Introdução
Esta já a terceira mensagem que
pregamos sobre este tema a partir da 1 Carta de Paulo aos Coríntios. Como falamos,
Corinto era uma cidade cheia de ídolos e com uma religiosidade distorcida,
tinha muita influência do paganismo que influenciava a cosmopolita e portuária
cidade. Esta cidade tem todas características da sociedade atual com sua moral
relativa, religiosidade mística, e ética muito baixa. Agora que a igreja de
Cristo estava sendo estabelecida naquela cidade, era fundamental que ela
firmasse seus valores e princípios.
Até aqui trabalhamos as seguintes marcas de uma igreja
relevante:
Primeiro, uma igreja relevante precisa encontrar
unidade na sua missão, valor, propósito e visão. Todos precisam colocar força
na mesma direção.
Segundo, precisa ser criteriosa naquilo que diz.
Precisa cuidar da língua, falar bem de si mesma.
Terceiro, deve colocar a cruz no centro de sua
mensagem. Qualquer outra mensagem, seja ela de auto ajuda, palestra
motivacional, comportamental ou teologia da prosperidade vai ofuscar o impacto
da obra de Cristo.
Quarto, deixa a infantilidade e a carnalidade. Uma
igreja que amadurece em seus relacionamentos e nas suas atitudes.
Quinto, exerce seus dons sem competitividade e
disputa. Dons não são vistos como promoção, mas como serviço. Não são para dar
status, mas para glorificar a Cristo e edificar a sua igreja.
Sexto, não remove seu fundamento: Cristo. É fácil
construir fundamentos psicológicos, humanistas e antropológicos.
Sétimo, cuida fielmente das coisas de Deus. Administra
seus recursos para glória de Cristo e, de forma direta, sabe que os mistérios
de Cristo precisam ser compartilhados.
Agora entramos em outras marcas que na
visão bíblica, determinam a relevância de uma igreja em sua cultura:
Oitavo, uma igreja relevante se preocupa com santidade – “Vocês foram comprados por alto preço. Portanto, glorifiquem a
Deus com o corpo de vocês.”(1 Co 6.20).
O capitulo 5 e 6 desta carta é
destinado à santidade do corpo.
A sociedade corintiana tinha
valores morais muito baixos quanto à sensualidade. Isto tinha até mesmo um
componente espiritual, já que Afrodite, a deusa grega da sensualidade, tinha um
grande templo naquela cidade.
Quando a igreja de Cristo estava
sendo estabelecida, os novos convertidos tiveram algumas dificuldades em entender
o alto padrão de moral para suas vidas. Alguns tinham vivido num estilo de vida
marcado pela impureza (1 Co 6.9-10), e precisavam entender que se quisessem
viver a vida cristã, precisavam ter novas atitudes e uma ética de acordo com o
plano de Deus (1 Co 6.11,20).
Um caso específico é registrado
no capitulo 5. Um dos irmãos, talvez líder influente na igreja, tinha um caso
com sua madrasta. Isto já seria em si, um desastre, mas ainda mais assustador
que o escandaloso envolvimento dele com a mulher de seu pai, foi a reação
“liberal” da igreja. “Por toda parte se ouve que há imoralidade
entre vocês, imoralidade que não ocorre nem entre os pagãos, a ponto de alguém
de vocês possuir a mulher de seu pai. E vocês estão orgulhosos! Não deviam,
porém, estar cheios de tristeza e expulsar da comunhão aquele que fez isso?” (1
Co 5.1,2).
A igreja estava achando aquilo
normal e até mesmo se ensoberbecia disto. Como assim? Algo que até mesmo a
sociedade pagã rejeitava estava sendo aceito dentro da igreja? E a igreja ainda
estava orgulhosa de sua decadência moral? Só existe uma explicação para isto: a
igreja não tinha referências éticas.
Isto é extremamente atual.
Diariamente somos bombardeados
pela mídia em relação a valores morais. A mídia nos faz pensar que divórcio é
algo normal (perdemos a dimensão da santidade do casamento); que sexo antes do
casamento é normal (perdemos a santidade do sexo); que homossexualismo é normal
(perdemos a santidade do corpo); que dar propina é normal (perdemos a santidade
em relação à integridade e a forma como se ganha dinheiro), que aborto é normal
(perdemos a santidade da vida).
Satanás quer nos fazer achar
normal aquilo que Deus considera pecado. Uma mentira dita várias vezes como
verdade, tende a nos fazer acreditar que é verdadeira.
A igreja de Corinto não estava
entendendo sua referência em relação às coisas santas. E acreditava até mesmo
que agindo assim, estavam se tornando vanguarda no pensamento social. Algo
estranho aconteceu: Eles se tornaram vaidosos do seu pecado, se auto
denominavam inclusivistas, e criam que aceitar coisas tão “modernas” era sinal
de uma igreja contemporânea.
Ao lado da Biblioteca de Boston,
em frente à Trinity Church, a belíssima catedral episcopal, há uma igreja
congregacional liberal quanto à ética. Ela também possui uma belíssima
arquitetura gótica, e logo na entrada você verá uma mensagem bem visível:
“Orgulhosamente comunicamos que somos a 34a a igreja dos Estados
Unidos que aceita homossexuais como membros de sua comunidade”. Certamente este
caso exemplifica bem o que estamos falando. Uma igreja que se sente orgulhosa
em ratificar uma atitude condenada nas Escrituras Sagradas. Muitas vezes a
igreja se orgulha por aquilo que deveria chorar. Faz propaganda daquilo que
deveria gerar quebrantamento.
Precisamos sempre nos lembrar da
severa afirmação de Francis Schaeffer: “A Nova Moralidade nada mais é que a
antiga imoralidade”.
Paulo fala aqui da santidade do
casamento e do sexo, e trata com firmeza aquele irmão liberal da comunidade. A
linguagem é dura, como deve ser duro o tratamento que deve ser dado ao pecado
(1 Co 5.3-7). Paulo ensina àquela igreja que somos o templo do Espírito Santo, lugar
de morada de Deus, e que fomos comprados com preço, e por isto precisamos
glorificar a Deus no nosso corpo.
Nono, igreja relevante administra bem seus conflitos. “Se algum de vocês tem queixa contra outro
irmão, como ousa apresentar a causa para ser julgada pelos ímpios, em vez de
levá-la aos santos? (1 Co 6.1).
A Igreja de Corinto tinha problemas
internos, mas qual igreja não enfrenta conflitos? A igreja de Jerusalém teve
disputas pois um grupo achava que um determinado grupo étnico estava sendo
tratado de forma preferencial em relação a outro (At 6); A igreja de Filipos
teve problemas na disputa pelo poder entre membros de sua comunidade. Paulo
pede a Evódia e Síntique, duas mulheres ligadas ao ministério feminino para “Aprenderem a pensar concordemente no Senhor”
(Fp 4.2), porque de vez em quando, suas opiniões se chocavam e elas entravam em
disputas ministeriais, refletindo suas disputas pessoais na comunidade.
A igreja de Corinto teve conflita entre irmãos, provavelmente relacionado a negócios e discordâncias sobre este assunto. Pessoalmente já tive que mediar conflitos entre membros da igreja que se desentenderam em relação a um determinado valor, ou a algo que foi verbalizado, e que o outro não entendeu bem ou quis se fazer de desentendido. Era uma situação complicada, não havia um contrato, apenas um "acordo de cavalheiros", mas agora que o negócio havia sido consumado, eles não conseguiam concordar. Com queixas de ambos os lados conseguimos encontrar um termo de ajuste e as coisas se resolveram.
Na Igreja de Corinto, os irmãos se desentenderam a tal ponto que não conseguiram resolver o problema. O assunto foi levado para um tribunal secular, e Paulo ficou muito triste com a atitude, afinal, numa cultura tão pagã quanto a de Corinto, e a igreja sendo implantada, isto poderia ser um péssimo testemunho. Paulo disse: "vocês foram chamados por Deus para julgar o mundo, entretanto, não sabem julgar uma causa humana". Não pareceria isto um contrassenso?
A igreja de Corinto teve conflita entre irmãos, provavelmente relacionado a negócios e discordâncias sobre este assunto. Pessoalmente já tive que mediar conflitos entre membros da igreja que se desentenderam em relação a um determinado valor, ou a algo que foi verbalizado, e que o outro não entendeu bem ou quis se fazer de desentendido. Era uma situação complicada, não havia um contrato, apenas um "acordo de cavalheiros", mas agora que o negócio havia sido consumado, eles não conseguiam concordar. Com queixas de ambos os lados conseguimos encontrar um termo de ajuste e as coisas se resolveram.
Na Igreja de Corinto, os irmãos se desentenderam a tal ponto que não conseguiram resolver o problema. O assunto foi levado para um tribunal secular, e Paulo ficou muito triste com a atitude, afinal, numa cultura tão pagã quanto a de Corinto, e a igreja sendo implantada, isto poderia ser um péssimo testemunho. Paulo disse: "vocês foram chamados por Deus para julgar o mundo, entretanto, não sabem julgar uma causa humana". Não pareceria isto um contrassenso?
Uma igreja relevante precisa
aprender a lidar positivamente com suas diferenças, para ter energia e avançar em
direção a melhores propósitos. Conflitos mal resolvidos se transformam em
novelas intermináveis que impedem a maturidade e estes conflitos se arrastam por
anos na vida da igreja, sem serem resolvidos ou tratados.
Décimo, igrejas relevantes possuem sensibilidade cultural. “Porque, embora seja livre de todos,
fiz-me escravo de todos, para ganhar o maior número possível de pessoas. Tornei-me judeu para os
judeus, a fim de ganhar os judeus. Para os que estão debaixo da lei, tornei-me
como se estivesse sujeito à lei, ( embora eu mesmo não esteja debaixo da lei ),
a fim de ganhar os que estão debaixo da lei. Para os que estão sem lei, tornei-me como sem lei ( embora não esteja
livre da lei de Deus, mas sim sob a lei de Cristo ), a fim de ganhar os que não
têm a lei. Para com os fracos tornei-me
fraco, para ganhar os fracos. Tornei-me tudo para com todos, para de alguma
forma salvar alguns.” (1 Co 9.19-22).
Igrejas relevantes se tornam identificadas com sua cultura. Isto exige contextualização e adaptabilidade.
Três situações em Corinto nos
mostram como não é fácil lidar com problemas culturais, nem sempre a teologia
se dá bem com a antropologia, e como precisamos ser sábios em relação a tais
situações:
A. Um cristão pode comer carne
sacrificada a ídolos? A cidade de Corinto recebia influência de muitas religiões
animistas e pagãs, e um dos problemas que os irmãos tiveram que lidar foi com a
forma de tratar o problema relacionado a carnes sacrificadas a ídolos (1 Co
8.1-13).
Os cristãos poderiam comer alguma
carne que tinha sido sacrificada a alguma entidade? Já vi muitos irmãos no
Brasil tendo problemas em comer acarajé, depois
que descobriram que algumas baianas consagram o primeiro acarajé a uma entidade
do candomblé. Podemos ou não comer? Alguns anos atrás, na verdade, encontrei
uma mulher que usava aquelas roupas típicas da Bahia, vendendo acarajé, mas era
uma irmã fervorosa da Assembleia de Deus em Salvador. Paulo ensina que o
problema não estava na carne em si (1 Co
8.4-6,8), mas sim no testemunho, no que aconteceria a uma pessoa que
tivesse consciência fraca ou fosse nova na fé (1 Co 8.7-13). A situação exigia
da igreja sensibilidade para com aquela cultura. O ídolo, diz Paulo, de si
mesmo nada é, mas o amor cristão, sim.
B. A questão do véu – 1 Co 11.2-16. Este texto é
ainda hoje mal interpretado por alguns segmentos cristãos que acreditam que a
recomendação de usar o véu é ainda obrigatória em nossos dias.
Se formos bem literalistas quanto
a isto, eles estão certos. “Portanto,
deve a mulher, por causa dos anjos, trazer véu na cabeça, como sinal de
autoridade” (1 Co 11,10). Mas a pergunta que fica é: como este texto se
aplica a nós, nos dias de hoje? Que princípios podemos encontrar aqui? Paulo
recomenda também que os homens se cumprimentem beijando. Isto se aplica aos
nossos dias? Não! A ideia é que, naquela cultura, o beijo era uma forma de
cumprimento, mas o princípio estava claro: “Não podemos ignorar nosso irmão. É
proibido ser frio!”.
E quanto aos véus?
Na cultura de Corinto, o véu era
sinal de respeito e de sensatez. Uma mulher que não usasse véu seria
considerada uma mulher sem valor. Não apenas uma “perua”, mas uma mulher de
vida fácil. Portanto, fazia parte da cultura que as mulheres usassem o véu.
Isto tem a ver com a cultura, e não com a espiritualidade em si. Não usá-lo,
seria uma afronta. Por isto Paulo deixa claro isto fazia parte das “tradições
locais” (1 Co 11.3), e dos “costumes” (1 Co 11.16). O uso do véu não pode ser normativo
para todas igrejas em todas as culturas, mas sua recomendação era uma forma de demonstrar
sensibilidade à cultura local.
Uma missionária brasileira hoje
que exercer seu ministério entre culturas islâmicas, precisa usar véu, caso
contrário, ela afrontará a cultura e não será ouvida.
C. A sensibilidade cultural - Paulo afirma que se esmerava ao máximo, para não permitir
que a cultura se tornasse um problema na comunicação do evangelho. “Fiz-me fraco pra com os fracos, com o fim de
ganhar os fracos. Fiz-me de tudo para como todos, com o fim de, por todos os
modos, salvar alguns” (1 Co 9.22).
Muitas vezes o evangelho não é
aceito por causa da roupagem que possui. Em muitos lugares o evangelho parece
ser uma subcultura no estilo de se vestir e se comportar, em coisas que não
são, certas ou erradas, mas apenas cultural.
A identificação com a cultura
sempre traz dois perigos:
1. Assimilação excessiva – Muitas pessoas acabam
incorporando elementos de uma cultura que são contrárias às verdades de Deus,
em nome de uma identificação com o pecador. É bom lembrar que todas as culturas
são pecaminosas. Eventualmente temos a tendência de supervalorizar uma cultura
e quase divinizá-la, quando na verdade, toda cultura precisa ser alcançada e
redimida em Jesus. O excesso de assimilação traz mundanismo e sincretismo.
Assimilação pode significar adaptação ao pecado e ao mundo, e isto é uma má
ideia. Muitas vezes o evangelho é ofensivo ao pecado e à cosmovisão de um povo.
2. Isolamento cultural – Quando decidimos manter as
roupagens culturais que temos, perdemos a capacidade de sermos empáticos com as
pessoas fora da igreja, ou que possuem uma diferente cultura. Damos tanto valor
às formas, que nos esquecemos do conteúdo. Confundimos essência com acidente,
temporal com o eterno e histórico com revelado.
Muitas vezes o evangelho não
penetra numa cultura, porque a igreja não consegue se aproximar da sociedade,
ser amigo de pecadores e publicanos, como foi Jesus (Mt 11.19).
Conclusão
Precisamos nos tornar relevantes
na sociedade onde estamos inseridos. Não para nossa vaidade e glória pessoal,
mas para que o nome de Cristo seja conhecido e adorado entre as pessoas.
Igrejas podem facilmente se
tornarem apêndices em uma cultura. Sem poder de impacto, sem testemunhar
efetivamente a Cristo, sem servir de farol e parâmetro numa determinada
sociedade.
Por quase quatrocentos anos, a
igreja na era da patrística, impactou literalmente metade do mundo conhecido.
Os cristãos saíram de um grupo amedrontado de 12 pessoas para assumir lugar de
liderança no mais poderoso império da época. O poder do testemunho, do amor,
era visível nesta comunidade, que com santidade foi mexendo com os padrões
morais de um império moralmente arrasado. A igreja influenciou o paganismo,
levando a mensagem de Cristo; incomodou o sistema escravagista, tratando a
todos como irmãos; trouxe o olhar dos intelectuais e da filosofia ao tratar
pessoas rejeitadas socialmente com amor.
Quando falamos de igreja
relevante, é disto que estamos nos referindo.
Como a sociedade moderna nos
percebe?
Que impacto a igreja de Cristo
produz na sociedade?
Ficamos às vezes olhando a
decadência moral e lamentando como a sociedade está tão podre hoje em dia. Não
deveríamos olhar desta forma! A sociedade sem Jesus sempre foi corrompida
moralmente, em todas as épocas da história. Mas quando a igreja percebe o poder
da cruz, o impacto que o evangelho pode gerar na sua vida pessoal e na vida de
tantas outras pessoas, a igreja se torna ousada e sua relevância se torna
conhecida.
Que Deus nos torne ousados... e
relevantes...
No meio desta geração desorientada
e confusa...
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