Introdução:
Esta frase é encantadora.
José saiu de sua parentela, depois de ter sido
vendido pelos seus próprios irmãos, quando tinha 17 anos. A bíblia afirma que
ele tinha 30 anos quando se tornou governador do Egito(41.46). Nos primeiros
sete anos, foram de fartura, e já se haviam passado dois anos de fome quando se
reencontrou com seus irmãos (45.6), portanto, desde sua saída até este
encontro, já se haviam passado 22 anos. Quando saiu era um adolescente, rebelde,
vaidoso, presunçoso, agora era um homem. Muda muito a fisionomia de alguém de
17 anos para 39 anos.
José “beija seu irmãos”, a todos eles. Não
apenas Benjamin, o menor, nascido da mesma mãe, Raquel, mas a todos. Incluindo
aí Simeão, o mentor de sua venda, e Rúben, o primogênito. Sua restauração era
plena, sua cura era completa.
Em 1992, começou a freqüentar a igreja da
Gávea, da qual era pastor no Rio de Janeiro, uma senhora arredia e solitária,
depois de algum tempo me procurou para um aconselhamento e então entendia a
razao pela qual se mantinha distante das pessoas.
Ela havia desaparecido de sua casa, no
interior de um dos estados do Nordeste por desentendimentos familiares. Saiu
sem se despedir, sem dizer que rumo seguiria, no dia de Natal, e já fazia 8
anos que estava distante, sem conversar com ninguém de sua família, sem dar
endereço ou noticias. Se escondera na grande cidade do Rio e se distanciara de
todos.
Agora, ouvindo o evangelho, nos procurou para
saber o que fazer. Orientada, buscou reconciliação e voltou a se reencontrar
com sua família.
Há muita dor, distanciamento e isolamento
entre as pessoas. Mesmo entre membros da mesma família, irmãos, filhos e pais.
Muitos passam anos sem conversar, com hostilidade, amargura e ressentimentos,
algumas vezes por motivos banais como provocações, outras vezes por disputas
infindáveis de herança. Dezenas de pessoas precisam de cura, precisam “beijar
novamente” sua família, restaurar a amizade, a família e o diálogo.
Este texto nos fala da benção que a restauração
pode trazer para pessoas distanciadas.
Vejamos algumas delas:
- Exorciza
fantasmas: Podemos
falar de pelo menos dois destes fantasmas que a narrativa da vida de José
nos revela:
i.
Os Fantasmas da culpa – Gn 42.21-24; 44.16
Aqueles irmãos viviam atormentado pela culpa. Todos os eventos negativos de sua
vida eram motivo para relacionar o fracasso com a crueldade cometida contra seu
próprio irmão muitos anos atrás. Aqueles homens estavam condenados a viver
eternamente culpados. A Bíblia afirma que “a
alma culpada, correrá até a morte” (Pv 28.17). Era assim que viviam. O
desesperado olhar do irmão suplicando misericórdia, os gritos de piedade, todos
estes episódios estavam indelevelmente marcado na sua mente.
“A suspeita sempre persegue a consciência
culpada; o ladrão vê em cada sombra um policial... A minha consciência tem
milhares de vozes, e em cada voz traz-me milhares de historias, e de cada
história sou o vilão condenado” (William Shakespeare).
É destes fantasmas a que se refere
Shakespeare, que este beijo de José vai restaurar seus irmãos. Fomos perdoados,
restaurados, sarados, redimidos.
ii.
Os Fantasmas da mentira – Os irmãos de José
criaram uma situação de mentira para convencer o pai da morte de seu filho.
Tomaram sua túnica, rasgaram-na e derramaram sangue de animais sobre ela. Dali
em diante deverão viver, pactuar e alimentar uma mentira em torno da morte de
seu irmão.
Famílias são hábeis na arte de mentir. São os
segredos familiares criados para proteger a reputação da família, para manter
mentiras e farsas. Tudo isto, agora, é desmascarado quando José lhes beija no
rosto. O beijo aqui, ao contrário do beijo de Judas que foi condenatória, aqui
é libertador. Condenados a viverem eternamente em torno da mentira, são agora
absolvidos desta prisão na qual devem viver para sempre. Todos os anos viam seu
pai chorando o luto (falso) de seu irmão (Gn 37.33-36). Agora não precisam mais
viver em torno da falsidade. São livres para confessar e lamentar, mas não
aprisionados pela culpa e pela mentira.
- Alegra os
corações – Na
mentira em que cai a mentira e a culpa, a liberdade de coração e
consciência traz alegria para suas almas. Podemos destacar três grupos
sendo aqui absolvidos da dor e tristeza:
i.
Os atormentados irmãos de José – Apesar de toda
injustiça e insensibilidade naquele antigo ato praticado, o coração de José
tinha sido suficientemente nobre para não perder a ternura. A injustiça e o
desprezo não foram capazes de embrutecer seu coração.
ii.
O enlutado coração do pai – Jacó, ao ouvir a
noticia da morte de seu filho, fez um veredito duríssimo acerca de si mesmo. “Chorando, descerei a meu filho até à
sepultura” (Gn 37.35). Este cenário é bem distinto daquele que vem depois
da noticia de que seu filho está vivo. “Havendo-lhes
eles contado todas as palavras que José lhes falara, e vendo Jacó, seu pai, os carros
que José enviara para levá-lo, reviveu-se-lhe o espírito” (Gn 45.27). A
restauração promulgada através daquele beijo, torna-se o caminho para que a
vida volte a sua normalidade, e a alegria retorne àquele lar enlutado. A bíblia
afirma que as boas novas restauram até os ossos.
iii.
O coração de José – No reencontro e na restauração, José
está sendo também tratado. O perdão não traz alivio apenas para os que o
recebem, mas para aquele que os concede. “José beijou a todos os seus irmãos”
(Gn 45.15). Sua alma está restaurada e livre.
- Impacta as
gerações futuras
– Mais do que nunca tenho pensando acerca dos efeitos de nossas decisões
de agora. Toda aquela família que vivia na fronteira da fome e da inanição
é agora amparada (Gn 45.17-21). Uma pequena família nômade e sem norte,
agora é trazida para um ambiente de oportunidades. Saem do anonimato para
serem história; da escassez para a fartura; da morte para a vida.
Nossas decisões atuais trazem muitas
implicações para nossos filhos e netos.
O beijo restaurador de José é o pontapé da
cura e redenção, não apenas daquela geração, mas das gerações vindouras.
Conclusão
Restauração e reconciliação é a essência do
Evangelho.
Em 2 Co 5.18 lemos: “Deus estava em Cristo, reconciliando consigo mesmo o mundo” o
projeto de Jesus foi o de reconciliar homens com Deus.
Esta reconciliação foi unilateral. Deus tomou
a iniciativa.
“Nós
amamos porque ele nos amou primeiro” (1 Jo 4.19)
“Mas
Deus prova o seu amor para conosco, no fato de que Cristo morreu por nós, sendo
nós, ainda pecadores” (Rm 5.8)
Deus nos reconciliou consigo mesmo. Jesus veio
para desfazer a barreira e a inimizade que nossos pecados causaram, nos
distanciando de Deus.
Mas o texto nos ensina também que “Deus nos
deu o ministério da reconciliação”. Não apenas reconciliados, mas
reconciliadores. Onde estiver o evangelho, da sua forma mais simples e pura,
veremos lares desfeitos se reatando, pessoas distanciadas se aproximando,
perdão sendo ministrado e recebido, beijos sendo dados.
O evangelho restaura homens com Deus, restaura
relacionamentos quebrados, restaura lares.
O Rev Eudóxio Mendes foi um conhecido pastor
presbiteriano do Sudoeste de Goiás, se estabelecendo e pastoreando por anos, a
igreja de Mineiros-GO. Ele relata que certa feita estava fazendo um trabalho itinerante,
quando ao parar perto de um ribeiro de águas para descansar e dar água aos seus
animais, viu porções da bíblia que levara consigo e folhetos, sendo espalhados por
uma lufada de vento. Recolheram o que podiam, mas parte do material se perdeu no
meio do mato. Por ali passaria, algumas horas mais tarde, certo homem que estava
armado dirigindo-se para a casa de seu irmão para matá-lo, por causa de uma disputa
de terras de herança. Este homem avistou um destes folhetos e ainda que com dificuldade,
conseguiu apanhá-lo e lê-lo. Naquela hora, o Espírito de Deus o quebrantou, e chorando
fez uma oração de entrega de sua vida a Deus, e posteriormente, ao invés de matar
seu irmão, reataram sua história desfazendo as diferenças.
É assim que a obra de Cristo se dá em nossas vidas.
Podemos esperar isto e praticar isto. Um beijo de restauração, nada mais é que a
obra de Deus sendo aplicado em nossas vidas, dando-nos força para perdoar e ser
perdoado.
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