Texto Bíblico:
“Caminhando junto ao mar da Galileia, viu dois irmãos, Simão, chamado Pedro, e André, que lançavam as redes ao mar, porque eram pescadores. E disse-lhes: Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens. Então, eles deixaram imediatamente as redes e o seguiram.
Passando adiante, viu outros dois irmãos, Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, que estavam no barco em companhia de seu pai, consertando as redes; e chamou-os. Então, eles, no mesmo instante, deixando o barco e seu pai, o seguiram.” (Mt 4.18-22)
Introdução
Um dos grandes sermões de Peter Marshal, conhecido pastor presbiteriano e capelão do Senado americano na época da II Guerra Mundial, é sobre o chamado de Cristo aos seus discípulos. De forma vívida ele imagina Jesus andando na Quinta Avenida em Nova York chamando seus discípulos para segui-lo. Ele encontra um vendedor ambulante e o chama, ele fecha imediatamente seu negócio, deixa seu comércio e segue a Cristo. Adiante ele encontra um homem vestido de terno, um bem sucedido advogado, e o chama. O advogado, sem levantar perguntas, segue a Jesus. Adiante ele encontra um empresário e o convida, e ele deixa sua empresa e o segue.
Não é mais ou menos assim que observamos neste texto que lemos?
Jesus vê Pedro e André, dois irmãos pescadores e lhes diz: “Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens”, e eles, sem duvidarem, deixam imediatamente as redes e o seguem. Logo adiante, vê dois outros irmãos, Tiago e João e os chama, e eles, igualmente magnetizados pelo chamado de Cristo, deixam o barco de seu pai e o seguem.
Ainda neste mesmo evangelho, de forma sintética, há um relato curto, minúsculo e direto relato sobre o chamado de Mateus, o autor deste Evangelho, que é um fiscal do Império Romano. “Partindo Jesus dali, viu um homem chamado Mateus sentado na coletoria e disse-lhe: Segue-me! Ele se levantou e o seguiu.” (Mt 9.9). Este é um dos chamados mais impressionantes da Bíblia, marcante pela resposta imediata de Mateus, importante coletor de imposto na hierarquia de emprego público.
O texto de Mt 4.18-22 é marcante também pelo aspecto direto e a forma objetiva como tudo acontece. Este apelo é registrado pelos três evangelhos sinóticos, Mateus, Marcos e Lucas o registram. e por isto podemos avaliar sua importância.
O que há de interessante em todos estes chamados é aqueles ouvem não estabelecem nenhuma condição para o chamado – Eles ouvem e seguem. Simples assim. O chamado é imediato, para agora, e aquele que é chamado precisa vir do jeito que está. Não há negociação de prazo, nem se estabelece condições. A rendição precisa ser completa. Jesus busca seguidores, e não parceiros para fazer acordos. Não permite que a condição financeira e status se interponham. O chamado de Mateus, exigia uma renúncia ao status e posição, enquanto que o chamado de Simão, André, Tiago e João, exigia disposição e renúncia, e eles deixam tudo o seguem.
Nenhum deles condiciona sua agenda para segui-lo. Jesus não estabelece tempo. O chamado era imediato. Todos renunciam as bases de sua segurança: Tinham trabalho, profissão, estabilidade, mas agora uma nova agenda se interpõe e eles entendem o chamado e seguem Jesus sem estabelecer condições.
Sem dúvida o chamado de Cristo é irresistível para estes homens. Ao contrário do que vemos muitas vezes. Pessoas estabelecendo condições, vendo as vantagens de seguir a Cristo, querendo um discipulado barato de uma graça barata. Infelizmente os atuais discípulos de Cristo ainda não entenderam que ele é Senhor. Ele dá o comando. Afinal, se sua fé não custa nada, ela não vale nada.
O que há de tão especial em Cristo que fascina e atrai estes homens? O que há de tão magnetizante e irresistível nestes chamados?
Este texto nos mostra porque este chamado é irresistível.
1. Ele é irresistível por causa de quem chama. “Caminhando junto ao mar da Galileia, viu dois irmãos.” Jesus é quem vê. Jesus é quem chama.
A personalidade atraente de Jesus leva aqueles homens a entender que nada na vida é mais importante que seguir a Jesus. É Ele quem chama!
Não é um chamado qualquer... é um chamado de alguém especial. É o chamado de Cristo. O autor da Carta aos Hebreus afirma: “Por esta razão, importa que nos apeguemos com mais firmeza, às verdades ouvidas, para que delas jamais nos desviemos (...) Como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação? A qual tendo sido anunciada inicialmente pelo Senhor, foi-nos depois confirmada pelos que a ouviram” (Hb 2.1,3). Seu chamado é uma convocação inflexível e salvadora. Jesus chama o pecador das trevas para a sua maravilhosa luz. Ninguém, por si mesmo, é capaz de mudar sua situação e se tornar disposto a compreender, a arrepender-se, a querer crer, a escolher Deus, a não ser que o Espírito Santo nos convoque para perto de Cristo. A corrupção do coração humano é muito profunda e também espiritualmente sistêmica. Não podemos mudar nossa condição, nem nossos amores, por isto o chamado de Cristo para segui-lo é algo tão imperativo e necessário e desafia aqueles que o ouvem de forma tão intensa.
Quando Jesus chama, seu chamado muda o foco de nossa atenção. Afinal, é Cristo quem está chamando.
2. É irresistível por causa da proposta. ”Vinde após mim e eu vos farei pescadores de homens.” (Mt 4.19)
Jesus chama seus discípulos para uma vocação superior. Antes eles tinham uma única preocupação: a sobrevivência financeira e seus negócios pessoais. Eles pensavam no lucro que poderiam ter, se poderiam pagar as contas, reformar seus barcos, mas agora, o foco de suas vidas estava relacionado não a coisas, mas a pessoas. Eles foram chamados para mudar a história. Deixar de ser pescadores comuns para se transformarem em pescadores de homens.
Quem faz algo por vocação muda completamente a razão de fazer as coisas.
Considerações como lucro ou prazer ficam fora ou só entram como elementos subordinados, que por si não determinam decisões nem fundamentam avaliações.
Curiosamente, eles continuaram exercendo suas profissões, que eram agora apenas um meio de subsistência que Deus lhes proveria, por meio de seu currículo e competência, mas havia algo maior. Jesus lhes empresta um sentido e significado superior ao que faziam.
Trata-se de um senso de propósito, a razão pela qual algo existe. Não é a tarefa em si, mas sim o entendimento de como essa tarefa se encaixa em um contexto maior, de um valor maior. Victor Frankl afirma que este senso de valor é o que dá sentido à existência humana.
No século XI, o rei Henrique III da Baviera se cansou da vida na corte e as pressões de ser um monarca. Ele então foi até Richard Prior em um mosteiro local, pedindo para ser aceito como um monge contemplativo e passar o resto de sua vida no mosteiro. "Sua Majestade", disse Richard Prior, "você entende que o compromisso aqui é de obediência? O que vai ser difícil porque você é um rei”.
"Eu entendo", disse Henry. "O resto da minha vida eu vou ser obediente a você"
"Então eu vou lhe dizer o que fazer", disse Richard Prior. "Volte para o seu trono e sirva fielmente no lugar onde Deus o colocou" Quando o Rei Henry morreu, um comunicado foi escrito: "O rei aprendeu a governar por ser obediente”.
3. É irresistível porque altera substancialmente suas vidas. Pedro e André estavam lançando suas redes ao mar quando foram chamados. Tiago e João estavam consertando suas redes ao serem chamados. Mateus estava trabalhando na coletoria quando foi chamado.
Todos estavam ocupados. Mas agora algo o chamado transformador e revolucionário os faz transcender à própria profissão. Suas vidas nunca mais seriam as mesmas. O chamado de Cristo muda a forma de fazer as coisas, dá uma nova agenda às suas vidas. O chamado de Cristo lhes dá nova direção.
Paul Washer afirma:
“Evite atividades triviais. Você é um filho de Deus, destinado à glória, e chamado para fazer grandes coisas em Seu Nome. Não desperdice sua vida Empregue o tempo de sua juventude no desenvolvimento do caráter e habilidades necessárias para ser um servo de Deus útil.”
4. É irresistível pela sua urgência.
“E eles deixaram imediatamente as redes e o seguiram” (Mt 4.20)
“Então, eles, no mesmo instante, deixando o barco e seu pai, o seguiram” (Mt 4.22)
“Ele se levantou e o seguiu”(Mt 9.9)
No chamado destes discípulos, vemos a ênfase na importância de não demorar. Todos eles atenderam imediatamente o chamado de Cristo.
No chamado de Pedro, André, Tiago, João e Mateus não disseram: “Senhor, esta não é a hora de segui-lo, temos outros compromissos e desafios. Poderemos no ano que vem”. Não, o chamado tinha um senso de urgência. Não era possível procrastinar, deixar para amanhã o que deve ser feito hoje. É o gordo que deseja fazer regime, desde que comece amanhã. A velha mania de deixar tudo para depois, de adiar compromissos que precisam ser realizados hoje.
Por não tomarmos uma decisão, vivemos sob aquele lema que alguém proferiu: “ontem dissemos que tomaríamos uma posição que mudaria a vida no amanhã”.
Martinho Lutero conta uma elucidativa história a este respeito:
Certo dia, nas profundezas dos infernos, houve uma grande reunião para a qual, Satanás convocou todos os seus demônios para participar. Reunidos, ele mostrou sua preocupação com o progresso da fé entre os homens e pediu sugestões aos chefes de suas hostes.
Um deu a opinião de que era preciso desencadear o ateísmo e desmoralizar a crença em Deus. O príncipe das trevas trovejou furioso: “Não vês que não dá resultado? Isso é uma crença já por demais arraigada na mente do homem, não serve”. O outro sugeriu: “O melhor é desmoralizar as transgressões e insinuar aos homens que não existe essa coisa chamada pecado, tudo é lícito, assim o homem se perderá mais cedo do que se espera”. Satanás replicou furioso: “Também não serve, os homens tem experimentado os efeitos da bebida, da luxúria, do crime e tem se dado muito mal, já estão ficando escaldados, enquanto isso, espalha-se pelo mundo a legião de pregadores da salvação, isto também não serve”.
Levantou-se um diabo novo, tecnocrata, bom gestor, burocrata e planejador reconhecido e deu uma sugestão: “O melhor que faríamos não é nada disso. Deixe-se a crença em Deus e os percalços que os pregadores levantam contra o pecado. Vamos dizer ao homem que tudo isto é muito certo, mas que não se apressem, não precisam correr para a salvação. A demora é uma arma. Tudo a longo prazo! “
Estrugiu pelas abóbadas das profundezas infernais um estrondo de aplausos pela genial ideia da demora em retornar a Deus.
Aí está o perigo: O estágio, a demora, a tardança. Daí a insistência do profeta: “Buscai o Senhor enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto. Deixe o perverso o seu caminho, o iniquo os seus pensamentos; converta-se ao Senhor, que se compadecerá dele, e volte-se para o Senhor, porque é rico em perdoar.” (Is 55.607) Não se pode adiar aquilo que é urgente. Os gregos diziam que a oportunidade é um cara cabeludo na frente e careca atrás. Se você não pegar na sua cabeleira quando passa, você jamais o pegará depois.
O convite de Jesus, não pode ser adiado. Não podemos postergar nossa rendição. É urgente que nos rendamos a ele, sem reservas. Uma vez aconselhei uma pessoa toda quebrada e lhe disse: “Deixe Cristo conduzir sua história, já deu prá perceber que você não é bom em escrever roteiros”. Precisamos nos entregar, nos render.
Os discípulos ao ouvirem o chamado de Jesus, magnetizados pela sua autoridade, imediatamente se entregaram, largaram tudo e o seguiram. E você? Já tomou a decisão de seguir a Jesus, imediatamente e sem reservas?
Conclusão
Como discernir este “chamado” de Deus em minha vida?
Muitas pessoas afirmam: “Ah, eu nunca ouvi a voz de Cristo! Ele nunca falou comigo”.
Gosto muito de uma ideia de Bill Hybels que ele chama de “sussurros de Deus”. Para ele este é um elemento interno e profundo que faz toda diferença na nossa história. Podemos perceber isto na vida de muitas pessoas que começam a ser atraídas a Jesus. Muitos estavam vivendo vida distanciada de Deus, seguindo a vontade da carne e dos pensamentos, e de repente, um novo impulso, doce, profundo, forte, começa a impulsionar seu estilo de vida. Seu estilo de vida pecaminoso, licencioso, relativista, começa a cansar, não faz mais sentido. O pecado tem a capacidade de esvaziar nossa alma, negócios escusos podem nos destruir emocionalmente. Lembro-me de um pensamento alemão que diz: “Que sentido tem corrermos, quando estamos no sentido errado”?
Nestas horas, as coisas de Deus começam a fazer sentido.
É o chamado de Deus para nossas vidas.
Me lembro de uma poderosa frase do evangelista D. L. Moody: “Entregue sua vida a Cristo, ele poderá fazer mais com ela que você!”
Jim Elliot ainda afirma: “Não é tolo aquele que abre mão do que não pode reter para ganhar o que não pode perder. Sábio é aquele que abdica daquilo que não pode manter com o objetivo de ganhar o que não pode perder (a fé em Cristo Jesus). Não é tolice dar aquilo que não se consegue manter para ganhar o que não se pode perder."
Hoje, se você ouvir o chamado de Jesus, não endureça o seu coração. Venha! Esta é a hora. Este é o tempo. Amanhã pode ser muito tarde. Hoje é tempo de salvação, não deixe para depois, porque você não sabe se haverá depois na sua história. Não deixe para amanhã, já que não é possível saber como será o amanhã. A Bíblia é enfática: “Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais o vosso coração”. O chamado de Cristo é urgente, exige uma resposta, você precisa atendê-la.
“Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens...”
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