No estudo anterior, vimos como o véu possui um grande poder de atração na vida dos líderes espirituais. O problema com os véus, porém, é que eles trazem graves efeitos colaterais. Moisés, homem de Deus, com grande ministério, foi atraído pelo fascinante mundo das máscaras espirituais, mas sua atitude trouxe graves e quase irreversíveis danos espirituais. Paulo mostra que os véus geraram problemas sérios. São as contra indicações. Uma vida de máscara e de artifícios traz complicadas consequências:
1. Perda da ousadia e da autoridade – “Tendo, pois, tal esperança, servimo-nos de muita ousadia no falar” (2 Co 3.12).
O ministério da Nova Aliança é espiritualmente ousado. Esta ousadia vem pelo testemunho do Espírito, pela autoridade espiritual que é concedida aos filhos de Deus, por meio do Espírito Santo. Quando a pessoa vive debaixo dos disfarces, das máscaras e dos véus, encontra dificuldade de falar das coisas de Deus, pois se sente desautorizada. O problema é que a “integridade não é um acessório da vida do cristão, antes a própria essência. A integridade envolve o coração, a mente e a vontade” (W.Wiersbe). A pessoa íntegra, não dividida (duplicidade), nem fingida (inteira), tem autoridade espiritual.
A vida de Davi nos ajuda a clarificar isto. Após o adultério com Bathseba, sua vida se torna um verdadeiro inferno. Ele tenta encobrir, justificar-se, cria álibis, subterfúgios, usa mecanismos esdrúxulos e perversos, para manter seu carisma de homem de Deus e rei. Se fosse preciso matar para manter a reputação e aparência, ele faria. No entanto, ele perde sua autoridade moral e espiritual dentro de sua casa. Sente-se espiritualmente desautorizado. Sua família fica entregue a si mesma, sem referência ética e moral e sem correção. Davi perde sua autoridade.
Outro exemplo foi o de um colega de ministério, vivendo uma vida meio atravessada e se deparando com um possesso de espírito maligno, e então lhe perguntei: “Qual foi sua reação, o que você fez?” E ele me respondeu: “Infelizmente não tive coragem de confrontar o espírito, porque não me senti preparado para fazer”.
Máscaras sempre retiram o poder de impacto do Evangelho. Ninguém sabe o que está além dos véus, ninguém é capaz de dizer o que está acontecendo, mas espiritualmente somos fragilizados. Apesar de todo povo de Israel não saber o que estava acontecendo com o rosto de Moisés, ele sabia. Assim é viver sem a graça de Deus, na nova aliança, tentando manter as aparências. Pregar sem unção, ministrar sem autoridade. Por isto muitos se tornam autoritários, sem autoridade; fazem muito e produzem pouco. A vida de mentira e duplicidade tira a autoridade.
2. Embotamento dos sentidos – “Mas os sentidos deles se embotaram. Pois até o dia de hoje, quando fazem a leitura da antiga aliança, o mesmo véu permanece, não lhes sendo revelado que, em Cristo, é removido” (2 Co 3.14). O que a Bíblia afirma é assustador. Por causa da atitude de Moisés o povo de Israel tinha agora, muitos anos depois, dificuldade em entender o Evangelho. Paulo responsabiliza Moisés pela cegueira do povo. “Mas até hoje, quando é lido Moisés, o véu está posto sobre o coração deles” (2 Co 3.15).
Em outras palavras, a cultura de duplicidade e máscaras, endurece o coração do povo. A incapacidade de autenticidade de uma liderança, obscurece o poder do Evangelho, ofusca seu brilho, faz com que os sentidos daqueles que ouvem sejam endurecidos, e isto traz implicações com profundos impactos por gerações.
A religiosidade triunfalista e farisaica não poupa a igreja de escândalos, antes a torna cínica e embrutecida. A ausência de coerência cristã, de choro pelos nossos pecados, gera dureza e dificuldade para assimilar o Evangelho e retira o poder de impacto que a graça de Deus pode ter na vida das pessoas. Por que as pessoas não se convertem? Alguns frequentam a igreja anos a fio, ouvem a verdade sendo ortodoxamente pregado, mas porque não se convertem? Certamente o caminho da confissão, a admissão de pecados que tanto evitamos, a falta de quebrantamento, ofusca o evangelho que só será assimilado quando o véu for retirado.
Confissão é o caminho da cura, não as máscaras. Se a confissão não curar nada, pelo menos cura a hipocrisia eclesiástica, e a cara-de-pau de líderes que insistem em viver na duplicidade, na vida de pecado e desonestidade. A visão honesta deixa entrar luz, e a visão dupla - dois senhores, dois comportamentos - cria trevas, e pior ainda, Jesus nos adverte que a pessoa sem integridade realmente pensa que as trevas são luz! "Portanto, se a luz que há em ti são trevas, quão grandes trevas serão".
3. Dificuldade de remover o véu – “Mas, até hoje, quando é lido Moisés, o véu está posto sobre o coração deles” (2 Co 3.15). A NVI afirma que por causa da atitude de Moisés, “um véu cobre os seus corações”. A atitude de Moisés trouxe obscurecimento espiritual sobre o povo de Israel que agora tinha dificuldade de romper com o estilo de vida de sombras.
É isto que acontece quando a vida não é transparente, e vive-se de aparências. Lentamente a pessoa incorpora o véu na sua vida de tal forma que viver assim torna-se parte intrínseca do seu cotidiano, do seu caráter, e do seu ser. Até mesmo ao ler a Bíblia torna-se difícil retirar princípios espirituais para a vida, pois encontra incapacidade de compreender a verdade cristalina e profunda do ponto de vista cristãos, e o evangelho perde o efeito de transformação na alma humana.
As máscaras geram em nós um forte senso de proteção: “Não vamos ser descobertos, não vamos ter que passar pela dor e sofrimento de nossas atitudes” As máscaras não dão espaço para a vulnerabilidade, por isto a confissão é dramática…Implica em dor. É denúncia e renúncia.
Só o Evangelho com a denúncia da completa e absoluta depravação, com a revelação do fracasso humano, pode quebrar o círculo de auto negação e máscara. O evangelho revela as sombras, ilumina as trevas. Traz à tona as teias de aranha que acobertam motivações secretas do velho baú da justiça própria. A lei revela o pecado, mostra o fracasso, mas não tem poder de libertar do fascínio da máscara e dos véus. A lei, neste sentido, nos torna hipócritas.
O Evangelho aponta para a cruz, ponto máximo do fracasso humano, que só pode ser vencido quando alguém, inteiramente justo assumiu nosso lugar, sofrendo a vergonha e opróbrio dos pecados que cometemos. Quanto mais perto estamos do Evangelho, mais claramente compreendemos as implicações da depravação. Precisamos de Jesus para desmascarar este ciclo de negação/acusação. O Evangelho nos autentica, nos torna verdadeiramente humanos. “Em Cristo, o véu é removido”.
4. Prisão interior – “Ora, o Senhor é Espirito; e, onde está o Espirito do Senhor, aí há liberdade” (2 Co 3.17).
Este texto é quase sempre lido de forma equivocada pela igreja, sendo usado inadequadamente para justificar a liberdade de expressão litúrgica. Ora, o texto vai muitíssimo além disto. Na verdade, O apóstolo Paulo gasta um longo capitulo da Bíblia regulamentando a questão do culto público, e as questões litúrgicas em 1 Co 14. Na verdade, determinadas expressões e formas são restringidas e a liberdade é restrita em alguns aspectos. (1 Co 14.26-42).
Este texto que estamos estudando não está falando de liturgia, mas de libertação do coração, de redenção da psique humana. Gente com véu, vive a vida presa, tentando ocultar o problema, gastando energia para sustentar a aparência. Uma vida de medo, de culpa e acusação, não é uma vida de liberdade.
A admissão de pecados, a confissão e a confrontação é que pode dar vida. Confissão e desvendamento é encontro da liberdade. Máscara é prisão. A Bíblia afirma: “O homem carregado da culpa de outrem fugirá até a cova, ninguém o detenha” (Pv 28.17). Pessoas presas por véus, vivem vida de tormento, andam fugindo, e viverão este estilo de vida até a morte, atormentados por pesadelo e culpa. Deus quer dar libertação. “Se o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres” (Jo 8.36). Culpa não confessada é véu. É tormento! Vida dupla é sofrimento, passamos a viver nas mãos de verdugos e carrascos. Quando o Espírito vem, ele quebra as defesas, desmascara os sistemas e nos liberta-nos da obsessão de escondermos. Nós pecamos, mas confessamos e abandonamos, somos inteiramente livres. Inteiramente culpados, mas inteiramente absolvidos.
Com máscaras, a pessoa fica atada, não pode desabrochar para a vida e muito menos para as coisas celestiais, o máximo que pode fazer é realizar alguns atos de formalismo religioso. Os seguidores de Moisés podiam se prender às cerimônias, aos ritos, mas não podiam encontrar a vida interior e profunda que brotava do evangelho Vida em abundância que Jesus prometeu é algo inteiramente estranho a estes irmãos.
George MacDonald afirma:
“Um homem pode afundar-se tão vagarosamente, que muito depois de ter-se tornado um demônio, pode ainda continuar a ser bom clérigo ou bom dissidente e
considerar-se bom cristão. Pode participar de atividades comunitárias,
mas tem dificuldade de participar de uma reunião de oração. São pessoas que vivem de cabeça erguida, mas não de corações partidos, vazias de calor espiritual".
5. Limitação da ação do Espírito Santo - “Ora, o Senhor é Espirito; e, onde está o Espirito do Senhor, aí há liberdade” (2 Co 3.17).
Estevão afirma que os líderes judaicos eram “de dura cerviz, incircuncisos de coração e de ouvidos e que sempre resistiam ao Espírito Santo” (Jo 7.51). Criaram uma resistência tão grande que a obra de Deus não penetrava em suas vidas. Eles “resistiam” ao Espirito Santo. A tradução da Bíblia, The Message (Eugene Peterson), afirma: “Vocês deliberadamente ignoram o Espirito Santo como fizeram seus antepassados”.
A obsessão em mascarar, em representar, em dar a ideia de que somos aquilo que não somos, quebra o movimento mais profundo do Espírito em nós. Impede que o Espírito nos toque de forma envolvente e radical. As amarras, a duplicidade, as máscaras, são sempre uma tentativa pessoal de não perdermos a aceitação da comunidade, de parecermos bem e bons. Queremos a aceitação social, aplausos, aclamação publica, quando na verdade o que precisamos urgentemente é de um avivamento interior. Nova vida, novo poder.
Se isto não se der, podemos continuar vindo a Igreja com os mais diferentes motivos, alguns deles até socialmente aceitos, mas não com o desejo genuíno de adoração. Viver em duplicidade gera resistência, oposição, e por isto podemos viver eternamente resistindo ao invés de desejar que o Espirito gere algo novo em nossa alma. Corremos o risco de extinguir o Espirito, de acordo com 1 Ts 5.18.
Somente com o rosto desvendado, máscaras retiradas é que podemos “ser transformados” segundo a glória de Cristo. A retirada dos véus abre o espaço para que o Espírito realize em nós o seu propósito, de nos levar a ter a imagem do rosto de Deus estampada em nós. Deus quer nos transformar pelo seu Espírito. A hipocrisia impede que esta obra se dê em nós.
Quando reconhecemos nosso fracasso, as tentativas humanas e falhas de acobertar o pecado, o processo de cura da parte de Deus se realiza. Por isto é que o filho pródigo da parábola, estava mais perto de uma restauração do que o filho religioso que ficou em casa. O que ficou crê na sua justiça, embora viva uma vida alegremente triste, ou tristemente alegre. Era um justo miserável. Ele não crê que está perdido, ele não reconhece as áreas de sua existência que precisam ser transformadas. O pródigo abre o peito, se desnuda, reconhece o fracasso, torna-se absolutamente vulnerável e transparente. “Pequei”. Não tinha nada a esconder, trazia o seu fracasso humano, esperando ser perdoando e recebido pelo pai que o esperava. É Exatamente isto que o Evangelho pode fazer em nossa vida.
GOSTEI MUITO DO SEU TEXTO!
ResponderExcluirDEUS ABENÇOE SUA VIDA!
PAZ!