Introdução
Um homem deixou as ruas cheias de neve de Boston para
umas férias na ensolarada Flórida. Sua esposa estava viajando a negócios e
estava planejando encontrá-lo no dia seguinte.
Quando chegou ao hotel resolveu mandar um e-mail para sua mulher.
Como não achou o papelzinho em que tinha anotado o endereço do e-mail dela,
tirou da memória o que lembrava e torceu para que estivesse certo. Infelizmente
ele errou uma letra, e a mensagem foi para uma mulher de um pastor, cujo marido
havia morrido no dia anterior. Quando aquela mulher foi checar os seus e-mails,
deu uma olhada no monitor, deu um grito de horror e caiu dura e morta no chão.
Ao ouvir o grito, sua família correu para o quarto e leu o seguinte na tela do
monitor:
-"Querida esposa, acabei de chegar. Foi uma longa viagem com algumas
turbulências. Aqui é tudo muito bonito. Muitas árvores, jardins... Apesar de só
estar aqui há poucas horas, já estou gostando muito. Agora vou descansar. Falei
aqui com o pessoal e está tudo preparado para sua chegada amanhã. Tenho certeza
que você também vai gostar...
Beijos do seu eterno e amoroso marido.
Nota de rodapé: Está fazendo um calor infernal aqui!!!"
Crianças aprendem o que veem
Crianças aprendem o que vivenciam. Se uma criança vive com crítica, aprenderá a condenar.
Se uma criança vive com hostilidade, aprenderá a lutar. Se uma
criança vive com vergonha, aprenderá a culpa.
Se uma criança vive com tolerância, aprenderá a ser paciente. Se uma criança
vive sendo ridicularizada, aprenderá a ser tímida.
Se uma criança vive sendo encorajada, aprenderá a ser confiante. Se uma criança
vive com honestidade, aprenderá justiça.
Se uma criança vive com segurança, aprenderá a ter fé. Se uma criança vive com
aprovação, aprenderá a gostar de si mesma.
Se uma criança vive com aceitação, aprenderá amizade. E aprenderá a achar amor
no mundo.
Este texto bíblico, que lemos no início, escrito por Marcos nos fala do relacionamento de Jesus com as crianças.
O texto parece demonstrar que Jesus deseja tocar as crianças, mas os discípulos as hostilizam. Não consideram a importância de que os filhos se aproximem de Cristo. Esta muitas vezes pode ser a atitude da igreja, e assim perdemos nossos filhos dentro da igreja, como a dracma que se perdeu dentro de casa.
Dois princípios:
A. Não diga sim quando precisa dizer não!
B. Não diga não quando é fundamental dizer sim!
Não diga sim quando é necessário dizer não!
Dizer sim não é subscrever toda uma geração mimada, incapaz de lidar com disciplina e frustração. Agora temos toda uma ciência para justificar comportamentos inadequados, temos diagnósticos:
TDH/Bipolaridade/Autismo/TOD
Irmãos, eu não sou ingênuo e tenho uma formação bem embasada em psicologia. Tenho mais créditos em psicologia que as pessoas que se formaram em psicologia apesar de não ter formalmente concluído meu curso, porque por motivos de mudanças, tive que transferir de faculdade e eu sempre tive que retornar meu curso para atender a grade curricular. Então, eu sei discernir razoavelmente bem, e dar um diagnóstico relativamente preciso, mas a geração atual, aprendeu a se defender usando nomenclaturas.
Um dos temas da psiquiatria atual gira em torno do Transtorno Opositivo Desafiador (TOD), um distúrbio que ocorre na infância com sintomas desafiadores e impulsivos, dificuldade de lidar com frustrações, teimosia, mentira e/ou ação por vingança ou crueldade, dificuldades intensas no convívio social com familiares ou figuras de autoridade, comportamento agressivo e humor irritável. Tais transtornos são disruptivos e causam perturbação no ambiente.
Uma pergunta inicial é necessária: Quem nunca se deparou com uma criança
opositora? Que não quer assumir seus erros ou responsabilidades? Que tem
dificuldades para se submeter a regras e desafia seus pais? Eu temo que a
generalização deste diagnóstico gere uma geração que obtenha um certificado
psiquiátrico para desobedecer e infringir, ainda mais levando em conta que os
pais encontram dificuldades em estabelecer regras e disciplinar seus filhos.
O que acontecerá? Crianças com comportamentos disruptivos serão retiradas de
eventos sociais por causa de seu comportamento difícil. Quem tem coragem de
convidar um amigo que tem filhos que não respeitam limites e não podem ser
contrariados? Os pais de tais crianças encontrarão dificuldade em sair ou
passear com elas. Elas serão preteridas, mal faladas e sofrerão forte rejeição.
O que caracteriza marginalidade é por definição a rejeição de limites. Como conviver com uma criança irritadiça e mau humorada? Que sempre age de forma argumentativa raivosa e desafiadora? Que se recusa a obedecer a regras e é rancorosa e vingativa?
A disciplina envolve ensino, repreensão, correção e reforço positivo e
negativo. Você não precisa concordar com meu pensamento, mas não precisamos
pensar da mesma forma em todas as coisas.
A geração atual tem muito medo de educar, dizer não.
Um provérbio oriental afirma: “Homens fortes criam tempos fáceis, e tempos fáceis geram homens fracos; mas homens fracos criam tempos difíceis e tempos difíceis geram homens fortes.”
B. Não diga não quando é fundamental dizer sim!
Este texto nos mostra algumas atitudes (movimentos) de Jesus diante do descaso dos discípulos, e uma delas é a “indignação”. (Mc 10.14)
Quantas vezes Jesus mostra indignação na Bíblia? É difícil determinar um número exato de vezes que Jesus demonstra indignação por causa das nuanças de tradução. A palavra "indignação" pode ter traduções diferentes dependendo da versão bíblica
No entanto, podemos identificar alguns episódios marcantes em que a indignação de Jesus é evidente.
Jesus demonstrou indignação com os cambistas do Templo. (Jo 2.13-22), porque houve uma inversão de propósitos no templo “minha casa será chamada casa de oração, mas vós a transformastes em covil de salteadores.” A glória de Deus estava sendo vilipendiada. Jesus também se indignação com a falta de fé dos discípulos e a impossibilitada de socorrer um jovem endemoninhado. “A geração incrédula, até quando vos sofrerei.” (Mc 9.19). Aqui neste texto vemos também Jesus indignado e em Mc 3, ao ver a dureza do coração das pessoas no incidente com o homem da mão ressequida. “indignado e condoído com a dureza do seu coração.” (Mc 3.5) Agora, neste encontro com as crianças, a Bíblia usa a mesma palavra para demonstrar como Jesus reagiu ao ver o comportamento de seus discípulos, repreendendo as crianças que dele se aproximavam.
O que leva Jesus à indignação?
“Então lhe trouxeram algumas crianças para que as tocasse, mas os discípulos os repreendiam.” (Mc 10.13)
Ele demonstra indignação com a falta de sensibilidade para com as crianças. “Jesus, porém, vendo isto, indignou-se”. (Mc 10.14). Jesus fica indignado quando seus discípulos dizem” não” às crianças.
Quem tem dito não às crianças?
I. O sistema.
Nossos filhos estão sendo “vendidos” por uma educação secular, humanista, antibíblica.
a. O mundo diz não quando erotiza as crianças, com adultos que as expõem a padrões de comportamento inadequados para a sua faixa etária, com a banalização da sexualidade, vulgarização das relações humanas, objetificação dos corpos, influência da ideologia do gênero na construção das emoções e nas relações afetivas, sendo a mídia e a publicidade os grandes responsáveis pela erotização precoce.
b. O mundo diz não com abuso sexual, que se torna uma bomba no coração da criança, roubando dela a alegria, a criatividade, a autoestima; marcando-a para sempre com uma culpa que não lhe pertence, e que apenas podem ser restauradas quando entendem a graça maravilhosa do evangelho, que restaura, dá dignidade, liberdade interior e alegria.
c. O mundo diz não com famílias dominadas por Mamon, que se vendem para atender caprichos e desejos da vaidade e do prestígio social. Quando o materialismo se torna o objetivo central de uma casa.
d. O mundo diz não com famílias disfuncionais e neuróticas, com pais violentos, mães mal-humoradas e com bipolaridades, com pais que insistem em ser playboys, e mães que acreditam que a única forma de autenticar sua feminilidade é ir para academia com roupas apertadas para tirar self e publicar no Instagram.
e. O mundo diz não, com o dinheiro da merenda e da educação de qualidade, com o descuido com a saúde, educação e moradia dignas que não conseguem tirar as classes pobres do abismo que os separa dos ricos., com políticos incapazes de gerir o bem público com integridade.
f. O mundo diz não, quando transforma adolescentes em mercadorias, quando cria-se um ambiente no qual os pré-adolescentes sentem-se desconfortáveis se não forem para a cama com seu namorado (a).
g. O mundo diz não, quando o subjetivismo, relativismo, pluralismo, epicurismo, se tornam o padrão, e atinge de forma frontal nossos lares e a vida dos nossos filhos.
A Bíblia fala da jovem Sulamita que foi comprada por Salomão e levada para seu harém para atender a luxúria do rei. Ali vemos como as coisas funcionam: Salomão compra e paga o preço “do mercado” por ela, e esta jovem negra, de uma região rural de Israel, agora é colocada no meio de muitas mulheres, que são as filhas de Jerusalém, tentando convencê-la de que Salomão é fantástico. É o sistema com sua força de pressão acachapante, que acha que pode comprar tudo com 1000 siclos de prata (Ct 8.12). A estrutura social sustenta e mantém esta menina pagando os guardas (Ct 8.12); as mulheres do harém glorificam a orgia do rei, e a família aceita o dinheiro e eventualmente até mesmo se sente feliz por receber um dote tão grande e orgulhosa por ter sua filha sendo cortejada no palácio do rei; por outro lado, pode ser que a família, assume uma posição de resignação e impotência, pois não tem poder de enfrentar e desafiar o rei e o sistema imposto; esta menina que ama outro homem, mas que não tem voz, grita esperneando-se sem sucesso no harém, por quatro vezes, com sua voz solitária dizendo: “Não desperteis nem acordeis o amor até que este o queira.” (C 2.7; 3.5; 4.8; 8.4) mas sua voz se perde nos corredores frios do palácio. Quando finalmente consegue se impor e afirmar sua dignidade contra tudo e contra todos, ela é capaz de dizer: “Tu Salomao, terás os meus siclos, e os que guardam a vinha, duzentos. Mas a vinha que me pertence está a meu dispor.” (Ct 8.10-12) Ela consegue confrontar o palácio, mas antes de encerrar o drama sapiencial, ela faz uma pergunta intrigante, e sua pergunta é a mesma que ainda nos incomoda hoje:
“Temos uma irmãzinha que ainda não tem seios. Que faremos a esta irmã?”
(Ct 8.8).
Esta é a grande pergunta. Que faremos a esta geração que está ai, confrontada por um sistema cujos poderosos acham que tem direito sobre a moral, e sobre a vida, e sobre o amor? Como famílias e a igreja podem lidar com sistemas tão malignos, com estruturas sociais que estão sempre dizendo NÃO, às nossas crianças?
Quem tem dito não às crianças?
II. A família
Em Lc 15, Jesus conta a história da dracma perdida. Por que aquela mulher perdeu sua preciosa moeda dentro de casa? Esta parábola é uma referência à nossa vida. O texto demonstra como desatentamente podemos perder coisas de grande valor, dentro de nossa casa, como aconteceu àquela mulher. Talvez por descuido, por considerar insignificante... isto pode acontecer com coisas preciosas como nossos filhos. Como é possível perdê-los dentro de casa? Na hora de passar a tocha da fé, na nossa incapacidade de transmitir o evangelho da graça. Os dias são maus: cansaço, hora intensa de trabalho, deixamos de orar com os filhos e terceirizamos sua salvação. Filhos tem se perdido dentro das casas.
As famílias lidam com muita ambiguidade na questão da educação. Com o advento do pluralismo (cada um pensa do jeito que quer); Subjetivismo (Cada um faz o que acha certo. Se você acha isto certo, então está certo. A verdade está dentro de você); Relativismo (Tudo é certo, dependendo do seu ponto de vista) e existencialismo (minhas emoções determinam minha ética. “Eu sou o que me pede o coração.” “você tem direito de ser feliz.”
Famílias não são capazes de criar filhos com valores, porque os pais, também não tem valores corretos. Comportamentos são imitados, e filhos estão seguindo a “desorientação” dos pais, que olham as Escrituras questionando seu conteúdo, já não orientados pela revelação de Deus, mas por uma psicologia e valores seculares.
É assim que encontramos a disfuncional família de Jacó, reproduzindo comportamentos bizarros, marcada pela idolatria de Raquel, pela barganha das amantes que buscam a atenção de Jacó, pelos filhos que vendem o irmão como escravo e sustentam uma farsa em casa, numa relação de co-dependência, na qual todos sabem da verdade, mas ninguém denuncia, e vive-se uma relação neurótica dentro de casa.
Nossas famílias precisam retornar aos fundamentos bíblicos, às verdades das Escrituras Sagradas. É necessário verdadeiro arrependimento e busca de cura das emoções. Nascemos em famílias disfuncionais e precisamos, por meio de Cristo, romper o fútil procedimento que nossos pais nos legaram. (1 Pe 1.18)
Quem tem dito não às crianças?
III. A igreja
“Os discípulos os repreendiam.” (Mc 10.13)
Tanto no âmbito doméstico quanto comunitário, corremos o risco de descaso e menosprezo. Alguns departamentos infantis são horríveis, verdadeiros depósitos de móveis velhos. Conteúdo mal preparado, falta de investimento. Não criamos ambiente para acolher nossos filhos, muitas vezes usamos os piores ambientes e estruturas para os colocarmos ali. Muitas vezes a programação da igreja não contempla um espaço digno para os filhos. Alguém afirmou que “Uma criança pode se desviar mais cedo do que você imagina, cair mais rápido que você pensa, e sofrer mais que você considera”.
Os discípulos “repreendiam as crianças”. (Mc 10.13). Os discípulos dizem “Não!”
“Repreender” não lhe soa agressivo? Não é um termo forte?
Muitas vezes tenho a impressão de que não estamos preocupados em termos uma igreja para nossos filhos, mas queremos uma igreja para nós. Que satisfaça a nossa cultura, nosso gosto, nosso estilo, nossa formação, a forma como gostamos dos cultos, mas não consideramos se nossos filhos estão participando da comunidade. E se começássemos a pensar numa igreja que tivesse a linguagem para nossos filhos e não para nós que estamos passando? Honestamente, entre uma igreja que atenda as suas necessidades e uma igreja que atenda a necessidade de seus filhos e netos, o que você preferiria. Tome cuidado para não dar uma resposta “politicamente correta”. Será que você realmente está preocupado com seus filhos e netos?
Quantos filhos estão ficando, quantos estão saindo? Na igreja que frequentei durante a minha mocidade, posso afirmar sem medo, que não mais que 25% dos filhos permaneceram na fé. Alguns não só se distanciariam, mas são cínicos e incrédulos quanto às verdades espirituais do Evangelho. Certo presbítero de uma igreja no litoral Sul de São Paulo afirmou que se tivessem apenas mantido os filhos, e não tivessem evangelizado ninguém mais, ela seria, 3 vezes maior do que é hoje.
Eu não tenho estatísticas precisas sobre o número de filhos que se afasta da igreja, mas ouvi, e parece fazer sentido, que 60% se afastam definitivamente quando vai para a universidade; 20% se afastam temporariamente e depois retorna e 20% nunca se afastam da igreja.
A Igreja diz Não, de forma não intencional
Por que os discípulos as repreenderam?
De alguma forma, o barulho e o movimento estavam desestruturando a dinâmica de Jesus no relacionamento com as pessoas. Você tem filho de 2 e 4 anos? Eles são uma bomba de chocolates, mas são disruptivos, exigem atenção o tempo inteiro e desorganizam a estrutura preparada. Minha mulher sempre dizia que não mudaria nada na casa quando viessem os netos. Pois bem, agora que temos dois, um dia cheguei em casa e havia uma barraca montada na sala.
Recentemente tivemos uma situação inusitada na igreja de Anápolis. Num único dia, vieram 53 crianças de 3-5 anos para o programa do IPC/Kids. Você sabe o que é isto? As professoras ficaram desesperadas, não há como estabelecer um mínimo de ordem com tantas crianças dessa idade. A palavra mais correta para isto é Caos....
Talvez tenha sido este o motivo pelo qual os discípulos repreenderam as crianças. Eles queriam colocar ordem, ou quem sabe, até mesmo achassem que Jesus tinha tantas pessoas para socorrer, e aquelas crianças pudessem estar dificultando o trabalho de Jesus.
A igreja repreendeu as crianças. Os discípulos, provavelmente, queriam proteger Jesus da interrupção e da distração, acreditando que ele tinha assuntos mais importantes a tratar ou até mesmo preservar a ordem. As sinagogas e os locais de ensino eram, geralmente, espaços reservados para os adultos, e as crianças tinham um papel mais passivo nas cerimônias religiosas.
Pense nos recursos financeiros da igreja: Eles contemplam os filhos? Que esforço intencional temos feito para acolhê-los bem? Nossa liturgia e estilos de cultos estão considerando suas necessidades?
Como igrejas “bem-intencionadas” podem repelir as crianças?
1. Não percebem as oportunidades
3. Não identificam as necessidades corretas
4. Não percebem os riscos
1. Não percebem as oportunidades. Temos uma enorme oportunidade de abençoar, não apenas as crianças que chegam às nossas igrejas, mas aquelas que podem ser alcançadas por uma ação missionária estratégica.
Não podemos perder o “timing”.
Estudiosos afirmam que temos uma janela muito importante para exercer influência sobre nossos filhos. Em missões transculturais fala-se da Janela 10/40, em educação cristã da Janela4/14. Esta é a ideia em que temos a chance de inculcar em nossos filhos valores, espiritualidade, princípios. Depois desta idade, a família vai perdendo cada vez mais a capacidade de influenciar o comportamento dos filhos. Eles ouvirão cada vez mais seus amigos, os influencers, os professores.
Não podemos ignorar as portas abertas.
Há muitas oportunidades de investir em nossos filhos e nos filhos de nossos amigos. Atividades como acampamentos, encontros, Escola Bíblica de Férias, tornam-se fundamentais para impactar esta geração com o Evangelho. Nossos filhos precisam tomar uma decisão nesta época da vida. Há muita luta espiritual e não podemos perder a perspectiva de que Deus sempre agiu e sempre tem agido em diferentes gerações, chamando-os para o serviço do Senhor.
Um exemplo saudável, ainda que com crianças de idades maiores. O programa da MPC “escola da vida.” Existem dezenas de escolas nas quais os coordenadores e diretores simplesmente não sabem mais o que fazer com tanta desestrutura emocional, drogas, suicídios. Uma igreja que consiga desenvolver uma estratégia como esta, certamente estará ajudando de forma significativa a construir emoções e caráter mais saudável nesta geração.
2. Não podemos ignorar as necessidades corretas. “Lhe trouxeram algumas crianças para que as tocasse.” (Mc 3.13)
Crianças precisam ser tocadas por mãos santas, não mãos abusivas. Precisam ser tocadas para formarem sua personalidade saudável. Infelizmente temos muitos “toques”, para destruir, arrebentar a alma de tantas crianças inocentes.
Precisamos tocar esta geração, com cuidado, graça, acolhimento, redenção. Os discípulos estão preocupados com a ordem, Jesus quer construir um livre acesso destas crianças a ele. De alguma forma, estas crianças precisam ser tocadas. As crianças precisam ser trazidas a Jesus.
Toda geração possui suas peculiaridades.
At 13.38 afirma: “Tendo Davi servido a sua geração, de acordo com o desígnio de Deus, adormeceu.” Nenhuma geração será tão capaz de perceber as necessidades desta geração que aquela geração que está imiscuída com a geração atual.
Quais são as necessidades desta geração?
Ct 8.8-10 afirma: “Temos uma irmãzinha, que ainda não tem seios; que faremos a esta nossa irmã, no dia em que for pedida? Se ela for um muro, edificaremos sobre ele uma torre de prata; se ela for uma porta, cercá-la-emos com tábuas de cedro.” Para cuidar da próxima geração, a sulamita fala de crianças são muros, sabem se defender, possuem valores claros. Mas a Sulamita fala daquelas que são portas, vulneráveis, por onde transitam as pessoas. Crianças que são portas precisam estar cercadas de tábuas de cedro. Esta geração tem necessidades específicas, mas com um agravante muito sério: Não podemos dar o mesmo tratamento igual a pessoas diferentes.
3. Precisamos entender os riscos de nossa abordagem como discípulos. “Não os embaraceis.” (Mc 10.14)
Você sabe o que causa embaraço, constrangimento, dificuldade? Alguma atitude nossa, que possa se transformar em pedra de tropeço para as crianças que se aproximam de Cristo.
Jesus exorta seus discípulos a não “embaraçarem” as crianças. (Mc 10.14) Já pararam para considerar o significado desta palavra? A ideia de que me vem à mente é de um rolo de linha de anzol. O meu hobby e de minha esposa é pescaria. Você pode praticar pesca esportiva usando dois tipos de material: carretilha ou molinete. Este último não tem uma performance tão boa, mas é bem mais fácil de operar, enquanto o primeiro, exige um determinado treinamento. Ao jogarmos a linha, precisamos manter pressão com o dedo, para que ela não corra demais e se enrole. Um erro de arremesso de uma carretilha embola tanto a linha, que dificilmente você a desembaraça, e mesmo que consiga fazê-lo, a linha vai ficar toda “viciada”.
É esta a ideia que me vem à mente quando falo de embaraço...Como uma atitude de embaraço de hoje pode distanciar uma criança da igreja e de Jesus? E como o acolhimento, toque e a benção podem influenciar poderosamente esta nova geração.
Como ser efetivo na comunicação do Evangelho à próxima geração.
Como dizer SIM?
A efetividade do acolhimento, dependerá, em muito, da capacidade de comunicarmos eficientemente à próxima geração. A Bíblia afirma em Mc 4.33 que “Jesus falava conforme permitia a capacidade dos ouvintes.” É necessário identificar o receptor para conseguir comunicar de forma eficaz. Afinal, comunicação não é o que você diz, mas o que o outro entende.
Que tipo de linguagem usar?
1. Linguagem relevante
Um dos grandes desafios que temos é comunicar de forma relevante. John Stott afirma que pregar é traduzir a Bíblia, escrita há dois mil anos atrás, numa cultural, tempo e linguagem diferente, a geração atual. Será que temos conseguido falar de forma relevante aos nossos adolescentes e crianças? Eles estão entendendo? Eles estão entendendo o que dizemos?
Numa pesquisa com cerca de 30 jovens na Igreja Presbiteriana Central de Anápolis, 90% afirmaram que o grande sonho de suas vidas era terem família saudável, em paz e harmonia. Isto surpreendeu, porque eles não estavam desejando empregos, posições, status, mas uma família com saúde. Muitos deles tinham vindo de ambientes marcados por disputas, infidelidade, autoritarismo, desrespeito.
Jeremy Adams, “O professor do Ano” nos Estados Unidos em 2022 faz um alerta sobre a Geração Z, o primeiro grupo de pessoas que nasceu digital, conectado e que nunca viu o mundo sem internet (nascidos entre 1995/2020).
Para Adams, a geração Z é uma geração de zumbis. Menos educada, mais deprimida, que perdeu seus valores e a esperança que tradicionalmente, formaram a base ética da sociedade e da família. É a geração que adotou um estilo de vida solitário, hiper conectado tecnologicamente, mas distanciado de seus familiares, igrejas e comunidades.
As estatísticas são alarmantes: a depressão aumentou 63% nos adolescentes e o suicídio 56% entre 2007 e 2017. Tragicamente, neste período, o suicídio tornou-se a segunda causa de morte entre os jovens. Para Jeremy Adams, a dissolução familiar e o grande aumento do divórcio foram os responsáveis.
Famílias que fazem pelo menos uma refeição com todos juntos têm número menor de jovens fumantes, de jovens que usam álcool e drogas. O mesmo vale para as desordens alimentares e atividade sexual precoce, mal orientada. Para ele, os adolescentes que jantam sozinhos, colocam seu foco não na família, mas no celular. “A negligência da vida familiar é a maior responsável por trazer a sensação de vazio não somente aos estudantes, mas também à vida do povo americano em geral.”
Adams ainda analisa que um dos grandes problemas também tem sido a falta de vida espiritual. Em 1984, apenas 2% dos americanos se identificavam como ateus, mas em 2020, o número saltou para 22%. A religião foi substituída por uma “massiva cultura de banalidade, conformidade e autoindulgência.”
Outro fator presente é a obsessão tecnológica. Em 1970, mais de 50% dos estudantes do ensino médio tinham relacionamento diário com seus amigos, mas, em 2020, este número caiu para 33%. Atividades sociais como um jogo de futebol e demais esportes coletivos foram substituídos pelos “streamings”.
Estudantes modernos constantemente digitam durantes as aulas e, na pandemia, assistiam a programações paralelas ao invés de prestarem atenção nos professores, criando o que os psiquiatras chamam de “atenção parcial contínua” - uma incapacidade de criar foco. Em geral, usam cinco dispositivos eletrônicos ao mesmo tempo, o que resulta em notas baixas e falta de êxito acadêmico.
O autor americano prediz que a atual juventude está despreparada para o futuro. A quantidade de pessoas dispostas a sacrifícios e ao serviço sofre um rápido declínio, já que 71% dos jovens têm forte tendência à obesidade, envolvimento em pequenos delitos, doença mental e problemas relacionados ao uso de drogas. “Enquanto 70% dos americanos com mais de 60 anos seriam aprovados em um teste de cidadania, entre os jovens essa taxa ficaria em torno de 20%. A geração de hoje revela pouco interesse e parece importar-se pouco com o que acontece. Eu nunca ouvi um jovem afirmando seu amor pelo seu país”.
Ao refletir sobre todas essas considerações, devemos indagar: seria a nossa realidade diferente? Professores, profissionais, religiosos e pais precisam estar atentos às tendências e reações para ajudarmos esta geração no processo de sua formação intelectual e moral.
Como comunicar de forma compreensível e inteligível, a esta geração? Jesus levava em conta a capacidade do seu público de entender sua mensagem. Será que somos capazes de fazer isto?
Certa professora estava recebendo crianças de 3-5 no Departamento infantil, e todas foram chegando com suas marcas peculiares. Quando conseguiu organizar a sala, iniciou a lição perguntando: “Quantos aqui sabem um versículo de cor?” Uma das crianças levantou a mão. E a professora disse: “então fala pra nós.” E ela respondeu: “Mais bem aventurado é dar que receber.” E a professora perguntou: “seu pai é missionário? Ele respondeu: Não, ele é lutador de UFC.”
Um dia contei esta história em um de meus sermões, e ao invés de dizer, lutador de UFC, eu disse “pugilista.” Mas metade da igreja não sabia o que era um pugilista. Às vezes dizemos coisas inferindo que as pessoas estão entendendo, mas o que estamos dizendo, não faz sentido algum e não responde às questões cruciais que nossos filhos encontram,
Precisamos de uma linguagem relevante. Existe um novo contexto, uma nova forma de comunicar.
2. Linguagem coerente
Esta geração pode ser relativista e subjetivista, mas é autêntica e busca coerência naquilo qe dizemos. É incoerente, mas não aceita incoerência. Eventualmente choca-nos pela sinceridade com que confessam seus pecados e admitem seus fracassos. Entretanto, uma das coisas que ela não aceita é a autoridade com base nos dogmas e institucionalização. Para se submeterem aquilo que é dito precisa ter coerência.
A geração anterior engolia seco as ordens e se submetia àquilo que era dito. Esta não é a realidade da geração atual. Muitos filhos estão vomitando a igreja, porque não suportam mais as contradições e incoerências de sua liderança. Uma pergunta que Ruben Alves faz é a seguinte: “Vômito é sinal de saúde ou de doença?” Você pode responder das duas formas, mas muitas vezes, vomitar é um ato de cura. O organismo detecta alguma coisa que está fazendo mal e rejeita. O organismo está bom, e por isto mesmo, lança para fora aquilo que poderia fazer mal.
Coerência tem a ver com integridade: O que falamos e como falamos.
Duas são as maiores fontes de apostasia.
Primeira, uma liderança inescrupulosa e infiel. Igrejas sofrem tremendamente por causa de seus líderes, seus pecados, pastores autoritários. Uma liderança pecaminosa tem um efeito devastador na alma de um adolescente. O efeito dos abusos psicológicos e espirituais marcam indelevelmente a fé, e muitas vezes o impacto é devastador. Precisamos orar para que Deus nos dê pastores e líderes tementes a Deus, que inspirem, que ajudem os jovens no seu processo de crescimento.
Segunda. Pais inescrupulosos e incoerentes. Não adianta falar de Deus, sem que as verdades do evangelho também não passem pelas vísceras familiares. Lares que professam a fé com seus lábios, mas negam a Deus na sua prática diária, geram crises profundas na espiritualidade dos filhos. Filhos aprenderam a amar a Deus ao verem o amor puro e simples de pais que verdadeiramente amam ao Senhor.
3. Linguagem do afeto
A terceira linguagem eficaz para esta geração tem a ver com a afetividade. Nossa mensagem precisa penetrar nossas entranhas. Paulo usa uma linguagem peculiar ao tratar deste assunto: “Se há entranhados afetos e misericórdias.” (Fp 2.1) São afetos profundos, não verbais, mas que penetram as camadas mais profundas das nossas emoções.
Nossos filhos crerão em Jesus quando virem que o Evangelho, de fato, impacta as relações. Nossa mensagem tem que chegar ao coração. Ted Tripp escreveu o que considero o melhor texto sobre pedagogia cristã baseada no evangelho. Ele afirma que temos educado nossos filhos com base numa abordagem comportamental, uma abordagem behaviorista, baseada em Skinner, reforço positivo e negativo, mas o grande desafio é chegar ao coração de nossos filhos. Temos que pastorear seus corações.
O evangelho não é a aceitação de um código rígido de doutrina e moral, mas uma vivência dos afetos A teologia do afeto tem que marcar esta geração. Eles vão perceber Deus na vida dos pais quando isto se revelar nos afetos.
O bom testemunho de ternura e afetividade impactarão esta geração atual. Crianças formam sua concepção de divindade e de sagrado, a partir daquilo que veem e experimentam na vida de seus pais. Na Europa, temos hoje a geração pós cristã, os filhos estão rejeitando as igrejas, por causa do descrédito institucional, história de autoritarismo e desmandos, mas muitos filhos vomitam a educação contraditória da fé, por não verem qualquer coerência nos pais que se declaram cristãos.
Como os afetos penetram a comunicação em Jesus.
1. Jesus ensina os discípulos – “E disse-lhes: Deixai vir a mim os pequeninos, não os embaraceis, porque dos tais é o reino de Deus.” (Mc 10.14) Jesus se aproxima das crianças para demonstrar qual deve ser a atitude de seus seguidores. Crianças não eram menos importantes. Crianças participam do culto doméstico, espalham a boa semente mais que imaginamos, podem crescer conhecendo a Cristo, tem disposição para trabalhar por Cristo, crianças aprendem conceitos de vida cristã quando são ainda muito novas. Precisamos nos preocupar com as crianças, porque podem sofrer irreversivelmente, para o resto da vida. Porque crianças tem fome, 4000 crianças são assassinadas por ano no Brasil. Crianças podem nunca saber o que é infância e podem ter futuro, ou não, dependendo muito de nós e de nosso compromisso com elas.
Jesus ensina aos seus discípulos: “Deixai vir a mim os pequeninos, não os embaraceis, porque dos tais é o reino de Deus.”
- Jesus as toma as crianças nos braços
“Em seguida, tomou as crianças nos braços, impôs-lhes as mãos e as abençoou.” (Mc 10.16). Esta figura é muito linda. Ele as abraça, ele as recebe, é uma atitude de acolhimento, proteção, colo, segurança, ternura. Enquanto os discípulos as espantam e repreendem, Jesus as acolhe e as coloca nos seus braços. De alguma forma precisamos tomá-la em nossos braços, abraçá-las e acolhê-las.
- Jesus impõe as mãos sobre elas – “Em seguida, tomou as crianças nos braços, impôs-lhes as mãos.” (Mc 10.16).
Aqui temos a ideia de proteção espiritual, de unção. Jesus “impôs-lhes as mãos.” Nossos filhos precisam ser espiritualmente protegidos. Orar por eles e com eles. Entrar nos seus quartos de madrugada e orar por eles. Diariamente nossos filhos são expostos a cenas de violência na televisão, a abusos e bullying, será que estamos atentos sobre os ataques espirituais que nossos filhos sofrem?
- Jesus as abençoa – “Impôs-lhes as mãos e as abençoou.” (Mc 10.16).
Abençoar é o contrário de amaldiçoar. Abençoar vem do latim benedicere, que significa “afirmar o outro”. Reconhecer o valor do outro e afirmar tal valor. Facilmente depreciamos a simplicidade e alegria do coração das crianças. Já viram como pré-adolescentes e adolescentes já tem sofrido tantos distúrbios psiquiátricos ainda tão jovens? O aumento significativo de suicídio e depressão, que tem acontecido em crianças cada vez mais jovens, revela que as crianças vivendo aquém de suas possibilidades. O que está acontecendo com esta geração?
Conclusão
No início do meu ministério, preparamos a igreja para uma conferência evangelística. Toda a igreja esteve envolvida, fizemos convites, oramos pelo evento e convidamos um pregador de fora para nos trazer a mensagem. No final do culto, 9 pessoas, entre elas uma criança, aceitaram o convite para entregarem sua vida a Jesus. Depois de conversar com “os adultos”, me curvei para conversar com aquela menina de apenas 9 anos, e lhe perguntei: “Por que você se levantou e veio até à frente?”. E ela, emocionada me respondeu: “Por que Jesus me tocou?”.
Envergonhado devo admitir, que a melhor e mais abrangente resposta que recebi naquela noite, foi a de uma criança, sendo tocada por Jesus. Não devemos nunca subestimar o que uma criança tocada por Jesus é capaz de experimentar.
Rev. Márcio Alonso, capelão do IPE em Goiânia, nos relatou a história da conversão de um alcoólatra em são Paulo. Ele entrou casualmente na igreja presbiteriana num culto de quarta feira e ali o Espírito Santo alcançou seu coração e ele tomou a decisão de seguir a Cristo. Naquela noite, chegou em casa e disse a sua esposa que ele agora era crente. A esposa não levou a sério sua palavra, mas no dia seguinte ele não bebeu mais. No domingo, disse à sua esposa: “estou indo à igreja.” Ela, vendo que algo acontecera na vida de seu esposo, ficou interessada e foi com ele. Ela também entregou sua vida a Cristo.
Esta família tinha um filho adolescente, reativo, mau humorado, desordeiro, que começou a ir na igreja com eles e causar problemas na ordem do culto, porque não parava quieto e ainda atrapalhava os demais adolescentes. Um diácono, um pouco mais sisudo, o procurou e disse: “Por que você ainda vem à igreja? Você não presta atenção no culto, atrapalha os demais, não larga o celular e incomoda todos ao seu redor?” E aquele adolescente, sinceramente respondeu: “Meu pai era alcoólatra, todos em casa tínhamos medo dele, ele não trazia comida e ainda nos ameaçava. Um dia ele afirmou que teve um encontro com Deus e desde então sua vida mudou, e as coisas mudaram em casa. Tudo está muito melhor. Então, se você perguntar por que eu ainda venho à igreja eu lhe direi: “Se Deus mudou meu pai, pode mudar minha vida também.”
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