domingo, 1 de junho de 2014

Gn 40.23 Ingratidão e Injustiça.




Ingratidão e injustiça.
Gn 40.23

Introdução:

Existem algumas palavras que começam com a letra “i” e que são “insuportáveis”, por causa de seus resultados. São elas: “Imposição, inveja, ignorância, intolerância, invasão, indiscrição”. José experimentou algumas coisas bem duras na sua história: Ingratidão, injustiça e indiferença. Ele teve que lidar com estas coisas não apenas uma vez.
Sofreu a indiferença dos seus irmãos quando o venderam como escravo para os Amalequitas, que posteriormente o revenderam aos Egípcios;
Sofreu a injustiça na casa de Potifar, quando foi condenado mesmo tendo sido fiel;
Experimentou a ingratidão do copeiro chefe, que apesar do pedido de José, o ignorou completamente, e só se lembrou dele por causa de um incidente que veio dois anos depois, com o sonho de Faraó, caso contrário, continuaria no mesmo lugar.
O problema é que todas estas atitudes têm o poder de nos neutralizar para sempre:
Se formos vitimados pela indiferença dos outros e nos abatermos por isto, corremos o risco de morrer existencial, sermos incapazes de amar; Se formos vitimados pela injustiça e não superarmos o que nos fizeram, nos tornarem vítimas do infortúnio e eternamente amargos; Se a ingratidão nos abater, corremos o risco da tristeza e do ressentimento.
Ao olharmos a vida de Jose, vemos que ele experimentou tudo isto, no entanto, soube responder a todas estas provocações de forma madura. Ele conseguiu sair livre, no meio de todas estas amargas experiências. Como ele fez isto?

  1. José perdoou seus ofensores – Sua maior dor, sem dúvida, foi a de ter sido vendido, ainda adolescente, pelos seus próprios irmãos. Fico imaginando que sonhos pode ter alguém com 17 anos. Seus planos e fantasias de ser alguém na vida, certamente já haviam passado pela sua mente. Talvez já estivesse observando alguma garota de uma aldeia vizinha. Todos os seus planos são desfeitos e jogados no lixo. Ele é vendido, sem qualquer direito, perde o nome da família, suas referências pessoais, distancia-se do pai e dos confortos de uma vida doméstica. Agora é levado como animal, exposto numa feira para ser avaliado e negociado como boi.
José tinha todas as razoes do mundo para ser uma pessoa eternamente desgraçada, remoendo-se na sua amargura. Ele, no entanto, optou por perdoar. Talvez imaginasse que nunca mais os veria, mas a dinâmica da vida os trouxe a este inquietante reencontro.
Muitos acham difícil perdoar, mas considere o risco de não perdoar. As perdas que o perdão traz são incomparavelmente menores que as perdas do “não-perdão”. Muitas enfermidades e dores nos advém pelo fato de não perdoarmos. Perdoar é liberar o outro, mas é também nos liberar. Certa mulher que fora traída pelo seu marido, depois de muita dor, revolta dos filhos e desestrutura familiar, disse ao seu marido: “eu preciso perdoar prá gente continuar vivendo”.
Quando nasceu o primeiro filho de José, ele colocou um nome sugestivo: “Manassés”, cujo significado é “Deus me fez esquecer de todos os meus trabalhos e de toda a casa de meu pai” (Gn 41.51). Ao colocar este nome, ele estava fazendo uma declaração de alforria e libertação de sua alma.

  1. José relacionou os eventos desconexos de sua história à soberania de Deus – Muitas vezes não somos capazes de superar a insensibilidade, injustiça e ingratidão, porque não conseguimos encontrar significado neles. E eventualmente, são tão caóticos e difusos que realmente somos incapazes de fazer as conexões necessárias.
Quando não somos capazes de ver o eterno atrás do temporal, nos perdemos; quando não conseguimos distinguir Deus nos eventos comuns ou caóticos, a história se torna sem sentido.
Foi isto que aconteceu com Salomão. O início de seu reinado foi marcado por uma profunda intimidade e dependência de Deus, mas com o passar dos anos, ele foi se distanciando de Deus, e já na sua velhice escreveu um texto que tenho chamado de “proto-existencialismo”, porque é o primeiro texto da história que fala de forma tão cruel de como a vida pode ser sem significado. Salomão começa o livro afirmando: “Vaidade de vaidades, diz o pregador, vaidade de vaidades, tudo é vaidade” (Ec 1.2). Quando falamos de vaidade, pensamos na idéia de pessoas que gostam de se vestir bem, mas a idéia original que estava na mente de Salomão era de que a vida não possuía um sentido maior. A palavra “hebhel” em hebraico dá a idéia de falta de significado nas coisas. Este foi o pensamento que trouxe desespero a toda uma geração de intelectuais na virada do Século XIX para o Século XX, e que ainda hoje influencia profundamente a forma de pensar do homem contemporâneo.
A vida tem sentido, existe um significado maior nas coisas que nos acontecem? Quando não distinguimos Deus nos eventos da nossa história, nossa vida se torna sem sentido e nossa perspectiva secularizada. Por esta razão, Riobaldo, personagem central do clássico: “Grande sertões, veredas”, faz uma afirmação dramática para o caos da sua própria vida: “Há que se encontrar um norteado prá esta doideira que é a vida”. O que ele afirma é o que está implícito em nosso coração. Sem Deus, os eventos são despropositais, e sua história se torna sem qualquer sentido.
Quando distinguimos Deus na história, mesmo quando os fatos são desconexos, lembramos que há propósito, sentido e direção na nossa história, afinal “todas as coisas, juntamente, cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Rm 8.28). Quando os irmãos de José estão perplexos com a revelação que José faz depois de mais de 20 anos, é José que faz os links dos eventos da injustiça, traição, ingratidão. “Vós intentastes o mal, mas Deus transformou o mal em bem, como hoje vedes” (Gn 50.20).

  1. José não usou sua história de injustiça e descaso para punir seus algozes, mas para abençoar vidas. O que vemos na sua vida é uma compreensão de que, o uso da vingança e do mal não é a forma mais sábia. José resolveu seguir o caminho da graça, do perdão e da reconciliação.
É de Victor Frankl, fundador da logoterapia a famosa frase: “Não posso decidir o que farão comigo, mas posso decidir o que farei com aquilo que me fizerem. A regra é simples. Eu não posso determinar o comportamento dos outros, mas posso decidir qual será o meu comportamento.
É muito importante observar que o mesmo sol que amolece a cera, endurece o barro. Muitas pessoas quando passam pela dor nunca mais se recuperam. A dor se dor a explicação da miséria de sua vida, passam a remoer-se como uma catraca velha e gasta na sua engrenagem, em torno do problema. A dor se torna o centro de sua vida. Nunca mais se recuperam. Outras pessoas, no entanto, transformam sua dor em algo construtivo.
Muitas ONGs e associações foram criadas por causa de uma dor pessoal. Quando pessoas vendo-se injustiçadas, por um sistema ou determinada estrutura, e transformam sua luta pela libertação por causa da experiência de dor que viveram. Transformam o sofrimento em caminho para a generosidade e humanidade. Já viram pessoas que se transformaram em grandes médicos com destaque em determinadas áreas porque alguém de sua família morreu em decorrência daquela enfermidade? São pessoas que transformaram a dor em um instrumento, não para punir e vingar seus algozes,  mas para ser benção na vida de outras pessoas.
Muitos lamentavelmente vivem patinando na sua dor.
O Sl 84.5,6 afirma: “Bem aventurado o homem cuja força está em ti, em cujo coração se encontram os caminhos aplanados, o qual, passando pelo vale árido, faz dele um manancial, de bençãos o cobre a primeira chuva”. O salmista fala de pessoas que em tempos de aridez, geram vida, que atravessam pela dor e não ficam lamentando a falta de chuva, a escassez de alimentos nem o terreno que não produz, pelo contrario, faz deste vale seco, um manancial de bençãos.
O que você faz com sua dor?
Vive em torno dela, se auto martirizando, reclamando das injúrias, remoendo-se na ingratidão e na injustiça, ou torna-se uma pessoa que reage no meio das trevas, das cinzas, do deserto e das lagrimas, transformando o sofrimento em meio para se promover o bem e abençoar o mundo?

Conclusão:
A história de José é a história do Evangelho. Sua vida aponta para a vida de Cristo. Ninguém sofreu tanta injustiça, humilhação e indiferença como ele. Como ele reagiu?
A Bíblia diz que Jesus é o “varão de dores”. Em Hebreus 4.15 lemos que ele foi tentado em todas as coisas, sem pecar. Seu sofrimento não se tornou mero sofrimento, mas tinha uma intenção clara.
Na hora da ceia, Jesus toma o cálice e ora ao Pai dando graças e em seguida diz aos seus discípulos: “Isto é o meu corpo que é dado por vós, fazei isto em memória de mim”. Como agradecer o pão que aponta para seu sofrimento? Como dar graças pelo corpo que será esmagado? Para Jesus, sua dor não parava na dor, não era dor por dor, mas possuía intencionalidade.
Sua vida foi de vitória, apesar de aparente fracasso.
  1. Ele perdoou seus algozes: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”.
  2. Jesus relacionou os fatos ao propósito de Deus para sua história. Seu sacrifício não é vão, é expiação; a cruz não é vitória de Satanás, é propósito de Deus; sua dor não é mero sofrimento, é redenção. Deus estava realizando nele seus propósitos na história. Você consegue distinguir o mover de Deus na sua vida?
  3. Jesus viu sua dor como meio, não como um fim em si mesma.
Como você tem lidado com a injustiça e a ingratidão. Ter os olhos postos em Deus faz toda diferença. “Porque estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 8.38-39).





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