Pouco
sabemos do autor deste capítulo do livro de Provérbios. Apesar de todo seu
conteúdo ser considerado como um livro de Salomão, a verdade é que em muitos
pontos, ele apenas o compilou, provavelmente com um grupo de sábios, escribas e
eruditos, que o ajudavam na composição dos textos. Este texto, por exemplo, foi
escrito por Agur, filho de Jaque, de Massá. Portanto sabemos quem era o seu
pai, e sua procedência, não há, além destas informações, outros aspectos
mencionados sobre a vida do autor.
O
mais importante, contudo, é o desabafo que ele faz sobre sua própria realidade
espiritual. Agur tem um problema típico do homem de ação do Seculo XXI, que
precisa atender às múltiplas demandas do trabalho, estudo, família, contas a
pagar, exigências sociais, e que desemboca quase que invariavelmente num quadro
de ansiedade, angústia e fobia. Agur sentia-se exausto, e ele afirma isto com
veemência: “Fatiguei-me, ó Deus;
fatiguei-me, ó Deus, e estou exausto” (Pv 30.1). Não é esta uma descrição de um homem agitado dos nossos
dias? Parece a descrição de um homem que
trabalha no mercado de ações na Avenida Paulista num final de tarde da sexta
feira. Exausto!
O
que o leva ao cansaço?
Da
mesma forma que ele fez, precisamos considerar aquilo que drena a energia, e
rouba a vitalidade da nossa vida. Aprender a se proteger destes elementos que
espoliam o entusiasmo e a alegria da vida, é um grande desafio, mas se
soubermos detectá-los e nos prevenir contra eles, teremos dado um grande passo
em relação a uma vida mais saudável e plena.
Agur
identifica dois destes elementos:
1.
A
estupidez de seu próprio coração – “porque
sou demasiado estúpido para ser homem; não tenho inteligência de homem, não
aprendi a sabedoria “(Pv 30.2-3). Ele percebe que boa parte de sua exaustão
decorre de atitudes erradas, decisões erradas, negócios errados.
A
grande verdade da vida é esta: “Eis o que
tão somente achei, Deus fez o homem reto, mas ele se meteu em muitas astúcias” (Pv 7.29). Sofremos em demasia e nos
cansamos, porque nossas escolhas morais e espirituais, o pecado, traz graves
consequências e cansaço sobre a vida.
Veja
o próprio exemplo de Salomão. Ele vai ignorando o bom senso e princípios
espirituais. Sua vaidade vai assumindo seu coração. Na tentativa de ser
popular, um politico reconhecido e aclamado, decidi ignorar a Palavra de Deus e
fazer do seu jeito. Salomão se considerava esperto demais, e sua vaidade não o
deixava perceber a armadilha em que ele estava se enfiando. Para ampliar seu
domínio, já não bastava o reconhecimento do seu povo, precisava mais, e o
caminho que lhe parecia mais fácil era fazer alianças, casar-se com mulheres
pagãs. Isto lhe cobra um alto dividendo. As mulheres vem para Israel e trazem
os seus deuses consigo, e para lhes ser agradável, resolveu fazer templos pagãos
para que suas mulheres gentias pudessem oferecer sacrifícios aos deuses e
ídolos.
Eventualmente
a vaidade de Salomão retorna como um efeito bumerangue sobre sua vida. Para
satisfazer seus caprichos e exigências, passou a cobrar impostos cada vez maiores
sobre o seu povo, e isto posteriormente será a causa da divisão de Israel entre
Reino do norte (Samaria) e Reino do sul (Jerusalém).
Não
sabemos o que fez Agur, mas o seu desabafo expressa o sentimento de alguém que
se percebe tolo, estúpido, estulto. Ele se vê agora como uma pessoa tão tola,
que não se parecia com um ser humano, ele afirma que tinha perdido sua
capacidade de raciocínio e lógica, “não
tenho inteligência para ser homem”, e havia “ignorado
a sabedoria”. Estas coisas estavam pesando e trazendo aborrecimento para
sua vida. Ele estava exausto e fatigado, por causa da tolice de seu coração.
Não
é assim com nossa vida?
Algumas
vezes a Bíblia usa expressões interessantes para revelar as consequências do
pecado. Em Lv 18.23, ao falar do pecado, a Bíblia é bem prática ao afirmar que
isto geraria “confusão”. Em Dt 28.20, ao se referir às consequências do pecado,
vemos que haveria “loucura, cegueira e perturbação
de espírito”. É Isto que faz o pecado. Ele nos perturba, nos deixa
cansados, irritados e gera confusão e stress.
Quantas
vezes sofremos em demasia por causa de tolas decisões. Na sua infinita graça
Deus usa até mesmo as contradições e ambiguidades para nos abençoar, mas antes
disto pagamos um preço muito caro para tolice. Sua exaustão estava associada à
estutície do coração.
2.
Falta de
conhecimento de Deus – Ele reconhece que outra coisa que lhe causara este
profundo stress fora a falta de conhecimento de Deus. Sua pouca intimidade com
Deus lhe causava sofrimento. “...nem
tenho o conhecimento do Santo” (Pv 30.3b)
Nos
estressamos demais em não conhecer o caráter de Deus. Quem não tem conhecimento
de Deus torna-se passatempo das circunstâncias, e isto significa uma vida cheia
de altos e baixos, ninguém tem controle sobre os acontecimentos, nem pode
controlar a história, o clima das estações, a variação da bolsa, a variação do
mercado. Se sua confiança e segurança encontram-se em coisas, pessoas ou
circunstâncias, e não em Deus, você vai sofrer muito stress e facilmente vai
fatigar-se.
Quando
confiamos em Deus, podemos andar seguro. “Deus
é nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente nas tribulações”. (Sl
46.1). É isto que Deus tenta comunicar ao seu povo, em vão, porque o povo não
entende: “Porque assim diz o Senhor Deus, o Santo de
Israel: Em vos converterdes e em sossegardes, está a vossa salvação; na
tranquilidade e na confiança, a vossa forca, mas não o quisestes, antes,
dizeis: Não, sobre cavalo fugiremos; portanto, fugireis; e: Sobre cavalos
ligeiros cavalgaremos; sim, ligeiros serão os vossos perseguidores” (Is 30.15-16).
A
verdade é que não confiar em Deus causa fadiga e stress. Confiamos na força das
nossas mãos, nos recursos da inteligência, nas pessoas, no dinheiro, não
buscamos a tranquilidade, serenidade e paz que procedem do Senhor. O caminho
para uma vida sem ansiedade e fadiga, é o caminho da confiança e do sossego em
Deus.
Agur
percebe isto de forma bem dolorida em sua vida.
Desconhecer
a Deus de forma prática e efetiva, se torna uma grande fonte de angústia e
stress. Ele deixa de colocar sua confiança em Deus, e o resultado é a fadiga. Por não conhecer a
Deus, o Deus Santo, ele se encontra agora fatigado.
Na
tentativa de trazer à sua mente, a realidade deste Deus, ele faz cinco
perguntas, todas sobre Deus, e sempre de forma veemente:
“Quem subiu ao ceu e desceu?
Quem encerrou os ventos nos seus punhos?
Quem amarrou as águas na sua roupa?
Quem estabeleceu todas as extremidades da terra?
Qual é o seu nome? E qual é o nome de seu filho,
Se é que o sabes?”
(Pv 30.4)
é
interessante que esta foi a didática de Deus com Jó. Enquanto ele insistia nos
“porquês”, Deus respondia com “quem”. O importante, para nos dar descanso, é
entender, não as causas dos fatos e acontecimentos, mas confiar na soberana
direção daquele que faz todas as coisas, e dirige a história humana com
santidade e providência.
Conclusão:
Stress,
fadiga, exaustão, estão muito mais relacionados ao estado interior que fatores
externos. Normalmente afirmamos que estamos exaustos pelo excesso de trabalho,
pela agenda lotada, pelas exigências sociais e trabalho, mas a verdade é que,
geralmente, nosso esgotamento se dá por fatores internos. Descuidamos do
coração, de coisas essenciais para a vida, e somos consumidos pela agitação.
Agur
se sentia exatamente assim:
“Fatiguei-me, ó Deus; fatiguei-me, ó Deus, e
estou exausto” (Pv 30.1).
Agur
viveu numa cultura muito diferente da atual, com exigências e pressões
diferentes, com realidades distintas, mas estava igualmente cansado. Sua
afirmacao é de alguém que se encontra no fim da linha.
Na
sua reflexão ele percebeu: desprezei a sabedoria. Ele percebe que não seguiu
princípios e valores básicos que dariam estabilidade e serenidade ao seu
coração, abandonou coisas fundamentais, confundiu urgente com prioritário,
correu até a exaustão, e sente-se agora estressado e estúpido.
Ele
percebe, acima de tudo, que desprezou valores eternos. Desprezou a Deus,
minimizou a importância de considerar Deus, ouvir a Deus, ter conhecimento do
Eterno. Ele esqueceu “Quem”, em última instância, poderia dar sentido ao seu
coração. Esqueceu que “em converter e em sossegar, estava sua salvação”. Deus,
este sim, seria o único que poderia dar descanso à sua alma cansada.
Talvez
fosse isto que estivesse na mente de Cristo quando convidou os seus discípulos:
“Vinde a mim, todos os cansados e
sobrecarregados, e eu vos aliviarei; tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de
mim, porque sou manso e humilde de coração, e achareis descanso para as vossas
almas “. (Mt 11.28)
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