sábado, 14 de novembro de 2020

10. A Igreja como agente de evangelização




 


Se voce quiser assistir esta palestra, digite em:


https://www.youtube.com/watch?v=KfbrcMpM68Q&t=46s

 


Introdução: 

 

 

A Igreja é a única agência  divinamente indicada para a evangelização. ONGs, Lions Club, Rotary Club, maçonarias, podem e realizam obras sociais e procuram minimizar o sofrimento humano com ações de cuidado, boa obra e caridade, mas a única que pode pregar o evangelho é a Igreja. Esta tarefa é exclusiva.

 

Uma das conhecidas palestras ministradas em Lausanne, 1974, foi de Howard Snyder: “A Igreja como agente de Deus na evangelização”, e sua tese central foi: “A igreja é o agente de Deus na evangelização. Falar da tarefa evangelizadora sem relacioná-la com a igreja é perder de vista a perspectiva bíblica e desenvolver uma evangelização incompleta.[1]

 

Seguindo na mesma linha, Melvin Hodges declara:  “A Igreja é o agente de Deus na Terra, o meio através do qual ele se expressa ao mundo. Deus não tem outro agente de redenção na Terra.” 

 

1.     Jesus confiou a obra da evangelização à igreja

 

a.     Uma tarefa aguardada pelos profetas 

 

Foi a respeito desta salvação que os profetas indagaram e inquiriram, os quais profetizaram acerca da graça a vós outros destinada, investigando, atentamente, qual a ocasião ou quais as circunstâncias oportunas, indicadas pelo Espírito de Cristo, que neles estava, ao dar de antemão testemunho sobre os sofrimentos referentes a Cristo e sobre as glórias que os seguiriam. A eles foi revelado que, não para si mesmos, mas para vós outros, ministravam as coisas que, agora, vos foram anunciadas por aqueles que, pelo Espírito Santo enviado do céu, vos pregaram o evangelho, coisas essas que anjos anelam perscrutar.”(1 Pe 1.10-12).

 

Os profetas já entendiam que algo especial seria dado a uma geração que receberia a especial revelação de Deus. Os profetas, investigavam atentamente, qual a ocasião ou quais as circunstâncias oportunas. Eles não sabiam exatamente o que aconteceria, mas tinham um vislumbre de que algo especial deveria acontecer. Os próprios anjos estavam na expectativa deste mistério que finalmente se revelou na encarnação do Filho de Deus. 

 

Nós somos especialmente agraciados com o privilégio de proclamar a Jesus. Deus nos deu o ministério da reconciliação. (2 Co 5.18)

b.     O chamado da igreja para proclamação

 

A Igreja de Cristo é chamada para proclamar. “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz”  (1 Pe 2.9).

 

À Igreja foi revelado os mistérios de Deus, outrora ocultos, e que foram revelados em Cristo, “a saber, que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação.” (2 Co 5.19). Esta tarefa é exclusiva do povo de Deus. Somente à igreja foi dada a tarefa de ser agente de evangelização.

 

c.     A definição da igreja

 

Etmologicamente, a palavra “Igreja” (ekklesía), vem da junção de dois termos. “ek-kalein”, que literalmente é “chamar para fora". É a combinação da preposição ἐκ [ek] ou εξ [ex] com o verbo καλέω [kaléo], sendo que ek ou ex tem o sentido de "para fora" e kaléo o sentido de "eu chamo" ou "eu convoco". o sentido então é duplo. Deus chama e envia. Somos convocados e enviados. Desta forma,  Deus «convoca» o seu povo para uma reunião e um envio ao mesmo tempo, o envia para todos os confins da terra. 

 

d.     A missão da igreja implica no movimento de sair de si mesma. 

 

Todas as vezes que Jesus dá missão ou tarefa aos seus discípulos, ele sempre os desafia para olhar para além de si mesmos. A igreja não existe para auto sustentação e manutenção, por isto a igreja verdadeira tem, na sua natureza e essência, um olhar para o mundo. A tarefa da evangelização está implícita em todo comissionamento. 

 

                                                i.     “Ide por todo mundo” (Mc 16.15)

                                               ii.     toda autoridade me foi dada, portanto, Ide

                                              iii.     ....”E sereis minhas testemunhas”.

 

A igreja não existe para si mesma...A única agência cuja preocupação não é apenas com o cuidado com seus membros, mas existe para alcançar os que se encontram fora dela. “A igreja que deixa de evangelizar é biblicamente infiel e estrategicamente míope"[2]

 

2.     Precisamos de uma melhor definição de igreja

 

Corpo, Noiva de Cristo, rebanho de Deus e templo do Espírito Santo. Tudo isto aponta para uma comunidade carismática. A comunidade do povo de Deus. Todas as definições bíblicas destacam uma relação de amor, viva e indispensável entre Cristo e sua igreja.

 

Esta foi a ênfase dada por Snyder. Para ele, há duas possibilidades de enxergar a igreja. Uma, com uma concepção tradicional; outra, na dimensão bíblica. 

 

1.     Concepções tradicionais

 

a.     A concepção institucional. Identifica a estrutura institucional, visível, como a essência da igreja. Quando a Bíblia fala de igreja, entretanto, não está se referindo a uma instituição ou organização. Quando a igreja se prende à cultura cria problema, especialmente quando há uma mudança cultural em curso. A igreja não consegue se desvencilhar destes conflitos quando não se indiferencia da cultura.

 

b.     A concepção mística. Coloca a igreja muito acima do tempo e do espaço. Para Snyder, apesar de existir uma igreja invisível, esta ideia parece mais com a concepção filosófica das ideias platônicas, e por isto não ajuda muito a compreender a vida e o progresso da igreja na terra e na história. Quando a igreja flutua acima da cultura, ela nunca se deixa envolver pelas dimensões limitadoras do espaço, do tempo e da História.

 

2.     A Igreja segundo a Bíblia. Para Snyder, a Bíblia descreve a Igreja no interior da cultura, lutando para manter sua fidelidade ainda que sendo constantemente manchada pelos óleos corrosivos, ora do paganismo, ora da religiosidade. 

 

a.     A Igreja na perspectiva cosmo-histórica. A Bíblia coloca a Igreja no centro da finalidade cósmica de Deus. (Ef 1.20-23; 3.10 e 6:12). 

 

A ideia chave é reconciliação, do homem com Deus e de todas as coisas “do céu e da terra” (Ef 1.10). Esta reconciliação inclui até mesmo a redenção do universo físico dos efeitos do pecado. O Plano de Deus para a igreja inclui este desafio. “para que, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja agora conhecida dos principados e potestades, nas regiões celestes” (Ef 3.10). Raramente temos uma compreensão assim tão forte e clara da igreja.

 

A Bíblia enfatiza a salvação individual e coletiva, através de Cristo. (Cl 1.3ss), e a redenção do homem é o centro do plano de Deus, mas não a circunferência deste plano, já que possui implicações bem mais profundas. A igreja é o agente terreno da reconciliação cósmica desejada por Deus. Por isto, a missão da igreja é bem maior do que a evangelização. 

 

b.     A Bíblia vê a Igreja mais em termos carismáticos que institucionais. Ela é resultado da graça (charis) de Deus

 

A igreja é salva pela graça (Ef 2.8); e é através do exercício dos dons (charismata) que é edificada. (Ef 4.7-16; 1 Co 12.4-8; 14.1-5; 1 Pe 4.10-11). A igreja é uma comunidade carismática. Por isto o modelo institucional não é bastante para defini-la.  

 

Por causas das mudanças culturais e históricas, “as igrejas enfiadas numa rígida estrutura institucional ou burocrática talvez se encontrem, em breve, presas por formas culturalmente moldadas que se vão tornando rapidamente obsoletas[3]

 

c.     A Bíblia vê a igreja como a comunidade do povo de Deus. Por isto usa as figuras do corpo e noiva de Cristo. Uma comunidade, onde se experimenta a comunhão com Cristo e com os irmãos.  

 

Neste sentido ela tem um chamado para a diversidade cultural e para o acolhimento. Ao contrário de Israel, com forte ênfase no etnocentrismo, na igreja de Cristo vemos a multiplicidade de raças, línguas e povos, como vemos registrado em Atos 13.1: “

 

Havia na igreja de Antioquia profetas e mestres: Barnabé, Simeão, por sobrenome Níger, Lúcio de Cirene, Manaém, colaço de Herodes, o tetrarca, e Saulo.” (At 13.1). Pessoas com diferentes backgrounds, de diversas raças, nível social diferente, experimentam a maravilhosa graça de viver uma vida em comum, unidas pela reconciliação das raças feitas por Jesus. “Dessarte, não pode haver judeu nem grego; nem escravo, nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gl 3.28).

 

Podemos construir este quadro apresentado por Snyder da seguinte forma:

 

PRESENÇA

PROCLAMAÇÃO

PERSUASÃO


 

Diante disto, Snyder avança para a segunda parte da sua palestra, falando de uma evangelização eclesiocêntrica. 

 

“Evangelização eclesiocêntrica é o tipo de evangelização que edifica a igreja, que aflora da vida e do testemunho da comunidade cristã e, como resultado, reproduz esta comunidade num processo ininterrupto[4]”. Para Peter Wagner, “o objetivo da evangelização é a formação da comunidade cristã[5] já que o evangelização só se completa quando se torna autoperpetuadora. 

 

Diante destas afirmações Snyder propõe a evangelização com quatro aspectos:

 

 PRESENÇA

PROCLAMAÇÃO

PERSUASÃO

PROPAGAÇÃO


 

Isto nos leva a consideraR que a evangelização só se torna eficaz quando se estabelece uma igreja indígena, local e autóctone. Plantação de novas igrejas é fundamental. Em todos os lugares em que a evangelização eficazmente acontecia no livro de Atos, vemos o estabelecimento de uma igreja local, com liderança treinada para a continuidade da obra.

 

No primeiro estágio, a evangelização teocêntrica pode ser definida como presença


Mas ela não é suficiente se não vier acompanhada de proclamação. A Evangelização verbalizada da mensagem: “como crerão naquele de quem nada ouviram?” (Rm 10.14). Este é o conceito essencial do kerigma: anunciar com fidelidade a verdade do Evangelho e da obra de Cristo. 


Mas a proclamação precisa ainda de outro elemento: a persuasão. A mensagem apostólica tinha este forte elemento apologético, de arrazoar, persuadir, convencer, levar o evangelizado a uma tomada de posição. 


Tudo isto ainda precisa desembocar na propagação, quando finalmente uma igreja local se estabelece e a mensagem se torna autoperpetuadora. 

 

A evangelização se completa quando o ciclo se fecha, com o estabelecimento de novas congregações, como era a visão de Cristo na Grande Comissão: “Ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a guardar todas as coisas”. (Mt 28-18-20). Depois de se tornarem discípulos, precisavam ser inseridos numa comunidade local através do Batismo, e o processo de discipulado continuava, quando a comunidade, ensinava os novos convertidos a “guardar todas as coisas”.

 

A Evangelização não se completa na conversão, nem quando ocorre o batismo, mas quando um processo continuo de discipulado se dá por meio da ação da comunidade local. A obra missionária se só realiza de forma eficaz, quando uma comunidade cresce em torno de Cristo e de sua palavra. Enfim, quando novas congregações são estabelecidas. “só quando o número de igrejas se multiplica é que cresce a comunidade cristã dentro da população geral em determinada sociedade[6]. A evangelização requer a existência de uma comunidade que testemunha.

 

A Igreja de Cristo, local, visível, histórica, foi colocada estrategicamente para que pudesse anunciar as verdades do Evangelho a uma sociedade, a culturas distintas, a todas as etnias.

 

Philipe Yancey narra uma parábola escrita por J. B.Philips. 

 

“Certo dia, nos céus, Deus estava apreciando e contemplando sua natureza. Até que alguns anjos se aproximaram e perguntaram: “O que o Senhor está fazendo?” E Deus respondeu: “Olhando para o universo e admirando minha criação. Não é linda, harmônica, integrada?” E os anjos concordaram. Outro anjo indagou: “Senhor, mostra-nos para onde tu enviaste teu Filho?” E Deus, gentilmente foi apontando com seus dedos todas as galáxias, sóis, até chegar na Via Láctea e finalmente apontar para um pequeno planeta chamada terra. Os anjos sobressaltados disseram: “Mas é um planeta tão pequeno?” E Deus disse: “Eh, mas ali está o povo que amo!”. 

 

Um anjo mais ousado indagou: “Senhor, o que fez Jesus para que sua obra pudesse ser realizada, depois que ele retornou aos céus?” Deus respondeu: “Ele deixou um povo, para realizar a tarefa!” E os anjos replicaram: “Mas, e se isto povo falhar?” Deus então olhou para eles e disse: “Eu não tenho plano B”.

 

A estratégia de Deus foi sempre usar o seu povo. A tarefa da evangelização poderia ter sido delegada para os anjos, ou Deus poderia comunicar de forma direta. Entretanto, ele decidiu que a tarefa da proclamação deveria ser realizada pelo seu povo, chamado, equipado, vocacionado. 

 

A Igreja é o Método de Deus.

A Igreja é o agente de Deus na obra da evangelização.

 

Esta tarefa é intransferível. Por isto ele diz: “Ide por todo mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura”. 

 



[1] Snyder, Howard – “A Igreja como agente de Deus na evangelização”, in A Missão da Igreja no mundo de hoje, São Paulo, ABU, 1982, p 87

[2] Snyder, op. citado, 1982, pg 95

[3] Snyder, 1982, p 91

[4] Idem, p 93

[5] Wagner, Peter – Frontiers in Missiology Strategy, 1971. P 124

[6] Snyder, idem, pg 96

Nenhum comentário:

Postar um comentário