Introdução
Talvez um dos personagens mais esquecidos da seja José. Mas sua vida e seu compromisso com a família é uma das coisas mais surpreendentes, tanto para compreender a família, quanto para orientar os pais a terem corretas prioridades. Apesar de sua relevância, José é um personagem escondido da Bíblia.
Quantos sermões você já ouviu sobre José?
Apesar de todos saberem de sua existência e seu papel, é possível que nunca tenhamos ouvido uma reflexão mais profunda sobre as decisões que teve de tomar, as atitudes que ele assumiu, as críticas que sofreu, os perigos e necessidades pelas quais passou. Pouco se fala de seu sacrifício, sua paternidade e sua obediência, no entanto, no entanto, o texto bíblico é notório em descrevê-las.
Natal não possui apenas uma dimensão romântica, a Bíblia o descreve como um evento cercado de tensão, oposição e luta. Existem forças em conflitos, grandes batalhas acontecendo na esfera do eterno. O capítulo 12 de Apocalipse detalha este cenário de tensão. O dragão querendo devorar o filho. A cena é forte. Sai do plano das relações históricas e coloca seus olhos na dimensão cósmicas. Satanás sabe que a vinda de Cristo, seria um grande problema para suas intenções e por isto quer destruir o filho que há de nascer. O Filho de Deus se manifestou para destruir as obras do diabo (1 Jo 3.8).
Quando vemos os registros sobre a oposição políticas, Herodes querendo destruir as crianças para atingir Jesus, e a subsequente matança dos primogênitos registradas em Mt 2.16-18), sabemos que esta oposição é resultado de uma ação tirânica, mas estas forças que agiram na história nunca devem ser vistas numa dimensão meramente humana. O que existe por detrás é Satanás utilizando seus agentes, para executar seus planos. Ações históricas encharcadas com projetos malignos.
Na encarnação de Jesus, Deus resolve usar uma família para acolher o seu Filho amado. Ele coloca Maria e José para cuidarem dele. O Rei do universo confia sua filha a uma adolescente judaica e a um homem de vida simples, um carpinteiro de Nazaré. Quando Deus resolve assumir a forma humana ele surge como um bebê, que depende inteiramente de uma família, precisa ser cuidado e de proteção. Já viram como é frágil um bebê recém-nascido? Não é sem razão que muitos pais e mães tremem e se sentem inseguros quando precisam dar o primeiro banho nos filhos. Não é uma tarefa simples. Como é frágil um bebê. Mas Deus escolhe uma família, para viver dentro dela, ao assumir a forma humana.
José assume um filho que não é seu num contexto de forte suspeita social quanto à integridade de sua esposa Maria, para cuidar de uma criança que não era filho dele.
Vamos pensar em José:
- Ele sacrifica sua reputação para cuidar de Maria e de seu filho. Ele enfrenta sua família, os comentários das pessoas, sua cultura religiosa.
- Ele teve que lidar com a suspeita que ele mesmo enfrenta, ao receber a noticia de sua mulher, estava grávida... do Espírito Santo.
- José sacrifica sua carreira, para proteger seu filho. Ele tinha uma carpintaria, talvez um pequeno espaço. Hoje em dia seria dono de uma pequena mercearia, uma lojinha, era microempresário, prestador de serviços, profissional liberal, tinha contatos. carteira de clientes, estabelecido no mercado e agora teve que largar toda sua segurança, sua rotina e familiares, para um arriscado projeto de mudança para o Egito.
José está disposto a sair da sua zona de conforto, deixar Israel, sua casa, seu povo, seus familiares e ir para o Egito, para uma terra estranha. Por que ele faz isto? Para proteger seu filho.
- José não hesita em obedecer a Deus, mesmo quando a ordem exigia dele enorme mobilização e grande risco.
José possuía vínculos históricos e familiares, teria que romper com sua família, se manter distante, para proteger uma criança que ele havia adotado, não era sua.
Possuía vínculos com sua pátria. Um verdadeiro judeu sempre crescia com um distanciamento muito grande dos gentios. José se muda para uma cultura diferente, para um país que era tido pelo povo do Antigo Testamento como a representação do mal e das trevas e vai para o Egito que havia dominado e escravizado os judeus por 400 anos, e ali passa a viver com comidas diferentes, língua diferente, longe de seus familiares e amigos, hábitos diferentes, vendo a idolatria já que os egípcios cultuavam deuses diferentes, para proteger aquela criança. José não tem dúvidas em buscar proteger seu filho.
Será que teríamos a mesma atitude em relação aos nossos filhos? Sacrificaríamos nossa profissão? Nossos negócios e ambições profissionais? Nossos sonhos, por causa deles?
- José está atento à voz de Deus para saber que direção sua família deveria tomar- Deus diz. Quando ele pensa em sair de toda esta situação complicada, quando ele “ponderava sobre estas coisas, eis que lhe apareceu, em sonhos um anjo do Senhor dizendo: José filho de Davi, não temas receber tua mulher, porque o que nela foi gerado é do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho e lhe porás o nome Jesus, porque ele salvará o teu povo dos pecados dele.” (Mt 1.20-21).
José acorda assustado com a revelação. Era tudo muito enigmático e complicado, mas o que ele fez? “Despertado do sono, fez como lhe ordenara o anjo e recebeu sua mulher.”
José recebe os magos ainda na estrebaria. E tão logo eles partiram, eis que lhe apareceu um anjo do Senhor, em sonhos, e disse: Dispõe-te, toma o menino e sua mãe, foge para o Egito, porque Herodes há de procurar o menino para o matar. Dispondo-se ele, tomou de noite o menino e sua mãe e partiu para o Egito.” (Mt 2.13-14) A estas alturas, José já estava com medo de dormir, porque todas as vezes que ele cochilava, Deus lhe envia uma mensagem em sonhos. Deus diz: “Tome Maria como esposa.” Ele o faz. “Vá para o Egito”, ele vai! “Volte”, ele volta! Em nenhum momento José hesita em obedecer.
“Dispondo-se ele, tomou de noite o menino e sua mãe e partiu para o Egito; e lá ficou até à morte de Herodes, para que se cumprisse o que fora dito pelo Senhor, por intermédio do profeta: Do Egito chamei o meu Filho.” (Mt 2.13-15) Ele faz uma viagem longa, talvez 600 kms, a cavalo ou camelo, caminhando em estradas perigosas, para cumprir o plano de Deus.
Ele poderia ter ficado em dúvida, afinal de contas, Deus lhe falou em sonho. Ele poderia relativizar, dizer que não estava certo da orientação que recebeu, ou inseguro com todas as mudanças e implicações que ele deveria enfrentar, mas não é isto que acontece: Ele obedece.
Ao receber a orientação de Deus para retornar, ele imediatamente obedece. “Tendo Herodes morrido, eis que um anjo do Senhor apareceu em sonho a José, no Egito, e disse-lhe: Dispõe-te, toma o menino e sua mãe e vai para a terra de Israel; porque já morreram os que atentavam contra a vida do menino. Dispôs-se ele, tomou o menino e sua mãe e regressou para a terra de Israel.” (Mt 2.19-21)
A vida de José não era dele. Era do Senhor. Ele estava disponível para obedecer, independentemente da ordem que lhe seria dada. Agora a ordem era voltar para Israel. para novamente retomar sua história, mas quando pensamos que as coisas agora vão se assentar, vemos José tendo que, novamente, fazer outra mudança. E desta vez não foi apenas por causa de um sonho mas também por causa de sua percepção histórica. Ele faz leitura das coisas que lhe acontecem ao redor.
“Tendo, porém, ouvido que Arquelau reinava na Judeia em lugar de seu pai Herodes, temeu ir para lá; e, por divina advertência prevenido em sonho, retirou-se para as regiões da Galileia. E foi habitar numa cidade chamada Nazaré, para que se cumprisse o que fora dito por intermédio dos profetas: Ele será chamado Nazareno.” (Mt 2.22,23).
Aqui, sua percepção se constrói de duas formas: “Ele ouve falar dos acontecimentos políticos.” José está antenado. É um homem que está interessado em saber o que Deus tem a lhe dizer sobre os eventos e da sua realidade histórica, ele avalia sua situação e a ameaça que paira sobre sua família. Quantos pais eventualmente não são capazes de perceber os sinais das ameaças na vida de seus filhos. Nossa insensibilidade em julgar os fatos pode ser fatal. A Bíblia afirma que “o prudente vê o mal e se esquiva, mas o simples, passa a frente e sofre a pena.” É necessário ler a vida, analisar os fatos, para assim proteger nossa vida e de nossos queridos.
Quando Jacó deixa a casa de seu sogro, depois de muitos desencontros, desacertos e conflitos, a Bíblia diz que ele “Então ouvia os comentários dos filhos de Labão, que diziam: Jacó se apoderou de tudo o que era de nosso pai, e de que era de nosso pai juntou ele toda esta riqueza. Jacó, por sua vez, reparou que o rosto de Labão não lhe era favorável como anteriormente. E disse o Senhor a Jacó. Torne a terra de seus pais e à tua parentela, e eu serei contigo.” (Gn 31.1-3) Jacó olha as circunstâncias, ele repara o rosto de seu sogro. Deus fala com Jacó através das circunstâncias desfavoráveis. Precisamos aprender a ler o ambiente no qual estamos inseridos.
José tem esta capacidade de ser lúcido, de fazer a leitura dos fatos. Por estar orando, ele também recebe a divina advertência. José está atento ao que Deus lhe deseja falar. Quantos pais querem permanecer na Judéia, perto da família, do poder por razões profissionais, conveniências pessoais, dinheiro e hesitam em se mudar para a Galileia mesmo quando todos os fatos apontam nesta direção.
José tem sensibilidade para proteger sua vida, sua esposa e seu filho.
Quando assumimos nossos filhos no batismo, fazemos votos e compromissos por sua vida. de orar com eles e por eles, trazê-los à igreja, sermos exemplos de vida cristã. É necessário cuidar destas crianças, cumprir estes votos, receber instrução de Deus para protegê-los.
A Bíblia nos dá o exemplo de Manoá, pai de Sansão. Quando sua esposa afirma que um anjo veio comunicar o nascimento desta criança, que seria um libertador em Israel, ele ora ao Senhor. Veja o que ele pede: “Quando se cumprirem as tuas palavras, qual será o modo de viver do menino e o seu serviço?” (Jz 13.12). Esta deveria ser a oração de todo pai, em relação aos seus filhos que vão nascer, e aos filhos que já estão caminhando entre nós.
Ele pede duas coisas:
Primeiro: “Qual será o modo de viver do menino.” Isto é, como devemos criá-lo. Nos ajude a orientá-lo nos caminhos do Senhor. A ser uma criança psicológica e espiritualmente saudável.
Segundo: O que ele deverá fazer? Qual é a sua missão. O que o Senhor deseja fazer de sua vida? Qual é a expectativa do Senhor para sua vida. Para onde o Senhor apontará sua vida?
José é um homem sensível. Um paradigma para pais atentos espiritualmente: Pais são os mais efetivos comunicadores das verdades, valores, conceitos, estilos de vida, porque eles as encarnam nos relacionamentos concretos. As crianças aprendem a linguagem do amor, muito antes de falarem uma única palavra.
Advertência:
Precisamos passar o bastão da corrida de revezamento para nossos filhos. Nossa fé não pode morrer em nós, precisa chegar às próximas gerações. Seus filhos e netos vão viver sem fé no coração, adorando deuses estranhos que vão encontrar no caminho, vão ser macumbeiros e espiritualistas se não quisermos assumir nosso compromisso de vida cristã e transmitirmos o que cremos para suas vidas.
José está criando todas as condições para que seu filho não seja estrangulado por Herodes, nem massacrado pela cultura do Egito. Ele está disposto a caminhar com seu filho, de uma forma disciplinada e amorosa.
José assume a vida de Jesus por obediência.
Uma boa forma de avaliar a sua fé é perguntando quando você está disposto a investir por ela. Educar filhos no caminho do Senhor envolve tempo, disposição, atenção. É necessário investir espiritualmente na vida dos filhos. Não podemos descuidar nem negociar a alma deles. Pais precisam pagar o preço e proteger seus filhos, precisam investir na sua vida espiritual, se preocupar com suas almas. Para que isto aconteça, antes de tudo, deve se preocupar também com suas vidas pessoais. Não podemos deixar nossos filhos à mercê das trevas. Herodes não pode ter acesso aos nossos filhos, porque senão ele os matará, e sair das mãos de Herodes pode significar o preço de mudar de seu confortável estilo de vida pela segurança espiritual de seu filho.
O inferno quer destruir espiritualmente as crianças e eventualmente vai conseguir isto com pais que não levam a sério a necessidade de cuidar de seus corações e de seus filhos.
José mudou o itinerário de sua vida: da Judéia para a Galileia, para que o crescimento de Jesus lhe fosse seguro. Mais uma vez fica no prejuízo. Quando volta do Egito, dirige-se à Galileia. Que também não era a terra de seus pais. José é um homem que cria uma agenda para proteger o filho que não era seu, mas a quem Deus responsabilidade de cuidar.
Pais precisam estabelecer o que realmente importa em suas vidas. José estabelece. Neste natal, considere José e seu estilo de vida.
Deus nos deu filhos para cuidarmos e protegê-los. É na família que Deus deseja dar proteção, nutrição, afeto, espiritualidade. Deus sabia da necessidade de colocar Jesus em uma família, e assim o fez. Deus também nos colocou em uma família. Certa mãe dizia a sua filha: “Você não precisa ter medo, Deus está aqui com você”. E a garota respondeu: “eu sei mamãe, mas eu preciso de um Deus que tenha pele”.
Filhos são heranças - não peso, nem maldição, mas benção – (Sl 127.3). Herança é benção, deve ser cuidada, não dilapidada.
Filhos precisam de rumo – (Sl 127.4). “Flechas nas mãos do guerreiro”. O guerreiro dá direção às flechas, não as joga ao acaso. Devem ser direcionadas.
Infelizmente muitas famílias estão desprotegidas, diante de ameaças e até mesmo ações malignas.
Certa vez fui visitar um casal que resolvera morar em Newark, uma das cidades mais feias e malcuidadas dos Estados Unidos, que possui o pior High School da América em termos de violência, e é a 3ª cidade americana onde se roubam mais carros. Nesta casa havia um filho adolescente, que por 3 vezes havia fugido de gangs até que, finalmente, lhe fizeram uma emboscada e o filho foi espancado dentro do seu prédio. Perguntei aos pais por que ainda moravam naquele lugar, se havia tanto local bom para se viver nos Estados Unidos e eles responderam que era por causa do preço do aluguel do apartamento.
Pais precisam aprender a proteger seus filhos, a ler sinais que emitem: ansiedade, insônias, rações psicossomáticas, choros desnecessários. isto se aplica desde a bulimia até pressões sociais, gangs, drogas e relacionamentos. Muitas vezes o preço a pagar é a completa desarticulação de sua vida.
Conclusão
A vida de José aponta para o Evangelho. De um pai amoroso que não hesitou em doar sua vida para salvar os seus filhos.
É assim que o Evangelho nos ensina. O Natal nos faz pensar nestas grandes verdades, de um Pai amoroso. Nem sempre encontramos estruturas familiares saudáveis, mas ainda assim podemos afirmar: “Se meu pai e minha mãe me desampararem, o Senhor me acolherá.” Porque podemos olhar para o grande amor do pai e nos sentirmos seguros nas suas mãos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário