segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Mc 8.18 Não vos lembrais?





Introdução:

É muito fácil esquecer milagres e contabilizar dores.

A memória de gratidão e reconhecimento parece funcionar de forma diferente da amargura e ressentimento.

Um antigo hino afirma: “Conta as bençãos, dize-as de uma vez; e verás surpreso quanto Deus já fez”. Lamentavelmente o que geralmente contamos são as mágoas, lembramos com detalhe situações em que fomos feridos e de quem nos magoou. Somos capazes de contar mágoas, “todas de uma vez”, numa avalanche de dor e lágrimas, mas temos dificuldade de recordar os feitos poderosos de Deus na vida. Isto é muito grave. Facilmente esquecemos as manifestações de cuidado de Deus.

É isto que vemos no texto lido.

Os discípulos estão enfrentando uma necessidade. Coisa de homem. Saem de barco, mas ninguém se lembrou de levar o lanche, e a fome chega quando se encontram em alto mar. Jesus está ministrando, e faz uma menção sobre o fermento dos fariseus e de Herodes. Ele está falando sobre a capacidade de homens do mundo religioso e político (os fariseus representam os primeiros, e Herodes o segundo), de gerarem intrigas, causarem oposição, lutarem por poder, e exercitarem a maledicência. Mas os discípulos fazem outra leitura: Ele está com fome e indiretamente nos censura por não termos trazido o lanche.

Nesta hora Jesus resolve ministrar ao coração dos discípulos:
Por que discorreis sobre o não terdes pão? Ainda não considerastes, nem compreendestes? Tendes o coração endurecido? Tendo olhos, não vedes? E, tendo ouvidos, não ouvis? Não vos lembrais?” (Mc 8.18-18).

Jesus afirma que o problema deles era de memória, eles não se lembravam de algo recente que haviam presenciado. Eles tinham acabado de ver o milagre de Jesus na segunda multiplicação dos pães, quando cerca de quatro mil homens foram alimentados com sete pães e alguns peixinhos, mas cinco horas depois, encontram-se novamente com crise sobre a questão de comida (Mc 8.1-10).

A pergunta de Jesus: “Não vos lembrais?”, é fundamental para esta reflexão.

O problema dos discípulos era a incapacidade de recordar os feitos de Deus em suas vidas, e trazê-los novamente para o coração para enfrentar os desafios presentes. A memória dos feitos de Deus realizados ontem deveriam ser instrumentos para enfrentar os problemas de hoje.

Quatro lições devemos aprender a partir deste texto:


1. Quando nos esquecemos dos feitos de Deus, facilmente nos assustamos com os desafios de hoje. A memória evocando o passado, torna-se aliada para enfrentarmos os dilemas de hoje.

Max Lucado conta o seguinte episódio, que serve para ilustrar.



“Há alguns anos atrás quando eu estava levando a minha filhinha Andrea para a escola, ela notou que eu estava nervoso.
-“Por que você está tão calado, pai?”
Eu disse a ela que estava preocupado com o prazo de entrega de um livro.
Ela me perguntou -“Você não já escreveu outros livros?“ 
- “Sim” eu respondi. 
-“Quantos?” 
Naquele momento a resposta era quinze. 
Ela respondeu: 
-“Já perdeu algum prazo antes?” 
-“Não” eu disse. 
-“Então Deus já te ajudou quinze vezes?” 
-“Sim” eu estremeci. 
Ela estava soando como a mãe. Ela continuou o raciocínio 
-“Se Ele te ajudou nas outras quinzes vezes, não acha que ele vai te ajudar nessa vez?”


Não deixe que a experiência se perca no arquivo da memória. A Bíblia, didaticamente, sempre usa o recurso de evocar as intervenções do passado, para superar as lutas do presente. Você se lembra de como Deus agiu na sua vida? Como interviu de forma soberana e especial? Lembre-se disto para fortalecer o seu coração no presente. Foi isto que Jesus falou quando entrou no barco com para estar com os discípulos: “Porventura não vos lembrais”? (Mc 8.18)

Como diz Lucado: 

“Sua melhor ferramenta contra os ataques do diabo é uma boa memória. Não se esqueça de uma bênção sequer”.

Quando o profeta Jeremias se vê diante da caótica e destruída cidade de Jerusalém, o que ele faz? Usa sua memória para enfrentar o pesado momento de sua história.

Quero trazer a memória, o que me pode dar esperança” (Lam 3.21).

A sua história estava completamente sem chão, o caos estava diante de seus olhos, mas ele podia usar sua memória para evocar princípios e verdades que poderiam sustentá-lo, no seu caso, o que o manteve em pé foi a lembrança do caráter misericordioso e a fidelidade do Senhor: “As misericórdias do Senhor, são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não tem fim, renovam-se cada manhã. Grande é a tua fidelidade” (Lm 3.22-23). Lembrar de Deus, e de quem ele era, de sua misericórdia e fidelidade, fazia toda diferença para sua vida.

O que você faz quando as coisas saem do seu controle?

Quando falta lanche na viagem?

Eu sei que para alguns casais, faltar lanche é razão de briga. Um jovem casal descobriu que não podia discutir antes do almoço, porque isto, invariavelmente, gerava graves conflitos. Decidiram que só discutiriam quando estivessem de barriga cheia. 70% das grandes discussões acabaram.

Mas e você? O que faz quando há risco da falta de pão?

Quando você esqueceu o lanche em casa?

Quando as coisas fogem do seu controle, por desatenção, descuido ou casualidade? O que você faz para enfrentar os desafios de hoje?

Use sua memória!

Jesus censura seus discípulos: “Porventura não vos lembrais?” Use a memória a seu favor.


2. Não usar a memória dificulta a compreensão do Evangelho

Jesus faz duas afirmações graves sobre isto:

i. “Ainda não considerastes, nem compreendestes?” (Mc 8.17).
ii. “Ao que lhes disse Jesus: Não compreendestes ainda?”(Lc 8.21).

Observaram a ênfase de Jesus?

Ele quer deixar claro que sem memória torna-se difícil compreender quem ele é, o seu poder e sua glória. Os discípulos tinham acabado de ver um grande milagre, mas ainda não compreendiam. Sem memória, não se cria links.

Quando usamos a memória e lembramos dos feitos de Deus, passamos a fazer associações importantes que nos capacitam a compreender.

Um feito do passado, associado a outro, vai dando a segurança e a compreensão de quem é Deus. O Evangelho vai se tornando significativo e claro. Somos capazes de compreender.

Talvez seja esta a razão pela qual as pessoas não experimentam a benção do evangelho. Falta “memoriol”, precisa de remédio para aguçar as lembranças, são pessoas esquecidas e desatentas, e encontrarão, certamente, grande dificuldade em compreender o evangelho.

Jesus afirma que seus discípulos, por não serem capazes de associar, de lembrar, não estavam compreendendo a beleza de tudo o que lhes estava acontecendo.


3. Não usar a memória endurece o coração

O Evangelho de Marcos registra dois incidentes que demonstram isto:

i. Quando os discípulos tiveram que enfrentar a tempestade, eles ficaram aterrados e fragilizados. Jesus sobe no barco, acalma o mar e lhes censura. Marcos diz que o medo deles tinha uma causa direta com a incapacidade de se lembrar da cena anterior. A primeira multiplicação de pães: “porque não haviam compreendido o milagre dos pães, antes o seu coração estava endurecido” (Mc 6.52). O que lhes causou o medo? A falta de memória! as coronárias estavam endurecidas, porque faltou memória. Falta de memória nos torna embrutecidos, ingratos. Afinal, gratidão, é a memória do coração, como afirma um proverbio francês. Moacir Bastos, poeta presbiteriano afirma que “gratidão é o amor contemplando o passado”. Sem memória não há gratidão, e o coração endurece!

ii. Em Mc 8.17-18 Jesus afirma que a dureza do coração dos discípulos os impedia de lidar com fé e vitória nos embates do presente. A falta de lembrança dos feitos de Deus nos torna embrutecidos e ignorantes. Nosso coração torna-se empedernido. A Bíblia afirma nestes dois textos, que o endurecimento do coração tinha relação direta com a memória.


4. Usar a memória nos torna ousados e seguros no presente. Já deu para perceber, até aqui, que memória tem a fé com a fé e com o evangelho. A mensagem de Jesus não é um amontoado de conceitos para serem colocados na prateleira, mas são princípios aplicáveis à vida. Evocar o evangelho e usar a fé é um instrumento poderosíssimo para obter vitória no presente.

Vamos evocar uma história do Antigo Testamento para entender isto.

Quando Davi vai lutar contra Golias, ele estava em grande desvantagem. Golias era muito mais forte, mais treinado, mais aparelhado que ele. Estas coisas estão claras aos olhos de todos. As pessoas tentam desestimular Davi, mas ele está decidido de que esta batalha vai ser ganha. Aparentemente tratava-se apenas de um empavonado adolescente querendo se aparecer diante dos outros homens, para mostrar que ele era macho.

Mas os fundamentos de Davi sao claros: Ele usa suas lembranças e experiências com Deus para obter vitória. Sua fé o torna ousado, e sua fé está se sustentando no caráter cuidadoso de Deus no passado. Sua experiência não ficou perdida no tempo, ele a traz consigo para vencer a dura batalha que tem pela frente.

“Disse mais Davi: O Senhor me livrou das garras do leão e das do urso; ele me livrará das mãos destes filisteus” (1 Sm 17.37). Sua memória da caminhada com Deus é o que o torna seguro no presente. Ele está tao seguro disto que mesmo o claudicante e inseguro Saul, o encoraja a lutar, baseado no fundamento de seus valores e convicções. “Vai-te, o Senhor seja contigo” (1 Sm 17.37). Se Davi fosse derrotado, isto enfraqueceria ainda mais o acuado exército de Israel, seria mais uma derrota. Mas o rei se sente seguro, quando percebe a segurança de Davi.

Assim deve ser a nossa caminhada com Deus.

A vitória do passado deve nos impulsionar a obter novas vitórias no presente. Como ja vimos Deus agindo, e vimos suas miraculosas intervenções, nossa fé se fortalece. Ao evocar tais lembranças, nos tornamos ousados, afinal, “O Senhor me livrou das garras do leão e das do urso; ele me livrará das mãos destes filisteus”. Isto não é novidade para Deus, ele ja agiu antes, não é um fato novo.


Conclusão:

Pense como isto é importante para nossa vida.

Quando eu era apenas uma criança, de sete anos de idade, Deus me curou surpreendendo os médicos e familiares. Se ele fez antes, porque não faria hoje, se isto faz parte dos seus propósitos?

Dois anos atrás, Alice, filha do Douglas e Christiane, morreu afogada numa piscina. Com a graça de Deus, seus pais que não sabem quanto tempo ela ficou afogada, fizeram ressurreição Alice está viva e serelepe no nosso meio. Se Deus fez antes, ele pode fazer hoje, de acordo com seus planos.

Deus certamente já se manifestou na sua história, já lhe deu experiências e vitórias, ja surpreendeu você. Use isto para continuar crendo no presente e obter novas vitórias.

Ou “porventura não vos lembrais?”




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