Introdução:
Erick Erickson,
conhecido psicólogo afirma que chegamos ao final da vida com duas atitudes:
Celebrativa ou amargurada. Não é muito difícil desenvolver uma atitude de
ressentimento com a vida e as pessoas, eventualmente com o próprio Deus. No
filme “Num lago Dourado” (Jane Fonda), um homem está completando 80 anos (Henry
Fonda), e é conhecido pelo seu mau humor. Seu genro, querendo parecer-lhe
simpático, pergunta-lhe como se sente nesta data e ele responde secamente:
“Duas vezes pior que 40” .
Por outro lado, é
possível viver com celebração. Quando estava com 101, a revista Ultimato/78 entrevistou
o Missionário Haroldo Cook e lhe perguntaram se sua vida fora como a de Jacó, e
ele respondeu com humor. “Não! bons e longos tem sido os meus dias”.
Jacó estava vivendo
seus momentos de glória. Para trazê-lo de Canaã José mandou os melhores carros
para buscá-lo para o Egito, onde teve uma recepção principesca, indo para encontrar-se
com o filho que julgava morto há muitos anos. Uma das primeiras atividades dele
seria o encontro com Faraó, que na época de então governava um dos mais poderosos
impérios do mundo.
No encontro, Faraó lhe
pergunta "Quantos são os dias dos
anos de tua vida?" E a resposta de Jacó foi: "Os dias dos anos de minhas peregrinações são
cento e trinta anos; poucos e maus foram os dias dos anos de minha vida e não
chegaram aos dias dos anos da vida de meus pais, nos dias de suas peregrinações"
(Gn 47.8-9). Jacó não responde apenas quantos anos viveu, mas responde também o
"como" viveu.
Sua resposta revela
amargura e tristeza com a vida. Na verdade, ele não pergunta “como” fora sua
vida, mas quantos anos ele tinha, mas Jacó enfatiza a qualidade: "Poucos e
maus foram os meus dias na terra". Apesar de já ter vivido 130 anos e
tendo ainda alguma expectativa de vida, estava descontente. Ele afirma que havia
vivido pouco – o que não era verdade – e a qualidade de sua vida não fora boa.
O que fez seus dias se
tornarem "maus" pode nos ajudar a entender o que pode fazer nossos
dias também parecerem maus:
1. Um lar desestruturado
O lar de Jacó era
profundamente desequilibrado e desestruturado. No mínimo poderia ser
considerado neurótico e disfuncional.
Isto já pode ser percebido
pelo nome que lhe dão ao nascer. Jacó significa enganador ou embusteiro. Sua
família coloca-lhe um estigma, uma marca que como nódoa vai andar com ele. Na
própria escolha do nome, vemos um lar que nega a benção, deixa de afirmar algo
positivo sobre o filho e coloca-lhe uma marca.
A Bíblia registra
ainda alguns ângulos tenebrosos desta casa:
Seu pai entrega a
esposa a Abimeleque, dando a entender que era sua irmã apenas para não se
sentir ameaçado. Talvez por isto, Rebeca nunca confiava no marido e isto pode
ser percebido pela sua atitude bisbilhoteira, escutando secretamente as
conversas de Isaque (Gn 27.5). Rebeca revela-se incoerente quanto aos seus
princípios e valores ao ordenar a Jacó que engane o pai (Gn 27) e diante da
resposta coerente de Jacó, torna-se autoritária e obriga Jacó a enganar o pai.
Sua atitude errada
parece ter dado certo, mas Esaú, seu irmão, ao perceber, decidi matá-lo, tão
logo seu pai fosse sepultado. Rebeca descobre isto e o manda fugir. Sua vida
daí por diante é marcada por uma inimizade histórica com o seu irmão leviano,
de quem já havia negociado o direito de primogenitura. Esaú decide se vingar
dos pais e se tornou um filho birrento, que descobrindo que seus pais não
gostavam de algumas meninas dos povos vizinhos, resolve se casar justamente com
uma delas ( Gn 27.41).
Já em Padã-Harã, onde
atualmente fica o Iraque morava os parentes de sua mãe, e ele encontra abrigo
na casa de seu tio, Labão, onde vai viver uma relação complicada, ambos
tentando sempre enganar o outro. O seu tio trapaceiro muda seu salário sempre
que Jacó tinha oportunidade de receber um pouco melhor. Jacó afirma: "dez
vezes me mudaste o salário" (Gn 31.36-41). Este homem barganha suas filhas
e esta manipulação traz revolta às filhas e à Jacó (Gn 31.15). Finalmente
precisa sair da casa de seu sogro, e as relações estavam tão estremecidas que o
faz de noite, na surdina, sem se despedir. Uma das mulheres de Jacó (Raquel) rouba
deu seu pai os ídolos do lar, e Labão vem atrás para reaver seus bens, e o
clima não era dos melhores, com acusações e ameaças (Gn31.34).
Ao chegar no local
onde morariam, o clima de tensão familiar estava sempre presente. Suas esposas
competiam o amor do marido e brigavam entre si. Os filhos tomavam as dores das
mães e sua casa vive num ambiente de desconforto agravado pela atitude de Jacó
que explicitamente revela predileção por José, dando-lhe presentes que nenhum
outro filho tinha. Os filhos então decidem vender a José para um bando de
mercadores que o levam ao Egito. Os irmãos afirmam que um animal havia
dilacerado José, e quando Jacó recebe a noticia, passa a viver um luto
permanente, recusando a ser consolado (Gn37.35). Esta família, a partir de
então vive com um segredo, numa relação de co-dependência que se arrasta por
mais de 20 anos. Apesar de saberem da verdade, nenhum era capaz de romper esta
mentira e denunciar o engano.
Uma família assim,
certamente traz muitas dores.
.Rúben, seu filho mais
velho, se envolve com uma concubina de seu pai e na hora da benção,
preparando-se para morrer, Jacó faz uma pesadíssima sentença sobre ele. "Rúben, tu és meu primogênito, minha
força e as primícias do meu vigor, o mias excelente em poder. Impetuoso
como a água, não serás o mais excelente, porque subiste ao leito de teu pai e o
profanaste; subiste à minha cama" (Gn 49.3,4).
Uma família
desestruturada destrói a alegria de viver. "O filho sábio alegra seu Pai, mas o insensato é a tristeza de sua
mãe" (Pv 10.1). Nada é mais destrutiva que filhos rebeldes, lares
desencontrados, filhos crescendo com a auto estima destruída, amarguras, medos,
mentiras, farsas e temores. São mulheres que não conseguem amar nem confiar em
homens porque viram seu pai maltratando sua mãe, enganando e traindo. São
meninos que crescem desconfiados do amor sempre buscando o amor e a atenção dos
pais.
Lares precisam ser
reduto da graça e da paz, um ninho para acolhimento da alma cansada, refrigério
diante da competitividade, uma ilha de descanso para a vida agitada, para uma
sociedade frenética e corações inquietos. Se nosso lar se transforma num
cantinho do inferno, nossos dias serão maus, ainda que sejam muitos.
Jacó
afirma que algumas realidades o sustentaram neste contexto tão disfuncional:
1.
“O Deus de meus pais” (Gn 31.5) - Uma das coisas fortes naquela família é a
presença do Deus de seus pais. Jacó tem consciência de que Deus está sobre sua
família, que estão debaixo de um signo ou sinal maior, que sua herança não era
apenas de bens materiais, mas era, acima de tudo, espiritual. É uma grande
benção ter pais que oram dando suporte aos filhos e abençoando-os.
2.
Altares levantados
– (Gn 35.7) - No meio de todo este caos,
Jacó levanta altares. Deus é uma presença incômoda no meio da mentira e da
falsidade reinante naquele lar. Deus é sempre lembrado, e isto os mantém mas ao
mesmo tempo se torna uma presença perturbadora e inquietante.
3.
Superação e perdão–
(Gn 50) - José parece ser esta pessoa
que se interpõe e quebra o angustiante circulo do mal, como afirma Mirolasv
Wolf no livro “O fim da memória”. José quebra e desmantela este círculo de
engano, competição e ódio. Ele desarma o círculo de mentira que mais uma vez
tentam fazer no final do capítulo 50, quando mentem em nome de seu pai. José rompe
com o ódio familiar, sepulta a ira e
refaz a história da família, tão habituada a mentir e a enganar.
2. Uma vida equivocada
Outro aspecto que faz
a vida de Jacó ser tão pesada são as suas próprias escolhas pessoais e atitudes
diante da vida. Ele nasceu num lar complicado. Nasce com uma sombra na vida e
assim passa a viver. Sua vida será sempre correspondente ao seu nome.
Por duas vezes
trapaceou seu irmão Esaú, tomando-lhe o direito de primogenitura e roubando a
benção. Ele trapaceia seu pai, mentindo-lhe, e engana o seu sogro criando
mecanismos que o levavam a viver numa vida de “espertezas” e desonestidades.
Tenho visto muitas
pessoas optando por viver um estilo de vida na linha da marginalidade.
Enganando e sendo enganados. Seus negócios são escusos, vivem uma vida de
infidelidade em casa, lidam mal com o dinheiro, mentem, enganam e não inspiram
confiança. Pessoas assim “enfiam os pés pelas mãos”.
A Bíblia nos adverte
sobre isto:
"O caminho dos perversos é como a escuridão;
nem sabem eles em que tropeçam Mas a vereda dos justos é como a luz da aurora,
que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito".
Esta é a colheita do
pecado à qual se refere Paulo: “Naquele
tempo, que resultado colhestes, somente as coisas de que agora vos envergonhais
porque o fim delas é a morte” (Rm 6.21). A colheita do pecado é tristeza,
confusão, vergonha, embaraços.
Jacó não é vitima!
Ele também é
responsável por sua história, pelas suas decisões, pelas suas atitudes.
Sua vida que já era
difícil por causa do ambiente hostil dentro de sua casa, torna-se um inferno.
A Bíblia afirma: “Eis o que tão somente achei, Deus fez o
homem reto, mas ele se meteu em muitas astúcias” (Ec 7.28). Estas astúcias
são armadilhas, laços, decisões erradas, pecados. A vida reta que Deus nos deu
para que andássemos nelas tornam-se pesadas.
Existem pessoas que
possuem boas oportunidades na vida e as despreza; recebe boas propostas de
emprego e faz pouco caso; tem oportunidade de estudar e não o faz; recebe propostas
de casamento e as menospreza. No entanto, são hábeis para fazer as piores
opções para sua vida. Adota um estilo de vida pecaminoso, despreza princípios e
valores, rejeita a Deus, a fé, a boa consciência, a vida e parece gostar das
propostas do diabo, esquecendo-se que todas as maças do diabo são bonitas, mas
todas tem bicho.
A trapaça, as
mentiras, o descaso com as oportunidades, uma vida de desonestidade, de
descaminhos, de rejeição de Deus fazem nossa vida um inferno. A gente faz,
pensa que ninguém viu e aquilo estoura lá na frente como um câncer. No entanto,
a vida tem uma regra simples: Melhores atitudes geram maiores altitudes.
3. Demora de um encontro real com Deus
Jacó nasceu num lar
cristão, num lar que temia a Deus. Isaque, seu pai, era um homem de oração,
tinha hábito de levantar altares por onde passava. Poucos homens na Bíblia
levantam tantos altares para adorar a Deus como Isaque. Era um homem que cria
que Deus ouve as orações de seu povo, e a Palavra de Deus nos diz que ele orou
durante vinte anos para que Deus lhe desse filhos, já que sua esposa era
estéril, e Deus lhe ouviu (Gn 25.20,26).
Apesar de ter um lar devoto
e religioso, paradoxalmente foi no seu lar que ele começou a desconsiderar as
coisas de Deus na sua própria vida. Um dia sua mãe lhe pede para quebrar a lei
de Deus por causa de interesse material, ele questiona sua mãe, mas a vontade
autoritária da mãe prevalece, e daquele dia em dia, alguma coisa parece ter
desmontado dentro de sua alma. Passou a considerar as coisas de Deus como
questões relativas, dessacralizando o sagrado em sua história. O resultado não
poderia ter sido pior (Gn 27.12-13).
Na sua mocidade teve
encontros arrebatadores com Deus mas nada muda sua mente. Nem suas experiências
carismáticas, sobrenaturais, lhe faziam ser o homem de caráter que precisava
ser. Quando está fugindo de sua casa, depois de ter trapaceado seu pai roubando
a benção que era de seu irmão, fingindo ser Esaú. No meio de seu atropelo, com
medo de ser assassinado pelo próprio irmão, ao atravessar o deserto tem uma
linda visão. Sonhou que Deus estava naquele lugar, e os anjos de Deus desciam e
subiam numa grande escada que dava aos céus. Quando acordou, sobre um profundo
impacto, entendeu que aquilo era uma promessa que o Deus de seus pais estava
fazendo, e que aquela terra seria a terra prometida de Deus para sua futura
geração. Deus confirma sua promessa sobre sua vida: "Eu sou o SENHOR, Deus de Abraão, teu pai, e Deus de Isaque. A terra em
que agora estás deitado, eu ta darei, a ti e à tua descendência. A tua
descendência será como pó da terra; estender-te-ás para o Ocidente e para o
Oriente, para o Norte e para o Sul. Em ti e na tua descendência serão
abençoadas todas as famílias da terra" (Gn 28.13-14).
Mesmo diante do que
havia acabado de fazer, a graça de Deus se revela e Deus lhe faz promessas. É a
graça de Deus em ação. No
entanto, experiência não transforma o seu caráter. Jacó continua seu estilo de
vida de enganos e falcatruas. Deus se manifesta mas ele não se entrega. Pelo
contrário, faz barganhas: "Se Deus
for comigo, e me guardar nesta jornada que empreendo, e me der pão pao para
comer e roupa que me vista, de maneira que eu volte em paz para a casa de meu
pai, então o Senhor será o meu Deus (...) e de tudo quanto me concederes,
certamente eu te darei o dizimo" (Gn 28.20-22). Em outras palavras,
está dizendo: "Se me deres, pão para comer, roupa para vestir, segurança,
vou ser fiel no dízimo" (Gn 28.22). Condiciona sua fidelidade ao sucesso.
Só muito tarde na
vida, Jacó se rende, ou “rende a Deus”, que se vulnerabiliza e se deixa vencer.
Ali finalmente percebe a importância de ter Deus não apenas como o Deus de seus
pais, não apenas como um conceito uma experiência institucional e forma, e numa
luta existencial e profunda, finalmente não mais prossegue sem Deus. "Não
te deixarei ir". Nasceu-lhe o sol, houve um Peniel, trazia cicatrizes,
marcas do encontro, mas tinha um novo nome, um novo caráter: De suplantador
(Jacó), tornou-se Israel (lutou com Deus e prevaleceu).
Conclusão:
"Quantos são os
dias dos anos de tua vida?" Parafraseando a resposta de Jacó, focalize no “Como”
tem sido os seus dias e anos?
Na verdade, o mais importante
não é o quanto se vive, mas o “como” se vive. Jesus morreu aos 33 anos, mas
viveu de forma intensa. Experimentou a dor de viver como ser humano, sofreu os
reveses e paradoxos de sua humanidade, no entanto, concluiu a obra que lhe
estava proposta pelo pai. Na cruz, ao expirar, afirmou: "Tudo está consumado!" ou, tetelestai, que foi a frase usada por ele em grego. A vida lhe fora
plena.
Haroldo Cook, faleceu
aos 101 anos e 6 meses. Viveu intensamente a sua vida. Amou a Deus, viveu a
vida. Outros morreram jovens, mas foram igualmente abençoados. O que conta, no
fim das contas, não é o número de anos de sua vida, mas a qualidade de sua
vida. Para Jacó, seus dias haviam sido longos e maus, para o Rev Haroldo Cook,
seus dias foram "Longos e bons".
Esta faz a diferença entre
terminar os dias com celebração ou desistência.
Quando se experimenta
Jesus na vida. A vida toma forma, cor, assume tonalidades mais fortes e mais
plenas. Isto é o que conta!
Que Deus nos abençoe!
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