sábado, 11 de abril de 2020

Lc 24.10 Que é isto que vos preocupa?




Introdução:

Você já observou como somos propensos à preocupação?
Como os desafios, dilemas e problemas diários nos afetam de forma tão significativa? Facilmente ficamos assustados, perdemos o sono, nos tornamos reativos e irritadiços, quando perdemos o controle das coisas, por menores que sejam. Parece-nos que a preocupação não é algo apenas de nossa geração, mas sempre acompanhou a humanidade, porque Jesus faz todo um discurso sobre a ansiedade quando pregou o Sermão da Montanha.

Por isto vos digo: não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer ou beber; nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo mais do que as vestes?” (Mt 6.25).

Jesus observava o estilo de vida carregado de ansiedade de seus discípulos. Assim como nós, eles também viviam sobrecarregados de preocupação.

Certa vez aconselhei um brilhante adolescente de minha igreja, com apenas 16 anos mas com profunda ansiedade. Conversamos abertamente sobre o seu medo de fracasso e insegurança e chegamos a conclusão de que seu medo era irracional. Ele ficou pensativo e disse: “Sabe que as vezes eu fico preocupado com a minha preocupação”.

É mais ou menos com a mesma história de um marido que disse à sua esposa: “Não me chame de estressado que eu fico mais estressado ainda!”

Existem vários tipos de preocupação:

A.   Nos preocupamos quanto à sobrevivência

Temos medo de adoecer, de sofrermos acidente. Somos dominados por neuroses, inseguranças, medos, fobias, ataques de pânico e ansiedade, porque tememos por nossa vida, seja este medo racional ou não.

B.    Nos preocupamos quanto ao sustento

Será que teremos o suficiente para nos sustentar? Temos medo de ficarmos desempregados, desassistidos, de nos faltar o essencial. Será que conseguiremos pagar o aluguel? A prestação da casa? O estudo de nossos filhos? Como será quando nos aposentarmos? Teremos o bastante?

Foi exatamente isto que Jesus percebeu nos seus discípulos.
Qual de vós, por ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado ao curso de sua vida? E por que andais ansiosos quanto ao vestuário. Considerai como crescem os lírios do campo; eles não trabalham, nem fiam”. (Mt 6.27,28).

C.    Nos preocupamos quanto ao futuro

O que vai nos acontecer? Como será nossa velhice? Onde iremos morar? Vamos sofrer numa cama? E a morte?

Jesus percebe esta mesma preocupação dos discípulos no caminho de Emaús.
“Então lhes perguntou Jesus: Que é isso que vos preocupa?”

O que nos preocupa?

Resultados da Preocupação
O texto demonstra que a preocupação traz algumas consequências para nossas vidas. Cobra um pedágio caro.

1.     A preocupação tira a capacidade de enxergar corretamente

O texto é claro em demonstrar isto. “Seus olhos, porém, estavam como que impedidos de o reconhecer” (Lc 24.16). Os discípulos não conseguiam ver, tamanha era a preocupação e tristeza que os abatia. Gente abatida não faz leituras corretas.

Quando somos tomados pela preocupação ficamos com dificuldade de ver a coisa corretamente. Os discípulos não conseguiam sequer reconhecer seu mestre. A mente estava tão atribulada, agitada e inquieta que não foram capazes de perceber a presença do amado mestre.

2.     A preocupação dos discípulos os impedia de crer

Os discípulos já tinham ouvido os testemunhos das mulheres e averiguado a veracidade da informação recebida, e estes caminhantes em direção a Emaús, já sabiam deste fato, mas o coração deles ainda estava fechado para crer. Apesar dos testemunhos e da visão das mulheres, a Bíblia afirma que eles ainda estavam descrentes e por isto retornam desolados para sua aldeia: “Ora, nós esperávamos que fosse ele quem havia de redimir a Israel” (Lc 24.21).

É isto que normalmente acontece com corações carregados de ansiedade. Por isto Jesus tenta colocar as coisas no seu devido lugar: “Que é isto que vos preocupa?”.

Não é sem razão que ao lermos os Evangelhos observamos que a incredulidade foi o pecado mais censurado por Jesus nos seus discípulos. Apesar de pecarem por cobiça, disputas, tentações sexuais, relação com o dinheiro, vemos Jesus censurando-os constantemente pela falta de fé. O pecado número 1 dos discípulos era a incredulidade. Será que não é este mesmo pecado que domina nosso coração? Não seria a preocupação resultante da nossa falta de fé?

Jesus desafia seus discípulos a confiarem: “Observai as aves dos céus. Elas não semeiam nem colhem, contudo vosso Pai celeste as sustenta”. Corações carregados de preocupação estão assim por não confiarem na provisão e sustento de Deus.

3.    A preocupação os impedia de recordar a Palavra de Deus  

Então lhes disse Jesus: Ó néscios e tardos em crer tudo o que os profetas disseram! Porventura, não convinha que o Cristo padecesse e entrasse na sua glória?”(Lc 24.25-26). Para realinhar o coração dos discípulos, Jesus procura colocar seus olhos nas promessas da Palavra de Deus.

Quantas vezes ouvimos promessas de segurança e cuidado, mas quando enfrentamos a primeira luta somos tomados por desespero e insegurança. Não deveríamos voltar às promessas de Deus e vivermos baseados naquilo que as Escrituras Sagradas nos ensinam? Por que continuamos duvidando?

Nós nos esquecemos da Palavra de Deus. Daquilo que ela nos ensina. Das verdades maravilhosas sobre um Deus Todo-Poderoso, que é o nosso pastor. Nosso coração é carregado de ansiedade e preocupação porque não estamos firmados na Palavra e não nos assenhoreamos destas verdades para nossa segurança e paz.

Como vencer a preocupação?

1.     Precisamos resgatar nossa capacidade de crer na Palavra

O que vemos no texto é extraordinário. Jesus poderia simplesmente ter se manifestado a eles e declarado sua identidade, já que eles estavam incapacitados de o reconhecer, entretanto, o que faz Jesus?

E, começando por Moisés, discorrendo por todos os profetas, expunha o que a seu respeito constava em todas as Escrituras” (Lc 24.27). Jesus coloca o olhar e a mente dos discípulos nas verdades reveladas por Deus. Jesus quer levá-los a confiar na veracidade da Palavra, na sua autoridade e suficiência. Jesus usou a Bíblia para levá-los a crer na sua ressurreição.

O texto bíblico é interessante, porque Jesus “discorreu” por todos os profetas. Ele citava textos e mais textos contidos na Bíblia e que falavam de seu ministério. Estimava-se que existam cerca de 600 profecias do Antigo Testamento que se cumprem em Jesus. Além disto, Jesus “expunha-lhes”. Jesus é um expositor da Palavra, assim como devemos ser. O verbo “expor” tem um significado preciso. Literalmente Jesus “dihermenue” o que a seu respeito constava em todas as Escrituras. A raiz desta palavra é “hermenêutica”. Jesus interpretou a Bíblia para seus discípulos. Ele pregou a palavra. A interpretação segura e ungida da palavra gera profundos efeitos no coração do ser humano.

O resultado? “E disseram um ao outro: Porventura, não nos ardia o coração, quando ele, pelo caminho, nos falava, quando nos expunha (dihermeneue), as Escrituras? (Lc 24.32). A Palavra de Deus é que nos sustenta, aquece nosso coração, inflama nossos sonhos, retira de nós a preocupação e inquietação.

Precisamos resgatar nossa fé na autoridade das Escrituras. Reler a Bíblia com cuidado, devoção, atenção. Ela pode nos livrar da ansiedade e preocupação.

2.     Precisamos resgatar a visão do Cristo que caminha conosco

Ao ouvirem Jesus, os discípulos se sentiram renovados, mas ainda assim não conseguiam identificar a presença de Cristo entre eles. Algo os atraia naquele homem, mas eles eram incapazes de discernir que era Jesus caminhando com eles.

Creio que este é o cenário típico do homem moderno, inclusive de muitos cristãos. Será que estamos discernindo a presença invisível de Jesus em nosso meio, procurando nos orientar, colocar nossa visão no lugar certo, nos dirigir?

Uma das perguntas que faço aos líderes potenciais, em treinamento na nossa igreja é: “Você tem aprendido a discernir o Espírito Santo na sua vida?” ou, “não tenho conseguido discernir a direção do Espírito em minha vida?” Muitos honestamente admitem que não conseguem discernir a ação do Espírito em suas vidas.

Os discípulos decidiram pedir àquele homem, para ficar com eles: “Mas eles o constrangeram, dizendo: Fica conosco, porque é tarde, e o dia já declina. E entrou para ficar com eles” (Lc 24.29). O termo “constranger”, é forte. Dá ideia de que Jesus faz menção de prosseguir, mas os discípulos insistem de forma incisiva para que ficassem com eles. Jesus precisa entrar em casa, jantar com eles, não pode seguir adiante. Precisamos de sua companhia.

Além disto, precisamos entender quem tem andado conosco. “ Então, se lhes abriram os olhos, e o reconheceram; mas ele desapareceu da presença deles” (Lc 24.31). Agora os discípulos viram claramente quem andava com eles. Agora o reconheceram. Isto lhes traz grande alegria, e a seguir, Jesus desaparece misteriosamente da presença deles. Mas eles já compreenderam: Jesus de fato está conosco.

Será que temos esta compreensão assim tão clara? Não será que nossa preocupação está diretamente relacionada ao fato de que somos incapazes de perceber que ele anda conosco? Aqueles discípulos desanimados e frustrados, agora, decidem retornar para Jerusalém. Da aldeia deles até Jerusalém, eram 12 kms, mas todos nós somos capazes de imaginar que a volta para a cidade, naquela hora da noite, foi a mais veloz e menos cansativa de todas as viagens que eles já haviam feito para Jerusalém. Nada mais os preocupava. Jesus havia caminhado com eles. Sua presença era real. O que poderia preocupá-los agora?

3.     Precisamos resgatar o significado maior: Jesus ressuscitou!

Os discípulos agora são colocados frente à frente com a grande verdade da ressurreição de Cristo.

A morte não é o fim. A morte não pôde reter o Senhor da vida. Eles não estavam diante da dura realidade da sepultura, mas estavam diante da benção da vida. A ressurreição de Cristo muda radicalmente a perspectiva. Eles precisam contar isto aos demais discípulos, eles são testemunhas da grande verdade que Jesus ressuscitou dentre os mortos. Ao chegarem a Jerusalém, encontram todos os demais discípulos reunidos. O luto é transformado em euforia, o pranto em alegria, uma nova realidade os cerca.

A pergunta de Jesus: “Que é isto que vos preocupa?” agora não faz mais sentido. Que cuidados e ansiedade podemos ter quando nos deparamos com algo tão maravilhoso e profundo? Entender que Jesus ressuscitou dentre os mortos, muda nosso paradigma. Ele está vivo!

Por esta razão, a saudação “Ele ressuscitou, aleluia!”, tornou-se por muitos anos a típica saudação dos discípulos iniciais de Cristo. Esta compreensão enchia o coração deles de coragem, ousadia, desejo de testemunhar o que haviam presenciado.

Conclusão:
A ressurreição possui três desdobramentos:

i.               É a vitória sobre o desespero e o medo;
ii.              É a vitória sobre a morte
iii.            Expressa o governo de Deus sobre a história. Nem mesmo a morte pode reter a Jesus. Ele é Senhor de todas as coisas. Portanto, quer morramos, para o Senhor morremos; quer vivamos, para o Senhor vivemos. Portanto, quer vivamos ou morramos, somos do Senhor.

Que mensagem pode ser mais poderosa para nossa vida, para tirar nossa alma das preocupações da vida, do sofrimento, do luto, que a compreensão do Cristo ressurreto?

Ele ressuscitou, Aleluia!

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