Introdução:
Nesta série de sermões em Gênesis, nessa seção, estamos
estudando os efeitos deletérios da queda. O pecado afetou quatro grandes áreas
de nossa vida:
A.
Espiritualidade
B.
Relacionamentos
C.
Psiquê
D.
Ecossistema
Hoje, queremos considerar esta segunda área, analisar
como o pecado afetou os relacionamentos humanos. Poderíamos estudar muitos
outros textos da Bíblia, mas por enquanto, queremos nos ater apenas à maneira
como homem e mulher passaram a se relacionar.
O primeiro lar constituído por Deus vivia em plena
comunhão, mas foi destituído desse privilégio ao se afastar do Senhor. Com a
expulsão do homem a inveja, disputa e acusação começaram a se manifestar. Após
a queda, o ambiente de alegria e felicidade, torna-se repleto de desconfiança,
hostilidade, manipulação e competição.
Eis alguns destes sintomas:
1.
Transferência
de culpa – (Gn 3.12). O homem enfrenta dificuldades para
reconhecer seu próprio erro, e faz acusações frontais à mulher. “a mulher
que me deste por esposa” (Gn 3.12).
O homem não assume sua responsabilidade, mas a transfere para a sua
companheira. É muito comum, entre casais, o pensamento de que o outro é responsável pela depressão sofrida,
pelo fracasso nos negócios, por não ser bem sucedido, por andar tão triste, mas
a verdade boa parte dos nossos problemas não tem nada a ver com o outro.
Encontramos desculpas e acusamos o outro pelo fracasso e solidão que nosso
próprio coração enfrenta. O outro não é algoz, e nem você é vitima. Ninguém
precisa viver com alguém que é destrutivo.
Este texto nos revela que surge pela primeira vez na
história, a luta pelo poder, e a necessidade de se buscar bodes expiatórios. A
relação, até então harmoniosa, dá espaços para a disputa e suspeita. A
auxiliadora se transforma, na visão do homem, um obstáculo; ao invés de ajudar,
cria problemas. Implícito aqui a acusação contra Deus. Adão o culpa. “a
mulher que me deste”. As relações se tornam confusas com o criador e
refletem nos relacionamentos.
2.
Conflitos
e disputas – (Gn 3.16). “O
teu desejo será para teu marido, e ele te governará” (Gn 3.16). Toda esta
disputa histórica e milenar entre o homem e mulher, tem a ver com o pecado
presente na raça humana. Deus não a fez para ser inferior. Deus fez o casamento
para ser um projeto de igualdade, mas o homem, por causa do pecado, passa a
lutar pelo controle e poder.
Muito já tem sido dito sobre i significado da mulher
ter sido tirada da costela do homem. Trata-se de uma ideia de equivalência.
Agostinho comentou: “A mulher não foi
tirada do pé, para não ser subjugada, humilhada, nem da cabeça, para não ser superior”, no entanto, casamento abriga competitividade
e luta pelo poder. Sofre por causa do orgulho e abre espaço para a opressão ,
dominação e manipulação. Quando o
relacionamento marido e mulher gira em torno de quem é superior, torna-se
competitivo e frustrante para ambos. Quando Deus fez o homem e a mulher, lhes
deu Igualdade:
a.
Sua condição – a mulher, ao lado do homem, foi feita à
imagem de Deus. Nenhuma diferença de valor;
b.
Sua vocação – Tanto a mulher quanto o homem recebem o
mandato de dominar a terra. A mordomia, cuidado e respeito à natureza, são
ordens dadas aos dois. Ambos são responsáveis por esta tarefa.
c.
Sua satisfação – Homem e mulher se encontram para mútua
aceitação, recebimento e gozo. Adão
celebra quando a vê pela primeira vez: “esta,
afinal, é osso dos meus ossos, carne da minha carne”. Eles se aceitam e
desfrutam da parceria que receberam.
Apesar das igualdades, foram feitos diferentes: A
sexualidade e complementareidade que possuem, revela isto. São seres sexuais,
sua distinção não era apenas de constituição física, mas também na forma de
ser, perceber, reagir e relacionar-se. Diferenças sexuais: Um tem o que falta
no outro. A ideia é de alteridade, não
competição. A diferença torna possível o enriquecimento mútuo. No entanto, o
pecado retira maravilhosa benção ter tarefas e responsabilidades iguais de
cuidar do nosso planeta, apesar de terem constituições distintas.
3.
Casamento
abriga lugar para manipulações e controle – Outro aspecto que este
texto nos mostra, é como o pecado leva o homem a atitudes mesquinhas e
manipulativas. O homem muda o nome da mulher, que havia sido dado pelo próprio
Deus: “Homem e mulher os criou, e os
abençoou, e lhes chamou pelo nome de Adão, no dia que foram criados” (Gn
5.2). Este é o nome que o senhor dá aos dois: Adão. O termo Adam, vem do hebraico Adamã, mostrando a relação do homem com
a natureza. Mas este nome aos dois é mudado por Adão, logo após a queda.
Uma das primeiras providências de Adão depois do
pecado é nomear sua mulher, tarefa esta que lhe fora dado por Deus, em relação
aos animais, e não à sua esposa: “Havendo,
pois, o Senhor Deus formado da terra, todos os animais do campo e todas as aves
dos céus, trouxe-os ao homem para ver como este lhes chamaria; e o nome que o
homem desse a todos os seres viventes, esse seria o nome deles”(Gn 2.19).
Adão passa a chamá-la de Eva (Gn 3.20). Já não é mais ishah (companheira/varoa), termo que destaca sua identidade (Gn 2.23),
mas Eva (mãe de todos os viventes),
que ressalta sua função A utilidade suplanta a idoneidade. Passa a ser um meio
para atingir um fim. O sujeito passa a ser objeto. Além do mais, na cultura
semita, dar nome significa ter o controle sobre o outro, por esta razão quando
Abraão pede que Deus lhe diga seu nome, Deus se recusa e lhe mandou apenas
dizer: “Eu Sou o que Sou”.
Conclusão:
Este
texto nos revela ambiguidades: O problema é a família e a solução é em família!
Família comporta ambiguidades inerentes à sua estrutura. Deus fez o homem para
viver em família: “Não é bom que o homem esteja só”. Ninguém nos conhece tão bem, nos aceita tão bem,
apesar de ser na família que algumas de nossas piores experiências são vistas,
e as grandes neuroses se formam: Abusos, acusações, rejeições, dores, etc.
A
Bíblia trata a família sem romantismo. A família é lugar de vida, esperança e
alegria, mas é também lugar de engano, disputas e alterações dramáticas de
destinos...
Em Adão, as
primeiras crises já se tornam explícitas, família cria espaço para mútuas
acusações, manipulações, culpas, irritabilidade, desconfiança. Vemos
o potencial de litígio e competição que pode existir dentro de um lar. Caim e
Abel nos revelam que família pode gerar
invejas e ódio, e eventualmente abrigar grandes tragédias.
Quero
concluir com um texto de Mt 15.21-28, no qual a mulher Cananéia levanta um
clamor a Jesus: “Senhor, Filho de Davi, tem compaixão de mim! Minha filha está
horrivelmente endemoninhada” (Mt 15.22). A mulher percebe que alguma coisa
grave está acontecendo em sua casa, mas ela não se entrega, e vai em direção a
Jesus. Nossos lares enfrentam grandes lutas. Problemas históricos, heranças
familiares, condicionamentos, acusações, dores, conflitos, problemas não
confessados, mas devemos sempre nos lançar em direção ao Filho de Davi. Esta
mulher percebe que o que acontece em sua casa, tem a ver com a ação do diabo. O
demônio havia feito “um ninho”, na vida da sua filha, e aquilo afetava
profundamente a dinâmica e as relações familiares, mas ela se lembra de Jesus,
e vai em sua direção.
Ela não
fazia parte do povo de Israel. Ela não sabia muita coisa sobre o Deus de
Abraao, Isaque e Jacó; nunca estudara teologia na universidade de Jerusalém,
mas ela sabia o seguinte: algo está horrivelmente entranhado em minha casa, e
eu sei em quem posso buscar a solução. E em Jesus ela ouve a maravilhosa
afirmação: “Por causa desta palavra, podes ir; o demônio já saiu da tua filha”
(Mc 7.29. E ela, voltando para sua casa, acha a menina sobre a cama, porque o
demônio a deixara.
Que
Deus possa colocar sua mão de graça na sua história e na sua casa, trazendo
maravilhosa e grande libertação e cura.
Nenhum comentário:
Postar um comentário