Introdução
É impressionante como o fenômeno dos falsos apóstolos sempre existia na Bíblia chegando até os dias de hoje. O Antigo Testamento está repleto de textos denunciando a manipulação e artimanha destes falsos líderes, basta ler com a atenção Jeremias 23 para perceber quão inescrupuloso e como as fontes da falsa profecia não apenas são perigosas, mas também demoníacas. No Novo Testamento, a Segunda Carta de Pedro e o livro de Judas tratam praticamente destes homens místicos e alucinados, pastores de si mesmos, que se banqueteavam com o povo de Deus nos dias de festas.
O que é um apóstolo? Por definição, trata-se de “enviado”. Numa tradução moderna, estamos falando de missionários itinerantes, que saem de igreja em igreja sendo “a voz de Deus”.
Há um debate teológico contemporâneo e necessário diante da proliferação dos “apóstolos modernos”,: Existem apóstolos em nossos dias? Este dom cessou ou ainda existe?
No sentido estrito e bíblico da palavra, podemos afirmar seguramente que hoje não mais existem apóstolos. Em Ef. 2.20 a Bíblia afirma que “somos edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas.” Neste sentido, somos uma igreja apostólica. Em At 2.42 lemos que a igreja primitiva estava fundamentada sobre a doutrina dos apóstolos. Então, no sentido estrito, não há apóstolos. Nosso fundamento está nos ensinos dos apóstolos que existiram nos dias de Jesus e não existem apóstolos modernos, que recebam nova visão, instrução ou ensinamento que possa ser acrescentado à mensagem do Evangelho.
Contudo, no sentido amplo, sim. Em Ef 4.11,12, vemos que “Ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos, para o desempenho do serviço e edificação do corpo de Cristo.”
Estes “apóstolos” são os atuais missionários. “enviados” para uma missão determinada por Deus. Eles vão para campos ainda não alcançados, para plantar novas igrejas e estabelecer a obra de Deus.
Precisamos aprender a discernir entre falsos e verdadeiros apóstolos. Neste texto lido, algumas importantes pistas nos são dadas:
1. Falsos apóstolos diluem o evangelho – “Se, na verdade, vindo alguém, prega outro Jesus que não temos pregado, ou se aceitais espírito diferente que não tendes recebido, ou evangelho diferente que não tendes abraçado, a esse, de boa mente, o tolerais. “ (2 Co 11.4).
Paulo fala de um tipo de mensagem que eles pregavam que era diferente da mensagem original. Eles deturpavam a mensagem, e anunciavam um Jesus diferente do Jesus que nos foi revelado pelo Pai.
2. Falsos apóstolos vivem um estilo marcado por fraude e engano. “Porque os tais são falsos apóstolos, obreiros fraudulentos, transformando-se em apóstolos de Cristo. E não é de admirar, porque o próprio Satanás se transforma em anjo de luz. “ (2 Co 11.13,14)
Eles se transformam e se autoproclamam apóstolos. Uma pessoa pode ser um verdadeiro demônio e ainda assim continuar dirigindo uma denominação ou uma instituição cristã. (orfanatos, hospitais, autarquias, universidades, escolas). Eles fazem isto por poder, projeção e ganância.
Certo Deputado Federal, líder de uma grande denominação cristã no Brasil, certa vez desabafou num encontro de lideres cristãos em Brasília afirmando que “a liderança de sua denominação conspirava contra a santidade.” Sua declaração foi emotiva e chocante.
Durante o tempo que moramos no Rio, tínhamos um colega de ministério que era brilhante e uma cabeça muito privilegiada, cujas atitudes eram sempre suspeitas e malignas. Certo dia, em forma de brincadeira, comentamos com ele: “...é meu irmão, se você fosse crente... poderia ser uma benção nas mãos de Deus.” Ele levou aquilo na brincadeira, mas a verdade é que sua vida poderia ter sido grandemente usada por Deus se ele tivesse uma atitude de temor à palavra e piedade.
Desde 1981, sou pastor ordenado. Já lidei com diferentes conselhos, formados por pessoas simples ou grandes intelectuais, por gente pobre e rica. Sempre tive um relacionamento abençoado com os lideres destas igrejas, exceto numa situação, quando era ainda um jovem pastor, e quase fui massacrado por um velho líder que não apenas criava grandes obstáculos ao meu ministério, mas se opunha e hostilizava as novas lideranças que emergiam na igreja. Este irmão, eventualmente se afastou da igreja, e pelo que me consta, morreu afastado da comunhão com o povo de Deus.
Paulo afirma que tais “apóstolos” se “transformavam em anjos de luz.” Eles vendiam uma imagem que era mentirosa, davam aparência de piedade tudo era apenas aparência. A vida que tinham eram uma farsa.
3. Tais apóstolos firmam sua liderança escravizando as pessoas. “Tolerais quem vos escravize, quem vos devore, quem vos detenha, quem se exalte, quem vos esbofeteie no rosto. (2 Co 11.20).
É uma liderança tirânica, dominadora, que humilhava as pessoas, que não conseguirem reagir, o que leva Paulo a indagar os motivos. Existem muitos líderes carismáticos, sem caráter. Eles hipnotizam seus liderados, e escravizam através de ameaça, culpa e medo e falsas promessas. O ambiente de legalismo favorece muito este tipo de comportamento. As pessoas são subjugadas em nome de versículos tirados do contexto como “não toqueis nos meus ungidos.” É verdade que os verdadeiros servos de Deus devem ser guardados, amados e cuidados, mas a Bíblia não está falando deste tipo de líder.
O que assusta Paulo é que nos assusta ainda hoje.
Em primeiro lugar, eles pregam uma mensagem deturpada, mas ainda assim são tolerados pela igreja (2 Co 11.4); em segundo lugar, são arrogantes e exploradores. Não sabem viver em humildade (2 Co 11.9). Paulo chega a afirmar ironicamente que este foi o seu erro: ter decidido viver em humildade, sem salário para sua manutenção, recebendo pouca coisa ou nada da congregação, ao passo que outros líderes apareciam, exploravam e ainda assim eram admirados pela comunidade.
Não nos assusta apenas a atitude de pessoas que agem de forma inescrupulosa como estes falsos apóstolos, sacralizando gestos e atitudes, sendo arrogantes, devorando e explorando os liderados, esbofeteando o seu rebanho no rosto. Nos assusta ainda mais, ver as pessoas se submeterem de forma tão ingênua a este tipo de liderança.
4. Eles fundamentam seu estilo perverso de liderança, usando o nome de Deus e sua herança histórica. “São hebreus? Também eu. São israelitas? Também eu. São da descendência de Abraão? Também eu.” (2 Co 11.22)
Pela narrativa do texto, temos a impressão de que estes falsos profetas vinham de Jerusalém, eram judeus, e vinham com a chancela da Igreja mãe que ficava naquela cidade e de onde as decisões teológicas eram tomadas. Eles lançavam mão das suas credenciais e prerrogativas para usurparem e extorquirem. Qualquer coisa pode se tornar a base para agirem como quiserem e fazerem o que querem.
O que estes líderes estavam fazendo? Usando seus títulos para agir de forma perversa. “São ministros de Cristo? (Falo como fora de mim.) Eu ainda mais: em trabalhos, muito mais; muito mais em prisões; em açoites, sem medida; em perigos de morte, muitas vezes.” (2 Co 11.23). Paulo não nega o título de “ministros “que eles atribuem a si mesmos, mas questiona a atitude daqueles, que sendo ministros, usavam de sua posição para extorquir e explorar rebanhos incautos e simples.
Diante disto devemos perguntar: como reconhecer um verdadeiro líder cristão?
A. Trata a igreja com respeito e abnegação. “Despojei outras igrejas, recebendo salário, para vos poder servir, e, estando entre vós, ao passar privações, não me fiz pesado a ninguém; pois os irmãos, quando vieram da Macedônia, supriram o que me faltava; e, em tudo, me guardei e me guardarei de vos ser pesado.”(2 Co 11.8-9)
Paulo foi tão criterioso sobre o assunto de remuneração e dinheiro. Ele trabalhava ou vivia das ofertas que chegavam de Filipos para não depender da igreja de Corinto. (2 Co 12.17-18)
Como pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil, me sinto privilegiado pelo salário que minha igreja me dá. Por onde tenho passado tenho sido tratado com honra, e creio que isto só acontece por causa do coração dos líderes que também amam o Senhor e sua obra.
Em At 20.33-34 Paulo afirma: “De ninguém cobicei a prata nem o ouro nem as roupas de ninguém. Sim, vós mesmos sabeis que para o que me era necessário a mim, e aos que estão comigo, estas mãos me serviram.”
B. Exerce o ministério com zelo e sacrifício. “São ministros de Cristo? (Falo como fora de mim.) Eu ainda mais: em trabalhos, muito mais; muito mais em prisões; em açoites, sem medida; em perigos de morte, muitas vezes. “ (2 Co 11.23)
Uma coisa é gastar-se no ministério, outra é deixar-se gastar. Paulo fala de suas lutas, perseguições e sofrimento.
C. Preocupação espiritual com o rebanho – “ Além das coisas exteriores, há o que pesa sobre mim diariamente, a preocupação com todas as igrejas. Quem enfraquece, que também eu não enfraqueça? Quem se escandaliza, que eu não me inflame? (2 Co 11.28-29)
Paulo tinha preocupação com as igrejas em geral – isto envolvia mais do que preocupação com a igreja local. Envolvia a obra missionária, os colegas, igrejas irmãs, e aqueles que estavam em campos avançados.
Ele também tinha preocupação com o estado espiritual das ovelhas – 2 Co 11.29
Estas perguntas estão sempre incomodando os pastores fieis.
i. Como está meu irmão?
ii. Alguém se afastou da igreja. O que aconteceu?
iii. Uma pessoa está em pecado? Como ajudá-lo a vencer esta batalha espiritual?
iv. Como está a vida espiritual do povo?
1. Pecado?
2. Santidade?
3. Frieza?
4. Vaidade?
5. Avareza?
6. Mundanismo?
7. Ética do trabalho?
8. Ética do corpo?
Paulo tinha muito cuidado com suas ovelhas, pois ele sabia das ameaças que pairavam sobre suas vidas.. “Pois temo que, ao visitá-los, não os encontre como eu esperava, e que vocês não me encontrem como esperavam. Temo que haja entre vocês brigas, invejas, manifestações de ira, divisões, calúnias, intrigas, arrogância e desordem.” (2 Co12.20)
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