Se
pensarmos em termos da quantidade de tempo disponível para cuidar
espiritualmente da alma dos filhos, certamente ficaremos assustados ao perceber
quão pouco tempo temos para equilibrar este grande descompasso entre a educação
secular e a cristã. Enquanto uma criança gasta cerca de 3000 horas por ano em
escolas, terá apenas 50 horas na igreja.
Contudo,
nenhuma instituição tem mais tempo e possibilidades de exercer influência sobre
os filhos que a família. Igreja e família, portanto, precisam se aliar para
balancear esta influência, diante da esmagadora força do secularismo. Certa
mulher disse ao seu pastor que não sabia porque o seu filho havia se afastado
da igreja, afinal, ele fora criado na igreja. E o pastor respondeu: “Este foi o
seu problema. Filhos devem ser criados em casa, não na igreja”.
A igreja
consegue:
a.
Criar vínculos históricos, formando uma
identidade, dando senso de pertencimento. Esta é, a base de sustentação do
judaísmo. Por onde iam, levavam consigo símbolos, afirmações de fé, e
principalmente, a Torah, que era lida nas sinagogas, além do fato de que
tradições religiosas eram rigorosamente preservadas como o sábado e o Bar
Mitzvah, por exemplo;
b.
A igreja pode encorajar os pais, fornecendo
conteúdos apropriados, encorajando-lhes a fé, ajudando-os a preservar
convicções através de liturgias e símbolos;
c.
O grande desafio da igreja, no entanto,
encontra-se em atualizar os métodos, criando linguagem propícia para transferir
informações e conteúdos que possam apoiar a espiritualidade e caminhada de fé
da família.
Em
contrapartida, a família deve:
a.
Encorajar seus filhos a criar relacionamentos, a
desenvolver práticas religiosas.
b.
Criar modelos de vida cristã, que possam
sustentar os filhos em relação às próximas gerações.
c.
Quando Deus resolveu se encarnar, não foi sem
motivo que ele escolheu uma família. As primeiras experiências de afeto e
acolhimento foram por meio de uma família.
Por
isto precisamos, buscar o equilíbrio de forças. Igreja e família somando para
encorajar a fé, afinal:
A. Quem
vai controlar o coração e a mente dos filhos?
B. Basta
pensar de forma estatística:
i.
Quanto tempo a criança gasta na escola?
ii.
Quanto tempo a criança fica na igreja?
iii.
Quanto tempo significativo ele desfruta com os
pais?
iv.
Quanto tempo na internet e nas redes sociais?
O
texto de Deuteronômio 6.4-12 nos fornece elementos estratégias importantes para esta caminhada
com os filhos.
Moisés
havia sido líder do povo de Deus por quase 40 anos e agora percebia que sua
partida estava chegando, então, solenemente, transmitiu estas palavras, como
que para assegurar que a nova geração estaria protegida das influências pagãs e
idolátricas do povo de Canaã. Ele sabia que não seria fácil, e dá algumas
direções para o povo de Deus. Estas palavras foram proferidas cerca de 3500
anos atrás.
Eis
alguns princípios:
1.
Mantenha
o eixo central bem firmado – Moisés profere em Dt 6.4, aquilo que ficou
conhecido como o Shemah hebraico: “Ouve,
ó Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor” . Esta afirmação ficou tão
clara na comunidade hebraica, que ainda hoje os judeus mais religiosos ainda a
proferem pelo menos duas vezes com seus filhos: “O Senhor nosso Deus, é o único Senhor”.
Este
é o eixo central, em torno do qual deve girar todas as demais coisas.
O
Salmo 78 afirma: “O que ouvimos e
aprendemos, o que nos contaram nossos pais, não encobriremos aos nossos filhos;
contaremos às vindouras gerações, os louvores do Senhor, e o seu poder, e as
maravilhas que fez” (Sl 78.1-2).
Este legado não poderia ficar encoberto pelos pais. Os filhos deveriam ouvir de
onde vinham, ter identidade e conhecer o Deus de seu povo.
A
preocupação de Moisés era mais que justificada, porque logo depois da morte de
Josué, a geração seguinte se perdeu completamente. “Depois da morte de Josué, levantou-se uma geração que não conhecera o
Senhor, nem ouvira falar dos feitos de Deus”(Jz 2.10), e por não terem
atentado para este principio, os filhos se apostataram seguindo Baal e
Astarote, deuses cananitas.
Tenho
dito aos pais descuidados com questões espirituais, que se eles se afastarem da
igreja, a próxima geração ainda se lembrará um pouco de sua origem religiosa,
mas a outra geração, sem conexão alguma com Cristo, vai descambar para o
misticismo e teremos netos de crentes seguindo seitas exóticas, praticando
macumba e rituais animistas. Eu particularmente já tenho visto estas trágicas
situações em nosso meio.
Para
Reggie Joiner (Pense laranja), manter este eixo central é forma de “imaginar o
final”. Em épocas de crise, em dias sem esperança, quando não ha soluções
simples, nem revelação específica de Deus, o povo de Israel deveria confiar no
princípio, mantendo o fim em mente: “Minha família faz parte de algo maior, e
Deus deseja mostrar seu poder redentor em nossa vida”.
2.
Use uma
abordagem pessoal – “Estas palavras,
que hoje te ordeno, estarão no teu coração” (Dt 6.6).
Antes
de ser transmitida, precisa ser recebida e adotada em nós. Antes de ensinarmos,
precisamos aprender. As verdades espirituais devem passar primeiramente pelos
nossos corações.
Antes
de falar o que fazer com os filhos, Moisés orienta sobre o que a atitude dos
pais. Certas coisas não podem ser ensinadas se não forem previamente adotadas
por nós, princípios espirituais cabem nesta lista. Antes de pensarmos no que os
os filhos estão se tornando, precisamos pensar em que estamos nos tornando.
Isto
implica não apenas em ensinar, mas demonstrar.
Certo
pai doou 5 reais na hora do ofertório na igreja, e ao sair do culto, passou a
reclamar das músicas, do sermão do pastor, do banco duro, do calor, e o filho
de 6 anos que observava tudo comentou: “Também... com a oferta que o senhor
dá...”
Não
tenho nenhuma dificuldade em batizar crianças, encontro bases suficientes na
Bíblia para realizar este ato sacramental, mas tenho grandes crises quando
pais, que não tem nenhum compromisso com o reino de Deus, nem com a igreja
local, decidem fazer votos que não são podem cumprir. Por isto, diante de pais
que não tem claros compromissos espirituais, costumo perguntar: “Vocês tem condições, em boa consciência, diante da
igreja e principalmente de Deus, de responder estas questões?” E leio as
perguntas que deverão responder.
Alguns
afirmam que sim, assumem compromisso, mas o fazem de forma leviana.
Outros,
ao serem indagados, admitem que não podem, mas querem mudar.
Outros,
não tem nenhum problema com tais afirmações, porque isto faz parte de sua
vivencia espiritual.
Os
filhos precisam ver os pais:
i.
Assimilando o Evangelho nas suas vidas;
ii.
Confessando pecado e demonstrando
arrependimento;
iii.
Se alegrando em fazer parte da família de Deus;
iv.
Lutando pelo casamento com temor e tremor;
v.
Orando, agradecendo a Deus pelas bençãos, e
buscando a graça de Deus para serem espiritualmente vitoriosos.
Pais
precisam ser modelos.
A
vida com Deus, precisa ser uma realidade em nossas vidas, para que os filhos
assimilem as verdades das Escrituras Sagradas.
3.
Lute pelo
coração – Moisés tinha clareza de que o grande alvo dos pais seria lutar
pelo ponto central da existência humana: o coração.
Ele
fala de que a relação com Deus deveria ser sustentada à base dos afetos: “Amarás, pois, o Senhor teu Deus, de todo o
teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento”. O coração dos
filhos deveria ser o objetivo da pedagogia do povo de Deus. Eles deveriam
aprender amar a Deus.
O
que distingue uma fé ritualista e institucional de uma fé viva, é a força
impulsionadora do amor. A fé precisa passar pelo coração.
Ted
Tripp escreveu um dos mais importantes textos sobre educação cristã, no seu
livro Pastoreando o coração das crianças.
Ele conseguiu fugir dos conceitos comportamentais e dos jargões
psicológicos, e abordar a disciplina dos filhos na perspectiva do Evangelho. Na
educação cristã, o alvo não é apenas corrigir comportamentos na base do reforço
positivo e negativo, nem para que os filhos nos dêem sossego e não causem
problemas por falta de educação, o grande alvo deve estar ainda acima destas coisas:
As verdades da Palavra de Deus precisam penetrar a alma dos filhos.
Reggie
Joiner faz a seguinte afirmação: “Há pais melhores em lutar para vencer uma
discussão do que em brigar para ganhar o coração de seus filhos”(Pense laranja,
pg 58).
Moisés
instrui os pais. “Quando teu filho, no
futuro, te perguntar, dizendo: Que significam os testemunhos, e estatutos, e
juízos que o Senhor Deus vos ordenou? Então dirás a teu filho: Éramos servos de
faraó, no Egito; porém, o senhor de lá nos tirou com poderosa mão”(Dt
6.20-21).
Como
ganhar o coração dos filhos?
Isto
só é possível mediante um relacionamento de confiança. Moisés não apresenta
muitas razões práticas, além do fato de que Deus é digno de confiança. Deus tem
um envolvimento afetivo com o seu povo. Ele nos ama.
O
principal alvo não é levar os filhos a seguir regras (behaviorismo), mas
demonstrar que podem confiar em nós e
saber que os amamos.
A
quebra de confiança afeta a segurança que eles poderiam ter nós.
Alguns
exemplos práticos:
i.
Certa mulher saiu de casa dizendo para a filha
de 4 anos, que iria apenas na mercearia comprar balinhas, e voltaria logo. No
entanto, mudou-se para os EUA, e só reencontrou sua filha, 12 anos depois;
ii.
Não é muito raro encontrar pais que tem
facilidade em aplicar disciplina quando estão irados. Ao fazer isto, demonstram
que não estão realmente preocupados em educar, e sim, resolver a ira que os
dirige. Por isto a Bíblia afirma que a vara da indignação falhará.
iii.
Pais facilmente esquecem a necessidade dos
filhos. A Bíblia ensina a não irritar os filhos (Col 3.21)
iv.
Pais descuidadamente podem quebrar promessas,
agirem de forma incoerente, fazendo com que os filhos não estabeleçam relacionamentos
de confiança;
As
feridas mais profundas no coração dos jovens estão relacionadas à questão da
confiança. Filhos são capazes de lidar relativamente bem com a pobreza, e até
mesmo com a escassez, mas certamente não sabem lidar com a falta de coerência
dos pais, isto traz muita insegurança, dúvida, dor e ira.
4.
Estabeleça
uma dinâmica – (Dt 6.7-8)
Moisés
ainda fala da importância de estabelecer determinados ritos e criar certas
dinâmicas para tornar o aprendizado mais efetivo, Isto implica numa atitude
cotidiana e intencional e demonstra a necessidade de não compartimentalizar a
fé , tornando-a apenas uma pequena parte de nossa história.
Inculcar
demonstra persistência. O conceito hebraico de ensinar consistia em “provocar o
aprendizado”.
Moisés
fala de uma pedagogia sistemática e estratégica.
Crianças
aprendem melhor quando rotinas são estabelecidas.
i.
No horário das refeições – Estatísticas
demonstram que quanto mais os membros de uma família comem juntos, menos
chances terão os filhos se envolverem em drogas, caírem em depressão, ou irem
para a cadeia.
ii.
Fazendo caminhadas – Andar com os filhos, pelo
caminho, levando-os à escola, andando de bicicleta, estimula o diálogo
informal.
iii.
Hora de dormir – gastar um tempo com os filhos,
especialmente quando ainda sao menores, antes de dormir, certamente criam momentos
estratégicos para se conversar sobre o dia que passou. Falar sobre tristezas e
alegrias, conversar acerca dos ups and downs.
iv.
Hora de acordar – tomar café de manhã juntos é também
uma boa oportunidade para orar pelo dia,
falar um pouco do que vai acontecer no dia, criar expectativas.
A
cultura hebraica reconhecia a dinâmica dos dias, bem como da semana, e mesmo do
ano, já que preservava festas fixas como páscoa, tabernáculo, purim, etc.
Quando
se fala de tempo com os filhos, sempre surge a tensão: quantidade ou qualidade?
A
resposta melhor, certamente é: ambos.
Famílias
que passam mais tempo, juntos tem mais eficácia em causar impacto nos filhos.
Para
desmascarar a ideia de que quantidade de tempo pode substituir a qualidade,
existe uma boa ilustração: morar perto de uma academia (ou ter aparelho em
casa), não lhe transforma em um atleta.
Para
desmascarar o mito de que qualidade pode substituir quantidade, o exemplo é: Se
você vai para a academia e exagera a dose nos exercícios, depois de muito tempo
sem praticar, pode ter entorses e traumatismos.
Por
isto, certo autor fez as seguintes observações:
Momento Comunicação Alvo
Refeição Conversa
informal Estabelecer
valores
Tempo no carro Diálogo
informal Interpretar
a vida
Hora de dormir Conversa
intima, oração Cultivar
intimidades
Café da manhã Palavras
de incentivo Instilar
propósito
Aplicações:
a.
A comunicação se torna mais eficiente quando as
duas forças trabalham em parceria;
b.
Duas forças unidas causam impacto maior que
separadas;
c.
“Não é a informação nova que cativa a
imaginação. É sua apresentação. O mundo cultural reinventa, a todo momento, a
forma de falar “. (Reggie Joiner, pg 150).
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