quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Gn 4.17 A Igreja e o desafio urbano


 

 

Introdução:

 

Um dos grandes desafios da igreja é seu relacionamento com a cidade. José Comblin, teólogo católico indaga os motivos por detrás do silêncio da teologia cristã sobre a cidade. Para ele, não a igreja não refletiu muito sobre o assunto porque boa parte de nossa teologia tenha sido escrito por homens que viveram em pequenas cidades. Um exemplo que pode ser citado ‘e o de Calvino. Quando ele escreveu as Institutas, e aos 27 anos já havia terminado seu trabalho, Genebra tinha apenas 17 mil habitantes. Era do tamanho de Rialma.

A Bíblia não começa na cidade, mas num jardim, num campo. Deus o colocou neste jardim para cultivar e guardar. No entanto, há uma progressão nesta caminhada, e ela termina com a visão da cidade celestial: A Jerusalém que desce dos céus.

Peguy afirma que devemos estudar a questão da cidade, não por oportunismo, mas por vocação e mística.

A origem da cidade na Bíblia não é muito animadora. Este texto afirma que a primeira cidade a ser construída foi uma idéia de Caim, que foi um assassino. Isto, a princípio, pode nos levar a pensar na cidade com uma idéia de resistência e ate mesmo repulsa. Caim tinha 2 motivos declarados neste texto ao construí-la.

 

A.     Ele a construiu para sua defesa própria – A cidade surge como uma necessidade de proteção de pessoas com um histórico ruim. Por esta razão, a questão da segurança, controle político, luta pelo poder, está presente em todos movimentos históricos de aglutinação;

B.      Caim deu o nome de seu filho à cidade – Demonstra com isto, que a cidade tem o potencial para a auto promoção, personalismo e vaidade. Caim chamou esta cidade de “Enoque”, que era o nome de seu filho.

 

Portanto, ao lermos as primeiras linhas da Bíblia, podemos fazer um pré-julgamento sobre a cidade. No entanto, a bíblia inteira fala da necessidade do povo de Deus ter os olhos postos sobre as cidades, mesmo aquelas que resistem a orientação de Deus. Um dos textos mais dramáticos que lemos nas Escrituras ‘e o chamado de Jonas e sua resistência para pregar a uma cidade, Nínive, que era conhecida por sua maldade. A cidade, porem, que personifica o mal em toda Bíblia é Babilônia. Por outro lado, Jerusalém é simbolicamente a cidade amada.

A palavra “polis” aparece 45 vezes, apenas nos escritos lucanos (Lucas e Atos). Jesus várias vezes demonstra seu foco de ministério apontando para as cidades (Lc 10.1) e chora por Jerusalém ao perceber seu fechamento para a mensagem da redenção (Mt 23.37-38), e se entristece pelas cidades impenitentes como Corazim, Betsaida e Cafarnaum pela sua incredulidade e dureza de coração (Mt 11.20-23).

No seu ministério, Jesus andava de “cidade em cidade” (Lc 8.1) e enviou seus discípulos a pregaram nas cidades, por onde ele planejava andar (Lc 10.1). Uma das frases mais impactantes para demonstrar como a igreja pode ser positiva para uma cidade é descrita em At 8.8: “E houve grande alegria para aquela cidade”. Isto aconteceu quando o ministério dos seguidores de Cristo começou a atingi-la, trazendo libertação e cura para seus habitantes e os espíritos imundos eram desmascarados.

As cidades, com sua complexidade social, cultural, econômica, política e espiritual tornam-se um grande campo para atuação da igreja. Linthicum escreveu um excelente livro com o título “Cidade de Deus e cidade de Satanás”, afirmando que na cidade ocorrem grandes lutas entre as forcas do inferno e a obra de Deus.

Um dos incidentes mais marcantes na minha vida se deu quando ainda era pastor nos EUA, na cidade de Cambridge-MA. Certo dia resolvemos fazer um trabalho de rua e levamos o coral para cantar em plena praça, na famosa “Central Square”, onde fica o metro, entre a Harvard e o MIT. Quando ali chegamos, uma pessoa mal vestida e estranha, veio na minha direção, parou cerca de 40 cms de mim e nossos olhos se cruzaram, e ele me afirmou: “I’m the boss here” (eu sou o chefe aqui). Provavelmente ele fosse espiritualmente o dominador daquele lugar. Fiquei pensando naquelas palavras e a resposta tem sido: “A new boss is coming!”. (um novo chefe est’a chegando). A igreja, com sua mensagem e estilo de vida torna-se confrontativo. Uma ameaça ao inferno e aos dominadores deste mundo tenebroso.

Portanto, apesar de Caim ter sido o fundador da primeira cidade mencionada na Bíblia, vemos Deus sempre dando diretriz ao seu povo em relação “a cidade:

 

1. A Bíblia ordena que o povo de Deus ore pela cidade.

               Sl 122.6-9: Orai pela paz de Jerusalém! Sejam prósperos os que te amam. Reine paz dentro de teus muros e prosperidade nos teus palácios. Reine paz dentro de teus muros e prosperidade nos teus palácios. Neste texto vemos o Senhor convocando Israel para orar por Jerusalém.

Jr 29.4-7: Assim diz o SENHOR dos Exércitos, o Deus de Israel, a todos os exilados que eu deportei de Jerusalém para a Babilônia: Edificai casas e habitai nelas; plantai pomares e comei o seu fruto. Tomai esposas e gerai filhos e filhas, tomai esposas para vossos filhos e dai vossas filhas a maridos, para que tenham filhos e filhas; multiplicai-vos aí e não vos diminuais. Procurai a paz da cidade para onde vos desterrei e orai por ela ao SENHOR; porque na sua paz vós tereis paz. Aqui vemos o Senhor pedindo que seu povo ore por uma cidade, que na Bíblia ‘e o símbolo de toda perversão e hostilidade contra Deus.

1 Tm 2.1-3 Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas, orações, intercessões, ações de graças, em favor de todos os homens, em favor dos reis e de todos os que se acham investidos de autoridade, para que vivamos vida tranqüila e mansa, com toda piedade e respeito. Isto é bom e aceitável diante de Deus, nosso Salvador,

 

Ray Bakke, um dos mais respeitados estudiosos de Missão Urbana, afirma que um dos grandes entraves para a expansão do reino de Deus nas cidades tem sido o fato de que poucas pessoas oram de forma intencional e profunda pela cidade.

 

2. A Bíblia exorta o povo de Deus a construir o bem da cidade.

Cidade é o objeto do amor de Deus. A presença da igreja deve impactar a ordem social da cidade. Vimos isto em At 8.8.

Por isto vemos Jesus chorando pelas cidades impenitentes e por Jerusalém.

Mt 11.20-23) – “Passou, então, Jesus a increpar as cidades nas quais ele operara numerosos milagres, pelo fato de não se terem arrependido: Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida! Porque, se em Tiro e em Sidom se tivessem operado os milagres que em vós se fizeram, há muito que elas se teriam arrependido com pano de saco e cinza. E, contudo, vos digo: no Dia do Juízo, haverá menos rigor para Tiro e Sidom do que para vós outras. Tu, Cafarnaum, elevar-te-ás, porventura, até ao céu? Descerás até ao inferno; porque, se em Sodoma se tivessem operado os milagres que em ti se fizeram, teria ela permanecido até ao dia de hoje. Digo-vos, porém, que menos rigor haverá, no Dia do Juízo, para com a terra de Sodoma do que para contigo”.

 

Mt 23.37-38: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas vezes quis eu reunir os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, e vós não o quisestes! Eis que a vossa casa vos ficará deserta”.

 

Vamos analisar alguns resultados da presença da igreja nas cidades:

 

A. Trouxe rebuliço em Jerusalém – O derramamento do Espírito em At 2;  a reação das autoridades em At 4;  A conversão em massa em Jerusalém At 2.41 e 4.4, levou as autoridades a se sentirem preocupados a a prenderem alguns dos apóstolos (At 4).

 

B. Trouxe alegria para Samaria – A frase bíblica é simples, mas direta. “E houve grande alegria naquela cidade”. A cidade foi impactada com uma benção e isto era perceptível no meio do povo.

 

C. Transtonaram Atenas – “Aqueles que estão transtornando o mundo chegaram até aqui” At 17.16. A cidade de Éfeso, nicho idolatra “foi tomada por confusão” (At 19.29);

 

D. A presença da igreja desestruturava as obras malignas – Em Mc 5 vemos Jesus se dirigindo para uma cidade chamada de Decápolis, na região de Gadara. O texto descreve que sua única ação foi a de libertar um homem que vivia oprimido por espíritos malignos. Em seguinda Jesus ‘e expulso da região e nada mais pode fazer.

 

 

Conclusão:

Para concluir, gostaria de sugerir três linhas de ação:

a)- Ore intencionalmente pela sua cidade. Ray Bakke afirma que um dos maiores entraves para o ministério urbano é que existem poucas pessoas orando pela sua cidade. Transforme a oração pelos poderes públicos, executivo, judiciário e legislativo, em uma agenda de sua vida;

b)- Descubra como ajudar sua cidade. Ministério com pobres e necessitados. Inserção comunitária. Participação política, não necessariamente partidária, nem por fisiologismo e conveniência, para trazer propostas de ação eficientes para sua região;

c)- envolva-se em projetos evangelísticos. Plantação de novas igrejas, congregações, eventos. Use cada oportunidade para glorificar a Deus e exaltar seu nome.

 

Que Deus nos ajude!

 

Samuel Vieira

 

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