segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Jonas: Quando o coração não acompanha a missão


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Introdução:

A história de Jonas é apaixonante. Dentre todas as razoes possíveis para se entender o que aconteceu, encontra-se o fato de que Jonas é pedagógico, paradigmático.

Jonas representa uma nação. O povo judeu que se perdeu no seu chamado e não conseguia olhar além dos seus limites políticos e de sua geografia, apesar do chamado para abençoar “todas as famílias da terra”, o povo judeu se fechou na sua xenofobia e etnocentrismo, perdendo a perspectiva maior de anunciar um Deus para todas as nações.

Jonas representa os missionários no campo. Confusos em relação ao chamado, em relação ao Deus que eles anunciam, em relação ao propósito de Deus para suas vidas.

Jonas representa a igreja, que não entende quem Deus é, que não consegue entender a forma como Deus age e se revolta quando Deus é misericordioso e bom, e ainda se preocupa com gente quebrada, violenta e perdida.

Jonas representa milhões de pastores, bem sucedidos quanto ao seu ministério, mas mal resolvidos quanto ao seu coração. Que não consegue se aproximar da mente de Deus e de seus propósitos, e insiste em defender sua espiritualidade a partir do que acha, e não a partir de quem Deus é. Jonas é o sucesso do fracasso.

Jonas é apaixonante, antes de tudo, porque todos nos vemos nele. Na sua forma passional, ambígua, contraditória. Apesar de sermos amados por Deus, estamos em crise ele. Somos pessoas em crise com o Deus em quem anunciamos crer.

O que levou jonas a afastar o seu coração de Deus?
Por que seu coração não acompanhou sua missão?

1.     Divergência – O coração não estava atrelado ao coração de Deus.

O problema de Jonas não era ser profeta, mas ser profeta em Nínive. Jonas exerceu fielmente seu ministério nos dias de Jeroboão II, que foi o 13º rei de Israel, sucedendo a seu pai, o rei Joás e que reinou durante 41 anos sobre Israel. Em seu reinado o profeta exerceu seu ministério trazendo uma mensagem de restituição dos territórios de Israel anteriormente perdidos. 

No décimo quinto ano de Amazias, filho de Joás, rei de Judá, começou a reinar em Samaria, Jeroboão, filho de Jeoás, rei de Israel, e reinou quarenta e um anos. E fez o que era mau aos olhos do Senhor; nunca se apartou de nenhum dos pecados de Jeroboão, filho de Nebate, com que fez pecar a Israel. Também este restituiu os termos de Israel, desde a entrada de Hamate, até ao mar da planície; conforme a palavra do Senhor Deus de Israel, a qual falara pelo ministério de seu servo Jonas, filho do profeta Amitai, o qual era de Gate-Hefer”. (2 Rs 14.23-25).

Jonas divergia quanto ao seu olhar missionário. Deus via de uma forma e ele via de outra. O mesmo cenário se repetiria com o apóstolo Pedro, a quem Deus trata de forma contundente para entender que ele podia considerar puro aquilo que Deus já havia purificado, mas sua teologia e formação pessoal não permitia ver aquilo que Deus estava tentando comunicar.

Jonas é assim. Deus está olhando numa direção e ele olha para outra. O problema de jonas não era ser profeta, mas profetizar para uma cidade perversa, gentílica e violenta quanto era Nínive.

Ele era profeta, mas seu coração não estava alinhado ao coração de Deus.

2.     Escapismo – O coração anseia por outro lugar e não o lugar de Deus.

O coração de Jonas segue uma geografia diferente da geografia divina. Basta olhar para o mapa que ficaremos impressionados com sua atitude. Nínive fica na Babilônia, ele vai para a Europa. Nínive podia ser uma caminhada a pé, ou parcialmente de navio, mas ele decide pegar um navio e se dirigir para Társis.

Ora, esta cidade para onde ele vai fica no Sul da Espanha. Portanto, ele vai para a Europa. Társis era conhecida por sua belas praias. Jonas segue atrás do seu Shangri-lá, este lugar que não existe mas para onde todos desejamos ir. Jonas quer fugir de conflitos, sua missão era perigosa, e ele não sabia o que Deus poderia fazer com ele, nem qual seria a reação dos ninivitas, e mesmo que a reação deles fosse positiva, como foi, com quebrantamento e arrependimento, ele não estava interessado na conversão daquele povo. Ele preferia que eles fossem exterminados e destruídos por tanta maldade que praticavam.

Jonas se evade. Foge do conflito.
Você nunca pensou em fazer isto?

Elias fez exatamente isto. Logo depois da grande vitória contra os profetas de Baal, assustado com as ameaças de Jezabel, ele sai do reino do Norte, atravessa praticamente todo reino do sul, cerca de 300 kms, e vai para Berseba, que já era a saída para o deserto e caminho de fuga para o Egito. Jonas abandona o seu campo. Ele larga o ministério. Ele foge. Ele quer morrer.

Evasão da missão é uma grande tentação.
Jonas decide ir para Társis em busca deste lugar sem conflito, sem ameaças. Este lugar que ocupa o nosso imaginário mas não existe.

3.    Indiferença – “O que os olhos não vê, coração não sente”

O terceiro fator que revela que o coração de Jonas não acompanhou a missão que ele faz, é que para ele, pouco importa a vida das pessoas. A bem da verdade, ele desejaria a morte que a redenção. Aliás, este foi o ponto forte de controvérsia entre Deus e ele. Sua raiva interior se opõe ao comportamento amoroso de Deus. Ele não gosta de um Deus bom, compassivo, perdoador. Se Deus ao menos fosse mais zangado...

O coração do obreiro não acompanha a missão quando ele se torna indiferente. Já se sentiu assim?

Quando estava pastoreando uma comunidade brasileira em Boston (EUA), eu estava tão desanimado com o trabalho, num determinado momento de minha vida, que eu sabia o que devia fazer, e como deveria fazer, mas eu não queria fazer. Talvez eu não tivesse forças para fazer ou empolgação para fazer. Naquele momento eu entendi que não podia ficar mais ali, porque dali para a frente, eu poderia ser um obstáculo ao crescimento da igreja e avanço da obra na região, e apesar de estar numa posição financeira muito boa, era a hora de entender o que Deus queria fazer de minha vida em outro lugar.

Muitos ministérios são conduzidos na base da apatia ministerial. Não culpo meus colegas porque já me vi nesta situação algumas vezes. O problema da indiferença é que ela nos leva a perder a empolgação na obra do Senhor. Ai passamos a fazer as coisas no automático, sem sonhos, sem mesmo crer que Deus pode fazer algo relevante em nossa vida, pela sua maravilhosa graça. Perdemos o brilho nos olhos, deixamos de ter “sangue nos olhos”.

O coração só segue a missão quando há entusiasmo.

4.     Negligência – Falta de cuidado espiritual

Esta é a quarta coisa que observamos na vida de Jonas. Ele não sabia, não conseguia ou não queria orar:

§  Jonas não ora para viajar para Társis – Seria que adiantaria? Ele estava fugindo de Deus.
§  Jonas não ora na tempestade – Ele está desautorizado.
§  Jonas não ora quando todos oram – Aqui temos uma situação inusitada. Os pagãos oram, mas o profeta não oram. Gente que não conhece o Deus verdadeiro clama, mas quem conhece a Deus não se importa. Temos aqui pagãos com o coração mais inclinado para Deus que o profeta Jonas.
§  Jonas vê a oração como último recurso. Ele só ora quando todos seus esforços pessoais não funcionam mais. Oração é descartada da vida deste profeta.

Quando o coração não segue a missão, não conseguimos orar...

5.     Displicência – Dificuldade para pregar o que Deus ordena pregar.

Uma pergunta hermenêutica que surge no texto é a seguinte: Jonas pregou o que Deus lhe mandou pregar?

Deus lhe disse: “Dispõe-te, vai à grande cidade de Nínive e clama contra ela, porque a sua malícia subiu até mim” (Jn 1.2). Qual foi a mensagem que Jonas pregou? “Ainda quarenta dias e Nínive será subvertida” (Jn 3.4). Seria esta a mensagem que Deus deu a Jonas para pregar? Alguns acham que sim, que a mensagem era de juízo, mas textualmente não podemos afirmar com segurança que sim.

A mensagem de juízo de Jonas tem uma sentença e um prazo. Deus mandou Jonas falar assim?

Este tema possui uma grande relevância em nossos dias.
O que estamos pregando e o que Deus nos mandou pregar?

David Nicholas, conhecido pastor no Sul da Flórida, fez uma pesquisa independente para saber o que estava sendo pregado nas igrejas da região e o que ele descobriu é alarmante. As igrejas pregavam palestras motivacionais, legalismo, comportamento, auto ajuda, teologia da prosperidade, mas ninguém estava anunciando o evangelho. 80% dos pregadores não explicava o plano da salvação, não falava do evangelho, não anunciava Cristo, não se referia à questão da graça, não anunciava a cruz nem o sangue de Cristo. Os pastores estavam “perdendo o evangelho”, dentro de suas igrejas.

Precisamos voltar ao evangelho.
Precisamos repensar a doutrina da graça, da justificação pela fé, da obra expiatória de Cristo, de arrependimento e de conversão. As pessoas precisam ouvir o plano maravilhoso de Deus que foi realizado em Cristo, a deixaram de crer na salvação pelas obras ou pela justiça própria, e a colocarem sua confiança apenas em Cristo para sua salvação.

6.     Resistência  - Falta de entusiasmo com a salvação dos pecadores.

Jonas é o pregador mais bem sucedido da história. Você já ouviu falar de um pregador que, em quarenta dias de anúncio de uma mensagem a um mundo totalmente paganizado, pudesse causar um impacto tão grande na vida das pessoas, atingindo até mesmo os palácios, como foi Jonas?

O grande problema de Jonas não foi o seu sucesso, foi o seu coração.
Seu coração não acompanhava sua missão.

Sempre me impressiono com a descrição bíblica sobre Barnabé, ao ver o que Deus estava fazendo em Antioquia. “Tendo ele chegado e, vendo a graça de Deus, alegrou-se e exortava a todos a que, com firmeza de coração, permanecessem no Senhor” (At 11.20). Barnabé estava entusiasmado em ver a obra maravilhosa do Espírito Santo na vida das pessoas. Jonas estava zangado com Deus por causa da conversão dos pecadores.

São atitudes muito diferentes.
O grande problema do povo de Deus ainda hoje é que temos pouco entusiasmo na pregação, pouco alegria no crescimento da igreja, nenhuma sensibilidade para com a obra missionária, pouco investimento na evangelização e discipulado. A vida espiritual das pessoas realmente não nos importa muito.

O coração de Jonas não acompanha a missão...

7.     Irritabilidade – O coração controlado pela raiva.

O coração não acompanha a missão quando ele está dominado pela raiva. Esta raiva pode ser sutil e se ocultar bem: raiva contra a vida, pouca gratidão pelas coisas que temos, raiva e hostilidade contra Deus. Podemos ser controlados e dominados por uma raiva, insatisfação e descontentamento primal que domina todo nosso ser.

Deus se dirige a Jonas para conversar sobre este assunto por duas vezes:
ü  E disse o Senhor: é razoável esta tua ira?” (Jn 4.4)
ü  Então perguntou Deus a Jonas: É razoável esta tua ira?” (Jn 4.9)

Alguém já afirmou  que “ira é um pecado de superfície”, portanto, ela é apenas o termômetro que revela que algo não vai bem no coração. Como um submarino que ao ser atingido por um torpedo, deixa surgir as marcas de óleo na superfície do mar.

Nosso coração não acompanha a missão quando ele é dominado pela ira. Uma raiva inconsciente, não resolvida, amargura contra Deus.

Jonas é dominado pela ira. Ele se irava com Deus mas não conseguia se arrepender pelo estado de seu próprio coração.

Jonas é um missionário em crise com o Deus das missões.

8.    Endurecimento – Incapacidade de arrependimento.

Podemos dizer que este é o maior de todos os pecados perceptíveis na vida de Jonas. O livro de Jonas termina de forma abrupta, e não sabemos o que aconteceu posteriormente com seu coração.

Jonas se deixou tratar?
Jonas percebeu as armadilhas de seu coração?
Jonas se arrependeu verdadeiramente?

A verdade é que, cem anos depois, Deus levanta o profeta Naum para novamente clamar contra a mesma cidade. O quebrantamento gerado pela mensagem de Jonas, não gerou uma transformação social permanente. Sua mensagem não teve impacto sobre as próximas gerações. Jonas não aproveitou a visitação de Deus para implementar um programa que trouxesse mudanças politicas e sociais permanentes e duradouras.

Jonas mudou?
Seu coração foi transformado?

A Bíblia fala do resultado da falta de transformação e arrependimento na vida de Esaú.

“Cuidem que ninguém se exclua da graça de Deus. Que nenhuma raiz de amargura brote e cause perturbação, contaminando a muitos. Não haja nenhum imoral ou profano, como Esaú, que por uma única refeição vendeu os seus direitos de herança como filho mais velho. Como vocês sabem, posteriormente, quando quis herdar a bênção, foi rejeitado; e não teve como alterar a sua decisão, embora buscasse a bênção com lágrimas”. (Hb 12.15-17).

Este texto é assustador, porque Esaú, por ser profano e impuro, não conseguiu experimentar mudança em seu coração por causa de sua dureza. Posteriormente ele até buscou, mas seu coração estava empedernido demais para experimentar um verdadeiramente arrependimento. Não é isto que nos diz a Bíblia: “O homem que muitas vezes repreendido, endurece a sua cerviz, cairá de repente, sem que haja cura”(Pv 29.1).

O texto não demonstra uma volta de Jonas ao quebrantamento e uma nova compreensão de seu endurecimento.

Seu coração não acompanhou a missão...

Conclusão
O grande chamado de Deus para nossa vida tem a ver com o coração. “Filho meu, dá-me o teu coração” (Pv 23.23). Deus não pede que façamos algo para ele, mas que sejamos alguém para ele. Fazer deve ser resultado do ser.

A missão deve ser resultado do coração.
Na lista das descrições que Deus faz das qualificações para o presbiterato em 1 Tm 3, temos 23 descrições sobre o SER, e apenas duas sobre o FAZER. Em outras palavras, o ser precede a ação. Não importa o quanto façamos, se o coração não vier, isto não fará diferença para Deus.

Ele não está interessado em pessoas competentes, performáticas, impressionantes, mas está interessado em corações compungidos e contritos. A estes Deus não desprezará.

Por isto, antes de fazer, precisamos ser.
Por isto, o coração deve ser a mola propulsora da missão.



Ex 20.17 Décimo Mandamento Não cobiçarás



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Introdução:

O que traduzimos por cobiçar [em hebraico, lo thahh.módh] da raiz do verbo “hamad”, que significa uma manobra para se apoderar do que é dos outros.

De todos os pecados, este é o mais subjetivo, por isto o que mais facilmente se esconde, mas ao mesmo tempo, o que mais facilmente nos alcança quando olhamos cuidadosamente para o nosso coração.

Paulo afirma:
Mas eu não teria conhecido o pecado, senão por intermédio da lei; pois não teria eu conhecido a cobiça, se a lei não dissera: Não cobiçarás. Mas o pecado, tomando ocasião pelo mandamento, despertou em mim toda sorte de concupiscência; porque sem lei está morto o pecado” (Rm 7.7-8).

Paulo fora um religioso zeloso de suas responsabilidades, sempre olhou cuidadosamente os mandamentos externos da lei cumprindo-os rigorosamente, mas um dia, ao olhar para dentro de sua alma, percebeu como o seu coração era entregue à cobiça.

O décimo mandamento penetra na área do pensamento, trata daquelas questões mais interiores de nossa alma, toca nas intenções do coração. Lembra que o pecado não se limita aos atos que praticamos, mas tangencia a vontade e desejos, pois quem cobiça é o coração. Ou seja, não são os objetos cobiçados que contém pecado, mas o coração do homem.

O que Deus exige de seu povo é que retire de dentro de si este pensar ganancioso, que deseja sempre se apossar. O vício da posse. Cobiça transforma o desejo de se ter bens e lutar por consegui-los com meios lícitos em desejo desordenado que degrada o ser humano.

O décimo mandamento condena a avareza e o desejo de cometer uma injustiça que provocaria dano ao próximo para obter os bens materiais que lhe pertence. Não consiste apenas no fato de se desejar ter o que os outros têm, mas em invejá-los ao ponto de se ressentir por não ter o que eles têm.

O texto fala de coisas que em geral fazem parte do desejo de conquista do homem daqueles dias: Mulheres, servo, serva, boi e jumento.

Se traduzíssemos esta linguagem para os dias de hoje, colocaríamos nesta lista, pessoas, animais e coisas, mas certamente haveria uma grande diferença entre o que será cobiçado naqueles dias e o é em nossos dias. Nossa lista provavelmente seria muito mais ampla... incluiríamos viagens, hotéis de luxo, carros luxuosos, status, posição, casas imensas, etc., Na verdade, cada pessoa possui sua lista de bens e objetos a serem cobiçados. Para uma pessoa simples, a cobiça pode ser o carro popular que o vizinho tem e não um carro de luxo. Cobiça tem a ver com nosso imaginário, mais do que com o objeto em si.

Quais são os objetos do nosso desejo no Século XXI? O que ainda cobiçamos e desejamos nos apossar de forma indevida, regando nosso coração pecaminoso com desejo de posse?

A cobiça é má conselheira, ela age em duas direções:
A.                   Pessoas – “Não cobiçarás a mulher do teu próximo” – Alguém já afirmou que, para as mulheres só existem nove mandamentos, porque não há recomendação para que a mulher não cobice o marido da outra. Este raciocínio, obviamente é uma brincadeira.

Na verdade, a Palavra nos exorta a não querermos ter aquilo que não nos pertence.
José entendeu muito bem isto, quando a mulher de Potifar se ofereceu a ele. “Como, pois, cometeria eu tamanha maldade e pecaria contra Deus?” (Gn 39.9). Possuir a mulher do outro, soava para José como maldade contra seu patrão e atitude pecaminosa contra Deus. Se a mídia entendesse isto hoje em dia, quando se despreza tanto o valor e a singularidade do matrimônio, muita coisa mudaria em nossa sociedade, e muito sofrimento seria poupado.

A cobiça por pessoas, acaba com relacionamentos, enfraquece o matrimônio, traz sofrimento a gerações inteiras, interfere no relacionamento do nosso próximo com seus familiares. Devoramos o objeto de nossa cobiça e aquele que detém o mesmo.

B. Coisas – “Não cobiçarás a casa do teu próximo... nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma que pertença ao teu próximo” (Ex 20.17).  O texto cita casas, propriedades, servos (que eram considerados posse de seus donos) e animais.

O que o décimo Mandamento requer de nós?

1.                    Pleno contentamento com a nossa condição – Esta é a primeira atitude que o Catecismo Maior sugere quando fala das exigências do décimo mandamento. Precisamos aprender a ter contentamento, e isto vai da esposa (o)  que temos, até as nossas posses.

A Bíblia nos encoraja a estarmos contentes com nossas coisas, e aprendermos a glorificar a Deus por aquilo que temos e recebemos. Eis alguns exemplos positivos e negativos da Bíblia.

Þ    Jezabel criou uma junta de pessoas que falsamente testemunhou contra Nabote, apenas por causa de sua cobiça. Ela não precisava de mais nada, era rainha, mas a cobiça tomou conta de seu coração;

Þ    Provérbios nos afirma: “Tal é a sorte de todo ganancioso; e este espírito de ganância tira a vida de quem o possui” (Pv 1.19). A ganância é irmã da cobiça. O alerta que a Bíblia nos faz é que a ganância vai tirar nossa vida, alegria, contentamento.

Þ    Paulo faz uma severa admoestação contra a cobiça: “De fato, grande fonte de lucro é a piedade com contentamento. Porque nada temos trazido para o mundo e nem coisa alguma podemos levar dele. Tendo sustento e com quem nos vestir, estejamos contentes. Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação, e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruina e perdição. Porque o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores”(1 Tm 6.6-9). O grande segredo de nossa vida é o contentamento. Aprendermos a estar contente com o que temos recebido.

Þ    João Batista exorta as pessoas aos coletores de impostos a não cobrar nada além do estipulado, e aos soldados a não darem denúncia falsa e a se contentarem com o soldo (salário) recebido (Lc 3.12-14).

A conformidade com os bens e as riquezas que Deus dá traz contentamento e satisfação à alma, ao contrário da cobiça e da inveja que sempre gera inquietação. Por isto a quebra deste mandamento gera também a inveja ou tristeza quando se percebe o bem do próximo. Daí surge o ódio, a maledicência e a calúnia. É necessário combater este pecado e isto se torna possível quando colocamos nossa confiança e alegria na providência de Deus.

2.                    Segunda Lição: Disposição caridosa da alma para com o nosso próximo, de modo que todos os nossos desejos e afetos relativos a ele se inclinem para todo o seu bem e promovam o mesmo – Esta é a segunda atitude sugerida pelo Catecismo Maior.

Não permitir que nossos desejos e afetos estejam ligados a coisas e que não consigamos amar as pessoas. Quando vivemos cobiçando, nunca encontramos satisfação e nunca nos satisfazemos. Pessoas cobiçosas são vazias, e morrem desejando, sem nunca conseguir o que acha que pode conseguir.

Hans Burke: “Quem não está satisfeito com o pouco, não estará satisfeito com o muito. Mais da mesma coisa nos deixa no mesmo lugar”.

3.                    Terceira Lição: Somos lembrados do perigo de colocarmos nossa prioridade em coisas e pessoas, ao invés de Deus. O décimo mandamento faz um contraste claro com o primeiro mandamento.

No primeiro, Deus deve ser colocado como primazia de nossa alma, e no último, somos mais uma vez lembrados de que Deus nos deu dinheiro para gastar, pessoas para amar, e Deus para adorar. Muitas vezes adoramos as pessoas e consumimos Deus. Invertemos as prioridades. A cobiça é responsável por estas questões.

A cobiça aponta para os desejos e afetos desordenados para com coisas e pessoas. Ela nos leva a ficarmos tristes pelo bem do nosso próximo e a fazermos comparações. O coração se identifica com aquilo que ama, e, se ama sem medida os bens materiais, se faz matéria – coisa – coloca a criatura em lugar do criador.

Rubem Alves afirmou: “Aquilo que está escrito no coração não necessita de agendas, porque a gente não esquece. O que a memória ama fica eterno.

A Bíblia nos ensina que a cobiça está na origem de toda tentação. “Cada um é tentado por sua própria cobiça”. Dietrich Bonhoeffer afirma: “Quando a cobiça assume o controle, Deus se torna irreal para nós”.