figura de poder; João
vê o cordeiro, símbolo de fragilidade. Isto aponta para o fato de que uma é a
visão do Cristo glorificado, claramente perceptível para a igreja glorificada,
que já se encontra no céu; outra é a imagem do Cristo sacrificado, perceptível
aos que ainda militam neste mundo. João vê o cordeiro, mas isto lhe basta!
Na
cruz, Jesus venceu o pecado, a morte e satanás. Note com cuidado os nomes dados
a Cristo: “O Leão da tribo de Judá”, uma referência clara a Gn 49.9,10. Venceu
a satanás e conquistou o direito de governar o universo de acordo com o plano
de Deus.
Para
abrir o livro o Cordeiro teve que vencer 5.5
E isto lhe dá o direito de ter acesso ao livro que se encontra na mão
direita do rei.
Este
texto demonstra que Deus executará seus planos por meio da cruz. Deus governa a
história e trará sua culminação em Cristo. O Livro de Apocalipse é como uma sinfonia
visual acerca do sábio julgamento de Deus e suas recompensas.
Por toda esta compreensão,
este livro torna-se um livro de louvor.
Canta-se muito em Apocalipse. O livro
traz a letra de vários hinos e aclamações. O vs. 7 registra o momento em que o
Cordeiro toma o livro e quando isto
acontece, vs. 8, surge uma grande celebração e exaltação ao Cordeiro.
Existem aqui três hinos, vindos de
diferentes adoradores:
Primeiro
hino: 5.9,10 Entoado pelos 4 seres viventes com os 24
anciãos e se dirige ao Cordeiro aclamando sua dignidade para receber o livro e
abrir o selo.
Segundo
hino: 5.11,12 Proclamado em grande voz por “milhões de
anjos”. Reconhece ser o Cordeiro digno de todos os atributos possíveis. São 7
atributos (7 é número de totalidade e perfeição): Poder, riqueza, sabedoria,
força, honra, glória e louvor. Os grandes senhores daquele tempo exigiam para
si todas estas coisas. O coral afirma que só o Cordeiro merece isso.
Terceiro
hino: Abrange o mundo
inteiro e se dirige a Deus e ao Cordeiro, atribuindo-lhe 4 coisas. (4 é símbolo
de totalidade, englobando tudo): Louvor, honra, glória e poder A festa de
louvor termina com o amém dos 4 seres viventes. Jesus é adorado. O Cordeiro é
exaltado por causa de sua obra redentora. Ray Summers descreve esta obra
redentora com quatro qualidades específicas:
i. é para Deus, primariamente - compraste para Deus”;
ii. é pelo sangue de Cristo - “foste morto…e com teu sangue compraste”.
Esta referência é direta à morte sacrificial de Jesus na cruz;
iii. é ilimitada - “homens de toda tribo, raças,
língua, povo e nação”. A graça de Deus é para todos.
iv. faz dos remidos um reino - “Os fizeste um reino de sacerdotes e reinarão
sobre a terra”. Tornam-se sacerdotes para servi-lo aqui neste mundo.[5]
Qual é o
conteúdo do louvor?
Louvam ao
Cordeiro pelo seu sacrifício;
Louvam ao
Cordeiro pelas bençãos que ele trouxe através de sua morte.
Louvam porque
ele é digno – 5,9,12
Conclusão:
Em Apocalipse
a idéia do trono é central, aparece 17 vezes apenas entre o capítulo 4-7.
Jesus, o Cordeiro que foi morto, o Leão da tribo de Judá, encontra-se diante do
trono, em pé. Ele
abre o livro, e a história encontra seu significado na sua pessoa e obra. Todos
os eventos subseqüentes estão sob o controle do cordeiro, como veremos no
capítulo 6,7.
Vivemos entre
dois tempos:
O Já e o ainda não
O Passado e o futuro
A primeira e a segunda vinda.
Stott
afirma que fisicamente é impossível olhar em direções opostas ao mesmo tempo,
isto demonstra nossa dificuldade em perceber o todo.
Já temos a redenção... mas a redenção plena
ainda é futura
Já temos uma nova criação, mas a nova terra
criada em Cristo ainda não é perceptível
Jesus reina, mas ainda não...
Hb 2.8
O
Livro da história está nas mãos de Jesus
Ele
é o centro, o sentido último.
A
cruz é o epicentro da história
Em
Cristo convergem todas as coisas, tanto as da terra como dos céus
Ele
é o primeiro e o último
O
que era, que é, e que há de vir.
Jesus
Cristo é o mesmo, ontem, hoje e será para sempre.
Ele
é o Alfa e o Ômega
O
princípio e o fim
Foi
morto, mas vive
Em
Cristo encontramos a razao última de todas as coisas.
Nossa
dor, confusão, angústia, lutas, contradições, paradoxos, podem apenas ser
elucidados em Cristo.
Por
isto ele afirma: “Aquele que crê em mim, nunca será confundido”.
[1] Ellul,
Jacques - Apocalipse: Arquitetura em
movimento, São paulo, Ed. Paulinas, 1979, pg. 161
[2] Idem,
pg. 161
[3] .
Mesters, Carlos - Esperança de um povo
que luta, Petrópolis, Vozes
[4] Summers,
Ray . A mensagem do Apocalipse: Digno é
o Cordeiro. 3a. edição, Rio de janeiro, JUERP, 1978.
[5] .
Summers, Ray . Idem 1978, pg. 133.
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