No estudo anterior, vimos o que aconteceu a Moisés, como ele se envolveu numa situação espiritual complicada e complexa. Depois de descer do Monte Sinai e do seu maravilhoso encontro com Deus, seu rosto brilhava, e para poder conversar com o povo de Israel, precisou usar véu. Com o passar do tempo, seu rosto perdeu o brilho, mas ele achou interessante continuar dando a aparência de que o brilho ainda estava lá. Isto ele fez para impressionar o povo que olhava para ele e comentava sobre a razão dele usar aquele pano sobre o rosto.
Moisés passou a viver de aparências, de hipocrisia, dando a impressão de ser um homem espiritual, quando na verdade, tornara-se uma pessoa normal, só que vivendo com máscaras e duplicidade.
Os efeitos colaterais de sua atitude foram muito graves:
a. Os filhos de Israel tiveram, por séculos, seus sentidos embotados, por causa de sua atitude. O que ele fez trouxe implicações espirituais sobre o povo de Deus. O povo de Israel teve dificuldade de compreender o Evangelho, e Paulo afirma que isto tinha a ver com a atitude pecaminosa deste grande líder, lá no passado. Sua forma de viver dificultou a percepcap das verdades do Evangelho.
b. A vida de aparência tornou-se a realidade do povo de Israel: “O véu está posto”. Esta afirmação dá ideia de algo quase impossível de mudar. Revela uma condição definitiva de um estilo de vida que não consegue mais desvendar e perceber a realidade, porque o rosto está encoberto. Paulo afirma que isto aconteceu por causa da atitude de Moisés;
c. Outro aspecto é que sua atitude gerou prisão interior. Eles não conseguiam encontrar ou experimentar a liberdade. Estavam presos! O Espírito Santo gera esta liberdade interior, mas isto não é possível sem desmascaramento.
Como vencer as aparências esta tentação?
Como sair da condição espiritual e mortal de embotamento, acobertamento e prisão, para uma vida de liberdade?
Alguns aspectos foram considerados:
i. Rejeitar o fascínio dos véus – O véu atrai, dá uma fachada de coisa importante, seduz, traz certa glória humana exterior, mas também traz morte. O veu é fundamentado na reputação, no aplauso humano, nas aparências. E isto nos atrai profundamente. Não é fácil rejeitar a eficiência deste poder.
ii. Admitir vulnerabilidades – O que Moisés deveria ter feito? Admitido que o brilho passou. Mas ele temia perder prestígio, e não sabia como as pessoas veriam isto, caso confessasse que o brilho acabou. Então, fez o que era mais fácil: manteve as aparências.
Como podemos remover estes véus que nos dá tanto reconhecimento?
O apóstolo Paulo responde duas vezes que esta remoção se dá apenas em Cristo: “Não lhes sendo revelado que em Cristo é removido” (2 Co 3.14); e, “quando algum deles se converte, o véu é retirado” (2 Co 3.16).
Só ocorre desvendamento em Cristo!
Fora de Jesus, há uma cegueira espiritual que não nos deixa perceber realidades. “O deus deste século, cegou o entendimento dos incrédulos, para que não lhes resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo” (2 Co 4.4).
Preste atenção que o “deus" que aparece neste texto está em minúsculo. A Bíblia está falando de potestades espirituais, deuses que não são deuses, forças espirituais poderosas que agem sobre o entendimento do incrédulo para que ele não entenda, e não creia. O véu lida com a área mais complexa do homem, o seu entendimento. Apenas Cristo pode destruir esta deficiência espiritual.
Quando Saulo viajava pelo estrada de Damasco e foi achado por Jesus, ele caiu no chão e ficou cego. Foi conduzido para Damasco, e ali teve um encontro com Ananias, que obedecendo a uma revelação, foi se encontrar com ele na rua Direita. Quando este homem orou por Saulo, “imediatamente lhe caíram dos olhos como que umas escamas, e tornou a ver” (At 9.18). As escamas caíram. É isto que Deus faz conosco na conversão. As escamas são removidas e a visão espiritual é restaurada. Por isto Jesus afirma que “se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus” (Jo 3.3). Trata-se de percepção espiritual, visão.
Uma segunda verdade que precisamos assimilar é que, o ato do desvendamento e das rupturas com as aparências, é realizado pelo Espirito Santo. Como é algo espiritual, as coisas só se resolvem espiritualmente.
O Espirito faz cessar o domínio da antiga vida, feita de aparências e véus, rompe com o estilo de duplicidade e nos faz viver em liberdade interior, não mais condicionado a aprovação dos homens, nem aos véus e mentiras, mas absolutamente livre. Sem culpa ou acusação, sem medo de ser desmascarado.
“Somos transformados”. Não diz “fomos”, ato passado, mas “somos” ato que se atualiza em nós diariamente pela obra do Espirito. Não afirma que fazemos, mas dá ideia de algo que Deus faz. Não é o homem quem inicia este processo, é Deus. Tudo provém de Deus, não é o homem quem realiza este crescimento – é Deus!
Em 2 Co 3.18 lemos: “Todos, com o rosto desvendado”. Nada de véu, o progresso espiritual acontece no clima de transparência. A vida cristã não pode ser construída sobre a falsidade nem a mentira, não se constrói com sombras nem na penumbra. Onde há o Espírito do Senhor, a verdade se revela libertadora. Em 2 Co 2.17 lemos: “Porque não estamos, como tantos outros, mercadejando a palavra da verdade, mas falamos, com sinceridade, da parte do próprio Deus”. O estilo de vida é da sinceridade, abertura e transparência. É desta forma que a Palavra de Deus progride em nossa vida, e se torna poderosa no testemunho aos outros.
Por isto “rejeitamos as coisas que por vergonhosas se ocultam” (2 Co 4.2). “Onde está o Espirito do Senhor há liberdade, até mesmo para errar e voltar. Deus não está com raiva” (Ray Stedman, A dinâmica da vida autêntica).
Uma outra observação do texto é que o crescimento só se dá com os olhos fitos na obra de Cristo – Moisés não serve. A lei não dá sustentação suficiente para esta transparência. Somos transformados pelo olhar, estamos mirando em Cristo. Se olharmos para nossa justiça própria seremos destruídos, seja pelo orgulho e auto suficiência, ou pelo inverso: depressão e fracasso. Somente a cruz pode nos livrar destas duas armadilhas.
O texto ainda nos ensina que este crescimento e a ruptura com a aparência é processual. Isto é, a obra de Deus continuada em nós. Nada está definitivamente pronto. Na conversão, o véu é retirado, ato único e completo e passamos a enxergar as verdades espirituais; mas no processo de crescimento espiritual, temos um longo caminho a percorrer. Hb 5.14 afirma que isto acontece quando nossas faculdades são exercitadas pela prática. Em algumas áreas de nossa vida, a obra de Deus já obteve vitória plena; em outras, ainda enfrentamos tentações, provações e grandes lutas.
Mas o alvo final disto tudo é sermos identificados com Cristo. Buscamos uma identidade de desejos, emoções, vontade e a mente do Filho de Deus. O alvo final é obedecer a ordem dada por Jesus: “Sede santos, porque eu sou santo” (Mt 5.48), mas não podemos depender de nós mesmos. “A nossa suficiência vem de Deus” (2 Co 3.5).
Conclusão:
Para romper com o modelo Moisés, o estilo da lei, das aparências e máscaras, é necessário conversão genuína a Deus, obra está efetuada pelo Espírito Santo.
Por isto vida cristã não está centrada no homem, mas na obra de Deus em nossa vida. Toda glória é dele mesmo.
Olá gostei muito de poder ler sobre isso. Estava estudando e gostaria de lhe perguntar qual versículo do Antigo Testamento fala sobre Moisés perder seu brilho?
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