segunda-feira, 2 de novembro de 2020

8. A Soberania de Deus na Evangelização



 

“A História não é um fluxo de acontecimentos ao acaso.

Deus executou, no devido tempo, o plano que concebeu na eternidade passada

e será consumado na eternidade futura[1]

(Stott)

 

 

Introdução 

 

“O ponto de partida de uma evangelização Reformada não é a igreja nem o perdido mas a soberania e a glória de Deus”[2]

 

A soberania de Deus é uma doutrina central nas Escrituras e na teologia reformada. 

 

As Escrituras nos ensinam que Deus é absolutamente soberano . Todas as coisas estão debaixo do seu absoluto controle. Ele não apenas age e governa o mundo, mas ele é Senhor da história, Rei dos reis e Senhor dos senhores. Ele tem todo poder para fazer o que lhe agrada nos céus e na terra. Nem um fio de cabelo cai sem sua exclusiva autoridade. Todas as áreas, sejam macrocósmicas ou microcósmicas, estão debaixo de sua autoridade. 

 

Se Deus é o Rei de toda criação, então, seu decreto e propósito são irrevogáveis, já que os dons e a vocação de Deus assim o são (Rm 11.29). Nenhum de seus planos pode ser frustrado. Toda criatura é controlada por sua soberana vontade. Afinal: “ Tua é, SENHOR, a magnificência, e o poder, e a honra, e a vitória, e a majestade; porque teu é tudo quanto há nos céus e na terra; teu é, SENHOR, o reino, e tu te exaltaste por cabeça sobre todos ” (1 Crônicas 29:11).

 

Da mesma forma, a obra evangelística e missionária nasce no coração de Deus. Missões é a prioridade de Deus”[3] como bem afirmou Shedd. Deus é o autor e iniciador das missões, e é quem chama, capacita e dá os recursos para a obra. Como diz um ditado inglês: “If is God’s will, He will pay the bill” (Se é vontade de Deus, ele pagará a conta). 

 

Para considerar a soberania de Deus na evangelização, gostaria de focar em quatro pontos:

 

ü  Deus é soberano no seu chamado

ü  Deus é soberano no envio

ü  Deus é soberano nos métodos

ü  Deus é soberano nos resultados

 

Vamos ao primeiro ponto.

 

1.     Deus é soberano no chamado

 

Deus é quem vocaciona e chama aqueles que ele quer para realizar sua obra na história. 

 

A.   Deus chamou Israel para estabelecer seu propósito na raça humana. 

 

O chamado de Israel foi bem claro: 


Ora, disse o Senhor a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei;
 de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção! Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra.”(Gn 12.1-3).

 

Ora, sabemos que Israel se recusou a cumprir a função de abençoar “todas as famílias da terra”. Historicamente Israel decidir criar uma ilha de segurança com 7 milhões de judeus atualmente vivendo em Israel, tendo ao seu redor, 1 bilhão de muçulmanos. Se Israel tivesse levado a sério o seu chamado, de ser “uma nação de sacerdotes”, fazendo a “liturgia” de Deus na história humana a história da humanidade poderia estar num outro patamar.

 

i.               O chamado de Deus não se deu por causa das características especiais de Israel, mas por causa do amor de Deus. 

 

“Não vos teve o Senhor afeição, nem vos escolheu porque fôsseis mais numerosos do que qualquer povo, pois éreis o menor de todos os povos, mas porque o Senhor vos amava e, para guardar o juramento que fizera a vossos pais, o Senhor vos tirou com mão poderosa e vos resgatou da casa da servidão, do poder de Faraó, rei do Egito.”(Dt 7.7-8)

 

O chamado bíblico nunca se deu por causa da competência humana, mas pelos propósitos de Deus. Não há competência maior, nem habilidades superiores. “Irmãos, reparai, pois, na vossa vocação, visto que não foram chamados muitos sábios  segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos de nobre nascimento; pelo contrário, Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios e escolheu as coisas farcas do mundo para envergonhar as fortes” (1 Co 2.26,27). 

 

ii.              O chamado também não foi por causa de sua superioridade espiritual.

 

Quando, pois, o Senhor, teu Deus, os tiver lançado de diante de ti, não digas no teu coração: Por causa da minha justiça é que o Senhor me trouxe a esta terra para a possuir, porque, pela maldade destas gerações, é que o Senhor as lança de diante de ti. Não é por causa da tua justiça, nem pela retitude do teu coração que entras a possuir a sua terra, mas pela maldade destas nações o Senhor, teu Deus, as lança de diante de ti; e para confirmar a palavra que o Senhor, teu Deus, jurou a teus pais, Abraão, Isaque e Jacó.”(Dt 9.4-5)

 

Na verdade, Deus afirma que este povo era de “dura cerviz” (RA) ou “obstinado” (NVI) a tal ponto de Deus afirmar a Moisés que não mais seguiria com o povo, porque havia a grande possibilidade de os consumir pela sua rebeldia (Ex 33.3). A razão do chamado foi o amor de Deus. “Nem vos escolheu porque fôsseis mais numerosos do que qualquer povo, pois éreis o menor de todos os povos, mas porque o Senhor vos amava”. 

 

B.    Deus chama sua igreja pelo seu amor

 

Da mesma forma vemos o chamado de Deus para sua igreja no Novo Testamento. É Deus quem inicia o chamado como o propósito de estabelecer seu projeto na terra. Mais uma vez Deus queria formar uma nação santa, um sacerdócio real, um povo para seu louvor. 

 

i.       Deus chamou a igreja segundo o seu beneplácito

 

Assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade.” (Ef 1.4-5). O termo “beneplácito” significa, o seu bel prazer. Deus fez porque quis fazer, exercendo sua exclusiva autoridade e soberania.

 

O chamado de Deus, portanto, não depende da capacidade humana, mas do querer de Deus. Ele faz as coisas pela sua santa e soberana vontade. 

 

ii.              Deus nos chamou com propósito

 

Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz.” (1 Pe 2.9). 

 

Ao nos chamar, ele tinha em mente um povo para proclamar suas virtudes, anunciar a sua graça que tira o homem das trevas para sua maravilhosa luz. O chamado é para exaltar seu nome, para glorificá-lo. Por esta razão, entendemos que nada do que façamos pode ser um fim em si mesmo. Muitas vezes ouvimos as pessoas dizendo que “a missão da igreja é fazer missão”, mas estritamente falando, a missão da igreja é para dar glorias ao nome de Deus. Evangelizar e fazer missão é uma das formas de glorificá-lo.

 

Portanto, Deus é soberano no seu chamado. Chama, vocaciona, envia quem ele quer, quando ele quer, no tempo dele, para executar o propósito que ele mesmo estabelecer na história. 

 

2.     Deus é soberano ao escolher aqueles a quem envia

 

Deus chama para seu propósito e envia para executar sua obra. Somos enviados ao mundo. 

 

ü  “Ide. Eis que vos envio como cordeiros para o meio dos lobos” (Lc 10.3). 

 

ü  “Ide por todo mundo e pregai o Evangelho a toda criatura.” (Mc 16.15). 

 

ü  “Ide, e fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28.19). 

 

A.   Jesus chama e designa

 

Depois, subiu ao monte e chamou os que ele mesmo quis, e vieram para junto dele.
Então, designou doze para estarem com ele e para os enviar a pregar e a exercer a autoridade de expelir demônios
.” (Mc 3.13-15).

 

Este texto aponta para três direções:

 

i.                   O chamado é ato exclusivo e soberano de Cristo –  Antes de mais nada é um convite baseado em sua livre escolha. Jesus “chamou os que ele mesmo quis”. O critério é dele, e a escolha é dele.

 

ii.                  O chamado é para um projeto de intimidade – “Então, designou doze para estarem com ele.” Antes de dar tarefa e comissionamento, ele os convida para “estarem com ele”. Antes de fazer, vem o ser. Antes da missão, existe a comunhão.

 

iii.                O chamado tinha propósito missionário – “designou doze para estarem com ele e para os enviar a pregar e a exercer a autoridade de expelir demônios.”  Não apenas andar com ele, mas exercerem a função para a qual tinham sido chamados, qualificados e enviados a fazer.

 

B.    Deus é quem escolhe a quem enviar

 

i.       Separai-me, agora, Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado”. (At 13.2). Havia vários pastores e mestres em Antioquia, mas na sua soberania ele escolheu apenas dois. Aquele que não havia sido chamado e os acompanhou, João Marcos, não consegui continuar na obra. 

 

ii.               O envio é fundamental para a realização da obra – “Como pregarão se não forem enviados?” (Rm 10.15)

 

iii.              Paulo fazia questão de afirmar a sua identidade missionária.

§  Paulo, apóstolo de Cristo Jesus, pelo mandato de Deus, nosso Salvador, e de Cristo Jesus, nossa esperança” (1 Tm 1.1)

 

§  Paulo, servo de Deus e apóstolo de Jesus Cristo, para promover a fé que é dos eleitos de Deus e o pleno conhecimento da verdade segundo a piedade” (Tt 1.1)

 

§  Sou grato para com aquele que me fortaleceu, Cristo Jesus, nosso Senhor, que me considerou fiel, designando-me para o ministério” (1 Tm 1.12). 

 

A escolha daqueles que serão enviados, é sempre em Deus. Ele exerce sua soberania na obra evangelística. 

 

C.    Deus é quem capacita os que envia

 

Além do mais, podemos observar nas Escrituras, que Deus chama pessoas que muitas vezes se julgavam incapazes da função, como aconteceu com Moisés, que tinha dificuldade de falar, e Jeremias, que se achava imaturo para a obra. Paulo também reconhecia a graça e a capacitação de Deus para sua vida. 

Sou grato para com aquele que me fortaleceu, Cristo Jesus, nosso Senhor, que me considerou fiel, designando-me para o ministério, a mim, que, noutro tempo, era blasfemo, e perseguidor, e insolente. Mas obtive misericórdia, pois o fiz na ignorância, na incredulidade.”(1 Tm 1.12,13). 

A graça de Deus não apenas perdoa o passado de Paulo, com toda sua arrogância e violência, mas o prepara para ser um vaso nas mãos de Deus e executar a obra que Deus tinha para sua vida.

 

i.      “...porque uma porta grande e oportuna para o trabalho se me abriu” (1 Co 16.9). Deus é quem dá a direção e capacita seus obreiros.

 

ii.              “não que, por nós mesmos, sejamos capazes de pensar alguma coisa, como se partisse de nós; pelo contrário, a nossa suficiência vem de Deus, o qual nos habilitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata, mas o espírito vivifica.” (2 Co 3.5)

 

“A estratégia evangelística de Jesus, em sua natureza, dependia da fidelidade dos discípulos que foram escolhidos para essa gigantesca tarefa. Não importava quão pequeno fosse o grupo inicial, contanto que se reproduzissem e ensinassem outras discípulos a reproduzir também” (Coleman)[4]

 

D.   Deus é quem sustenta e envia

 

Para realizar a obra evangelística, precisamos da graça maravilhosa de Deus em nos sustentar.

 

Podemos falar do sustento em três áreas:

 

i.               Deus dá sustento espiritual – Paulo enfrentou muitas lutas, oposição e perseguição, mas ele foi sustentado com a presença maravilhosa de Deus, até mesmo diante de graves problemas: 

 

Então, ele me disse: A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo.Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte.” (2 Co 12.9-10). 

 

 

ii.              Deus sustenta emocionalmente – Nos momentos mais angustiantes e depressivos de Paulo, a graça de Deus esteve com ele presente. Mesmo quando suas forças pareciam estar no limite.

 

Porque não queremos, irmãos, que ignoreis a natureza da tribulação que nos sobreveio na Ásia, porquanto foi acima das nossas forças, a ponto de desesperarmos até da própria vida. Contudo, já em nós mesmos, tivemos a sentença de morte, para que não confiemos em nós, e sim no Deus que ressuscita os mortos.”(2 Co 1.8-9).

 

iii.            Deus sustenta financeiramente – Ele dá as condições adequadas para o exercício de sua obra missionária. Deus sempre providenciou a Paulo o que era necessário para o exercício de seu ministério.

 

Tanto sei estar humilhado como também ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias, já tenho experiência, tanto de fartura como de fome; assim de abundância como de escassez; tudo posso naquele que me fortalece. Todavia, fizestes bem, associando-vos na minha tribulação. E sabeis também vós, ó filipenses, que, no início do evangelho, quando parti da Macedônia, nenhuma igreja se associou comigo no tocante a dar e receber, senão unicamente vós outros; porque até para Tessalônica mandastes não somente uma vez, mas duas, o bastante para as minhas necessidades.” (Fp 4.12-16). 

 

Quando pensamos no envio e no sustento que Deus dá, vale recordar as palavras de Barrs: “O pai está zelando por nossas vidas pessoalmente, nos dando oportunidades e abrindo portas. O Espírito Santo está trabalhando tanto em nós como naqueles para os quais fomos chamados. Com tais promessas de ajuda, por que achamos que a evangelização é uma carga difícil ou, algumas vezes, até impossível?[5]

3.     Deus é soberano em seus métodos

 

No auge do ministério de Paulo, Deus decidiu enviá-lo para a cadeia. Não parece um tanto anacrônico que Deus decida colocar o seu mais eficiente missionário numa prisão? Talvez Paulo tivesse questionado isto num primeiro momento, mas posteriormente ele começou a fazer uma leitura bem mais profunda em relação à soberania de Deus para sua história. Por isto ele diz: “Paulo, prisioneiro no Senhor” (Ef 4.1). Ele não era vítima dos judeus, nem estava ali pela força de Roma, mas estava naquela condição por uma simples razão. A soberania de Deus. Deus quis que ele fosse para aquele lugar. Ele era prisioneiro de Cristo. 

 

Portanto, ao falarmos dos métodos e estratégias que Deus usa na sua soberana vocação, queria destacar dois pontos que considero importantes:

 

A.   As estratégias de Deus nem sempre estão alinhadas às estratégias humanas.

 

Isto pode ser observado no fato de que, muitas vezes a agenda dos apóstolos estavam numa direção diferente da agenda de Deus. 

 

i.               O Espírito não permitiu que pregassem na Ásia. “E, percorrendo a região frígio-gálata, tendo sido impedidos pelo Espírito Santo de pregar a palavra na Ásia”. (At 16.6).

 

ii.              O Espírito impediu que fossem para Bitinia. “Defrontando Mísia, tentavam ir para Bitínia, mas o Espírito de Jesus não o permitiu.” (At 16.7).

 

iii.            O Espírito de Deus os conduziu a pregar na Macedônia, onde, aparentemente, eles não haviam considerado inicialmente como alvo missionário. “À noite, sobreveio a Paulo uma visão na qual um varão macedônio estava em pé e lhe rogava, dizendo: Passa à Macedônia e ajuda-nos.” (At 16.9).

 

A agenda da igreja nem sempre é a agenda de Deus. É preciso sensibilidade espiritual para discernir a direção que Deus está querendo dar à história. 

 

B.    Nosso alvo evangelístico, nem sempre é o de Deus. 

 

i.               Nosso público-alvo pode não corresponder ao propósito de Deus. 

 

Subi em obediência a uma revelação; e lhes expus o evangelho que prego entre os gentios, mas em particular aos que pareciam de maior influência, para, de algum modo, não correr ou ter corrido em vão.” (Gl 2.2)

 

Paulo e seus colegas tinham uma estratégia bem definida na mente. Pregar estrategicamente aos que pareciam de maior influência para houvesse maior efetividade na missão e impacto comunitário. Depois de algum tempo, contudo, perceberam que estavam completamente equivocados.

 

E, quanto àqueles que pareciam ser de maior influência (quais tenham sido, outrora, não me interessa; Deus não aceita a aparência do homem), esses, digo, que me pareciam ser alguma coisa nada me acrescentara.” (Gl 2.6). 

 

ii.              Deus realiza a sua obra alcançando pessoas inusitadas. 

 

Considere o que aconteceu na pregação do evangelho na cidade de Filipos. Em Atos 16 encontramos registradas três conversões, cada uma delas com background completamente distinto, mas o evangelho chegou ao seus corações. O poder do evangelho tem uma ação multiforme. Ele pode alcançar, de fato, qualquer pessoa, em qualquer circunstância, seja qual for o ambiente, status e condição espiritual. Esta é a beleza do evangelho.

 

O Evangelho é abrangente no seu alcance.  Deus alcança o coração de Lídia, empresária temente a Deus, que era estrangeira na cidade, já que era de Tiatira. Ela era temente a Deus, assim como Cornélio, mas precisava entender o que Cristo havia feito, e que sua salvação não estava na sua religiosidade, mas na obra da cruz. Ela precisava de salvação através de Jesus.

 

O Espírito Santo alcançou o coração de uma jovem escrava e possessa. A graça de Deus a alcança nesta degradante situação espiritual. Que tipo de abusos esta menina sofreu na sua infância e adolescência? Humilhação, exploração sexual, críticas? A verdade é que, forças espirituais agiam na sua vida. Ela era dominada por um espirito de adivinhação. 

 

Esta menina escrava, vivendo em Filipos, cidade mais importante da Macedônia (At 16.12) era respeitada e dava muito lucro aos seus senhores. Havia todo um “comércio” girando em torno dela. E então, o evangelho, poderoso e maravilhoso alcançou o seu coração. 

 

O Evangelho alcança também um carcereiro torturador e durão, do tipo Rambo. 

Era funcionário público que recebia salário de Roma. No meio do desespero e angústia que o leva a cogitar suicídio, a graça de Deus o alcança. Ele é salvo pelo poder do evangelho.

 

Este relatos demonstram que não importa a condição humana, o poder do evangelho pode alcançar as pessoas onde elas se encontram. O Evangelho age independentemente da condição social, moral e financeira.

 

4.     Deus é soberano nos resultados

 

A.   A Semente nem sempre frutifica, mas sempre provoca reações 

 

A parábola do semeador é um bom exemplo disto. Jesus demonstra que nos quatro tipos de solos: pedra, cheio de espinhos, à beira do caminho e o solo bom, apenas em um deles a semente não germinou, porque não lhe foi dado tempo, pois foi retirada, enquanto se semeava. 

 

Apesar de frutificar apenas no solo fértil, a semente estava cumprindo seu propósito e gerando reações em todos os solos. 

 

Em 1998, a Igreja Central de Anápolis, em parceria com a Amide, adotou como projeto missionário o povo Soninkê, que vive espalhado em Guiné e outros países da região, de cultura animista, com influência islâmica. Apesar de todo este tempo termos missionários convivendo com este povo, e pregando o evangelho, nunca houve sequer uma conversão entre eles. Apesar disto, a semente continua sendo, perseverantemente, colocada ali no meio daquele povo.

 

O Hino, “O Semeador” afirma:

 

Sai de manhã o semeador
Todo entregue ao seu labor,
Sopre amena viração,
Reine calma de verão.

Oh! Qual será a colheita além,

Qual a colheita além?

Caia a semente com força ou langor,

Com ousadia ou com medo e tremor,

Hoje ou mais tarde, no porvir,

Certa colheita,

A colheita tem de vir!

 

B.    Evangelização não pode ser medida em termos de resultado, mas em termos de fidelidade à mensagem.

 

Stott afirmou o seguinte no Congresso de Lausanne em 1974: “Evangelização  não deve ser definida em termos de resultados pois não é dessa maneira que se usa a palavra no Novo Testamento. Evangelizar, na acepção bíblica do termo, não significa ganhar conversos (com em geral se pensa, quando usamos a palavra), mas simplesmente anunciar as boas novas, independentemente dos resultados[6].”

 

Portanto, como falamos anteriormente ao definir evangelização, precisamos sempre lembrar que trata-se do anúncio, de forma correta, da centralidade da cruz e da obra de Cristo. Evangelho tem a ver muito mais com a fidelidade e conteúdo do que se prega, do que propriamente com o resultado que ele traz. Resultados são importantes, mas não definem o que significa a pregação. 

 

C.    Apesar da diversidade da colheita e dos resultados, nunca podemos ignorar o poder da semente. 

 

Jesus afirmou: “A terra por si mesma frutifica: primeiro a erva, depois, a espiga, e, por fim, o grão cheio na espiga” (Mc 4.28). A terra recebe generosamente a semente que recebe. Este é o milagre da vida. A semente é a Palavra de Deus e nós somos os semeadores. Tudo começa com uma semente que brota, cresce e depois frutifica, gerando outras sementes. 

 

Enquanto que, na parábola do semeador o foco estava no solo, no coração que recebe à semente do evangelho plantada. Na parábola da semente crescendo, o foco se torna o solo, e na boa terra na qual cai a semente, o evangelho atinge seu propósito numa mente receptiva. Ao semear e espalhar diligentemente o evangelho é necessário confiar nos resultados do espantoso poder de transformação de Deus que reside na mensagem, já que o Evangelho é o poder de Deus para salvação, primeiro do judeu e também do grego (Rm 1.16). 

 

D.   Mesmo não sabendo qual será a colheita, e os resultados da semeadura, precisamos fazer com fidelidade e expectativa de uma abundante colheita.

 

Diante da oposição e do árduo trabalho de semear, as mãos se cansam, e eventualmente podemos nos desanimar, por não vermos os imediatos resultados do trabalho. Isto pode ser frustrante. Imagine o lacrador que decide plantar mas sem expectativa da colheita. Certamente será uma tarefa extremamente árdua e desencorajadora. Preparar o solo, aguardar a chuva, jogar a semente. É necessário crer no poder da semente. 

 

Em 1 Co 9.10, Paulo afirma: “Ou é, seguramente, por nós que ele o diz? Certo que é por nós que está escrito; pois o que lavra cumpre fazê-lo com esperança; o que pisa o trigo faça-o na esperança de receber a parte que lhe é devida.” (1 Co 9.10). É necessário semear com esperança, aguardando o retorno da árdua semeadura. O lavrador que não espera, lança a semente sem fé do que pode acontecer. 

 

Precisamos pregar o evangelho com confiança. Orar para que Deus nos dê uma abundante colheita, para que os frutos sazonados encham os celeiros, para que vidas preciosas sejam alcançadas com a graça de Deus. 

 

Quando Adoniram Judson estava nas masmorras da Birmânia (Atual Mianmar), por pregar o evangelho de Cristo, por ser pregador e estar naquele ambiente tão hostil, os presos zombavam dele e de sua mensagem. Certo dia um dos presos lhe disse: “pregador, o senhor realmente acredita que o que você prega pode ter algum efeito na vida das pessoas que estão ouvindo sua mensagem aqui neste lugar?” E ele respondeu confiantemente: “As expectativas são tão grandes quanto as promessas de Deus”. 

 

“O evangelho não é apenas a verdade, mas também o poder de Deus. A mensagem bíblica é profundamente confrontadora e transformadora, atingindo e transformando o homem em todos os níveis de sua existência, inclusive o cultural[7] (Ronaldo Lidório).

 

 

 

 

 

 

 

 



 

 

 



[1] Stott. John R. W. – O Deus vivo é um Deus missionário, in Perspectivas do movimento cristão mundial. São Paulo. Ed. Vida Nova, 2009, p. 39

[2] Medeiros, Elias -  Evangelização e Ministério Pastoral. São Paulo, Editora Cultura Cristã, 2009, p 16

[3] Shedd, Russel – Missões: a prioridade de Deus. In Perspectivas do movimento cristão mundial. São Paulo. Ed. Vida Nova, 2009, p. 25

 

[4] . Coleman, Robert E. – O Plano do Mestre, in In Perspectivas do movimento cristão mundial. São Paulo. Ed. Vida Nova, 2009, p. 107

 

[5] Barrs, Jerram – A essência da Evangelização, São Paulo, Edit. Cultura Cristã, 2004, p. 22

[6] Stott, John R. W., A Base Bíblica da Evangelização, in A Missão da Igreja no mundo de hoje, Billy Graham 


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