Introdução:
Quando Jacó vê que seus dias estão chegando ao
fim, e sente o prenúncio da morte, convoca seus filhos para abencoá-los. No
entanto, nem todos os filhos o são, pelo contrário, para três deles era uma
sentença condenatória, por causa de atitudes pecaminosas e bárbaras, que haviam
tomado no passado. A sensação que temos é que, por causa de atitudes
anteriores, estes filhos foram “privados” da benção, porque o que haviam feito
os impediu de recebê-las.
Uma música de Nani Azevedo afirma o seguinte:
“Eu não correrei atrás de bençãos. Sei que elas vão me alcançar. Onde eu
colocar a planta de meus pés. Sei que a sua benção chegará”. Esta afirmação é
verdadeira. Existem muitos correndo atrás de bençãos, sem considerar que benção
é resultante de fidelidade. Aquele que crê em mim, disse Jesus, nunca será
confundido (ou envergonhado). Isto é benção. O Salmo 128 afirma: “Bem
aventurado é o homem que teme ao Senhor, e anda nos seus caminhos! Do trabalho
de tuas mãos comerás, feliz serás, e tudo te irá bem” (Sl 128.1,2). A benção é
resultante do temor. Muitas vezes queremos bênçãos, vivendo uma vida de
infidelidade, esquecendo-nos do princípio da semeadura: “aquilo que o homem
planta, isto ele colherá.
Desobediência gera morte. Fidelidade gera
vida, paz, Shalom.
Portanto, procure viver uma vida que permita
que a benção flua através dela. Não obstrua os canais da benção de Deus para
sua vida. Muitas vezes Deus quer nos abençoar, mas se o fizesse ele estaria se
contradizendo, porque estaria abençoando a rebeldia, incredulidade e
infidelidade.
Em Malaquias 2.1-2, o Senhor afirma que muitos
sacerdotes queriam dar a benção de Deus para coisas que Deus abominava, e a
benção se transformava em
maldição. As bençãos pastorais, quando fogem dos princípios
de Deus, ao invés de serem bençãos, se tornam maldição. Portanto, “nunca viole
os princípios de Deus se você deseja ganhar ou manter as bençãos de Deus” (Andy
Stanley).
Na benção proferida por Jacó aos filhos, vemos
alguns destes princípios:
1. Leviandade
e luxuria privaram Rúben de bençãos – (Gn 49.3-4). A sentença de Jacó
contra seu filho primogênito foi duríssima. Eu jamais gostaria de ouvir uma
afirmação desta sobre minha vida. “Rúben,
tu és meu primogênito, minha força e as primícias do meu vigor, o mais
excelente em altivez e o mais excelente em poder. Impetuoso
como a água, não serás o mais excelente, porque subiste ao leito de teu pai e o
profanaste; subiste à minha cama” (Gn 49.3-4).
O que aconteceu?
Rúben se envolveu com a concubina de seu pai.
Concubina era uma “mulher substituta”. Ela não tinha os mesmos direitos de uma
esposa legitima, em geral eram criadas que serviam aos seus donos e lhes
geravam filhos, mas eram consideradas suas mulheres, ainda que, com direitos
menores.
Determinado dia, Rúben se envolveu com Bila,
uma das concubinas de seu pai (Gn 35.22), mãe de Dã e Naftali (Gn 35.25). tal
atitude era muito desrespeitosa naquela cultura, como o seria ainda hoje, mas,
impelido pelos seus impulsos, não considerou a gravidade do que queria fazer e
atendeu à sua luxúria.
Luxúria nos priva de muitas bençãos.
Muitos jovens perdem intimidade com Deus, se
tornam levianos, quebram princípios, por causa da sua promiscuidade e
fornicação, quebrando princípios de Deus e perdendo bençãos em suas vidas.
Muitos homens e mulheres casados, para satisfazer uma paixão ou mesmo por pura
leviandade, entregam-se à infidelidade, traição, quebram seus votos, deixam
seus corações e desejos orientarem suas vidas, esquecem-se dos princípios,
negam sua fé, igreja e reputação por causa da concupiscência de seus desejos
sexuais mal orientados.
Quando isto acontecem, esfriam na fé, perdem a
intimidade com Deus, ficam com vergonha e deixam de ler a bíblia, orar, se
afastam de sua comunidade ou perdem o interesse pelas verdades do evangelho,
não conseguem mais testemunhar e muitos menos compartilhar usa fé, porque
sentem-se desautorizados.
Homens e mulheres quando traem seus
companheiros, arrebentam seus filhos, geram escândalo nas suas igrejas e na
sociedade, levam as pessoas a zombarem de sua fé, deixam seus filhos confusos e
seus companheiros despedaçados e eventualmente isto desemboca no divórcio.
Luxuria e leviandade nos privam das bençãos de
Deus.
Jacó não abençoou Rúben, pelo contrário,
disse-lhe que apesar de ser o primogênito, por ter se entregue à leviandade,
perdera todos os benefícios da linhagem familiar, direitos e privilégios. Não
era mais excelente, porque havia profanado o leito de seu pai. Por sua luxúria
as bençãos são retiradas. “Impetuoso como
a água, não serás o mais excelente”. A benção lhe foi retirada.
2. Ira
e Violência privaram Simeão e Levi de bençãos – “Simeão e Levi são irmãos; as suas espadas são instrumentos de
violência. No seu conselho, não entre minha alma; com o seu agrupamento, minha
glória não se ajunte; porque no seu furor mataram homens, e na sua vontade
perversa jarretaram touros. Maldito seja o seu furor, pois era forte, e a sua
ira; dividi-los-ei em Jacó e os espalharei em Israel” (Gn 49.5-7). O que aconteceu com estes dois irmãos
que motivou Jacó a dar uma sentença tão dura contra eles?
Este episódio está registrado em Gn 34. Para
vingar sua irmã Diná, que na sua visão havia sido violentado por Siquém, um
rapaz que era princípio de um povo vizinho (O texto é meio ambíguo, dando idéia
eventual que não fora um estupro, mas um ato sexual com consentimento) eles
decidiram exterminar à espada toda aquela família. Usando um estratagema
maligno, conseguiram alcançar seu intento e praticaram um genocídio.
Isto trouxe muita tristeza ao coração de Jacó,
que já estava resolvendo a situação com o pai do rapaz. Aqueles homens foram
assassinados sem direito de defesa, Simeão e Levi foram frios, premeditados e
cruéis. Quando isto aconteceu, Jacó ficou devastado e repreendeu seus filhos por
tornarem sua família odiada de todos os vizinhos, e declarando que a atitude
deles havia afligido sua alma (Gn 34.30). Agora, na hora da benção, Jacó não
profere palavras positivas para seus filhos, mas um severo juízo, que atingiria
de forma direta, os seus filhos e netos.
Os outros nove filhos, contudo, recebem a
benção do pai. Os três primeiros, não.
Que lições podemos aprender?
- Não se prive da
benção que Deus tem para sua vida – Abra os canais de Deus para que o
Senhor possa derramar bençãos sem medida sobre sua história, sua casa,
seus bens, seus filhos. Tenho pensado sobre isto em várias áreas:
ü Área Financeira – Deus, em vários
textos do Antigo e Novo Testamento, promete bençãos materiais àqueles que são
fiéis nos dízimos e ofertas.
*“Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, e provai-me nisto, diz o
Senhor, se eu não vos abrir as janelas dos céus e derramar sobre vós, bençãos
sem medida” (Ml 3.10).
*“Honra ao Senhor com os teus bens, e com as primícias de toda a tua
renda; e se encherão de fartamente os teus celeiros, e transbordarão de vinho
os teus lagares” (Pv 3.9-10).
* “E isto afirmo: aquele que semeias pouco
pouco também ceifará; e o que semeia com fartura, com abundância também
ceifará. Cada um contribua segundo tiver proposto no coração, não com tristeza
ou por necessidade; porque Deus ama a quem dá com alegria. Deus pode fazer-vos
abundar em toda graça, a fim de que, tendo sempre, em tudo, ampla suficiência,
superabundeis em toda boa obra, como está escrito: Distribuiu, deu aos pobres,
a sua justiça permanece para sempre. Ora, aquele que dá semente ao que semeia e
pão para alimento também suprirá e aumentará a vossa sementeira e multiplicará
os frutos da vossa justiça, enriquecendo-vos em tudo, para toda generosidade, a
qual faz que, por nosso intermédio, sejam tributadas graças a Deus” (2 Co
9.6-11).
A partir do momento
que sou fiel com meus bens, sendo generoso eu abro os canais de Deus para me
abençoar. Por que? Ao fazer isto em obediência e fidelidade, eu transfiro a
Deus a responsabilidade do meu sustento que torna-se responsabilidade de Deus,
que fez a promessa, e não minha, que acho que tenho o controle das coisas.
ü Área Emocional – Quando a Bíblia
afirma que não devemos nos vingar, antes dar lugar à ira de Deus (Rm 12-17-21),
ela está pedindo que eu transfira os supostos direitos de retribuir o mal que
me fizeram, deixando tal pessoa nas mãos de Deus. O juízo é do Senhor, não meu;
a vingança é de Deus, não minha. Eu não tenho responsabilidade de fazer justiça
com minhas próprias mãos, porque eu deixei Deus ser Deus na minha vida e cuidar
daquele que me ofendeu. Deus vai decidir o que fazer com esta situação. Isto
não é da minha conta.
ü Nossa história pessoal
–
Quando me submeto a Deus em fidelidade, estou semeando. Não preciso correr
atrás de bençãos, elas vão me alcançar. A Bíblia diz: “Não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear,
isto também ceifará. Porque o que semeia para a sua própria carne da carne
colherá corrupção; mas o que semeia para o Espírito do Espírito colherá vida
eterna. E não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se
não desfalecermos. Por isso, enquanto tivermos oportunidade, façamos o bem a
todos, mas principalmente aos da família da fé” (Gl 6.7-10). Semeie com
confiança, aguarde o tempo, a semente está brotando. Plante sementes de
justiça, solidariedade, simpatia, seriedade e misericórdia. Encha seu tanque
emocional e a colheita virá.
- Benção é
outorgada – Jacó
abençoou seus filhos “a cada um
deles abençoou, segundo a benção que lhe cabia” (Gn 49.28). Outra
tradução da Bíblia diz: “Dando a
cada um a benção que lhe pertencia” (NVI).
Não existe benção autóctone, independente de
Deus.
Quando os sacerdotes proferiram bençãos que
Deus não havia autorizado a dar, tais bençãos se transformaram em maldições (Ml
2.1-2). A Benção é uma sentença dada a alguém que já tinha recebido de Deus,
era algo que fora dado, a cada um, segundo lhes pertencia. Já era deles. A
benção foi apenas proferida. Por isto não pode haver benção para Rúben, Simeão
e Levi. Suas atitudes os privaram de bençãos.
Certa vez um casal me procurou para lhes dar
uma benção no casamento. Como eles eram novos e recém chegados à igreja,
marquei um horário e fui visitá-los e ali pude saber um pouco da história deles.
Ela havia se separado do marido, deixando seus
três filhos para trás e se mudara para os EUA. Ali conhecera aquele rapaz e
resolveram morar juntos, e agora me pediram para abencoá-los porque não queriam
estar morando juntos sem a benção de Deus.
Naquela hora, minha benção se tornou sentença
condenatória. Disse-lhes que não poderia abençoar o que Deus não abençoava, que
a atitude dela estava trazendo ira sobre si, que estavam vivendo em pecado e
precisavam se separar, ela deveria se arrepender, voltar para casa para cuidar
de seu marido e filhos. Li o texto de Malaquias 2.1-2, onde Deus afirma que
transformaria a benção dos sacerdotes em maldição, porque não os havia
autorizado a dar aquela benção. É muito perigoso a benção de pastores para
coisas contrárias a orientação da Palavra de Deus. Isto não traz benção, traz
maldição, sobre os pastores e sobre o rebanho.
Queremos benção sem obediência.
Queremos benção sem que ela nos pertença, sem que
tenha sido dada por Deus.
Queremos benção vivendo um estilo de vida pecaminoso.
Deus, no entanto, não tem compromisso com a infidelidade.
“Se perserveramos, também com ele reinaremos;
se o
negamos, ele, por sua vez, nos negará;
se formos
infiéis, ele permanece fiel,
pois de maneira
nenhuma pode negar-se a si mesmo”.
(2 Tm 2.12-13).
Conclusão:
Muitos estão vivendo fora da benção de Deus, por
causa da rebeldia, desobediência, infidelidade. Precisamos voltar para o lugar
da benção.
Dois caminhos são requeridos:
Precisamos de Arrependimento – Compreensão de que
estamos pecando contra Deus, contra sua palavra, contra a santidade. Muitos
cometemos pecados sérios, mas quando nos arrependemos e voltamos para Deus,
podemos encontrar a graça restauradora de Deus.
Precisamos do sangue de Cristo – A morte de Cristo são
boas novas e também denúncia. Ela revela nosso fracasso. A verdade é que, sem a
obra de Cristo, ninguém é suficiente para coisa alguma. Por isto Paulo indaga: “Quem, porém, é suficiente para estas coisas?”
((2 Tm 3.5). Quem é merecedor de benção? Quem pode, por sua justiça própria,
reivindicar de um Deus santo, bençãos, por se julgar merecedora delas? A Bíblia
diz que todos merecemos o castigo de Deus, por causa de nossos pecados.
A cruz de Cristo nos aponta para este lugar
onde podemos ser restaurados e tratados. O sangue de Cristo tira de sobre nós a
condenação de nossos pecados, a acusação, grave de estarmos lutando contra Deus.
A cruz de Cristo realizar estas coisas e nos restaura aos olhos de Deus.
Por esta razão Paulo afirma que “nenhuma condenação
há, para os que estão em Cristo
Jesus”. A benção virá, não por causa dos nossos méritos,
performance e justiça própria, mas pelos méritos e pela justiça de Cristo Jesus,
que nos deu um nome e nos restaurou aos
olhos do Pai, e nos fez assentar nos lugares celestiais, trazendo com ele, para
as nossas vidas, toda sorte de bençãos espirituais (Ef 1.3). É isto que o antigo hino dizia: "Os pecadores indignos, graças dos céus obterão". Tudo isto nos é dado por meio de Cristo.
A maior de todas as bençãos que podemos ter são
espirituais. Jesus é a nossa maior benção. A Bíblia nos diz que nele estão todos
os tesouros de Deus. Quem tem a Cristo não precisa de outras bençãos, que bênçãos
poderemos desejar mais que a Jesus. Por meio de Jesus temos recebido de Deus “toda
sorte de bençãos espirituais” e ele nos tem feito assentar, com Cristo, nos lugares
celestiais (Ef 1.3)
O ponto essencial não é correr atrás de bençãos,
mas não se afastar de Cristo. Ele é o herdeiro, e nós somos co-herdeiros com ele.
A saúde pode faltar e um milagre acontecer e sermos
curados.
Mortos podem ressuscitar
Mas mesmo que sejamos tratados fisicamente, nossa
saúde vai se complicar em outro momento. Mesmo ressurretos, como Lázaro, morreremos
novamente. Bens, podemos ganhar e perder.
Jim Elliot afirmou: “Não é tolo quem dá o que não
pode reter, para ganhar aquilo que não pode perder”.
Conta-se
que um riquíssimo general romano tinha um filho que lhe feria o coração, pois
era desregrado e desequilibrado nas suas decisões e condutas. Este mesmo homem tinha também um escravo que lhe enchia o
coração de alegria e orgulho, por causa de sua fidelidade e cuidado. No seu
leito de morte, o general resolveu deserdar o filho e deixar todos os seus bens
para seu escravo Marcellus. Registrou então sua decisão no papel, fazendo um
testamento e depois chamou seu filho para lhe comunicar a decisão, dizendo-lhe:
“Eu decidi deixar todos os meus bens para meu escravo Marcellus. Vou no entanto
permitir que você escolha para si apenas um item dos meus bens”. Você pode pensar,
escolher calmamente uma das minhas propriedades, mas lembre-se, você tem direito
a uma só delas, portanto, escolha sabiamente.
O jovem impetuoso
voltou-se para o seu pai e lhe disse. “Eu já fiz a escolha”. E o seu pai tentou
convencê-lo a refletir melhor, mas o jovem afirmou sem pestanejar:
-“Eu fico
com Marcellus!”