segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Pv 30.1-6 Exaustão e stress




Pouco sabemos do autor deste capítulo do livro de Provérbios. Apesar de todo seu conteúdo ser considerado como um livro de Salomão, a verdade é que em muitos pontos, ele apenas o compilou, provavelmente com um grupo de sábios, escribas e eruditos, que o ajudavam na composição dos textos. Este texto, por exemplo, foi escrito por Agur, filho de Jaque, de Massá. Portanto sabemos quem era o seu pai, e sua procedência, não há, além destas informações, outros aspectos mencionados sobre a vida do autor.
O mais importante, contudo, é o desabafo que ele faz sobre sua própria realidade espiritual. Agur tem um problema típico do homem de ação do Seculo XXI, que precisa atender às múltiplas demandas do trabalho, estudo, família, contas a pagar, exigências sociais, e que desemboca quase que invariavelmente num quadro de ansiedade, angústia e fobia. Agur sentia-se exausto, e ele afirma isto com veemência: “Fatiguei-me, ó Deus; fatiguei-me, ó Deus, e estou exausto” (Pv 30.1). Não é esta uma descrição de um homem agitado dos nossos dias?  Parece a descrição de um homem que trabalha no mercado de ações na Avenida Paulista num final de tarde da sexta feira. Exausto!
O que o leva ao cansaço?
Da mesma forma que ele fez, precisamos considerar aquilo que drena a energia, e rouba a vitalidade da nossa vida. Aprender a se proteger destes elementos que espoliam o entusiasmo e a alegria da vida, é um grande desafio, mas se soubermos detectá-los e nos prevenir contra eles, teremos dado um grande passo em relação a uma vida mais saudável e plena.

Agur identifica dois destes elementos:

1.      A estupidez de seu próprio coração – “porque sou demasiado estúpido para ser homem; não tenho inteligência de homem, não aprendi a sabedoria “(Pv 30.2-3). Ele percebe que boa parte de sua exaustão decorre de atitudes erradas, decisões erradas, negócios errados.

A grande verdade da vida é esta: “Eis o que tão somente achei, Deus fez o homem reto, mas ele se meteu em muitas astúcias”  (Pv 7.29). Sofremos em demasia e nos cansamos, porque nossas escolhas morais e espirituais, o pecado, traz graves consequências e cansaço sobre a vida.
Veja o próprio exemplo de Salomão. Ele vai ignorando o bom senso e princípios espirituais. Sua vaidade vai assumindo seu coração. Na tentativa de ser popular, um politico reconhecido e aclamado, decidi ignorar a Palavra de Deus e fazer do seu jeito. Salomão se considerava esperto demais, e sua vaidade não o deixava perceber a armadilha em que ele estava se enfiando. Para ampliar seu domínio, já não bastava o reconhecimento do seu povo, precisava mais, e o caminho que lhe parecia mais fácil era fazer alianças, casar-se com mulheres pagãs. Isto lhe cobra um alto dividendo. As mulheres vem para Israel e trazem os seus deuses consigo, e para lhes ser agradável, resolveu fazer templos pagãos para que suas mulheres gentias pudessem oferecer sacrifícios aos deuses e ídolos.
Eventualmente a vaidade de Salomão retorna como um efeito bumerangue sobre sua vida. Para satisfazer seus caprichos e exigências, passou a cobrar impostos cada vez maiores sobre o seu povo, e isto posteriormente será a causa da divisão de Israel entre Reino do norte (Samaria) e Reino do sul (Jerusalém).
Não sabemos o que fez Agur, mas o seu desabafo expressa o sentimento de alguém que se percebe tolo, estúpido, estulto. Ele se vê agora como uma pessoa tão tola, que não se parecia com um ser humano, ele afirma que tinha perdido sua capacidade de raciocínio e lógica, “não tenho inteligência para ser homem”,  e havia “ignorado a sabedoria”. Estas coisas estavam pesando e trazendo aborrecimento para sua vida. Ele estava exausto e fatigado, por causa da tolice de seu coração.
Não é assim com nossa vida?
Algumas vezes a Bíblia usa expressões interessantes para revelar as consequências do pecado. Em Lv 18.23, ao falar do pecado, a Bíblia é bem prática ao afirmar que isto geraria “confusão”. Em Dt 28.20, ao se referir às consequências do pecado, vemos que haveria “loucura, cegueira e perturbação de espírito”. É Isto que faz o pecado. Ele nos perturba, nos deixa cansados, irritados e gera confusão e stress. 
Quantas vezes sofremos em demasia por causa de tolas decisões. Na sua infinita graça Deus usa até mesmo as contradições e ambiguidades para nos abençoar, mas antes disto pagamos um preço muito caro para tolice. Sua exaustão estava associada à estutície do coração.

2.      Falta de conhecimento de Deus – Ele reconhece que outra coisa que lhe causara este profundo stress fora a falta de conhecimento de Deus. Sua pouca intimidade com Deus lhe causava sofrimento. “...nem tenho o conhecimento do Santo” (Pv 30.3b)

Nos estressamos demais em não conhecer o caráter de Deus. Quem não tem conhecimento de Deus torna-se passatempo das circunstâncias, e isto significa uma vida cheia de altos e baixos, ninguém tem controle sobre os acontecimentos, nem pode controlar a história, o clima das estações, a variação da bolsa, a variação do mercado. Se sua confiança e segurança encontram-se em coisas, pessoas ou circunstâncias, e não em Deus, você vai sofrer muito stress e facilmente vai fatigar-se.
Quando confiamos em Deus, podemos andar seguro. “Deus é nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente nas tribulações”. (Sl 46.1). É isto que Deus tenta comunicar ao seu povo, em vão, porque o povo não entende:  “Porque assim diz o Senhor Deus, o Santo de Israel: Em vos converterdes e em sossegardes, está a vossa salvação; na tranquilidade e na confiança, a vossa forca, mas não o quisestes, antes, dizeis: Não, sobre cavalo fugiremos; portanto, fugireis; e: Sobre cavalos ligeiros cavalgaremos; sim, ligeiros serão os vossos perseguidores”  (Is 30.15-16).
A verdade é que não confiar em Deus causa fadiga e stress. Confiamos na força das nossas mãos, nos recursos da inteligência, nas pessoas, no dinheiro, não buscamos a tranquilidade, serenidade e paz que procedem do Senhor. O caminho para uma vida sem ansiedade e fadiga, é o caminho da confiança e do sossego em Deus.
Agur percebe isto de forma bem dolorida em sua vida.
Desconhecer a Deus de forma prática e efetiva, se torna uma grande fonte de angústia e stress. Ele deixa de colocar sua confiança em Deus, e  o resultado é a fadiga. Por não conhecer a Deus, o Deus Santo, ele se encontra agora fatigado.
Na tentativa de trazer à sua mente, a realidade deste Deus, ele faz cinco perguntas, todas sobre Deus, e sempre de forma veemente:
Quem subiu ao ceu e desceu?
Quem encerrou os ventos nos seus punhos?
Quem amarrou as águas na sua roupa?
Quem estabeleceu todas as extremidades da terra?
Qual é o seu nome? E qual é o nome de seu filho,
Se é que o sabes?”
(Pv 30.4)

é interessante que esta foi a didática de Deus com Jó. Enquanto ele insistia nos “porquês”, Deus respondia com “quem”. O importante, para nos dar descanso, é entender, não as causas dos fatos e acontecimentos, mas confiar na soberana direção daquele que faz todas as coisas, e dirige a história humana com santidade e providência.

Conclusão:
Stress, fadiga, exaustão, estão muito mais relacionados ao estado interior que fatores externos. Normalmente afirmamos que estamos exaustos pelo excesso de trabalho, pela agenda lotada, pelas exigências sociais e trabalho, mas a verdade é que, geralmente, nosso esgotamento se dá por fatores internos. Descuidamos do coração, de coisas essenciais para a vida, e somos consumidos pela agitação.
Agur se sentia exatamente assim:
Fatiguei-me, ó Deus; fatiguei-me, ó Deus, e estou exausto” (Pv 30.1).
Agur viveu numa cultura muito diferente da atual, com exigências e pressões diferentes, com realidades distintas, mas estava igualmente cansado. Sua afirmacao é de alguém que se encontra no fim da linha.
Na sua reflexão ele percebeu: desprezei a sabedoria. Ele percebe que não seguiu princípios e valores básicos que dariam estabilidade e serenidade ao seu coração, abandonou coisas fundamentais, confundiu urgente com prioritário, correu até a exaustão, e sente-se agora estressado e estúpido.
Ele percebe, acima de tudo, que desprezou valores eternos. Desprezou a Deus, minimizou a importância de considerar Deus, ouvir a Deus, ter conhecimento do Eterno. Ele esqueceu “Quem”, em última instância, poderia dar sentido ao seu coração. Esqueceu que “em converter e em sossegar, estava sua salvação”. Deus, este sim, seria o único que poderia dar descanso à sua alma cansada.
Talvez fosse isto que estivesse na mente de Cristo quando convidou os seus discípulos: “Vinde a mim, todos os cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei; tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e achareis descanso para as vossas almas “. (Mt 11.28)


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