segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Ex 20.16 Nono Mandamento: Não dirás falso testemunho


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Introdução:

Este mandamento tem a ver com o uso da língua.

Falso testemunho está diretamente relacionado ao mau uso da língua contra o outro, para acusá-lo sem motivos ou para proteger o ímpio quando ele deveria ser julgado. Num sistema onde a verdade é tão sacrificada para auto proteção e no qual a moral tem sido tão banalizada, este texto tem um enorme significado para a ética de nossos dias.

Para o povo judeu, isto também era extremamente importante, já que na terra do Egito não existiam normas de justiça aceitáveis: o dinheiro comprava qualquer testemunho, subornava os sistemas jurídicos, corrompia os juizes, pagava qualquer palavra, e desta forma a vida humana foi sistematicamente depreciada.

A “verdade lucrativa” não instaura um reino de justiça e igualdade. Uma sociedade onde a lei pune o inocente e o pobre, e em nome de uma moral podre, defende os ricos e poderosos, certamente é uma comunidade que abre espaço para toda sorte de corrupção.

Para defender o direito do acusado, a tradição do povo instruía a corte a não condenar ninguém a morte pelo testemunho de uma só pessoa:

Uma só testemunha não se levantará contra alguém por qualquer iniquidade ou por qualquer pecado, seja qual for que cometer; pelo depoimento de duas ou três testemunhas se estabelecerá o fato” (Dt 19.15).
“Uma só testemunha não deporá contra alguém para que morra (Nm 35.30).

O falso testemunho é a violação de um direito, pois condena um inocente. A testemunha é mais importante que o juiz. No sistema judaico, a testemunha era a primeira a atirar a pedra no caso de condenação à morte por apedrejamento.

Caluniar e mentir sobre o outro, sobre sua vida, seu procedimento, é o mesmo que montar um tribunal com falsidade para condenar outros à morte. Quantas pessoas na história foram vítimas das falsas acusações e do perjúrio?

O problema dos sistemas judiciais é grave, quando se trata de um sistema público baseado numa ideologia. O livro, “Brasil, Nunca mais!”, relata as torturas praticadas pelo governo da ditadura militar na década de 60, e mostra como o sistema de denúncia, para atender a determinados propósitos pode ser tão cruel. Outro livro assustador foi escrito por Alexander Soljenitzein:  Arquipélago Gulag” que narra as torturas praticadas pelo sistema militar na extinta União Soviética.

Estes dois livros são sinistros. Um detalhe nos chama a atenção. Em geral, a fonte de toda tortura praticada por estes sistemas de opressão era a acusação mentirosa que se fazia contra as pessoas, muitas delas, pequenos comerciantes, religiosos, trabalhadores braçais e operários.  
O tribunal de Jesus foi baseado não somente numa lei opressora, mas num juízo forjado, testemunha falsa e suborno de 30 moedas, e tais pessoas ainda consideravam isto como “culto  a Deus” (Jo 16.2).

A desgraça do falso testemunho é que por ele, vidas são destruídas, inocentes são punidos, culpados absolvidos.

Quais são os motivos dos falsos testemunhos?

  1. Ganância – Jezabel, rainha de Israel nos dias do profeta Elias, mandou testemunhar contra Nabote numa corte, porque seu marido estava interessada no pedaço de terra que ele possuía e era anexo ao palácio. Para isto contratou falsas testemunhas para apedrejar este inocente homem. Deus julgou de forma severa seu comportamento.

  1. Amargura ou ira – Pessoas feridas guardam ressentimentos, e quando podem se vingar, usam traiçoeiramente o nome do outro para denunciar, acusar, delatar. O potencial da malignidade em dizer mentiras sobre outros, para defesa pessoal costuma ser inimaginável.

  1. Razões egoístas – Visando lucro, proteção pessoal ou medo do julgamento. Quando isto acontece, a mentira, acusação e traição se manifestam. É fácil transformar até mesmo Deus em aliado de perversos motivos. Ananias mente para ter lucro financeiro ou parecer bom à comunidade.

  1. Para proteger pessoas que amamos – Caso dos pais de Alexandre Nardoni que matou sua filha Isabela, de 5 anos, jogando-a a da janela. Os pais queriam proteger o filho que matou a neta e tentaram criar álibis para que ele escapasse das graves acusações contra ele. Felizmente a verdade prevaleceu neste horrendo caso. Safira também mentiu para proteger seu marido, Ananias. Muitos pais protegem seus filhos de mentiras, de envolvimento com drogas, pequenos crimes, apenas para justificá-los e para que não sejam punidos.

Todas estas coisas se encaixam dentro do falso testemunho.
Mentir para acusar falsamente, se defender, defender outros que amamos. Dar falso testemunho por amargura e razões egoístas. A quebra do nono mandamento é mais comum que imaginamos.

Como devemos agir diante de situações semelhantes:

Seja qual for a implicação para sua vida: perdas, juízo, perda da reputação pública, diga a verdade, e apenas a verdade, nada mais que a verdade.  

Talvez isto traga sérias perdas, mas sua consciência e alma estarão livres diante de Deus. Não minta contra ninguém. Recuse o dolo. Os fortes e poderosos, tradicionalmente manipulam informações e formam a opinião publica para tirar proveito econômico ou político.

Tive o privilégio de ser pastor auxiliar do Rev Adail Sandoval em Brasília. No início do seu ministério, na pequena cidade de Nanuque-MG, a repressão política estava na sua fase mais aguda, e este pastor foi denunciado falsamente por um presbítero de sua igreja porque criou uma associação de lavadeiras para ajudar as mulheres que viviam lavando roupas nos rios que margeavam a cidade, em condições deploráveis. Quando ele ajudou a criar uma associação para este fim, isto soou como uma ação comunista, e por esta razão ele quase foi preso. Felizmente, um piedoso diácono daquela igreja, tomou conhecimento de sua iminente prisão, protegeu-o, levando-o escondido para uma fazenda, e de lá enviando-o para outra cidade.

Outro exemplo na história recente do Brasil se deu com a morte do pastor presbiteriano, James Wright, deputado estadual, envolvido com direitos humanos no Brasil, que foi exterminado e nunca mais encontrado.

O Nono Mandamento vem nos lembrar: Não dirás falso testemunho. iNão diga não quando for sim, nem sim quando for não. Não comprometa quem quer que seja com tuas palavras.

O Catecismo Maior ao explicar este mandamento afirma que eles existem para conservar e promover a verdade entre os homens e a boa reputação do próximo, assim como a nossa; por isto devemos falar a verdade, somente a verdade, em questões de julgamento e justiça e em todas as demais coisas, quaisquer que sejam; devemos considerar caridosamente os nossos semelhantes; defender sua inocência.

Afirma ainda que os pecados proibidos no nono mandamento são:
  • Tudo quanto prejudica a verdade e a boa reputação de nosso próximo, bem assim a nossa, especialmente em julgamento público, o testemunho falso.

  • Subornar testemunhas falsas, aparecer e pleitear cientemente a favor de uma causa má

  • Resistir e calcar à força a verdade, dar sentença injusta, chamar o mau, bom e o bom, mau.

  • Recompensar os maus segundo a obra dos justos e os justos segundo a obra dos maus.

  • Falsificar firmas, suprimir a verdade e silenciar indevidamente em uma causa justa.

  • Manter-nos tranqüilos quando a iniqüidade reclama a repreensão de nossa parte, ou denunciar outrem indevidamente.

  • Falar a verdade inoportunamente, ou com malícia, para um fim errôneo; pervertê-la em sentido falso, ou proferi-la duvidosa e equivocadamente, para prejuízo da verdade ou da justiça.

  • Falar inverdades, mentir, caluniar, maldizer, depreciar, tagarelar, cochichar, escarnecer, vilipendiar, censurar temerária e asperamente ou com parcialidade, interpretar de maneira má as intenções, palavras e atos de outrem.

  • Descobrir desnecessariamente as fraquezas de outrem e levantar boatos falsos;


Conclusão:

Desta forma dá para perceber que o leque de contato do nono mandamento é bem mais forte que imaginamos.

Por esta razão, o nono mandamento é mais atual que nunca. Por isto, “Não dirá falso testemunho”.


Samuel Vieira
Anápolis, Agosto 2008
Refeito Novembro 2019

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