segunda-feira, 4 de março de 2013

AP 2.1-7 ÉFESO: UMA IGREJA SEM PAIXÃO






Introdução:

Ao lermos o livro de Apocalipse, precisamos ter sempre em mente seu estilo literário: simbólico, figurativo, como é próprio de todos os textos apocalípticos. “A pista hermenêutica” que temos seguido é aquela deixada por Hendricksen e Jacques Ellul. Este livro é como uma película de cinema, que vai revelando historicamente e de forma atualizada os eventos, no desenrolar da história da humanidade.
Éfeso era uma cidade rica, próspera e magnífica. Ali estava o Templo de Diana, uma fascinante construção que foi considerada uma das sete maravilhas do mundo antigo. Paulo visitou esta cidade (At.18:19-21) na sua segunda viagem missionária, quando ia de Corinto a Jerusalém. (52 DC). Ali deixou Áquila e Priscila para continuar a obra (At.18:26). Este lugar também foi evangelizado por Apolo. Na sua terceira viagem missionária, ficou ali três anos (At. 20:31) no ano 57 DC.
O templo foi destruído por volta do ano 262 DC e nunca mais foi reconstruído. Quando esta carta foi escrita, João estava exilado na Ilha de Patmos, pelo Imperador Domiciano (81-96 DC), portanto, era uma igreja com mais de 50 anos.

Diagnóstico da Igreja de Éfeso:
  1. Era uma igreja doutrinariamente fiel – Ap 2.2. Quando falsos mestres se introduziram nela, souberam confrontá-los e rejeitar a mentira. Dentre eles, os Falsos apóstolos . Fundadores e missionários. A Igreja precisa aprender a questionar as heresias que historicamente penetram. Fp 3.1;18-19; 2 Pe 2-13,13 e Jd 12. O julgamento se dá pelo conteúdo de suas mensagens, pelo caráter e ética. A Igreja de Éfeso pôs à prova estes falsos profetas, entre eles, os nicolaitas. Hendriksen sugere que poderiam ser indivíduos que não se negavam a assentar nos banquetes imorais e idolátricos que o forte paganismo daquela cidade promovia. A ameaça, mais uma vez, não vinha de fora, mas de dentro da igreja.
Muitas vezes, nos assustamos com as heresias atuais que penetram a igreja e ameaçam a sã doutrina, mas é igualmente surpreendente pensar na quantidade de falsos ensinamentos que surgiram na igreja primitiva. Como confrontar? Pondo-os à prova! Jesus elogia a igreja em Éfeso porque eles “puseram à prova os que a si mesmos se declaram apóstolos e não são, e os achaste mentirosos” (Ap 2.2).

  1. Era uma igreja laboriosa. Jesus a elogia pelas suas obras - Interessada em fazer obras dignas daqueles que são chamados pelo nome de cristãos.  Eles levavam a sério sua fé e a colocavam em prática. Muitos cristãos se afadigavam no cuidado com os pagãos e pessoas marginalizadas da sociedade. Talvez seja uma referência ao cuidado com os pobres.

  1. Era perseverante - Não é fácil manter-se incontaminado no meio de um povo de costumes inteiramente pagãos, com uma moral determinada por outros deuses. Esta igreja se manteve firme no meio de uma cidade que atraía milhares de adoradores anualmente ao culto de uma estranha deusa: Diana! Ainda mais complicado é se sustentar em tempos de tribulação e perseguição por causa da fé – A Igreja de Éfeso foi capaz de suportar bem estes tempos difíceis e ficar firme.

Qual era o problema de Éfeso?
Ela era operante, firme doutrinariamente, mas seu amor era decadente. Isto nos mostra que uma pessoa pode amar, trabalhar e servir a Deus sem amá-lo.  Quando Pedro negou a Jesus, ao se reencontraraem Jesus insiste numa pergunta provocante: “tu me amas?”. Esta é a pergunta essencial que devemos responder na nossa relação com Deus.
Para Deus não conta só o que faço, mas como e porque faço (motivação, interesse). Éfeso é uma igreja aparentemente irrepreensível: Trabalha, suporta perseguição, rejeita heresias, prega e realiza grandes eventos para proclamar o Evangelho. Não se diz que ela deixou de praticar boas obras, nem que abandonou sua posição justa. Seu problema, portanto, não é de algo relacionado à fé e seu conteúdo, mas ao amor, à ternura e à afeição.
 “Precisamos de um poder que possa entrar nas almas dos homens, para quebrantá-las, esmagá-las, humilhá-las, então restaurá-las”. [1] Precisamos ser visitados novamente pelo fogo do Espírito, porque nada pode nos energizar mais que a visita poderosa do fogo de Deus.
M. L Jones, no seu livro “Avivamento” afirma que um dos obstáculos ao avivamento é a impureza doutrinária [2], gente que nega princípios essenciais na fé cristã como a inerrância da Bíblia, a expiação de Jesus na cruz, a Pessoa e a Obra do Espírito Santo, mas por outro lado, outro grave problema é o que ele chama de “Ortodoxia Morta”. Pontos doutrinariamente corretos, mas nada há de vital na religião e na adoração.
Perdemos a vibração, o fogo, o entusiasmo que deveriam caracterizar nossa vida de adoradores. Éfeso é colocada em cheque em relação aos seus afetos. “Tenho, porém, contra ti que abandonaste o teu primeiro amor” (2:4).  Jesus reclama da falta de brilho nos olhos, da alegria que havia no coração na relação com o Pai e que hoje não mais existe. A qualidade marcante da igreja do NT era sua espontaneidade, vivacidade.

Conclusão:
Lembra-te de onde caístes, e arrepende-te!

Gosto de um exemplo dado por Amorese “Suponha que uma esposa traga um amigo seu de trabalho para o jantar. Isto não trará qualquer problema para o esposo, Mas suponhamos que ela, depois do jantar, anuncie que está apaixonada por este "amigo” e que ele vai passar a viver na casa. O que ocorre com o marido? Acham que ele deveria ser humilde, manso e compreensivo e deixar as coisas assim? Acham que ele, ainda conseguiria sentar no sofá, depois da sobremesa e bater um alegre “papo” a três? Acredito que isso só seria possível para alguém cujo amor há muito se foi, e cujo conceito de casamento perdeu inteiramente o sentido.
Aquele outro é o anti-marido, o anti-companheiro, o anti-amor da esposa por ele, o anti-ele. É impossível, pois, estar onde o “outro” está e permanecer sendo o que era para a esposa; alegrar-se com a comida que ela prepara para o “outro”, com o arranjo de flores na sala, inspirada pelo amor do “outro”. Tudo o que ela faça ou deixe de fazer, se tem como fonte de inspiração o “outro”, ofende o marido e não pode ter, portanto a sua participação e aprovação”.[3]
Neste caso, qual é o problema. A mulher continua a fazer as mesmas coisas, e talvez as faça com uma qualidade até melhorada. Talvez a comida seja até especial, com um vinho e uma sobremesa especiais. Qual é o problema? Qual é a diferença?
Amorese responde: “A diferença está no coração… Você pode participar de um ato litúrgico, muito circunspecto, mas se esse ato não estiver apoiado em um desejo íntimo de encontrar-se com o Senhor, mas ao contrário, seus motivos reais são outros, estará oferecendo assim, algo que não provém de seu coração”. [4]
Esta carta encerra-se com uma promessa: “Ao que vencer dar-lhe-ei que se alimente da árvore da vida que se encontra no paraíso de Deus” ( 2:7) “Ao conquistador…” O vencedor é o que luta contra o pecado, o diabo e seu domínio, que faz as obras de Deus, mas que não deixa que seu coração entre num lugar rotineiro e apático, dia-a-dia renova-se na graça do Pai, reafirma seu amor pelo Filho, e busca a comunhão com o Espírito Santo, e cujo amor se mantém firme até o fim.


[1] . Jones M. L - Avivamento, São Paulo, PES, 1992, pg. 23
[2] . M. L. Jones - op. Cit. Pg. 47
[3] . Amorese, Rubem M. - A falência dos cosméticos, Brasília, 1986, Ed. Refúgio, pg. 43
[4] . Op. Cit. Pg. 47,48

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