Introdução:
Um dos grandes
desafios da igreja é seu relacionamento com a cidade. José Comblin, teólogo
católico indaga os motivos por detrás do silêncio da teologia cristã sobre a
cidade. Para ele, não a igreja não refletiu muito sobre o assunto porque boa
parte de nossa teologia tenha sido escrito por homens que viveram em pequenas
cidades. Um exemplo que pode ser citado ‘e o de Calvino. Quando ele escreveu as
Institutas, e aos 27 anos já havia terminado seu trabalho, Genebra tinha apenas
17 mil habitantes. Era do tamanho de Rialma.
A Bíblia não
começa na cidade, mas num jardim, num campo. Deus o colocou neste jardim para
cultivar e guardar. No entanto, há uma progressão nesta caminhada, e ela
termina com a visão da cidade celestial: A Jerusalém que desce dos céus.
Peguy afirma
que devemos estudar a questão da cidade, não por oportunismo, mas por vocação e
mística.
A origem da
cidade na Bíblia não é muito animadora. Este texto afirma que a primeira cidade
a ser construída foi uma idéia de Caim, que foi um assassino. Isto, a princípio,
pode nos levar a pensar na cidade com uma idéia de resistência e ate mesmo
repulsa. Caim tinha 2 motivos declarados neste texto ao construí-la.
A.
Ele a construiu para sua defesa própria – A cidade
surge como uma necessidade de proteção de pessoas com um histórico ruim. Por
esta razão, a questão da segurança, controle político, luta pelo poder, está
presente em todos movimentos históricos de aglutinação;
B.
Caim deu o nome de seu filho à cidade – Demonstra com
isto, que a cidade tem o potencial para a auto promoção, personalismo e
vaidade. Caim chamou esta cidade de “Enoque”, que era o nome de seu filho.
Portanto, ao
lermos as primeiras linhas da Bíblia, podemos fazer um pré-julgamento sobre a
cidade. No entanto, a bíblia inteira fala da necessidade do povo de Deus ter os
olhos postos sobre as cidades, mesmo aquelas que resistem a orientação de Deus.
Um dos textos mais dramáticos que lemos nas Escrituras ‘e o chamado de Jonas e
sua resistência para pregar a uma cidade, Nínive, que era conhecida por sua
maldade. A cidade, porem, que personifica o mal em toda Bíblia é Babilônia. Por
outro lado, Jerusalém é simbolicamente a cidade amada.
A palavra “polis”
aparece 45 vezes, apenas nos escritos lucanos (Lucas e Atos). Jesus várias
vezes demonstra seu foco de ministério apontando para as cidades (Lc 10.1) e
chora por Jerusalém ao perceber seu fechamento para a mensagem da redenção (Mt
23.37-38), e se entristece pelas cidades impenitentes como Corazim, Betsaida e
Cafarnaum pela sua incredulidade e dureza de coração (Mt 11.20-23).
No seu
ministério, Jesus andava de “cidade em cidade” (Lc 8.1) e enviou seus
discípulos a pregaram nas cidades, por onde ele planejava andar (Lc 10.1). Uma
das frases mais impactantes para demonstrar como a igreja pode ser positiva
para uma cidade é descrita em At 8.8: “E houve grande alegria para aquela
cidade”. Isto aconteceu quando o ministério dos seguidores de Cristo começou a
atingi-la, trazendo libertação e cura para seus habitantes e os espíritos
imundos eram desmascarados.
As cidades,
com sua complexidade social, cultural, econômica, política e espiritual
tornam-se um grande campo para atuação da igreja. Linthicum escreveu um
excelente livro com o título “Cidade de Deus e cidade de Satanás”, afirmando
que na cidade ocorrem grandes lutas entre as forcas do inferno e a obra de
Deus.
Um dos
incidentes mais marcantes na minha vida se deu quando ainda era pastor nos EUA,
na cidade de Cambridge-MA. Certo dia resolvemos fazer um trabalho de rua e
levamos o coral para cantar em plena praça, na famosa “Central Square”, onde
fica o metro, entre a Harvard e o MIT. Quando ali chegamos, uma pessoa mal
vestida e estranha, veio na minha direção, parou cerca de 40 cms de mim e
nossos olhos se cruzaram, e ele me afirmou: “I’m the boss here” (eu sou o chefe
aqui). Provavelmente ele fosse espiritualmente o dominador daquele lugar.
Fiquei pensando naquelas palavras e a resposta tem sido: “A new boss is
coming!”. (um novo chefe est’a chegando). A igreja, com sua mensagem e estilo
de vida torna-se confrontativo. Uma ameaça ao inferno e aos dominadores deste
mundo tenebroso.
Portanto,
apesar de Caim ter sido o fundador da primeira cidade mencionada na Bíblia,
vemos Deus sempre dando diretriz ao seu povo em relação “a cidade:
1. A Bíblia
ordena que o povo de Deus ore pela cidade.
Sl
122.6-9: Orai pela paz de Jerusalém!
Sejam prósperos os que te amam. Reine paz dentro de teus muros e prosperidade
nos teus palácios. Reine paz dentro de teus muros e prosperidade nos teus
palácios. Neste texto vemos o Senhor convocando Israel para orar por Jerusalém.
Jr 29.4-7: Assim diz o
SENHOR dos Exércitos, o Deus de Israel, a todos os exilados que eu deportei de
Jerusalém para a Babilônia: Edificai casas e habitai nelas; plantai pomares e
comei o seu fruto. Tomai esposas e gerai filhos e filhas, tomai esposas para
vossos filhos e dai vossas filhas a maridos, para que tenham filhos e filhas;
multiplicai-vos aí e não vos diminuais. Procurai a paz da cidade para onde vos
desterrei e orai por ela ao SENHOR; porque na sua paz vós tereis paz. Aqui vemos
o Senhor pedindo que seu povo ore por uma cidade, que na Bíblia ‘e o símbolo de
toda perversão e hostilidade contra Deus.
1 Tm 2.1-3 Antes de tudo,
pois, exorto que se use a prática de súplicas, orações, intercessões, ações de
graças, em favor de todos os homens, em favor dos reis e de todos os que se
acham investidos de autoridade, para que vivamos vida tranqüila e mansa, com
toda piedade e respeito. Isto é bom e aceitável diante de Deus, nosso Salvador,
Ray Bakke, um dos mais
respeitados estudiosos de Missão Urbana, afirma que um dos grandes entraves
para a expansão do reino de Deus nas cidades tem sido o fato de que poucas
pessoas oram de forma intencional e profunda pela cidade.
2. A Bíblia
exorta o povo de Deus a construir o bem da cidade.
Cidade é o
objeto do amor de Deus. A presença da igreja deve impactar a ordem social da
cidade. Vimos isto em At 8.8.
Por isto vemos
Jesus chorando pelas cidades impenitentes e por Jerusalém.
Mt 11.20-23) – “Passou, então, Jesus a
increpar as cidades nas quais ele operara numerosos milagres, pelo fato de não
se terem arrependido: Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida! Porque, se em Tiro
e em Sidom se tivessem operado os milagres que em vós se fizeram, há muito que
elas se teriam arrependido com pano de saco e cinza. E, contudo, vos digo: no
Dia do Juízo, haverá menos rigor para Tiro e Sidom do que para vós outras. Tu,
Cafarnaum, elevar-te-ás, porventura, até ao céu? Descerás até ao inferno;
porque, se em Sodoma se tivessem operado os milagres que em ti se fizeram,
teria ela permanecido até ao dia de hoje. Digo-vos, porém, que menos rigor
haverá, no Dia do Juízo, para com a terra de Sodoma do que para contigo”.
Mt 23.37-38: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os
profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas vezes quis eu reunir os
teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, e vós
não o quisestes! Eis que a vossa casa vos ficará deserta”.
Vamos analisar
alguns resultados da presença da igreja nas cidades:
A. Trouxe
rebuliço em Jerusalém – O derramamento do Espírito em At 2; a reação das autoridades em At 4; A conversão em massa em Jerusalém At 2.41 e
4.4, levou as autoridades a se sentirem preocupados a a prenderem alguns dos
apóstolos (At 4).
B. Trouxe
alegria para Samaria – A frase bíblica é simples, mas direta. “E houve grande
alegria naquela cidade”. A cidade foi impactada com uma benção e isto era
perceptível no meio do povo.
C. Transtonaram
Atenas – “Aqueles que estão transtornando o mundo chegaram até
aqui” At 17.16. A cidade de Éfeso, nicho idolatra “foi tomada por confusão” (At
19.29);
D. A presença da igreja
desestruturava as obras malignas – Em Mc 5 vemos Jesus se dirigindo para uma
cidade chamada de Decápolis, na região de Gadara. O texto descreve que sua
única ação foi a de libertar um homem que vivia oprimido por espíritos malignos.
Em seguinda Jesus ‘e expulso da região e nada mais pode fazer.
Conclusão:
Para concluir,
gostaria de sugerir três linhas de ação:
a)- Ore
intencionalmente pela sua cidade. Ray Bakke afirma que um dos maiores entraves
para o ministério urbano é que existem poucas pessoas orando pela sua cidade. Transforme
a oração pelos poderes públicos, executivo, judiciário e legislativo, em uma
agenda de sua vida;
b)- Descubra
como ajudar sua cidade. Ministério com pobres e necessitados. Inserção comunitária.
Participação política, não necessariamente partidária, nem por fisiologismo e conveniência,
para trazer propostas de ação eficientes para sua região;
c)- envolva-se
em projetos evangelísticos. Plantação de novas igrejas, congregações, eventos. Use
cada oportunidade para glorificar a Deus e exaltar seu nome.
Que
Deus nos ajude!
Samuel
Vieira
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