Introdução:
Um dos casos mais trágicos da história Evangélica
contemporânea foi o do PTL, o movimento da "Igreja Eletrônica" nos
EUA. Jimmy Swaggart, um pastor extremamente moralista, que com sua posição
firme chegou a destruir outro conhecido tele evangelista Jim Baxter por
imoralidade, foi surpreendido numa relação neurótica e pecaminosa com uma
prostituta.
Não é muito difícil construir uma vida de dupla
face, tipo “médico e o monstro”, e passar a viver nesta vida de mentiras e
pecado, ou desenvolver uma camada de superficialidade revestida de
espiritualidade, que visa impressionar as outras pessoas. Veja o que aconteceu
a Moisés.
Este texto nos fala do desmascaramento do grande
líder sendo Moisés. Talvez nenhum outro homem tenha influenciado tanto o
judaísmo, sem dúvida um grande homem de Deus. Aqui ficamos sabendo de algo que
o Antigo Testamento não menciona por razões óbvias: O próprio Moisés foi autor
de boa parte do pentateuco, e não há registro sobre isto, mas a tradição oral
perpetuou o que lhe aconteceu. Ao descer do monte, depois de passar 40 dias com
o Senhor, Moisés estava envolvido por um brilho tão intenso, que o povo de
Israel não podia olhar para seu rosto. Isto o obrigou a usar véu para conversar
com as pessoas. Com o passar dos dias, o brilho foi lentamente acabando, mas
Moisés preferiu continuar com o véu, mesmo depois que todo brilho da glória já
havia acabado, para que os filhos de Israel continuassem pensando que o seu
rosto ainda brilhava e o admirassem.
Por que agiu assim? Vários motivos podem ser
enumerados, mas certamente o maior deles era o desejo de preservar a imagem de
homem iluminado, de homem espiritual, de alguém com intimidade com Deus. Ele não queria que os israelitas descobrissem
que sua posição privilegiada diante de Deus estava desaparecendo e por isto fez
o que milhões de pessoas já fizeram: Colocou um véu! Não deixou que ninguém
percebesse que sua gloriosa aura de ser espiritual acabasse.
Esta é uma realidade que ocorre facilmente. É muito
bom ser admirado: sucesso, popularidade, riqueza, posição. Mas no mundo
espiritual, o mesmo problema se dá: desejo de ser visto como um homem de Deus.
Profetisas, pastores, missionários, são atraídos por este desejo de reconhecimento
de sua espiritualidade. Mas na vida cristã, podemos também criar véus das
formas mais variadas, mas que na essência são a mesma coisa. Todos eles representam
uma imagem ou fachada que queremos mostrar aos outros, e por trás da qual
ocultamos a verdadeira imagem.
Ray Stedman, no seu livro “A dinâmica da vida autêntica”, aponta para alguns véus muito
comuns na comunidade evangélica.
1.
Véu do orgulho - Foi o que Moisés usou e que
os israelitas usaram. É o véu que não pode admitir o fracasso como cristão.
Isto se torna mais comum quando somos incapazes
de manter uma vida profunda de comunhão com o Senhor e passamos a sustentar
nosso ministério por representações e máscaras. Quando a vida entra nessa
dimensão, não precisa de maquiagem, e sim de cirurgia.
As máscaras criam em nós uma hipocrisia nem sempre
consciente:
Pregamos
o que não praticamos,
oramos
por coisa que não cremos,
Cantamos
coisas que não vivemos.
Existem muitos cânticos comunitários que parecem ter
sido feito para o povo de Deus mentir: “Toda minha vida é do Senhor”; “tudo a
ti Jesus entrego”, “todos os meus desejos e sonhos são do Senhor”. Será que
desejamos, entregamos e somos realmente tudo isto? Talvez devêssemos começar
afirmando que não somos nada disto, mas queremos ser assim, porque não há nada
errado em desejar tais coisas. Se não formos capazes de quebrantamento e
desmascaramento, estamos apenas representando. Trata-se de um gesto ritual e
teatral, que não engana o Deus a quem queremos louvar. É preciso retirar o véu,
mas infelizmente nem sempre temos consciência de quão contraditório é a
mensagem que proclamamos, ou eventualmente tememos o encontro com aquele que
pode retirar o véu. Vivemos um orgulho espiritual.
2.
Véu da Duplicidade - Os véus da aparência, ainda que tão inocentes
são criados para satisfação do nosso ego e por isto usamos formas inteligentes
de preservá-lo, um destes é a duplicidade de nomenclaturas, ou seja, dar nomes
bonitos a coisas feias que fazemos.
ð Orgulho, chamamos de valor
pessoal;
ð Chamamos preconceito de
“convicções fortes’.
ð O desamor torna-se “ortodoxia”;
ð Atitudes emocionais são
interpretadas como espiritualidade;
ð Falta de educação e
grosseria, torna-se “sinceridade”;
ð Presunção transmuda-se em
“respeito próprio;
ð Vaidade torna-se cuidado pessoal.
Os cristãos tem muita tendência para colocar certos
tipos de véu, principalmente aqueles que tem formas de virtudes cristãs. São
Jerônimo advertia: "Cuidado com o
orgulho da humildade". Ouvi falar de certo pastor que usava medalha de
humildade. Quando se faz alarde da santidade, é forte indício de orgulho. A
Bíblia afirma que “Deus odeia a duplicidade”.
3.
Justiça própria - A pessoa toma certo padrão
bíblico de conduta, e orgulha-se da capacidade de observá-los exteriormente,
embora não o faça no coração.
Este era o pecado dos fariseus que Jesus atacou
dizendo que prostitutas e publicanos entrariam no reino dos céus antes deles.
Outra forma sutil de justiça própria pode ser encontrada na pessoa que acusa o
outro, fixando-se só num ponto de conduta, ignorando outras áreas de sua vida
em que há "fraquezas". O fariseu é mestre nesta arte: “posso ter essa
fraqueza, mas pelo menos não faço isto ou aquilo”. É o véu da justiça própria.
O tradicionalismo e o legalismo se adaptam perfeitamente neste ponto.
4.
Véu da excessiva
sensibilidade ou susceptibilidade - Pessoas
susceptíveis se magoam facilmente com palavras ou atos dos outros. É preciso
tratá-las com extremo cuidado para que não se ofendam, passam por agonias de
espírito e tendem a ficar mergulhados num mar de autopiedade, horas a fios, até
mesmo dias.
Qual a explicação que encontram? A "desconsideração
e rudeza", dos outros. Na verdade é a forma pessoal de protestarem por não
receberem a atenção e importância que se julgam merecedoras. Particularmente
encontro muita dificuldade em trabalhar com lideres hipersensíveis. Tenho
aprendido que hipersensibilidade é sinal de egoísmo. Pessoas assim se magoam,
se escandalizam e retraem facilmente do time.
5.
Espírito impaciente – A inquietação e ansiedade constante
que pode encobrir graves problemas da alma, ou mesmo pecados escondidos.
Muitas vezes é apresentado como operosidade e frequentemente
aparece sob a forma de zelo ou dedicação, mas na verdade, a pessoa que não
consegue sossegar seu coração, aquietar-se diante de Deus, passa a viver
períodos de grande ansiedade e angústia, tem dificuldade para orar e depender
de Deus, e facilmente responde com rispidez, e esconde profundo sentimento de
inferioridade ou insegurança.
6.
Autojustificação
Trata-se de pessoas que não toleram ser mal
compreendidas e estão sempre se explicando, e na verdade estão afirmando o
seguinte: "quero que pensem que sou perfeito". Esta atitude está
muito relacionado ao perfeccionismo.
7. Mas,
talvez, o mais comum seja o da frieza - do ressentimento, de guardar sentimentos totalmente
para si, escondendo-os mesmo de amigos mais chegados. Esse distanciamento brota
do medo da rejeição, do temor de que nos conheçam exatamente como somos. Às
vezes colocamos o nome de "reserva" ou "reticência", mas no
fundo trata-se daquela ideia íntima de que, para sermos aceitos ou amados,
precisamos parecer perfeitos ou bem sucedidos. Por isto projetamos duas
imagens:
"De
capacidade" (extrovertidos)
"De
esconder nossos fracassos" (introvertido)
Se reconhecermos nosso fracasso, nossa incapacidade,
dependeremos de Deus e teremos dele a sua capacitação. O segredo disto é
retirar o véu.
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