sábado, 19 de março de 2022

Fp 2.5-11 A humilhação e a glorificação de Cristo

 


 

 

Introdução

 

Este texto de Filipenses é um dos mais importantes para entendermos a natureza de Cristo e sua missão. Quem era Jesus, o que ele faz. Qual sua missão aqui na terra.

 

A obra de Cristo é descrita neste texto com duas vertentes:

 

ü  Sua humilhação

ü  Sua Glorificação

 

Nenhuma deve ser omitida ou esquecida. Nenhuma é mais importante que outra. Ambas são importantes. E ambas precisam andar juntas.

 

Se falarmos da glória de Cristo sem sua humanidade, perdemos uma das dimensões centrais da mensagem Cristo. Falar de sua humanidade sem considerar sua glória é perder a dimensão dos céus.

 

O Apóstolo Paulo começa falando da humilhação de Cristo, e depois, numa direção ascendente, aponta para a suprema e grandiosa glória que está presente em Jesus. Vamos, portanto, seguindo a narrativa do texto, falar inicialmente da humilhação de Cristo.

 

A Humilhação de Cristo

 

Um dos aspectos centrais da vida de Cristo é sua humanidade. Para quem é Deus, isto se torna desafiador.

 

O ato de Deus tornar-se humano sempre foi um problema para a humanidade.

 

A.   O homem tende a compartimentalizar o céu e a terra. Pode acreditar em ambos mas encontra dificuldade em perceber Deus se movendo na história. O homem é mais tendente a crer que Deus está nos céus, distante, frio, e não um Deus que interage do céu com a terra.

 

B.    O escândalo para o pensamento platônico – A falsa concepção de que há uma superioridade do espírito sobre o carne. Para Platão, o ideal humano é a libertação do corpo. A encarnação de Cristo é o oposto deste pensamento, porque celebra tanto a realidade do homem em sua relação com Deus quanto do homem em relação à sua humanidade.

 

Por causa da influência platônica, o gnosticismo exerceu enorme peso no pensamento cristão, transformando o corpo em um bode expiatório, quando na verdade os pecados são de natureza mais mentais que corporais, tem a ver com a mente, vontade e emoções. Corpo apenas sofre a ação dos desejos pecaminosos e impulsos mal orientados.

 

A mortificação do corpo (autoflagelação, mortificação, negação e privação), sempre ocorre por causa do desejo de controlar externamente e com atitudes legalistas o impulso que não é corpóreo, mas procede da mente. O corpo não é o problema.

 

C.    Nem sempre a cristandade lidou bem com o corpo. A teologia bíblica sim. Deus não tem problema com a corporeidade. João anuncia no início do evangelho que “no princípio era o verbo e o verbo estava com Deus... e o verbo se tornou carne e habitou entre nós” (Jo 1.1,14)

 

A teologia bíblica sofre um grande risco quando rejeitamos ou minimizamos o Cristo encarnado. Rejeitar a corporeidade de Cristo traz graves implicações para a teologia, eclesiologia e a pastoral da igreja. O Evangelho é para todo homem e para o homem todo. A mensagem de Cristo não se dirige para seres incorpóreos.

 

Uma heresia cristológica chamada Docetismo, defendia que Jesus era um mensageiro dos céus e que seu corpo era "carnal" apenas na aparência e sua crucificação teria sido uma ilusão. Isto porque eles não admitiam que o Deus Todo Poderoso pudesse se rebaixar tanto e se tornar humano.

 

A deliberada humilhação de Cristo

 

Este texto nos fala da ação de Deus assumindo a natureza humana.

 

2.1 O auto esvaziamento de Cristo (Fp 2.7). Ele assumiu o corpo não por imposição, mas por atitude deliberada. Por isto o texto afirma que “ele se esvaziou.” (vs.7); e ele “se humilhou”(vs.8). Jesus voluntariamente se esvazia da glória que ele possui, ele que é a imagem do Deus invisível, o primogênito de todas as coisas, simplesmente assume de forma intencional a condição humana.

 

2.2 A condição de Cristo – “Assumindo forma de servo” (2.7) Ele não desceu dos céus para viver glorificado aqui na terra, pelo contrário, ele se humilhou. “O Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir”.

 

Na narrativa na qual Jesus lava os pés dos discípulos, o texto começa assim em Jo 13.8: Sabendo este que o Pai tudo confiara às suas mãos, e que ele viera de Deus, e voltava para Deus.” (Jo 13.3). Sabendo” (ele nunca perdeu a consciência de quem era, não sofreu amnésia nem perdeu sua consciência ou identidade). Diferente de muitos crentes que sofrem crise de identidade, esquecem que são filhos da luz e vivem como filhos das trevas. Esquecem que são filhos amados e vivem como órfãos. Jesus, pelo contrário, não teve amnésia. Pelo contrário, mesmo “sabendo”, estando absolutamente consciente de sua natureza, “levantou-se da ceia, tirou a vestimenta de cima e tomando uma toalha, cingiu-se com ela, e depois, deitou agua na bacia e passou a lavar os pés aos discípulos.”

 

Jesus deliberadamente assumiu “forma de servo”. Andou como servo, viveu como servo, comportou-se com servo, falou como servo.

 

2.3 A plena humanidade de Cristo – “Tornando-se em semelhança de homem e, reconhecido em figura humana” (Fp 2.7)

 

O profeta Isaias assim se refere a Cristo no seu texto messiânico: “Era desprezado e o mais rejeitado entre os homens; homem de dores e que sabe o que é padecer; e, como um de quem os homens escondem o rosto, era desprezado, e dele não fizemos caso.” (Is 53.3). Fisicamente nada havia de especial. Era tão comum que os quando os soldados foram prendê-lo, Judas deu uma senha para que reconhecessem a Jesus. “Aquele a quem eu beijar.” Jesus não era incorpóreo.

 

Sua humanidade foi tão plena que surge certo desconforto e surpresa na família quando Jesus começa o seu ministério. As pessoas também se surpreendem. “E, chegando à sua terra, ensinava-os na sinagoga, de tal sorte que se maravilhavam e diziam: Donde lhe vêm esta sabedoria e estes poderes miraculosos? Não é este o filho do carpinteiro? Não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos, Tiago, José, Simão e Judas? Não vivem entre nós todas as suas irmãs? Donde lhe vem, pois, tudo isto?” (Mt 13.54-56)

 

2.4 A plena obediência de Cristo -  “...a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz.” (Fp 2.8)

 

Se ele era Deus a quem ele devia obediência? Ele obedece ao Pai. O plano de Deus envolvia seu sacrifício. Ele veio para morrer, foi destinado à morte, e se submeteu ao Pai em humildade. Temos aqui então um enigma: “Deus obedece a Deus?” Isto mesmo. O Deus Filho se submete ao Deus Pai. Algo semelhante acontecerá na cruz, quando o Deus Filho é “desamparado” pelo Deus Pai. Este é o mistério da relação da Santíssima Trindade, e ao mesmo tempo, da pessoa teantrópica de Cristo (humano/divina).

 

Ele foi obediente até a morte, e não se trata de qualquer morte: “E morte de cruz”.

 

Por que a morte de cruz?

 

É interessante considerar que os judeus não tinham execução com a cruz, mas apedrejamento. O uso da cruz era romano. Por que então Jesus vai para a cruz? Para cumprir o texto de Deuteronômio que diz: “maldito todo aquele pendurado na cruz” “...porquanto o que for pendurado no madeiro é maldito de Deus.” (Dt 21.23). Paulo aplicará este texto a Cristo. “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar (porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado em madeiro .)” (Gl 3.13)

 

A cruz é lugar de maldição. Jesus se torna maldito por Deus a nosso favor. Todo o peso do pecado, condenação, é colocado sobre Cristo. agora podemos entender porque Ele se sentiu desamparado. Sua maior dor na cruz não foi física, mas espiritual, assumindo toda culpa e pecado da humanidade.

 

A Glorificação de Cristo

 

O segundo aspecto que vemos na narrativa deste texto é sobre a glória de Cristo. seu poder, divindade e majestade. Vários aspectos são mencionados neste texto:

 

1.     Cristo é glorificado pelo Pai – “Pelo que Deus o exaltou sobremaneira.” (Fp 2.9).

 

Jesus se submete ao Pai e o obedece, e o Pai o glorifica!

Diante desta afirmação pode surgir uma pergunta: Jesus não era Deus e se tornou Deus pela obediência? Sua divindade teria sido “conquistada”?

 

Esta forma de pensar se parece com a visão do Eutiquianismo que acreditava que a natureza humana de Cristo havia sido absorvida pela divina, ou que as duas se fundiram resultando numa só natureza, por causa de sua obediência.

 

O Concílio de Calcedônia, em 451, condenou esses conceitos e manteve a crença na unidade da pessoa, como também na dualidade das naturezas: Jesus teve uma natureza humana completa e uma natureza divina também completa, duas naturezas em uma só pessoa. Portanto, na pessoa de Jesus as duas naturezas estão unidas, sem confusão, sem mudanças, sem divisão, sem separação, conservando cada qual a sua própria especificidade.

 

Precisamos deixar claro que Jesus não conquistou sua divindade através da obediência. Ele era Deus. Ele “se humilhou assumindo a forma humana”, se tornou carne. “No princípio era o Logos, o Logos estava com Deus e o Logos era Deus” (Jo 1.1).

 

Para as Escrituras Sagradas, a natureza de Cristo está claramente definida. Veja o que diz Paulo: “Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação;
pois, nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele. Ele é antes de todas as coisas. Nele, tudo subsiste.
” (Cl 1.15-17)

2.     O nome de Cristo é superior a todo nome – “Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra.” (Fp 2.9-10).

 

Vemos nas Escrituras Sagradas que o nome de Jesus tem poder sobre principados e potestades, forças espirituais e forças politicas. “Então, regressaram os setenta, possuídos de alegria, dizendo: Senhor, os próprios demônios se nos submetem pelo teu nome!” (Lc 10.17).

 

O nome de Jesus também tem poder para curar. “Pedro, porém, lhe disse: Não possuo nem prata nem ouro, mas o que tenho, isso te dou: em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, anda!” (At 3.6).

 

O nome de Jesus está acima de todo nome, nos céus e na terra. Sua autoridade está acima de toda autoridade.

 

3.     Todos se dobrarão ao nome de Jesus – para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai.”(Fp 3.10,11)

 

Um dia, todos se curvarão diante de Cristo, reconhecendo sua autoridade e poder. Portanto, existem duas formas de nos curvarmos diante de Cristo:

(a)- Voluntariamente, reconhecendo sua autoridade e nos submetendo a ele para servi-lo;

(b)- Por imposição, por não termos como rejeitar sua autoridade.

 

4.     Todos confessarão que Jesus Cristo é Senhor – “... e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai.”(Fp 3.11)

 

Não apenas se curvarão, mas o confessarão.

 

Será o reconhecimento de todos sobre Jesus. Até mesmo as autoridades que o condenaram, os soldados que o espancaram, aqueles que o rejeitaram explicitamente. É a glória do Cordeiro sendo reconhecida. É o dia da ira do Cordeiro. Linguagem muito estranha, porque o Cordeiro não é figura relacionada a autoridade, mas veja o que diz o livro de Apocalipse:

Os reis da terra, os grandes, os comandantes, os ricos, os poderosos e todo escravo e todo livre se esconderam nas cavernas e nos penhascos dos montes e disseram aos montes e aos rochedos: Caí sobre nós e escondei-nos da face daquele que se assenta no trono e da ira do Cordeiro, porque chegou o grande Dia da ira deles; e quem é que pode suster-se?” (Ap 6.15-17)

 

Conclusão

 

A.   Devemos entender Jesus com suas duas naturezas: divina e humana. Negar ou minimizar qualquer um destes aspectos, não só é algo herético, contrário às Escrituras Sagradas, mas impacta profundamente a eclesiologia e a missão da igreja. Perdemos aspectos importantes do Deus que adoramos.

 

B.    Você precisa se dobrar diante de Jesus ainda hoje, e declarar sua glória ainda hoje. Não espere para o dia do juízo final. Quando esta hora chegar, será a hora do julgamento e não do arrependimento que traz salvação. O texto de Apocalipse que lemos anteriormente diz que as pessoas pedem aos montes para que caiam sobre eles. Eles temem a face de Deus e a ira do Cordeiro.

 

E nós, na qualidade de cooperadores com ele, também vos exortamos a que não recebais em vão a graça de Deus (porque ele diz: Eu te ouvi no tempo da oportunidade e te socorri no dia da salvação; eis, agora, o tempo sobremodo oportuno, eis, agora, o dia da salvação).” (2 Co 6.1,2).

 

Não podemos procrastinar, adiar.

Hoje é o dia!

Esta é a hora.

Este é o tempo oportuno.

 

Hoje é o dia de salvação.

Ore neste momento, se rendendo a Cristo, pedindo para que ele envie seu Espírito Santo sobre sua vida e traga salvação.

 

Este é o tempo de Deus!

Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais o seu coração.



 

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