Introdução:
Síndrome é um conjunto de sintomas que ajudam o diagnóstico de um determinado quadro. A leitura do texto bíblico acima, nos leva a pensar na mente e no coração de Judas.
O que passava pela sua alma? Como ele se tornou “o filho da perdição?” como é possível que alguém com tantas oportunidades e vendo tantos sinais claros de Deus ainda continue sendo e agindo como ele agiu. Será que estamos livres de nos enveredarmos por tal caminho. Billy Graham certa vez afirmou que muitas pessoas, apesar de conviverem tanto com as coisas sagradas, são capazes de se tornarem verdadeiros monstros sem perceberem quão sério será o julgamento de Deus sobre suas vidas.
Judas não é um personagem perdido nas narrativas dos livros da Bíblia. Judas é um referencial concreto e perigoso dos descaminhos da alma de alguém, que assumindo posições de tamanha liderança no meio do povo de Deus, ainda reflete esta catastrófica situação de ser um lobo vestido em pele de ovelhas. E os exemplos historicamente são muitos, e se amontoam.
Não é fácil pregar este sermão. Na medida em que orava e estudava o texto fiquei me perguntando: Como seria pregar este sermão se a igreja estivesse vivendo um momento de conflito? Acho importante pregar este sermão, mas me sinto mais feliz em fazê-lo quando a igreja está vivendo em paz. Pregar em momentos assim não levanta suspeitas sobre se estaria mandando recados para um ou outro líder da comunidade. Apenas exponho o texto, e espero que a Palavra de Deus, que é viva, seja capaz de gerar em nós, reações de cura, confissão, quebrantamento e restauração aos olhos do nosso amado Pai Celestial.
O que nos assusta em Judas?
1. Judas não é opositor, mas aliado- Faz parte do colégio apostólico. Assume uma função importante que demonstra sua liderança e qualidade administrativa sobre o grupo. Existe um interessante que faz ironia sobre sua liderança. Leia abaixo.
“A Marcha dos Desqualificados”,
Depois de alguns meses de pesquisa, a Comissão de procura de um novo pastor para a nossa igreja não tem um relatório muito encorajador para dar. Infelizmente não temos sido hábeis para encontrar um candidato adequado à nossa igreja, embora estejamos considerando ainda um deles. Nós apreciamos todas as sugestões dos membros da igreja, e temos tentado contacto com cada um dos que foram sugeridos. Temos mantido contacto através de entrevistas e referencias. O relatório a seguir é confidencial e faz referencias a estes candidatos.
Adão – Um bom homem, mas tem problemas com sua esposa. Uma das informações que tivemos nos afirma também que ele e sua esposa gostam de ficar andando nus entre as arvores da floresta.
Noé – Foi pastor durante 120 anos, mas não há sinais de que alguém tenha se convertido. Além do mais ele é tendente a estabelecer projetos irrealísticos e a grandes construções.
Abraão – Embora as informações nos relatem que ele tenha problemas sérios com sua esposa, os fatos parecem mostrar que ele nunca dormiu com a mulher de outro homem, embora tenha oferecido sua esposa para dormir com outro homem.
José – Um grande pensador, mas é muito convencido, crê em interpretação de sonhos e tem no seu histórico um registro de que já esteve preso.
Moisés – Um homem modesto e manso, mas pobre em comunicação (algumas vezes é até gago). Algumas vezes se torna irascível e age intempestivamente. Alguns afirmam que suspeitam que ele teve que sair correndo de um lugar sob suspeita de assassinato.
Davi – O líder mais proeminente que descobrimos, mas ele tem uns filhos problemáticos e teve um caso com a esposa de seu vizinho.
Salomão – Grande pregador mas é mulherengo e nunca deveria ter se envolvido com tantas esposas.
Elias - Tendente a depressão. Desaba quando está sob forte pressão.
Oséias – Uma pessoa amorosa e um pastor amoroso, mas não deveria estar no ministério com uma esposa que ocupa aquela profissão.
Ezequiel – É muito pentecostal para o estilo de nossa igreja. Tem visão demais. E além de tudo, eventualmente tem uns surtos e fica fazendo buracos no muro em pleno meio dia, cozinha em cima de cocô de animal.
Débora – Mulher. Isto inviabiliza todo o processo na nossa denominação.
Jeremias – Emocionalmente estável, alarmista, negativista, sempre se lamuriando, e fomos informados que certa vez ele fez uma longa viagem para enterrar sua cueca num banco de um rio de outro país.
Isaias - Você está brincando? Este afirma ver anjos ao redor da igreja. Além do mais, tem problemas com a sua linguagem.
Jonas – recusou o chamado de Deus para o ministério, e foi forcado a obedecer quando um grande peixe o engoliu. Ele nos contou que o peixe mais tarde o cuspiu perto do lugar em que ele precisava pregar. Depois destes relatos, desistimos.
Amós – Muito rural e rude nas suas declarações. Se ele tiver algum treinamento no seminário pode se tornar um candidato promissor, mas é uma pessoa que tem preconceito contra gente rica – talvez seja mais apropriado para uma congregação de pessoas pobres.
João – Diz que é batista, mas definitivamente não se veste como um batista. Gosta de dormir ao ar livre por meses sem fim, tem uma dieta estranha e sempre usa uma linguagem agressiva contra outros líderes denominacionais.
Pedro – Uma pessoa simples demais. Além do mais tem um temperamento forte, chegando às vezes até a amaldiçoar. Teve um problema sério com Paulo em Antioquia, e é agressivo.
Paulo – É um líder executivo clássico, além de ser um bom pregador. Contudo, não tem muito tato no trato com as pessoas, não conseguiu perdoar um líder novo no seu ministério por ter falhado e costuma ter uma tendência de pregar a noite inteira em longos e intermináveis sermões.
Timóteo – Novo demais!
Jesus – Muitas vezes é uma pessoa bastante popular, mas quando a sua igreja cresceu muito chegando a 5000 pessoas, resolveu deixar a igreja com os líderes subalternos. Raramente permanece num mesmo lugar por um longo tempo e, obviamente, é solteiro.
Judas - Suas referencias são sólidas. Conservador. Atento às coisas que acontecem ao seu redor. Tem boas relações com as pessoas de outras denominações, sabe administrar o dinheiro. Tesoureiro. Nós o convidamos para pregar no próximo domingo em nossa igreja. Estamos esperançosos quando ao seu nome.
Judas é tesoureiro, guarda o dinheiro, tem sobre si a responsabilidade de administrar os recursos do colegiado apostólico. O próprio Senhor Jesus permitiu que isto acontecesse. Neste caso se dá a famosa frase de um filme brasileiro: “Descobrimos o inimigo, e ele é um de nós”.
2. Judas faz parte do círculo íntimo: Ocupava liderança – Era apóstolo, no entanto, toma ele mesmo a iniciativa de procurar os inimigos de Jesus. (14.10) “foi ele com os principais sacerdotes”, e arquitetou o plano para prender Jesus – “buscava ele”. Quando Jesus convidou seus discípulos, talvez por causa de seu envolvimento ativo, o convidou para ser um dos 12 apóstolos. Que honra suprema ele teve. Amigo, presente, ao lado de Cristo. No entanto, seu coração estava longe, distante e frio.
3. Judas perde o senso do sagrado-
· Ele não hesita em assentar à mesa. Mc 14.17 “Ao cair a tarde, foi com os doze.” Mantém todas as aparências de normalidade. “É um dos doze, o que mete comigo a mão no prato”.
· Ele não se assusta com a exortação de Cristo – (VS.21) “Ai daquele”. O coração está tão frio e insensível, que mesmo exortações sérias deixam de ser importantes.
4. Judas perde o senso da afetividade – Mc 14.44-45
· Para trair, a senha é o beijo... instrumentaliza seus afetos para matar Jesus: “Amigo, para que vieste:” (Mt 26.50), em Lc 22.48 lemos o seguinte: “Com um beijo trais o filho do Homem?” . No filme “o advogado do diabo”, o jovem jurista lhe pergunta qual era a sua senha, e ele, com sorriso sarcástico responde: “matar com bondade”. Não há coisa mais diabólica que usar os afetos para trair e manipular. Por isto a Bíblia afirma: “Leais são as feridas feitas pelo amigo, mas os beijos do inimigo são enganosos” (Pv 27.6).
· Algum tempo atrás, discutíamos alguns princípios de liderança e alguém levantou a questão se não deveríamos analisar os candidatos ao diaconato e presbiterato da igreja a partir, não apenas do conhecimento e firmeza doutrinários, mas da capacidade de afeto e de ternura com que ele lida com sua família e com os outros.
· Por ter ferido de forma tão séria esta questão do afeto, e por ter se corrompido tão grandemente, quando Judas se afasta para executar seu maquiavélico plano, Lucas conclui a narrativa, colocando na boca de Jesus a afirmação: “Esta, porém, é a vossa hora e o poder das trevas” (Lc 22.53).
5. Judas entra na geografia de Satanás (Jo 13.27): “Após o bocado, imediatamente, entrou nele Satanás.”
A Bíblia descreve o diabo como alguém que ronda um determinado perímetro, tentando encontrar vítimas ingênuas ou desatentas: “Sede sóbrios e vigilantes, o diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar. Resisti-lhe firmes na fé certos de que sofrimentos iguais aos vossos estão se cumprindo na vossa irmandade espalhada pelo mundo” (1 Pe 5.8). Quando entramos nesta “zona do mal”, neste perímetro das trevas, abrimos brechas oportunas para sua destrutiva ação.
Biblicamente, bem e mal agem por concessão. Por isto a Bíblia nos adverte: “Nem deis lugar ao diabo” (Ef 4.27). O no contexto em que esta expressão é usada, vemos que ele está falando do perigo da mentira e da ira (Ef 4.25-26). Quando começamos a agir com mentiras, ou nosso comportamento é determinado pela ira e amargura, pela incapacidade de perdoar, Satanás sempre leva grande vantagem.
Judas não teme viver nesta zona espiritual onde as trevas dominam. “Ele, tendo recebido o bocado, saiu logo e era noite” (Jo 13.30). A noite se apossa visceralmente de Judas que não mais se encontra apenas sob a influência e sugestão do mal, mas passa a ser completamente dominado por ele.
Advertências:
1) Não é preciso estar longe, para se tornar um forte opositor de Jesus – Líderes, não raramente, se tornam opositores do reino. O Ex-Ministro da Justiça, Aldo Fagundes, certa vez num encontro de liderança cristã em Brasília afirmou com pesar: “A liderança de minha denominação conspira contra a santidade.” Isto deve nos fazer ficar atentos, ficar em constante alerta. Precisamos checar os movimentos do nosso coração. Nossa alma está firme em Deus? Que tipos de pensamentos tem dominado nosso coração? Estamos tentando viver de aparência? Perdemos a capacidade de rendição e quebrantamento? Ao fazermos isto aprendemos a chorar por nossa frieza distanciamento, buscar orientação, buscar e orar. Judas deveria ter caído de joelhos diante da advertência de Cristo, clamando por socorro e misericórdia, mas preferiu continuar na sua zona sombria e levar sua alma ao inferno.
2) Procure estar próximo das coisas de Deus, mas lembre-se que funções e cargos não são garantias de que nosso coração está sendo tocado por Deus. Portanto vigie!
· Judas ouve as palavras de Jesus
· Judas é discipulado por Jesus
· Judas torna-se apóstolo, assume uma liderança dada por Deus, mas seu comportamento demonstra que sua liderança é apenas uma forma de ocultar a malignidade de seu coração. Fuja disto!
· Judas assume a tesouraria, tem uma função importante no colegiado, mas isto de nada vale, porque o seu coração não é tocado interiormente.
· A afetividade de Judas está danificada. Seu coração embruteceu. A palavra, ao invés de libertar, endureceu. Só o coração contrito pode nos livrar do cinismo e indiferença. Apenas um desejo genuíno de Deus pode nos transformar. “Aquele que tem sede, venha a mim e beba. Porque se alguém crer em mim, como diz as Escrituras, do seu interior fluirão rios de água viva” Jo 7.37-38.
3) Não negocie com o mal, não faça concessões às trevas, nem abra brechas ao diabo – Judas caminhou em todas estas direções:
· Procurou o mal ao contatar os líderes religiosos por causa de dinheiro;
· Banalizou sua fé ao participar da ceia sem nenhum compromisso real com o seu significado.
· Fez permissões ao diabo, mesmo conhecendo todos os ensinamentos de Jesus e deixou que as trevas o dominassem.
4) Tome cuidado para que, se seu coração embrutecer, e você perceber, não se torne uma pessoa auto vitimada, cheia de remorso, esquecendo que a graça de Deus pode lhe alcançar em qualquer nível de cinismo e dureza que estiver, quando buscar o arrependimento. Judas não se arrependeu para ser transformado, mas preferiu a auto condenação a culpa e o suicídio. “Vendo que Jesus fora condenado, tocado de remorso, devolveu as 30 moedas de prata aos principais sacerdotes, e aos anciãos, dizendo: Pequei, traindo sangue inocente” (Mt 27.3-4). A culpa humana não é removida por auto-condenação e remorso, mas por confissão, arrependimento e mudança de vida. É bom lembrar as doces palavras: “O que encobre as suas transgressões, jamais prosperará, mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia” (Pv 28.13). Na cruz de Cristo, há sempre o remédio para nosso cinismo, cara de pau, embrutecimento e hipocrisia. Deus nunca despreza o coração compungido e quebrantado, mas o restaura e cura.
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