Introdução:
No sermão anterior demonstramos
como é desafiador construir uma igreja numa cidade tão cosmopolita,
multicultural, miscigenada como era Corinto. Cidade portuária, recebia todo
tipo de influência cultural de um mundo impregnado de mundanismo e secularismo.
Além do aspecto externo que
pressionava a igreja, a comunidade cristã em Corinto tinha grandes desafios: a
igreja estava dividida entre grupos; sofria graves distorções da teologia –
Paulo trabalha pelo menos cinco destas áreas – tinha problemas morais que
desafiavam qualquer disciplina eclesiástica, e ainda era crítica do seu pastor,
ora afirmando que seu sermão era fraco e desprezível (2 Co 10.10); ou que ele
era um homem de mundano proceder (2 Co 10.2). Alguns acusaram Paulo de não ser
um homem espiritual .
Como ser igreja relevante tendo
problemas éticos e filosóficos graves na sociedade que a cercava, e tendo
tantos desafios internos e viscerais?
Paulo faz três observações
iniciais que consideramos no estudo passado:
Primeiro, uma
igreja relevante nesta geração confusa precisa encontrar uma unidade na sua
missão, valor, propósito e visão. Ela precisa buscar unidade (1 Co 1.10).
Segundo, uma
igreja relevante no meio de uma geração desorientada, precisa ser criteriosa
naquilo que diz. Precisa se proteger, cuidar da língua (1 Co 1.11).
Terceiro, igrejas
relevantes numa cultura desorientada, precisam colocar a cruz no centro de sua
mensagem (1 Co 2.1-2).
As observações de Paulo se
aplicam ainda hoje a todas as igrejas de Cristo. Ainda falta relevância nos
ministérios pastorais e nas igrejas que conhecemos. Hoje analisaremos mais
alguns aspectos de uma igreja relevante numa sociedade, e tais aspectos se
aplicam diretamente a nós.
Quarto, uma igreja relevante é madura na sua espiritualidade
A Igreja de Corinto estava
despreparada para impactar a sociedade, porque era uma igreja imatura demais
nas suas atitudes.
Quais são os sinais da
imaturidade?
Paulo fala de dois aspectos:
infantilidade e carnalidade.
“Irmãos, não lhes pude falar como a
espirituais, mas como a carnais, como a crianças em Cristo. Dei-lhes leite, e não
alimento sólido, pois vocês não estavam em condições de recebê-lo. De fato,
vocês ainda não estão em condições, porque
ainda são carnais. Porque, visto que há inveja e divisão entre vocês, não estão
sendo carnais e agindo como mundanos?”
(1 Co 3.1-3).
Igrejas infantis e
carnais encontram dificuldade em serem relevantes. Elas pouco atraem e impactam a vida das pessoas, lares, igreja e sociedade. Elas pouco deixam de legado aos filhos e
netos.
Duas
características são comuns nas atitudes carnais:
A. Sacralizar o
secular – São pessoas capazes de dar um ar sagrado a
palavras que na verdade são pecaminosas. Suas mentiras parecem muito
espirituais. Não é muito difícil arrumar desculpas para se justificar, e
eventualmente afirmar que Deus fez alguma coisa, quando na verdade o objetivo é manipular pessoas e estruturas para sacralizar atos mundanos.
Trata-se de carnalidade
revestida de espiritualidade.
B.
Dessacralizar o Sagrado – Este é outro
perigo. Nos acostumamos com as coisas de Deus e por isto não valorizamos com
temor e reverência aquilo que de fato é sagrado. Nossas orações podem se perder
na rotina, nossa espiritualidade perde o impacto em nosso coração. Lemos a
Bíblia apenas para preparar sermões; oramos apenas para nos justificar;
perdemos o fogo no coração mas continuamos ainda repetindo as formulas e
rituais do nosso “evangeliquês”. A Bíblia torna-se objeto de estudo, e não
Palavra de Deus, transformadora e poderosa para nossas vidas.
A estas duas atitudes mundanas,
podemos dizer:
i.
Deus continua o mesmo. “De
Deus não se zomba, aquilo que o homem semear, isto também ceifará”.
ii.
A Bíblia continua a mesma. Ela não mudou seus parâmetros. Os valores
e princípios do NT continuam sendo aplicáveis a qualquer cultura.
iii.
A consistência de Deus. “Sede
santos porque eu sou santo” (Mt 5.48).
Quinto, uma igreja relevante exerce seus dons sem
competitividade e disputa.
“Porque, visto que há inveja e divisão
entre vocês, não estão sendo carnais e agindo como mundanos? Pois quando alguém diz: "Eu sou de Paulo", e
outro: "Eu sou de Apolo", não estão sendo mundanos?” (1 Co 3.3,4).
Quando a igreja se torna mundana, cargos
e posições se tornam idolátricos. Muitas igrejas sofrem por causa disto. São
presbíteros que se julgam donos da igreja, diáconos que acreditam serem donos
da junta diaconal. Nossa igreja local possui um programa de liderança chamado “sabático”, para
todos os oficiais. Eles precisam ficar um ano de descanso, depois do seu
mandato vencido. Não podem se candidatar imediatamente. Esta atitude é fantástica, porque demonstra que ninguém é
insubstituível, e que o reino é de Cristo. Não existe reserva de domínio e
ninguém tem posse de um ministério.
Para quem quer servir, os dons se tornam
uma forma de glorificar a Deus, e não para auto promoção e disputa.
Quando João Batista estava no auge do seu
ministério, Jesus veio para se batizar com ele. Todos tinham Batista como
alguém muito especial. As autoridades o respeitavam, as multidões se
aproximavam dele no Rio Jordão para serem batizados, e ele estava tendo muito "sucesso". Com o aparecimento de
Jesus, porém, vários discípulos começaram a seguir a Jesus, depois do
testemunho que ouviram do próprio Batista. Alguns discípulos ficaram
preocupados porque seu prestígio estava em queda, mas ele dá aos seus discípulos uma resposta surpreendente: ”Quem tem a noiva é o noivo. O amigo do noivo que está presente e o
ouve, muito se regozija por causa da voz do noivo. Pois esta alegria já se
cumpriu em mim” (Jo 3.29).
Minha alegria, diz João, é ver o
ministério avançado, o nome de Cristo sendo proclamado. Eu não vim para ter
primazia, mas vim para servir, a glória é de Cristo, o dono da igreja é Jesus.
“Afinal de contas, quem é Apolo? Quem é Paulo? Apenas servos
por meio dos quais vocês vieram a crer, conforme o ministério que o Senhor
atribuiu a cada um. Eu plantei, Apolo regou,
mas Deus é quem fazia crescer; de modo
que nem o que planta nem o que rega são alguma coisa, mas unicamente Deus, que
efetua o crescimento. O que planta e o
que rega têm um só propósito, e cada um será recompensado de acordo com o seu
próprio trabalho. Pois nós somos
cooperadores de Deus; vocês são lavoura de Deus e edifício de Deus”. (1 Co 3.5-9).
Sabe qual é a nossa função?
Cooperadores. Nós co-operamos com Cristo.
Não dá para fazer nada sem ele. Nós semeamos, outro rega, mas o crescimento vem de Deus.
Cooperadores. Nós co-operamos com Cristo.
Não dá para fazer nada sem ele. Nós semeamos, outro rega, mas o crescimento vem de Deus.
Quando uma igreja possui mais pastores,
quase sempre corre o risco de supervalorizar um de seus membros em
detrimento do outro. Quando fazemos isto, perdemos de vista a obra em si. Quem
é mais importante?
Nós apenas cooperamos. A obra é de
Cristo.
É Deus quem efetua o crescimento. A
glória é dele.
Sexto, uma igreja relevante, não remove o fundamento: Cristo.
“Conforme a graça de Deus que me foi
concedida, eu, como sábio construtor, lancei o alicerce, e outro está
construindo sobre ele. Contudo, veja cada um como constrói.
Porque ninguém pode colocar outro alicerce além do que já está posto, que é Jesus Cristo.” (1 Co 3.10,11).
Porque ninguém pode colocar outro alicerce além do que já está posto, que é Jesus Cristo.” (1 Co 3.10,11).
Curiosamente é fácil perder o centro da
mensagem.
A carta de Paulo aos Gálatas foi escrita
em torno dos anos 60, portanto, 30 anos depois da morte de Cristo. Entretanto, quando a lemos vemos Paulo afirmando. “Admiro-me de que
vocês estejam abandonando tão rapidamente aquele que os chamou pela graça de
Cristo, para seguirem outro evangelho que, na realidade, não é o evangelho. O que
ocorre é que algumas pessoas os estão perturbando, querendo perverter o
evangelho de Cristo.” (Gl 1.6,7).
Paulo afirma que a igreja da Galácia estava perdendo o evangelho, indo em direção a outro evangelho. Colocando outra mensagem no lugar do evangelho. Substituindo o evangelho de Cristo.
É
fácil tirar a mensagem de Cristo e substitui-la por outra mensagem. Paulo
afirma em 1 Co 2.2: “Nada decidi saber
entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado”. Nada, senão Jesus. Os
pregadores atuais estão colocando tudo na sua mensagem, tudo, exceto Cristo.
Numa
das cartas que Jesus envia às igrejas do Apocalipse que ficavam na Ásia Menor,
atualmente a Turquia, Jesus diz: “Eis que
estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei,
cearei com ele e ele comigo” (Ap 3.20). Esta igreja era de Jesus, não era?
Mas onde estava Jesus? Ele estava do lado de fora, pois afirma que estava querendo entrar e que sua igreja
precisava abrir as portas para ele.
Em junho de 1910, aconteceu a Conferência
Missionária Mundial de Edimburgo em 1910, que se tornou conhecido como o congresso missionário mais famoso da história, liderado por John
Mott,
reunindo missionários, agências e
outros obreiros cristãos de países da Europa e da América do Norte. Quase todos
eram homens brancos, a representação da Ásia e da África era mínima e não havia
nenhum latino-americano.
Entre os dias 2 e 6 de junho de 2010, cem anos depois, na mesma cidade de Edimburgo (Escócia), aconteceu um congresso menor - em parte porque vários outros congressos missionários significativos acontecem em vários continentes, com trezentos delegados e mais de cem participantes, na Universidade de Edimburgo. Desta vez houve uma maior participação de outros continentes, incluindo a América Latina.
Entre os dias 2 e 6 de junho de 2010, cem anos depois, na mesma cidade de Edimburgo (Escócia), aconteceu um congresso menor - em parte porque vários outros congressos missionários significativos acontecem em vários continentes, com trezentos delegados e mais de cem participantes, na Universidade de Edimburgo. Desta vez houve uma maior participação de outros continentes, incluindo a América Latina.
O tema geral
escolhido para esta nova conferência foi: “Dar testemunho do Cristo,
hoje”. Ricardo Barbosa, um dos
participantes representando o Brasil, relata que houve grande debate sobre este
tema, pois os pastores liberais não queriam que o nome de Cristo aparecesse no
tema, pois afirmavam que ele poderia afastar as outras religiões, até que a ala mais
conservadora conseguiu convencer que não dava para fazer um congresso onde
Cristo não fosse o centro e a prioridade.
É
muito fácil perder a Cristo na igreja de Cristo. Assim como os pais de Jesus perderam a Jesus no templo, e a Palavra de Deus também se perdeu no templo.
Este último episódio aconteceu nos dias de Josias e Ezequias, dois reis piedosos de Judá,
quando foi ordenado que se promovesse uma restauração física no templo,
encontraram o Livro da Lei, que estava perdido por aproximadamente cinquenta
anos. A Bíblia estava ‘perdida’ dentro do templo (2 Rs 22.1-13).
E tão alarmante quanto sua perda na casa de Deus é o tempo em que o livro estava perdido: cinquenta anos! Infelizmente a Bíblia há muito tem se perdido em nossas igrejas. Ela tem sido substituída por palestras motivacionais, sem que haja uma mensagem que transforme a vida do pecador e o leve a enxergar seu pecado, direcionando suas vidas a Deus. A Bíblia tem sido substituída por programas de entretenimentos. O culto, tem sido substituído por um show, ou pelo carisma do pregador. Não vemos mais a exposição fiel da Palavra do Senhor e a pregação de forma piedosa, zelosa e reverente.
E tão alarmante quanto sua perda na casa de Deus é o tempo em que o livro estava perdido: cinquenta anos! Infelizmente a Bíblia há muito tem se perdido em nossas igrejas. Ela tem sido substituída por palestras motivacionais, sem que haja uma mensagem que transforme a vida do pecador e o leve a enxergar seu pecado, direcionando suas vidas a Deus. A Bíblia tem sido substituída por programas de entretenimentos. O culto, tem sido substituído por um show, ou pelo carisma do pregador. Não vemos mais a exposição fiel da Palavra do Senhor e a pregação de forma piedosa, zelosa e reverente.
A Palavra é descoberta quando sua mensagem é cristocêntrica,
dirigida apenas para a pessoa do Senhor Jesus.
Sétimo, uma igreja relevante cuida fielmente das coisas de
Deus.
“Assim, pois, importa que os homens nos considerem como
ministros de Cristo e despenseiros dos mistérios de Deus. Ora, além disso, o
que se requer destes despenseiros é que cada um deles seja encontrado fiel” (1 Co 4.1,2).
A palavra “despenseiro” significa
literalmente, “aquele que cuida da despensa”, ou numa linguagem mais moderna,
“do almoxarifado”. Os reis antigos nomeavam mordomos para cuidar das
despesas do palácio, do sustento da corte, e precisavam de homens que não
desviassem os recursos, mas fossem fieis na distribuição justa para cada um dos
trabalhadores.
Ele cuidava, portanto, das reservas de
alimento e dos estoques da comida. Na época das guerras, quando a ração era controlada e a alimentação regrada, era fundamental ter homens de confiança
para que não houvesse desvio do alimento.
Paulo usa exatamente esta ideia para
falar do povo de Deus.
Ele afirma que Deus nos estabeleceu como
“despenseiros dos mistérios de Deus”. Ele está falando do evangelho. Deus
colocou sua igreja para poder distribuir estes mistérios às pessoas que
precisam ouvir falar da graça de Deus em Cristo Jesus.
O mordomo não é dono. Sua função é
administrar o que lhe foi dado.
Em 2 Co 3,5,6 Paulo diz que Deus nos
habilitou para sermos “ministros da nova aliança”. Ele nos deu os mistérios de
Cristo para que compartilhemos estes mistérios com aqueles que ainda não
conhecem a verdade transformadora do evangelho. O que Deus espera de nós? Que
sejamos fieis.
Isto tem pelo menos três implicações:
A. Nós recebemos a chave desta despensa.
Temos o “estoque” em nossas mãos. Não podemos reter o mistério dos que dele precisa.
B. Temos responsabilidade com a mensagem.
Cuidar da despensa pode ser questão de vida ou morte. Se retivermos o estoque,
podemos deixar as pessoas morrerem de inanição.
C. Temos responsabilidade com os dons que
Deus nos deu. Os talentos e dons recebidos de Deus nos foram dados para serem
compartilhados. Deus quer usar o currículo que ele lhe deu.
D. Temos responsabilidade com os recursos
financeiros que Deus nos deu. Tudo o que recebemos de Deus é para servirmos. O
depósito não nos pertence. Ele é do rei. Os recursos não são nossos, mas de
Deus. Ele nos deu esta responsabilidade de sermos despenseiros.
Conclusão:
Para concluir: Precisamos de igrejas relevantes no meio desta geração confusa e desorientada. Deus colocou a sua
igreja inserida na sociedade, na história e na cultura para exercer esta tarefa.
Igrejas relevantes numa cultura
desorientada, colocam a cruz no centro de sua mensagem. A mensagem da cruz é
central em igrejas relevantes. Nada é tão urgente nesta geração de tantas
oportunidades e “achismos”, que a centralidade da cruz.
Uma igreja relevante é madura na
sua espiritualidade. Ela supera as intrigas próprias de gente imatura e
infantil. As brigas e invejas comuns a crianças.
Uma igreja relevante sabe
exercer seus dons sem competitividade e disputa. Quando a igreja se torna mundana, cargos
e posições se tornam idolátricos. Para quem quer servir, os dons se tornam uma
forma de glorificar a Deus, e não para auto promoção e disputa.
Uma igreja relevante, não remove o fundamento: Cristo. Ela
não retira Jesus do centro
da mensagem. Não há outro fundamento. Jesus é o fundamento, irremovível,
inarredável, insubstituível.
Uma igreja relevante cuida com
fidelidade das coisas de Deus. Ela não é dona, mas mordomo. Não tem a
propriedade mas guarda e distribui com fidelidade os mistérios de Deus
presentes em Cristo Jesus.
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