quinta-feira, 26 de setembro de 2019

1 Co 5.1 Igrejas relevantes no meio de uma geração confusa III




Introdução

Esta já a terceira mensagem que pregamos sobre este tema a partir da 1 Carta de Paulo aos Coríntios. Como falamos, Corinto era uma cidade cheia de ídolos e com uma religiosidade distorcida, tinha muita influência do paganismo que influenciava a cosmopolita e portuária cidade. Esta cidade tem todas características da sociedade atual com sua moral relativa, religiosidade mística, e ética muito baixa. Agora que a igreja de Cristo estava sendo estabelecida naquela cidade, era fundamental que ela firmasse seus valores e princípios.

Até aqui trabalhamos as seguintes marcas de uma igreja relevante:
Primeiro, uma igreja relevante precisa encontrar unidade na sua missão, valor, propósito e visão. Todos precisam colocar força na mesma direção.
Segundo, precisa ser criteriosa naquilo que diz. Precisa cuidar da língua, falar bem de si mesma.
Terceiro, deve colocar a cruz no centro de sua mensagem. Qualquer outra mensagem, seja ela de auto ajuda, palestra motivacional, comportamental ou teologia da prosperidade vai ofuscar o impacto da obra de Cristo.
Quarto, deixa a infantilidade e a carnalidade. Uma igreja que amadurece em seus relacionamentos e nas suas atitudes.
Quinto, exerce seus dons sem competitividade e disputa. Dons não são vistos como promoção, mas como serviço. Não são para dar status, mas para glorificar a Cristo e edificar a sua igreja.
Sexto, não remove seu fundamento: Cristo. É fácil construir fundamentos psicológicos, humanistas e antropológicos.
Sétimo, cuida fielmente das coisas de Deus. Administra seus recursos para glória de Cristo e, de forma direta, sabe que os mistérios de Cristo precisam ser compartilhados.

Agora entramos em outras marcas que na visão bíblica, determinam a relevância de uma igreja em sua cultura:

Oitavo, uma igreja relevante se preocupa com santidade – Vocês foram comprados por alto preço. Portanto, glorifiquem a Deus com o corpo de vocês.”(1 Co 6.20).

O capitulo 5 e 6 desta carta é destinado à santidade do corpo.
A sociedade corintiana tinha valores morais muito baixos quanto à sensualidade. Isto tinha até mesmo um componente espiritual, já que Afrodite, a deusa grega da sensualidade, tinha um grande templo naquela cidade.

Quando a igreja de Cristo estava sendo estabelecida, os novos convertidos tiveram algumas dificuldades em entender o alto padrão de moral para suas vidas. Alguns tinham vivido num estilo de vida marcado pela impureza (1 Co 6.9-10), e precisavam entender que se quisessem viver a vida cristã, precisavam ter novas atitudes e uma ética de acordo com o plano de Deus  (1 Co 6.11,20).

Um caso específico é registrado no capitulo 5. Um dos irmãos, talvez líder influente na igreja, tinha um caso com sua madrasta. Isto já seria em si, um desastre, mas ainda mais assustador que o escandaloso envolvimento dele com a mulher de seu pai, foi a reação “liberal” da igreja. Por toda parte se ouve que há imoralidade entre vocês, imoralidade que não ocorre nem entre os pagãos, a ponto de alguém de vocês possuir a mulher de seu pai. E vocês estão orgulhosos! Não deviam, porém, estar cheios de tristeza e expulsar da comunhão aquele que fez isso?” (1 Co 5.1,2).

A igreja estava achando aquilo normal e até mesmo se ensoberbecia disto. Como assim? Algo que até mesmo a sociedade pagã rejeitava estava sendo aceito dentro da igreja? E a igreja ainda estava orgulhosa de sua decadência moral? Só existe uma explicação para isto: a igreja não tinha referências éticas.

Isto é extremamente atual.
Diariamente somos bombardeados pela mídia em relação a valores morais. A mídia nos faz pensar que divórcio é algo normal (perdemos a dimensão da santidade do casamento); que sexo antes do casamento é normal (perdemos a santidade do sexo); que homossexualismo é normal (perdemos a santidade do corpo); que dar propina é normal (perdemos a santidade em relação à integridade e a forma como se ganha dinheiro), que aborto é normal (perdemos a santidade da vida).

Satanás quer nos fazer achar normal aquilo que Deus considera pecado. Uma mentira dita várias vezes como verdade, tende a nos fazer acreditar que é verdadeira.

A igreja de Corinto não estava entendendo sua referência em relação às coisas santas. E acreditava até mesmo que agindo assim, estavam se tornando vanguarda no pensamento social. Algo estranho aconteceu: Eles se tornaram vaidosos do seu pecado, se auto denominavam inclusivistas, e criam que aceitar coisas tão “modernas” era sinal de uma igreja contemporânea.

Ao lado da Biblioteca de Boston, em frente à Trinity Church, a belíssima catedral episcopal, há uma igreja congregacional liberal quanto à ética. Ela também possui uma belíssima arquitetura gótica, e logo na entrada você verá uma mensagem bem visível: “Orgulhosamente comunicamos que somos a 34a a igreja dos Estados Unidos que aceita homossexuais como membros de sua comunidade”. Certamente este caso exemplifica bem o que estamos falando. Uma igreja que se sente orgulhosa em ratificar uma atitude condenada nas Escrituras Sagradas. Muitas vezes a igreja se orgulha por aquilo que deveria chorar. Faz propaganda daquilo que deveria gerar quebrantamento.

Precisamos sempre nos lembrar da severa afirmação de Francis Schaeffer: “A Nova Moralidade nada mais é que a antiga imoralidade”.

Paulo fala aqui da santidade do casamento e do sexo, e trata com firmeza aquele irmão liberal da comunidade. A linguagem é dura, como deve ser duro o tratamento que deve ser dado ao pecado (1 Co 5.3-7). Paulo ensina àquela igreja que somos o templo do Espírito Santo, lugar de morada de Deus, e que fomos comprados com preço, e por isto precisamos glorificar a Deus no nosso corpo.

Nono, igreja relevante administra bem seus conflitos. “Se algum de vocês tem queixa contra outro irmão, como ousa apresentar a causa para ser julgada pelos ímpios, em vez de levá-la aos santos? (1 Co 6.1).

A Igreja de Corinto tinha problemas internos, mas qual igreja não enfrenta conflitos? A igreja de Jerusalém teve disputas pois um grupo achava que um determinado grupo étnico estava sendo tratado de forma preferencial em relação a outro (At 6); A igreja de Filipos teve problemas na disputa pelo poder entre membros de sua comunidade. Paulo pede a Evódia e Síntique, duas mulheres ligadas ao ministério feminino para “Aprenderem a pensar concordemente no Senhor” (Fp 4.2), porque de vez em quando, suas opiniões se chocavam e elas entravam em disputas ministeriais, refletindo suas disputas pessoais na comunidade.

A igreja de Corinto teve conflita entre irmãos, provavelmente relacionado a negócios e discordâncias sobre este assunto. Pessoalmente já tive que mediar conflitos entre membros da igreja que se desentenderam em relação a um determinado valor, ou a algo que foi verbalizado, e que o outro não entendeu bem ou quis se fazer de desentendido. Era uma situação complicada, não havia um contrato, apenas um "acordo de cavalheiros", mas agora que o negócio havia sido consumado, eles não conseguiam concordar. Com queixas de ambos os lados conseguimos encontrar um termo de ajuste e as coisas se resolveram.

Na Igreja de Corinto, os irmãos se desentenderam a tal ponto que não conseguiram resolver o problema. O assunto foi levado para um tribunal secular, e Paulo ficou muito triste com a atitude, afinal, numa cultura tão pagã quanto a de Corinto, e a igreja sendo implantada, isto poderia ser um péssimo testemunho. Paulo disse: "vocês foram chamados por Deus para julgar o mundo, entretanto, não sabem julgar uma causa humana". Não pareceria isto um contrassenso?

Uma igreja relevante precisa aprender a lidar positivamente com suas diferenças, para ter energia e avançar em direção a melhores propósitos. Conflitos mal resolvidos se transformam em novelas intermináveis que impedem a maturidade e estes conflitos se arrastam por anos na vida da igreja, sem serem resolvidos ou tratados.

Décimo, igrejas relevantes possuem sensibilidade cultural. “Porque, embora seja livre de todos, fiz-me escravo de todos, para ganhar o maior número possível de pessoas. Tornei-me judeu para os judeus, a fim de ganhar os judeus. Para os que estão debaixo da lei, tornei-me como se estivesse sujeito à lei, ( embora eu mesmo não esteja debaixo da lei ), a fim de ganhar os que estão debaixo da lei. Para os que estão sem lei, tornei-me como sem lei ( embora não esteja livre da lei de Deus, mas sim sob a lei de Cristo ), a fim de ganhar os que não têm a lei. Para com os fracos tornei-me fraco, para ganhar os fracos. Tornei-me tudo para com todos, para de alguma forma salvar alguns.” (1 Co 9.19-22).

Igrejas relevantes se tornam identificadas com sua cultura. Isto exige contextualização e adaptabilidade.

Três situações em Corinto nos mostram como não é fácil lidar com problemas culturais, nem sempre a teologia se dá bem com a antropologia, e como precisamos ser sábios em relação a tais situações:

A.   Um cristão pode comer carne sacrificada a ídolos? A cidade de Corinto recebia influência de muitas religiões animistas e pagãs, e um dos problemas que os irmãos tiveram que lidar foi com a forma de tratar o problema relacionado a carnes sacrificadas a ídolos (1 Co 8.1-13).

Os cristãos poderiam comer alguma carne que tinha sido sacrificada a alguma entidade? Já vi muitos irmãos no Brasil tendo problemas em comer acarajé, depois que descobriram que algumas baianas consagram o primeiro acarajé a uma entidade do candomblé. Podemos ou não comer? Alguns anos atrás, na verdade, encontrei uma mulher que usava aquelas roupas típicas da Bahia, vendendo acarajé, mas era uma irmã fervorosa da Assembleia de Deus em Salvador. Paulo ensina que o problema não estava na carne em si (1 Co  8.4-6,8), mas sim no testemunho, no que aconteceria a uma pessoa que tivesse consciência fraca ou fosse nova na fé (1 Co 8.7-13). A situação exigia da igreja sensibilidade para com aquela cultura. O ídolo, diz Paulo, de si mesmo nada é, mas o amor cristão, sim.

B.    A questão do véu – 1 Co 11.2-16. Este texto é ainda hoje mal interpretado por alguns segmentos cristãos que acreditam que a recomendação de usar o véu é ainda obrigatória em nossos dias.

Se formos bem literalistas quanto a isto, eles estão certos. “Portanto, deve a mulher, por causa dos anjos, trazer véu na cabeça, como sinal de autoridade” (1 Co 11,10). Mas a pergunta que fica é: como este texto se aplica a nós, nos dias de hoje? Que princípios podemos encontrar aqui? Paulo recomenda também que os homens se cumprimentem beijando. Isto se aplica aos nossos dias? Não! A ideia é que, naquela cultura, o beijo era uma forma de cumprimento, mas o princípio estava claro: “Não podemos ignorar nosso irmão. É proibido ser frio!”.

E quanto aos véus?
Na cultura de Corinto, o véu era sinal de respeito e de sensatez. Uma mulher que não usasse véu seria considerada uma mulher sem valor. Não apenas uma “perua”, mas uma mulher de vida fácil. Portanto, fazia parte da cultura que as mulheres usassem o véu. Isto tem a ver com a cultura, e não com a espiritualidade em si. Não usá-lo, seria uma afronta. Por isto Paulo deixa claro isto fazia parte das “tradições locais” (1 Co 11.3), e dos “costumes” (1 Co 11.16). O uso do véu não pode ser normativo para todas igrejas em todas as culturas, mas sua recomendação era uma forma de demonstrar sensibilidade à cultura local.

Uma missionária brasileira hoje que exercer seu ministério entre culturas islâmicas, precisa usar véu, caso contrário, ela afrontará a cultura e não será ouvida.

C.    A sensibilidade cultural - Paulo afirma que se esmerava ao máximo, para não permitir que a cultura se tornasse um problema na comunicação do evangelho. “Fiz-me fraco pra com os fracos, com o fim de ganhar os fracos. Fiz-me de tudo para como todos, com o fim de, por todos os modos, salvar alguns” (1 Co 9.22).

Muitas vezes o evangelho não é aceito por causa da roupagem que possui. Em muitos lugares o evangelho parece ser uma subcultura no estilo de se vestir e se comportar, em coisas que não são, certas ou erradas, mas apenas cultural.

A identificação com a cultura sempre traz dois perigos:
1.     Assimilação excessiva – Muitas pessoas acabam incorporando elementos de uma cultura que são contrárias às verdades de Deus, em nome de uma identificação com o pecador. É bom lembrar que todas as culturas são pecaminosas. Eventualmente temos a tendência de supervalorizar uma cultura e quase divinizá-la, quando na verdade, toda cultura precisa ser alcançada e redimida em Jesus. O excesso de assimilação traz mundanismo e sincretismo. Assimilação pode significar adaptação ao pecado e ao mundo, e isto é uma má ideia. Muitas vezes o evangelho é ofensivo ao pecado e à cosmovisão de um povo.

2.     Isolamento cultural – Quando decidimos manter as roupagens culturais que temos, perdemos a capacidade de sermos empáticos com as pessoas fora da igreja, ou que possuem uma diferente cultura. Damos tanto valor às formas, que nos esquecemos do conteúdo. Confundimos essência com acidente, temporal com o eterno e histórico com revelado.

Muitas vezes o evangelho não penetra numa cultura, porque a igreja não consegue se aproximar da sociedade, ser amigo de pecadores e publicanos, como foi Jesus (Mt 11.19).

Conclusão
Precisamos nos tornar relevantes na sociedade onde estamos inseridos. Não para nossa vaidade e glória pessoal, mas para que o nome de Cristo seja conhecido e adorado entre as pessoas.

Igrejas podem facilmente se tornarem apêndices em uma cultura. Sem poder de impacto, sem testemunhar efetivamente a Cristo, sem servir de farol e parâmetro numa determinada sociedade.

Por quase quatrocentos anos, a igreja na era da patrística, impactou literalmente metade do mundo conhecido. Os cristãos saíram de um grupo amedrontado de 12 pessoas para assumir lugar de liderança no mais poderoso império da época. O poder do testemunho, do amor, era visível nesta comunidade, que com santidade foi mexendo com os padrões morais de um império moralmente arrasado. A igreja influenciou o paganismo, levando a mensagem de Cristo; incomodou o sistema escravagista, tratando a todos como irmãos; trouxe o olhar dos intelectuais e da filosofia ao tratar pessoas rejeitadas socialmente com amor.

Quando falamos de igreja relevante, é disto que estamos nos referindo.
Como a sociedade moderna nos percebe?
Que impacto a igreja de Cristo produz na sociedade?
Ficamos às vezes olhando a decadência moral e lamentando como a sociedade está tão podre hoje em dia. Não deveríamos olhar desta forma! A sociedade sem Jesus sempre foi corrompida moralmente, em todas as épocas da história. Mas quando a igreja percebe o poder da cruz, o impacto que o evangelho pode gerar na sua vida pessoal e na vida de tantas outras pessoas, a igreja se torna ousada e sua relevância se torna conhecida.

Que Deus nos torne ousados... e relevantes...
No meio desta geração desorientada e confusa...

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