sábado, 5 de dezembro de 2020

Lc 1.34 As surpresas do Natal: "Como será isto?


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Introdução

 

Muitas crianças passam por um período de grande expectativa quando vem o Natal. Isto tudo por causa da espera do presente. Mantendo as tradições, as famílias quando podem presentear, se esforçam para dar aquilo que sabem que seus filhos querem ou esperam. 

 

Foi assim que Maria reagiu quando o anjo Gabriel lhe disse: “Eis que conceberás e dará à luz um filho, a quem chamarás pelo nome de Jesus” (Lc 1.31). Esta seria certamente uma grande noticia para qualquer mulher casada, aguardando a benção da maternidade. Entretanto, Maria é virgem, ela nunca teve  relação sexual com nenhum homem. E ela então responde entre curiosa e incrédula: “Como será isto?” Ela está surpresa com a noticia que acabou de receber.

 

O nascimento de Jesus, Deus/homem, sempre gerou muita especulação e discussão filosófica. Não sem razão, a doutrina da natureza de Cristo foi uma das que gerou mais especulação nas discussões e concílios da igreja cristã, até que, em 325 d.C., no Concílio de Nicéia, a igreja cristã definiu de uma vez por todas, sem deixar qualquer margem para especulações, a compreensão da fé cristã sobre quem é Jesus.

 

Este Concílio foi o primeiro Concílio Ecumênico, do qual participaram 300 bispos de todas as regiões onde em que havia cristãos, e aconteceu do 20 de maio ao 25 de julho de 325. Ali estava Ário, um padre que negava a divindade de Jesus Cristo. No final o Concílio afirmou de forma clássica: “Jesus é da substância do Pai, Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado e não criado, homoousios tou Patrou (consubstancial ao Pai)". Apenas dois bispos não quiseram assinar este Credo chamado de Niceno. 

 

A pergunta de Maria “Como será isto?” é muito relevante para entendermos o nascimento de Jesus. Estamos chegando na época de Natal, e é importante analisarmos a o nascimento de Cristo e seu maravilhoso significado. Que surpresas podemos encontrar no Natal?

 

O nascimento de Cristo é, na sua natureza, surpreendente.

 

Primeiro, causa surpresa por ser absolutamente não convencional. É exatamente esta a razão de Maria perguntar: “Como será isto, pois não tenho relação com homem algum” (Lc 1.34). 

 

Maria entendia o funcionamento do corpo da mulher, e como as coisas funcionavam. Não havia ainda inseminação artificial, nem bebê de proveta, nem indução de ovulação, fertilização in vitro, injeção intracitoplasmática de espermatozoides nem se falava em doação de óvulos ou esperma e barriga de aluguel. O método natural e simples, conhecido até então era o encontro de um homem com uma mulher, a junção do espermatozoide com um óvulo.

 

A pergunta de Maria faz todo sentido. O nascimento de uma criança na sua barriga, sem o encontro com um homem, não seria exequível. 

 

“Como será isto?” O processo não é natural, mas surpreendente. Deus decidiu assumir a corporeidade nascendo de uma virgem. 

 

O profeta Isaias já havia anunciado, 600 anos atrás: 

“Portanto o mesmo Senhor vos dará um sinal: Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, e chamará o seu nome Emanuel.” (ACF. Is 7.14). Trata-se de algo tão inusitado que o profeta anuncia seu nascimento sobrenatural. “A virgem conceberá.” 

 

O nascimento de Cristo surpreende, porque segue um curso que contraria o normal, o comum, o ordinário. Deus decide assumir a forma humana, enviando o Espírito Santo para engravidar Maria. Logo após o anúncio, ela procura Isabel, sua prima, e faz uma visita à sua casa que ficava nas regiões montanhosas da Judeia, e ali passa três meses (Lc 1.56). Por que fez esta viagem e porque demorou tanto tempo? Certamente para evitar as maledicências de pessoas que não acreditavam realmente na narrativa de Maria de que Deus a havia engravidado. Nem mesmo José acreditou e só aceitou Maria posteriormente ao ser convencido por um anjo a recebe-la como sua mulher.

 

Será que os pais de Maria entenderam? 

Como você reagiria se sua filha, crente, piedosa, menina de oração, comprometida com a igreja, te procurasse um dia para dizer: “Mamãe eu estou grávida do Espírito Santo”. Você acreditaria?

 

Segundo, o nascimento de Jesus causa surpresa no inferno.

 

Comentaristas concordam que tudo leva a crer que havia certo “burburinho” nas esferas espirituais sobre algo extraordinário que estava para acontecer. Havia certo mistério e expectativa de que Deus estava preparando algo. O apóstolo Pedro declara:

 

“Foi a respeito desta salvação que os profetas indagaram e inquiriram, os quais profetizaram acerca da graça a vós outros destinada, investigando, atentamente, qual a ocasião ou quais as circunstâncias oportunas, indicadas pelo Espírito de Cristo, que neles estava, ao dar de antemão testemunho sobre os sofrimentos referentes a Cristo e sobre as glórias que os seguiriam. A eles foi revelado que, não para si mesmos, mas para vós outros, ministravam as coisas que, agora, vos foram anunciadas por aqueles que, pelo Espírito Santo enviado do céu, vos pregaram o evangelho, coisas essas que anjos anelam perscrutar.” (1 Pe 1.10-12).

 

Preste atenção nas frases: “investigando atentamente”,  e “, coisas essas que anjos anelam perscrutar”Uma versão inglesa captou bem este sentido ao traduzir este texto da seguinte forma: “Os profetas tentaram descobrir quando estas coisas aconteceriam e como seriam quando acontecessem. (...) mesmo os anjos queriam muito saber acerca destas coisas.”(Bible in worldwide English NT)

 

Elas apontam para o fato de que havia certo “frisson” no mundo espiritual. Os profetas ansiavam descobrir os mistérios de Deus. Os anjos queriam conhecer estes mistérios. Satanás percebe que algo grandioso está surgindo, mas a vinda de Cristo o surpreende completamente.

 

Talvez seja esta a ideia de Paulo quando se refere, muitas vezes ao “mistério de Deus oculto em Cristo” (Col 1.26). Paulo faz uma longa explanação sobre este mistério em Efésios 3:

 

“Por esta causa eu, Paulo, sou o prisioneiro de Cristo Jesus, por amor de vós, gentios, se é que tendes ouvido a respeito da dispensação da graça de Deus a mim confiada para vós outros; pois, segundo uma revelação, me foi dado conhecer o mistério, conforme escrevi há pouco, resumidamente; pelo que, quando ledes, podeis compreender o meu discernimento do mistério de Cristo, o qual, em outras gerações, não foi dado a conhecer aos filhos dos homens, como, agora, foi revelado aos seus santos apóstolos e profetas, no Espírito, a saber, que os gentios são co-herdeiros, membros do mesmo corpo e co-participantes da promessa em Cristo Jesus por meio do evangelho” (Ef 3.1-5).

 

Paulo afirma que ele conheceu este mistério por meio de uma revelação. Provavelmente se referindo à sua conversão na estrada de Damasco. O termo mistério se refere ao plano referido pelos profetas no Antigo Testamento e revelado aos apóstolos de Jesus por meio do Espírito Santo. Paulo parece colocar num mesmo parágrafo o mistério que estava relacionado à revelação de Cristo, o alcance dos gentios e o plano de Deus acerca do futuro. Todo este “plano”do AT seria cumprido pelo Messias e isto nunca foi mistério. O choque e a surpresa foi que esse messias era Jesus, a segunda pessoa da Trindade, O Deus encarnado, que assume forma humana, tornando-se verdadeiramente homem. 

 

Enquanto os profetas indagavam e inquiriam, e os anjos buscavam entender o mistério, o plano de Deus se tornou realidade em Cristo. O reino das trevas jamais poderia supor que Deus viesse e se tornasse humano. Os endemoninhados gadarenos, assim disseram ao se encontrar com Cristo: 

 

Tendo ele chegado à outra margem, à terra dos gadarenos, vieram-lhe ao encontro dois endemoninhados, saindo dentre os sepulcros, e a tal ponto furiosos, que ninguém podia passar por aquele caminho. E eis que gritaram: Que temos nós contigo, ó Filho de Deus! Vieste aqui atormentar-nos antes do tempo?” (Mt 8.28,29). Temos aqui uma inusitada situação. Os demônios sabiam desde sempre que um dia viria o juízo e eles seriam lançados para o lago de fogo e enxofre, mas não sabiam que o dia do juízo se anteciparia na história, vindo Jesus e se manifestando “antes do tempo”.

 

O inferno foi totalmente surpreendido... O nascimento de Cristo, surpreende o reino das trevas. 

Terceiro, o nascimento de Cristo traz surpresa aos religiosos. 

 

Em 1 Jo 3.8 lemos: “Para isto se manifestou o Filho de Deus, para destruir as obras do diabo”. O verbo “manifestar”, revela uma aparição fora da normalidade, que traz em si um elemento de surpresa. Jesus surge no meio da história e destrói os poderes e a força implacável do diabo. Num texto anterior de João, lemos: “Sabeis também que ele se manifestou para tirar os pecados” (1 Jo 3.5). Mais uma vez vemos o mesmo verbo “manifestar”. Desta vez para declarar que Jesus veio para “tirar os pecados”. 

 

Isto é importante, porque o nosso estado moral revela nossa incapacidade de nos defendermos diante de Deus. Nós pecamos, e por isto, somos condenados justamente por transgredirmos as leis e os princípios de Deus. Quando Paulo entendeu isto ele gritou desesperadamente: “Miserável homem que sou, quem me livrará o corpo desta morte!”(Rm 7.24). 

 

A religiosidade humana, porém, não entende o que Cristo veio fazer, porque não deixa espaço para que o homem perceba sua incapacidade espiritual de se justificar diante de Deus. Se os céus são conquistados por mérito ou por prática religiosa, rituais e sacramentos, então, porque precisamos da obra de Cristo? 

 

A vinda do Messias nos surpreende. Ele veio para nos libertar da condenação e do julgamento a que estávamos sujeitos. Paulo afirma que antes da obra de Cristo ser aplicada à nossa vida, “...éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais”(Ef 2.3). Nossas boas obras não são suficientes. Nossa religiosidade não é o bastante. Jesus “se manifestou para tirar os pecados”. Esta era sua missão. 

 

A surpresa do Natal é que a missão de Cristo inclui esta grande noticia: “Eis que vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo o Senhor”. Esta é a grande notícia. Nasceu o salvador. Não somos capazes de um auto resgate. A espiritualidade humana é falha, a moral é decadente. Jesus veio para ser nosso salvador. 

 

A noticia da obra da salvação que Jesus veio realizar, desmascara os esforços humanos. Não somos capazes de nos salvarmos, precisamos de Jesus. As religiões do mundo inteiro estão colocando o homem no centro. Elas sempre falam que nossa moral nos salva, a bondade nos justifica, as boas obras nos qualificam. Que se fizermos tudo corretamente, seremos salvos, porque fizemos. A obra de Cristo vem para nos dizer: Precisamos de um salvador. 

 

Conclusão 

Maria ficou boquiaberta com a noticia recebida. Que surpresa era esta. “Como será isto?”

 

O Natal nos surpreende.

D. Maria Helena Zayek faleceu em Novembro de 2020. Ela foi uma mulher fenomenal. Quando jovem, se tornou membro de nossa comunidade, na organização de nossa igreja, ao lado de sua irmã Geni Campos, e nunca se afastou da comunhão de nossa igreja. D. Geni ainda está conosco, saudável, alegre, sempre exalando um dinamismo e uma alegria contagiante. Como pastor, sempre me encanto com testemunhos como os destas irmãs. Constância, zelo, fidelidade. Afinal, a nossa igreja já celebrou seu 67o aniversário de organização. Quanto tempo, criatividade, energia, cuidado, recursos financeiros, amor, estas irmãs dedicaram à nossa igreja? 

 

D. Maria Helena foi uma das que experimentaram de forma maravilhosa a surpreendente graça do Natal. Aos 60 anos, servindo fielmente a Deus, recebeu o diagnóstico de um câncer, com metástase. O médico disse que ela deveria voltar para casa e não havia nada a fazer, e que sua expectativa de vida era de três meses. Ela foi para casa, foi curada. A vida continuou de forma surpreendente. Aos 70 anos, um novo câncer. Muitos afirmam que a recidiva, o retorno de um câncer, pode ser ainda mais agressivo. Ela superou mais uma etapa, e viveu conosco até que, já idosa, perdeu seu esposo, e então, triste pelo luto, foi entregando os pontos e logo em seguida também morreria. 

 

A obra de Cristo, o poder de Cristo, a vida de Cristo, lhe deu tantas vitórias. Grandes surpresas. É assim que vivemos em Cristo. Surpreendidos pela sua graça, pelo seu perdão, pela salvação. 

 

Estamos no mês de Natal. 

Qual será a surpresa do Natal para cada um de nós neste ano?

Que surpresas podemos ter e receber de Jesus? 

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