segunda-feira, 2 de junho de 2014

Gn 45.15 “José beijou todos os seus irmãos”



Introdução:

Esta frase é encantadora.
José saiu de sua parentela, depois de ter sido vendido pelos seus próprios irmãos, quando tinha 17 anos. A bíblia afirma que ele tinha 30 anos quando se tornou governador do Egito(41.46). Nos primeiros sete anos, foram de fartura, e já se haviam passado dois anos de fome quando se reencontrou com seus irmãos (45.6), portanto, desde sua saída até este encontro, já se haviam passado 22 anos. Quando saiu era um adolescente, rebelde, vaidoso, presunçoso, agora era um homem. Muda muito a fisionomia de alguém de 17 anos para 39 anos.
José “beija seu irmãos”, a todos eles. Não apenas Benjamin, o menor, nascido da mesma mãe, Raquel, mas a todos. Incluindo aí Simeão, o mentor de sua venda, e Rúben, o primogênito. Sua restauração era plena, sua cura era completa.

Em 1992, começou a freqüentar a igreja da Gávea, da qual era pastor no Rio de Janeiro, uma senhora arredia e solitária, depois de algum tempo me procurou para um aconselhamento e então entendia a razao pela qual se mantinha distante das pessoas.
Ela havia desaparecido de sua casa, no interior de um dos estados do Nordeste por desentendimentos familiares. Saiu sem se despedir, sem dizer que rumo seguiria, no dia de Natal, e já fazia 8 anos que estava distante, sem conversar com ninguém de sua família, sem dar endereço ou noticias. Se escondera na grande cidade do Rio e se distanciara de todos.
Agora, ouvindo o evangelho, nos procurou para saber o que fazer. Orientada, buscou reconciliação e voltou a se reencontrar com sua família.

Há muita dor, distanciamento e isolamento entre as pessoas. Mesmo entre membros da mesma família, irmãos, filhos e pais. Muitos passam anos sem conversar, com hostilidade, amargura e ressentimentos, algumas vezes por motivos banais como provocações, outras vezes por disputas infindáveis de herança. Dezenas de pessoas precisam de cura, precisam “beijar novamente” sua família, restaurar a amizade, a família e o diálogo.

Este texto nos fala da benção que a restauração pode trazer para pessoas distanciadas.
Vejamos algumas delas:

  1. Exorciza fantasmas: Podemos falar de pelo menos dois destes fantasmas que a narrativa da vida de José nos revela:

i.                     Os Fantasmas da culpa – Gn 42.21-24; 44.16 Aqueles irmãos viviam atormentado pela culpa. Todos os eventos negativos de sua vida eram motivo para relacionar o fracasso com a crueldade cometida contra seu próprio irmão muitos anos atrás. Aqueles homens estavam condenados a viver eternamente culpados. A Bíblia afirma que “a alma culpada, correrá até a morte” (Pv 28.17). Era assim que viviam. O desesperado olhar do irmão suplicando misericórdia, os gritos de piedade, todos estes episódios estavam indelevelmente marcado na sua mente.
“A suspeita sempre persegue a consciência culpada; o ladrão vê em cada sombra um policial... A minha consciência tem milhares de vozes, e em cada voz traz-me milhares de historias, e de cada história sou o vilão condenado” (William Shakespeare).
É destes fantasmas a que se refere Shakespeare, que este beijo de José vai restaurar seus irmãos. Fomos perdoados, restaurados, sarados, redimidos.

ii.                   Os Fantasmas da mentira – Os irmãos de José criaram uma situação de mentira para convencer o pai da morte de seu filho. Tomaram sua túnica, rasgaram-na e derramaram sangue de animais sobre ela. Dali em diante deverão viver, pactuar e alimentar uma mentira em torno da morte de seu irmão.
Famílias são hábeis na arte de mentir. São os segredos familiares criados para proteger a reputação da família, para manter mentiras e farsas. Tudo isto, agora, é desmascarado quando José lhes beija no rosto. O beijo aqui, ao contrário do beijo de Judas que foi condenatória, aqui é libertador. Condenados a viverem eternamente em torno da mentira, são agora absolvidos desta prisão na qual devem viver para sempre. Todos os anos viam seu pai chorando o luto (falso) de seu irmão (Gn 37.33-36). Agora não precisam mais viver em torno da falsidade. São livres para confessar e lamentar, mas não aprisionados pela culpa e pela mentira.

  1. Alegra os corações – Na mentira em que cai a mentira e a culpa, a liberdade de coração e consciência traz alegria para suas almas. Podemos destacar três grupos sendo aqui absolvidos da dor e tristeza:

i.                     Os atormentados irmãos de José – Apesar de toda injustiça e insensibilidade naquele antigo ato praticado, o coração de José tinha sido suficientemente nobre para não perder a ternura. A injustiça e o desprezo não foram capazes de embrutecer seu coração.

ii.                   O enlutado coração do pai – Jacó, ao ouvir a noticia da morte de seu filho, fez um veredito duríssimo acerca de si mesmo. “Chorando, descerei a meu filho até à sepultura” (Gn 37.35). Este cenário é bem distinto daquele que vem depois da noticia de que seu filho está vivo. “Havendo-lhes eles contado todas as palavras que José  lhes falara, e vendo Jacó, seu pai, os carros que José enviara para levá-lo, reviveu-se-lhe o espírito” (Gn 45.27). A restauração promulgada através daquele beijo, torna-se o caminho para que a vida volte a sua normalidade, e a alegria retorne àquele lar enlutado. A bíblia afirma que as boas novas restauram até os ossos.

iii.                 O coração de José – No reencontro e na restauração, José está sendo também tratado. O perdão não traz alivio apenas para os que o recebem, mas para aquele que os concede. “José beijou a todos os seus irmãos” (Gn 45.15). Sua alma está restaurada e livre.

  1. Impacta as gerações futuras – Mais do que nunca tenho pensando acerca dos efeitos de nossas decisões de agora. Toda aquela família que vivia na fronteira da fome e da inanição é agora amparada (Gn 45.17-21). Uma pequena família nômade e sem norte, agora é trazida para um ambiente de oportunidades. Saem do anonimato para serem história; da escassez para a fartura; da morte para a vida.

Nossas decisões atuais trazem muitas implicações para nossos filhos e netos.
O beijo restaurador de José é o pontapé da cura e redenção, não apenas daquela geração, mas das gerações vindouras.

Conclusão
Restauração e reconciliação é a essência do Evangelho.
Em 2 Co 5.18 lemos: “Deus estava em Cristo, reconciliando consigo mesmo o mundo” o projeto de Jesus foi o de reconciliar homens com Deus.
Esta reconciliação foi unilateral. Deus tomou a iniciativa.
Nós amamos porque ele nos amou primeiro” (1 Jo 4.19)
Mas Deus prova o seu amor para conosco, no fato de que Cristo morreu por nós, sendo nós, ainda pecadores” (Rm 5.8)
Deus nos reconciliou consigo mesmo. Jesus veio para desfazer a barreira e a inimizade que nossos pecados causaram, nos distanciando de Deus.
Mas o texto nos ensina também que “Deus nos deu o ministério da reconciliação”. Não apenas reconciliados, mas reconciliadores. Onde estiver o evangelho, da sua forma mais simples e pura, veremos lares desfeitos se reatando, pessoas distanciadas se aproximando, perdão sendo ministrado e recebido, beijos sendo dados.
O evangelho restaura homens com Deus, restaura relacionamentos quebrados, restaura lares.

O Rev Eudóxio Mendes foi um conhecido pastor presbiteriano do Sudoeste de Goiás, se estabelecendo e pastoreando por anos, a igreja de Mineiros-GO. Ele relata que certa feita estava fazendo um trabalho itinerante, quando ao parar perto de um ribeiro de águas para descansar e dar água aos seus animais, viu porções da bíblia que levara consigo e folhetos, sendo espalhados por uma lufada de vento. Recolheram o que podiam, mas parte do material se perdeu no meio do mato. Por ali passaria, algumas horas mais tarde, certo homem que estava armado dirigindo-se para a casa de seu irmão para matá-lo, por causa de uma disputa de terras de herança. Este homem avistou um destes folhetos e ainda que com dificuldade, conseguiu apanhá-lo e lê-lo. Naquela hora, o Espírito de Deus o quebrantou, e chorando fez uma oração de entrega de sua vida a Deus, e posteriormente, ao invés de matar seu irmão, reataram sua história desfazendo as diferenças.

É assim que a obra de Cristo se dá em nossas vidas. Podemos esperar isto e praticar isto. Um beijo de restauração, nada mais é que a obra de Deus sendo aplicado em nossas vidas, dando-nos força para perdoar e ser perdoado.

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