Introdução:
De acordo com os evangelhos, 7 frases foram proferidas por Jesus enquanto se encontrava na cruz:
"Mulher, eis ai teu filho; filho, eis ai tua mãe"
"Hoje mesmo estarás comigo no paraíso"
"Pai, perdoa- lhes, porque não sabem. Que fazem"
“Tenho sede"
"Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito"
"Tudo está consumado"
"Deus meu, Deus meu; por que me desamparaste”
Certamente todas estas frases trazem conceitos valiosos, hoje vamos estudar a última declaração. Qual é o significado deste brado de Jesus?
Para alguns, este lamento reflete apenas
o sentimento que Cristo experimenta ali na cruz. Trata-se apenas de um
sentimento.
Você mesmo deve ter experimentado este
senso de orfandade e solidão. Quantas vezes a vi as pessoas dizendo que Deus se
esqueceu delas, e que não sabem se Ele tem conhecimento das coisas que lhe estão
acontecendo. Habacuque, Jeremias, Jó, foram alguns destes personagens que
relatam seu sentimento de abandono. O salmista várias vezes expressa também
esta sensação de abandono. “O teu Deus, onde está?”. Em determinados momentos
de nossa vida, Deus parece desaparecer. Naturalmente Deus não cochila nem
dorme, ele é o guarda de Israel . Quando tudo parece perdido, o encontramos nos
lugares mais inusitados, como Agar, que no desespero foge de casa indo para o
deserto e ali encontra Deus, e isto a impacta tanto que diz: “Certamente este é
um Deus que vê”. Quando Jesus afirma "Deus
meu, Deus meu; por que me desamparaste” ele poderia estar expressando este
sentimento de desamparo. Aqui vemos o Filho de Deus, uma das três pessoas da
Trindade, bradando ao Pai e perguntando sobre o sentimento de abandono que
enfrenta. Aqui vemos Deus abandonando a Deus.
Para outros, este brado nos leva para
o cerne do Evangelho e nos ajuda a entender porque Jesus precisou ser
abandonado na cruz. Vemos aqui o paradoxo do Deus da vida enfrentando a morte, o
Deus da comunhão desamparado, solitário e abandonado. Por que foi necessário
tal abandono? Não é a Trindade a melhor comunidade como afirmou Leonardo Boff.
O que este texto nos quer ensinar?
Neste caso, Jesus experimentou um
abandono real de Deus. É exatamente isto que o evangelho nos ensina.
A morte de Cristo não é acidental, mas
faz parte de um projeto de Deus para a humanidade.
Os teólogos chamam a isto de "Pacto da redenção", feito pelas três pessoas da Trindade nos tempos eternos. Deus fez o homem para viver com ele em plena comunhão, mas o homem decidiu viver de forma autônoma e independente, e pela sua rebeldia se distanciou e se afastou da comunhão com o Pai. Deus então vem em busca deste homem para restabelecer sua comunhão e restaurar o mundo consigo mesmo. Para isto, tomou algumas decisões:
Os teólogos chamam a isto de "Pacto da redenção", feito pelas três pessoas da Trindade nos tempos eternos. Deus fez o homem para viver com ele em plena comunhão, mas o homem decidiu viver de forma autônoma e independente, e pela sua rebeldia se distanciou e se afastou da comunhão com o Pai. Deus então vem em busca deste homem para restabelecer sua comunhão e restaurar o mundo consigo mesmo. Para isto, tomou algumas decisões:
A. Prometeu que enviaria um
descendente de Eva para esmagar a cabeça da serpente. (Gn 3.15). Este é um anúncio
de seu plano para a humanidade. E para demonstrar que a roupagem que o homem
faz é ineficaz para cobrir sua vergonha e nudez, que seus esforços próprios são
insuficientes, providenciou vestimentas para Adão e Eva, e os cobriu (Gn 3.21).
B. Preparou um povo, com a idéia dos sacrifícios
e oferendas, para entender o sacrifício que seu amado Filho faria em resgate dos
homens. A idéia do redentor e das ofertas substitutivas vai assumindo todas as
figuras sacrificiais do AT. Ainda hoje nos assustamos com a quantidade de
animais oferecidos no AT, mas isto nada mais era que uma forma de comunicar simbolicamente,
seu plano final através do Cordeiro eterno que seria morto, afinal, "é impossível que o sangue de touros e bodes
remova pecados". Então, porque eram feitos estes sacrifícios? O autor
da carta aos hebreus afirma eram "sombras" ou "tipos" que
apontavam para Jesus (Hb 10.1). Foi o método que Deus usou para que, didaticamente,
o povo hebreu entendesse o sacrifício de seu filho na cruz.
C. A primeira epístola de Pedro,
afirma que "fomos resgatados pelo
precioso sangue,como de Cordeiro, sem defeito e sem mácula. Sangue este
conhecido com efeito, antes da fundação do mundo, porém manifestado no fim dos
tempos, por amor de vós" (1 Pe 1.18-20). O que podemos entender de
tais afirmações? O sangue do Cordeiro foi conhecido "antes da fundação do
mundo". Em Ap 13.8 lemos que Jesus é o Cordeiro que foi morto, "antes
da fundação do mundo"? Afinal, quando Jesus morreu: há dois mil anos atrás,
sob o poder de Poncio Pilatos, ou na eternidade? A resposta correta é que ambas
estão corretas.
Ao juntarmos estes textos, percebemos que
a morte de Cristo não foi um acidente de percurso, mas fazia parte essencial no
projeto de Deus para nos reconciliar consigo mesmo. Jesus morreria, uma vez por
todas, pelos homens. Por esta razão, Jesus foi sempre claro quanto à sua morte.
Ele disse isto várias vezes aos seus discípulos. "Começou Jesus Cristo a mostrar aos seus discípulos que era necessário
seguir para Jerusalém, sofrer muitas coisas dos anciãos... Ser morte e
ressuscitado ao terceiro dia”(Mt 16.21). Sua morte não foi acidental, mas vital
e necessária.
Sendo assim, morrer na cruz era seu
inexorável destino. Sendo a cruz inevitável, então, porque ele afirma que
estava desamparado, e pergunta ao Pai, porque ele o desamparara?
Ao morrer na cruz, Jesus estava assumindo o lugar de maldição em lugar da humanidade. O justo pelos injustos. “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio, maldição em nosso lugar, porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado em madeiro” (Gl 3.13). Ao morrer desta forma, ele estava atendendo uma necessidade legal, atendendo uma exigência que era feita pela lei. A Bíblia ensina que "A alma que pecar, essa morrerá" (Rm 6.23). Se Deus simplesmente ignorasse o nosso pecado e nos salvasse, ele não estaria sendo justo, pois quebraria sua própria lei.
Ao morrer na cruz, Jesus estava assumindo o lugar de maldição em lugar da humanidade. O justo pelos injustos. “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio, maldição em nosso lugar, porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado em madeiro” (Gl 3.13). Ao morrer desta forma, ele estava atendendo uma necessidade legal, atendendo uma exigência que era feita pela lei. A Bíblia ensina que "A alma que pecar, essa morrerá" (Rm 6.23). Se Deus simplesmente ignorasse o nosso pecado e nos salvasse, ele não estaria sendo justo, pois quebraria sua própria lei.
C. S. Lewis, traduz isto muito
corretamente no livro, "O leão, o feiticeiro e o guarda roupa",
quando Aslam morre no lugar de Edmundo, por ele ter quebrado uma lei de Nárnia
e ter traído seus irmãos. Sua sentença era condenação e morte, mas Aslam assume
seu lugar.
Se Deus quebrasse sua própria lei, seria como
a atitude de um juiz iníquo, que conhecendo a lei, a ignora para proteger alguém.
Se Deus agisse desta forma, seria injusto.
Ouvi falar de um juiz que teve que julgar seu próprio filho. A pena pelo delito que ele cometera era uma multa muito alta, e o juiz aplicou corretamente a multa que puniria seu próprio filho. Assim que leu a sentença, sabendo que seu filho na teria condições de assumir e resgatar sua culpa, ele sofreu a penalidade em seu lugar. Se ele apenas absolvesse seu filho, não teria sido justo. Foi assim que Deus fez. "Aquele que não conheceu pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nele fossemos feitos justiça de Deus" (2 Co 5.21).
Ouvi falar de um juiz que teve que julgar seu próprio filho. A pena pelo delito que ele cometera era uma multa muito alta, e o juiz aplicou corretamente a multa que puniria seu próprio filho. Assim que leu a sentença, sabendo que seu filho na teria condições de assumir e resgatar sua culpa, ele sofreu a penalidade em seu lugar. Se ele apenas absolvesse seu filho, não teria sido justo. Foi assim que Deus fez. "Aquele que não conheceu pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nele fossemos feitos justiça de Deus" (2 Co 5.21).
Este brado de dor na cruz revela a
angústia que ele estava experimentando em si mesmo ao receber toda ira do
julgamento de Deus sobre si. O profeta Isaias diz: “Certamente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores
levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus e oprimido. Mas
ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas
iniqüidades; o castigo que nos traz a paz, estava sobre ele, e pelas suas
pisaduras fomos sarados...Todavia, ao Senhor agradou moê-lo, fazendo-o
enfermar; quando der ele a sua alma como oferta pelo pecado, verá a sua
posteridade e prolongará os seus dias; e a vontade do Senhor prosperará nas suas
mãos” (Is 53.4,5,11).
O que fez Jesus na cruz? Ele assumiu
todo pecado da humanidade. A sua dor e seu grito de solidão é resultante do fato
de que ele, mais do que ninguém, sentiu a dor e desamparo que o pecado causa
aos seres humanos, em toda sua intensidade.
A bíblia diz que Jesus enfrentou a
maldição e o juízo de Deus em si mesmo. Ele se tornou maldito por nossa casa.
Por isto Paulo afirma que "Justificados,
pois, pela fé, temos paz com Deus" (Rm 5.1), e, "Nenhuma condenação há para aqueles que estão
em Cristo Jesus "
(Rm 8.1).
Jesus satisfez a justiça divina. A
condenação que estava sobre nós foi paga. Deus imputa agora, a todos os que
olham para esta cruz, a justiça de Cristo. A pena foi paga, e fomos declarados
justos, absolvidos. Estamos livres aos olhos de Deus. Deus imputou esta justiça
a nós que recebemos a Cristo em nossos corações. “Imputar” é atribuir a outrem,
algo que ele não possui. Todo julgamento e condenação foram colocados sobre Jesus.
Seu brado reflete o desamparo e o peso do pecado. Toda ira e maldição foram
colocados em Jesus.
No AT, os animais eram sacrificados,
apontando para o sacrifício perfeito que seria realizado em Cristo. Agora , na
cruz, vemos todas as profecias e todo o simbolismo do Antigo Testamento se
cumprindo.
Conclusão:
Conta-se que um garotinho ganhou um lindo barquinho que havia sido feito artesanalmente pelo seu pai, e ele não cessava de admirar o mesmo. Um dia, após uma chuva, resolveu colocá-lo num pequeno rio que passava próximo à sua casa, mas a correnteza forte o arrastou, e o menino ficou ali chocado e chorando o seu presente perdido. Alguns dias depois, passando pelo centro da cidade, viu seu barquinho à venda numa loja de artesanato. Tentou convencer o dono que aquele era o seu barquinho, mas o comerciante afirmou que o tinha comprado de um determinado homem, e que se ele quisesse reavê-lo teria de pagar o preço estipulado. Ele foi correndo para sua casa, para ver se conseguiria juntar o dinheiro para ter novamente seu presente de volta, e depois de muito esforço, conseguiu reunir a grana, foi à loja, e readquiriu seu estimado bem. Ao sair dali, com seu barquinho, abraçava-o, e lhe dizia: agora você é meu, por duas razões: primeiro, foi meu pai quem o fez; segundo, eu o comprei.
Foi isto que Deus fez por nós. Ele nos fez para ele, para louvor da glória de sua graça, somos obra dele, mas nos distanciamos e nos privamos de sua companhia, agora ele envia seu próprio filho, e ele nos “comprou”, (este é um termo muito presente no NT), para que novamente voltássemos para ele, de onde nunca deveríamos ter saído.
Conta-se que um garotinho ganhou um lindo barquinho que havia sido feito artesanalmente pelo seu pai, e ele não cessava de admirar o mesmo. Um dia, após uma chuva, resolveu colocá-lo num pequeno rio que passava próximo à sua casa, mas a correnteza forte o arrastou, e o menino ficou ali chocado e chorando o seu presente perdido. Alguns dias depois, passando pelo centro da cidade, viu seu barquinho à venda numa loja de artesanato. Tentou convencer o dono que aquele era o seu barquinho, mas o comerciante afirmou que o tinha comprado de um determinado homem, e que se ele quisesse reavê-lo teria de pagar o preço estipulado. Ele foi correndo para sua casa, para ver se conseguiria juntar o dinheiro para ter novamente seu presente de volta, e depois de muito esforço, conseguiu reunir a grana, foi à loja, e readquiriu seu estimado bem. Ao sair dali, com seu barquinho, abraçava-o, e lhe dizia: agora você é meu, por duas razões: primeiro, foi meu pai quem o fez; segundo, eu o comprei.
Foi isto que Deus fez por nós. Ele nos fez para ele, para louvor da glória de sua graça, somos obra dele, mas nos distanciamos e nos privamos de sua companhia, agora ele envia seu próprio filho, e ele nos “comprou”, (este é um termo muito presente no NT), para que novamente voltássemos para ele, de onde nunca deveríamos ter saído.
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