domingo, 15 de setembro de 2019

1 Co 3.9 Igrejas relevantes no meio de uma geração confusa (II)


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Introdução:

No sermão anterior demonstramos como é desafiador construir uma igreja numa cidade tão cosmopolita, multicultural, miscigenada como era Corinto. Cidade portuária, recebia todo tipo de influência cultural de um mundo impregnado de mundanismo e secularismo.

Além do aspecto externo que pressionava a igreja, a comunidade cristã em Corinto tinha grandes desafios: a igreja estava dividida entre grupos; sofria graves distorções da teologia – Paulo trabalha pelo menos cinco destas áreas – tinha problemas morais que desafiavam qualquer disciplina eclesiástica, e ainda era crítica do seu pastor, ora afirmando que seu sermão era fraco e desprezível (2 Co 10.10); ou que ele era um homem de mundano proceder (2 Co 10.2). Alguns acusaram Paulo de não ser um homem espiritual .

Como ser igreja relevante tendo problemas éticos e filosóficos graves na sociedade que a cercava, e tendo tantos desafios internos e viscerais?

Paulo faz três observações iniciais que consideramos no estudo passado:

Primeiro, uma igreja relevante nesta geração confusa precisa encontrar uma unidade na sua missão, valor, propósito e visão. Ela precisa buscar unidade (1 Co 1.10).

Segundo, uma igreja relevante no meio de uma geração desorientada, precisa ser criteriosa naquilo que diz. Precisa se proteger, cuidar da língua (1 Co 1.11).

Terceiro, igrejas relevantes numa cultura desorientada, precisam colocar a cruz no centro de sua mensagem (1 Co 2.1-2).

As observações de Paulo se aplicam ainda hoje a todas as igrejas de Cristo. Ainda falta relevância nos ministérios pastorais e nas igrejas que conhecemos. Hoje analisaremos mais alguns aspectos de uma igreja relevante numa sociedade, e tais aspectos se aplicam diretamente a nós.

Quarto, uma igreja relevante é madura na sua espiritualidade

A Igreja de Corinto estava despreparada para impactar a sociedade, porque era uma igreja imatura demais nas suas atitudes.

Quais são os sinais da imaturidade?
Paulo fala de dois aspectos: infantilidade e carnalidade.

“Irmãos, não lhes pude falar como a espirituais, mas como a carnais, como a crianças em Cristo. Dei-lhes leite, e não alimento sólido, pois vocês não estavam em condições de recebê-lo. De fato, vocês ainda não estão em condições, porque ainda são carnais. Porque, visto que há inveja e divisão entre vocês, não estão sendo carnais e agindo como mundanos?” (1 Co 3.1-3).

Igrejas infantis e carnais encontram dificuldade em serem relevantes. Elas pouco atraem e impactam a vida das pessoas, lares, igreja e sociedade. Elas pouco deixam de legado aos filhos e netos.

Duas características são comuns nas atitudes carnais:

A.    Sacralizar o secular – São pessoas capazes de dar um ar sagrado a palavras que na verdade são pecaminosas. Suas mentiras parecem muito espirituais. Não é muito difícil arrumar desculpas para se justificar, e eventualmente afirmar que Deus fez alguma coisa, quando na verdade o objetivo é manipular pessoas e estruturas para sacralizar atos mundanos.

Trata-se de carnalidade revestida de espiritualidade.

B.    Dessacralizar o Sagrado – Este é outro perigo. Nos acostumamos com as coisas de Deus e por isto não valorizamos com temor e reverência aquilo que de fato é sagrado. Nossas orações podem se perder na rotina, nossa espiritualidade perde o impacto em nosso coração. Lemos a Bíblia apenas para preparar sermões; oramos apenas para nos justificar; perdemos o fogo no coração mas continuamos ainda repetindo as formulas e rituais do nosso “evangeliquês”. A Bíblia torna-se objeto de estudo, e não Palavra de Deus, transformadora e poderosa para nossas vidas.

A estas duas atitudes mundanas, podemos dizer:

       i.         Deus continua o mesmo. “De Deus não se zomba, aquilo que o homem semear, isto também ceifará”.

      ii.         A Bíblia continua a mesma. Ela não mudou seus parâmetros. Os valores e princípios do NT continuam sendo aplicáveis a qualquer cultura.

     iii.         A consistência de Deus. “Sede santos porque eu sou santo” (Mt 5.48).


Quinto, uma igreja relevante exerce seus dons sem competitividade e disputa.

Porque, visto que há inveja e divisão entre vocês, não estão sendo carnais e agindo como mundanos? Pois quando alguém diz: "Eu sou de Paulo", e outro: "Eu sou de Apolo", não estão sendo mundanos?” (1 Co 3.3,4).

Quando a igreja se torna mundana, cargos e posições se tornam idolátricos. Muitas igrejas sofrem por causa disto. São presbíteros que se julgam donos da igreja, diáconos que acreditam serem donos da junta diaconal. Nossa igreja local possui um programa de liderança chamado “sabático”, para todos os oficiais. Eles precisam ficar um ano de descanso, depois do seu mandato vencido. Não podem se candidatar imediatamente. Esta atitude é fantástica, porque demonstra que ninguém é insubstituível, e que o reino é de Cristo. Não existe reserva de domínio e ninguém tem posse de um ministério.

Para quem quer servir, os dons se tornam uma forma de glorificar a Deus, e não para auto promoção e disputa.

Quando João Batista estava no auge do seu ministério, Jesus veio para se batizar com ele. Todos tinham Batista como alguém muito especial. As autoridades o respeitavam, as multidões se aproximavam dele no Rio Jordão para serem batizados, e ele estava  tendo muito "sucesso". Com o aparecimento de Jesus, porém, vários discípulos começaram a seguir a Jesus, depois do testemunho que ouviram do próprio Batista. Alguns discípulos ficaram preocupados porque seu prestígio  estava em queda, mas ele dá aos seus discípulos uma resposta surpreendente: ”Quem tem a noiva é o noivo. O amigo do noivo que está presente e o ouve, muito se regozija por causa da voz do noivo. Pois esta alegria já se cumpriu em mim” (Jo 3.29).

Minha alegria, diz João, é ver o ministério avançado, o nome de Cristo sendo proclamado. Eu não vim para ter primazia, mas vim para servir, a glória é de Cristo, o dono da igreja é Jesus.

“Afinal de contas, quem é Apolo? Quem é Paulo? Apenas servos por meio dos quais vocês vieram a crer, conforme o ministério que o Senhor atribuiu a cada um. Eu plantei, Apolo regou, mas Deus é quem fazia crescer; de modo que nem o que planta nem o que rega são alguma coisa, mas unicamente Deus, que efetua o crescimento. O que planta e o que rega têm um só propósito, e cada um será recompensado de acordo com o seu próprio trabalho. Pois nós somos cooperadores de Deus; vocês são lavoura de Deus e edifício de Deus”. (1 Co 3.5-9).

Sabe qual é a nossa função? 
Cooperadores. Nós co-operamos com Cristo. 

Não dá para fazer nada sem ele. Nós semeamos, outro rega, mas o crescimento vem de Deus.
Quando uma igreja possui mais pastores, quase sempre corre o risco de supervalorizar um de seus membros em detrimento do outro. Quando fazemos isto, perdemos de vista a obra em si. Quem é mais importante?

Nós apenas cooperamos. A obra é de Cristo.
É Deus quem efetua o crescimento. A glória é dele.

Sexto, uma igreja relevante, não remove o fundamento: Cristo.

Conforme a graça de Deus que me foi concedida, eu, como sábio construtor, lancei o alicerce, e outro está construindo sobre ele. Contudo, veja cada um como constrói.
Porque ninguém pode colocar outro alicerce além do que já está posto, que é Jesus Cristo
.” (1 Co 3.10,11).

Curiosamente é fácil perder o centro da mensagem.
A carta de Paulo aos Gálatas foi escrita em torno dos anos 60, portanto,  30 anos depois da morte de Cristo. Entretanto, quando a lemos vemos Paulo afirmando. “Admiro-me de que vocês estejam abandonando tão rapidamente aquele que os chamou pela graça de Cristo, para seguirem outro evangelho que, na realidade, não é o evangelho. O que ocorre é que algumas pessoas os estão perturbando, querendo perverter o evangelho de Cristo.” (Gl 1.6,7).

Paulo afirma que a igreja da Galácia estava perdendo o evangelho, indo em direção a outro evangelho. Colocando outra mensagem no lugar do evangelho. Substituindo o evangelho de Cristo.

É fácil tirar a mensagem de Cristo e substitui-la por outra mensagem. Paulo afirma em 1 Co 2.2: “Nada decidi saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado”. Nada, senão Jesus. Os pregadores atuais estão colocando tudo na sua mensagem, tudo, exceto Cristo.

Numa das cartas que Jesus envia às igrejas do Apocalipse que ficavam na Ásia Menor, atualmente a Turquia, Jesus diz: “Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei, cearei com ele e ele comigo” (Ap 3.20). Esta igreja era de Jesus, não era? Mas onde estava Jesus? Ele estava do lado de fora, pois afirma que estava querendo entrar e que sua igreja precisava abrir as portas para ele.

Em junho de 1910, aconteceu a Conferência Missionária Mundial de Edimburgo em 1910, que se tornou conhecido como o congresso missionário mais famoso da história, liderado por John Mott, 
reunindo missionários, agências e outros obreiros cristãos de países da Europa e da América do Norte. Quase todos eram homens brancos, a representação da Ásia e da África era mínima e não havia nenhum latino-americano. 

Entre os dias 2 e 6 de junho de 2010, cem anos depois, na mesma cidade de Edimburgo (Escócia), aconteceu um congresso menor - em parte porque vários outros congressos missionários significativos acontecem em vários continentes, com trezentos delegados e mais de cem participantes, na Universidade de Edimburgo. Desta vez houve uma maior participação de outros continentes, incluindo a América Latina.


O tema geral escolhido para esta nova conferência foi: “Dar testemunho do Cristo, hoje”. Ricardo Barbosa, um dos participantes representando o Brasil, relata que houve grande debate sobre este tema, pois os pastores liberais não queriam que o nome de Cristo aparecesse no tema, pois afirmavam que ele poderia afastar as outras religiões, até que a ala mais conservadora conseguiu convencer que não dava para fazer um congresso onde Cristo não fosse o centro e a prioridade.

É muito fácil perder a Cristo na igreja de Cristo. Assim como os pais de Jesus perderam a Jesus no templo, e a Palavra de Deus também se perdeu no templo.

Este último episódio aconteceu nos dias de Josias e Ezequias, dois reis piedosos de Judá, quando foi ordenado que se promovesse uma restauração física no templo, encontraram o Livro da Lei,  que estava perdido por aproximadamente cinquenta anos. A Bíblia estava ‘perdida’ dentro do templo (2 Rs 22.1-13). 

E tão alarmante quanto sua perda na casa de Deus é o tempo em que o livro estava perdido: cinquenta anos! Infelizmente a Bíblia há muito tem se perdido em nossas igrejas. Ela tem sido substituída por palestras motivacionais, sem que haja uma mensagem que transforme a vida do pecador e o leve a enxergar seu pecado, direcionando suas vidas a Deus. A Bíblia tem sido substituída por programas de entretenimentos. O culto, tem sido substituído por um show, ou pelo carisma do pregador. Não vemos mais a exposição fiel da Palavra do Senhor e a pregação de forma piedosa, zelosa e reverente.

A Palavra é descoberta quando sua mensagem é cristocêntrica, dirigida apenas para a pessoa do Senhor Jesus.
Sétimo, uma igreja relevante cuida fielmente das coisas de Deus.

“Assim, pois, importa que os homens nos considerem como ministros de Cristo e despenseiros dos mistérios de Deus. Ora, além disso, o que se requer destes despenseiros é que cada um deles seja encontrado fiel” (1 Co 4.1,2).

A palavra “despenseiro” significa literalmente, “aquele que cuida da despensa”, ou numa linguagem mais moderna, “do almoxarifado”. Os reis antigos nomeavam mordomos para cuidar das despesas do palácio, do sustento da corte, e precisavam de homens que não desviassem os recursos, mas fossem fieis na distribuição justa para cada um dos trabalhadores.

Ele cuidava, portanto, das reservas de alimento e dos estoques da comida. Na época das guerras, quando a ração era controlada e a alimentação regrada, era fundamental ter homens de confiança para que não houvesse desvio do alimento.

Paulo usa exatamente esta ideia para falar do povo de Deus.
Ele afirma que Deus nos estabeleceu como “despenseiros dos mistérios de Deus”. Ele está falando do evangelho. Deus colocou sua igreja para poder distribuir estes mistérios às pessoas que precisam ouvir falar da graça de Deus em Cristo Jesus.

O mordomo não é dono. Sua função é administrar o que lhe foi dado.

Em 2 Co 3,5,6 Paulo diz que Deus nos habilitou para sermos “ministros da nova aliança”. Ele nos deu os mistérios de Cristo para que compartilhemos estes mistérios com aqueles que ainda não conhecem a verdade transformadora do evangelho. O que Deus espera de nós? Que sejamos fieis.

Isto tem pelo menos três implicações:
A.    Nós recebemos a chave desta despensa. Temos o “estoque” em nossas mãos. Não podemos reter o mistério dos que dele precisa.

B.    Temos responsabilidade com a mensagem. Cuidar da despensa pode ser questão de vida ou morte. Se retivermos o estoque, podemos deixar as pessoas morrerem de inanição.

C.   Temos responsabilidade com os dons que Deus nos deu. Os talentos e dons recebidos de Deus nos foram dados para serem compartilhados. Deus quer usar o currículo que ele lhe deu.

D.    Temos responsabilidade com os recursos financeiros que Deus nos deu. Tudo o que recebemos de Deus é para servirmos. O depósito não nos pertence. Ele é do rei. Os recursos não são nossos, mas de Deus. Ele nos deu esta responsabilidade de sermos despenseiros.

Conclusão:

Para concluir: Precisamos de igrejas relevantes no meio desta geração confusa e desorientada. Deus colocou a sua igreja inserida na sociedade, na história e na cultura para exercer esta tarefa.

Igrejas relevantes numa cultura desorientada, colocam a cruz no centro de sua mensagem. A mensagem da cruz é central em igrejas relevantes. Nada é tão urgente nesta geração de tantas oportunidades e “achismos”, que a centralidade da cruz.

Uma igreja relevante é madura na sua espiritualidade. Ela supera as intrigas próprias de gente imatura e infantil. As brigas e invejas comuns a crianças.

Uma igreja relevante sabe exercer seus dons sem competitividade e disputa. Quando a igreja se torna mundana, cargos e posições se tornam idolátricos. Para quem quer servir, os dons se tornam uma forma de glorificar a Deus, e não para auto promoção e disputa.

Uma igreja relevante, não remove o fundamento: Cristo. Ela não retira Jesus do centro da mensagem. Não há outro fundamento. Jesus é o fundamento, irremovível, inarredável, insubstituível.

Uma igreja relevante cuida com fidelidade das coisas de Deus. Ela não é dona, mas mordomo. Não tem a propriedade mas guarda e distribui com fidelidade os mistérios de Deus presentes em Cristo Jesus.




















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