Introdução:
O duelo de Davi com Golias,
encanta gerações e inspira poetas e artistas. Davi é um herói, e isto é
incutido na cabeça das crianças desde a mais tenra infância. Sua vitória de
fato foi magistral, não foi? Um jovem saído da adolescência que se torna herói
nacional.
Quando lemos neste texto,
tendemos a colocar toda força da narrativa em Davi, que é apenas um instrumento
de Deus, e podemos nos esquecer de Deus, o protagonista. Naturalmente alguns aspectos do caráter e da atitude de fé
de Davi nos inspira, mas este texto, como os demais textos da Bíblia, querem
que percebamos quem é o nosso Deus, e como pessoas simples como Davi, podem se
tornar ousadas, instrumentos poderosos de Deus para execução de seu plano na
história. Se nos concentrarmos apenas em Davi, perdemos de vista o poder de
Deus e como todas as coisas tem a ver, sempre, com Deus.
Tudo tem a ver com Deus!
Sua majestade, glória e poder.
Seu livramento. Ele usa homens como Davi, e pode usar homens como nós. Não é
assim que a Bíblia fala do grande e ousado profeta Elias? “Elias era homem semelhante a nós, sujeito aos mesmos sentimentos, e
orou, com instancia, para que não chovesse sobre a terra e, por três anos e
seis meses, não choveu” (Tg 5.17). Elias não era um super-homem. Ele sofreu
depressão, entrou em crise com Deus, mas o que faz dele alguém excepcional? Sua
confiança e dependência de Deus.
Tudo tem a ver com Deus!
O que foi tão importante na vida
de Davi?
1.
Davi via Golias sob o prisma de
Deus – “Quem é, pois, este incircunciso
(este pagão), filisteu, para afrontar os exércitos do Deus vivo?” (1 Sm 17.26).
Ele coloca Golias sob o ponto de
vista de Deus.
Os outros veem Golias na
perspectiva humana. Perspectiva lógica. Ele é um grande guerreiro, ele é
gigante, jamais poderemos vencê-lo! Quando Davi o coloca na perspectiva de
Deus, aquele gigante perde sua força. Ele não era mais o brutamontes de cerca
de 2.70 Mts de altura, mas um homem mortal diante do Deus vivo. Quando colocado
na perspectiva de Deus, o poder de Golias se apequena.
Recentemente houve um debate nos
jornais do Brasil. Existe um iraniano que é gigante do halterofilismo, e eles
queriam colocá-lo para lutar contra um gigante do halterofilismo brasileiro.
Nenhum deles é lutador, mas a mulher do brasileiro disse que ele não deveria
lutar... de fato ambos são assustadores!
Tenho a impressão de que este é o
grande problema na nossa vida. Como vemos os desafios que temos a enfrentar e
como nos sentimos em relação a estes desafios.
Veja o exemplo dos espias que
invadiram a terra prometida. Qual relatório trouxeram depois da visita? “Também vimos ali muitos gigantes (os filhos
de Anaque são descendentes de gigantes), e éramos, aos nossos próprios olhos,
como gafanhotos e assim também o éramos aos seus olhos” (Nm 13.33).
O problema tinha dois lados
complexos:
Primeiro, a visão que tinham da
realidade. Eles eram gigantes, imbatíveis, assustadores. Mas há outra dimensão:
A forma como se viam. “éramos, aos nossos
próprios olhos, como gafanhotos”. Qual a diferença da visão dos 10 espias
em relação a Calebe e Josué? Estes tinham as lentes de Deus. Isto não seria
grande problema, se Deus estivesse com eles. “Se o Senhor se agradar de nós, então, nos fará entrar nesta terra, que mana leite e mel... como pão os podemos
devorar” (1 Sm 14.8.9).
Como você analisa seus problemas?
Sob o dado duro do realismo, do diagnóstico, da sentença, das circunstâncias,
ou sob a visão de Deus?
Certo presbítero em Goiânia,
formado em economia, quando se discutia o orçamento da igreja e os grandes
desafios e recursos limitados, quando perguntávamos se poderíamos ou não
executar determinados projetos, respondia: “Vocês querem que eu responda como
economista, ou como homem de fé?”
Se tudo tem a ver com Deus,
precisamos colocar as lentes divinas.
Assim fez Davi diante de Golias.
Aquele gigante não era um amontoado de músculos e armas, antes alguém mortal
que cairia quando fosse confrontado com a glória e poder de Deus.
2.
Davi usa antigas experiências com
Deus para enfrentar novas situações – “O Senhor me livrou
das garras do leão e das do urso; ele me livrará das mãos deste filisteu” (1 Sm 17.17).
Esta não era a primeira luta que
Davi tinha enfrentado. Ele então usa sua memória para lembrar de como Deus foi
fiel no passado e por isto, ele poderia confiar que mais uma vitória lhe seria
concedido. Esa não era a primeira vez que ele se viu em situação de risco, que
exigia dele muita coragem e tenacidade. Ele já havia enfrentado um leão e
também um urso, ele tirou o cordeiro da boca destes animais, ele sabia que Deus
havia dado forças para vencer aquelas feras no passado, e estava convencido que
o mesmo Deus estava com ele.
O grande problema dos que creem é
a falta de memória da manifestação histórica de Deus. Se Deus já agiu, podemos
confiar que ele continuará agindo.
Quando Jeremias viu a cidade de
Jerusalém destroçada pela guerra, ele ficou desolado. A situação era calamitosa.
Então, ele olhou para Deus. “Quero trazer
à memória, o que me pode dar esperança. As misericórdias do Senhor são a causa
de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não tem fim, renovam-se
a cada manhã” (Lm 3.23).
Davi sabia que tudo tem a ver com
Deus.
Se ele agiu no passado, por que
não pode intervir hoje?
Se você já viu milagres
acontecendo na sua vida, use estas experiências para vencer a batalha que agora
você precisa enfrentar. As vitórias que Deus nos deu no passado precisam
fortalecer nossa fé para enfrentarmos as lutas do presente.
O Salmista afirma que o homem de
Deus, passando pelo vale árido, faz dele um manancial, e completa: “vão indo de força em força (Sl 84.17).
Outra tradução diz: “vai indo de vitória em vitória!”.
Paulo diz: “Graças, porém, a Deus, que em Cristo sempre nos conduz em triunfo e,
por meio de nós, manifesta em todo lugar a fragrância do seu conhecimento”
(2 Co 2.14). A vida do cristão é vida de vitória constante, mesmo nas
tribulações.
A lógica de Davi ao olhar Golias:
“Se o Senhor me livrou... ele poderá me livrar novamente”. Não era uma questão
de situação favorável, mas de confiança inabalável.
3.
Davi decide usar sua própria
roupa – “...disse Davi a Saul: Não posso andar com isto,
pois nunca o usei. E Davi tirou aquilo de sobre si” (1 Sm 17.38).
Se tudo tem a ver com Deus, não
adianta usar a roupa de outra pessoa.
Não posso enfrentar a vida com a
armadura dos outros, Deus me deu um estilo e personalidade que é só meu. Ele
quer me usar da forma como sou.
Há um grande problema de tentar
usar a fé do outro para enfrentar nossa crise. Os filhos de Ceva tentaram
expulsar demônios em nome de Cristo, a quem Paulo pregava, e o resultado foi um
desastre...
Algum tempo atrás, um conhecido
ministério resolveu fazer uma experiência ousada. Havia um grupo de pessoas
fiéis que sustentavam aquele ministério em oração, e o líder decidiu dar um
salário mínimo, para cada uma daquelas pessoas, para que elas se dedicassem à
oração. Achei muito interessante a ideia. Depois comecei a indagar sobre os
perigos disto. Não creio que o líder daquele ministério quisesse transferir a
sua responsabilidade pessoal da oração para outras pessoas, mas pode ser muito
perigoso contar apenas com a oração dos outros, para sustentar minha vida
pessoal, afinal, não se vai ao céu com o azeite do outro, como Jesus nos ensina
na parábola das virgens. Assim como não se vai ao céu por procuração.
A fé do outro não resolve o meu
problema, eu preciso crer. A oração do outro a meu favor, pode me ajudar, mas
não pode substituir meu compromisso pessoal com Deus. No se transfere unção por
osmose, ou por representação. Filhos não podem ficar dependendo da fé dos pais.
Marido não pode ficar dependendo da fé da esposa, nem a esposa do marido. A
responsabilidade diante de Deus é individual. “A alma que pecar, esta morrerá!”
Deus quer usar sua oração, sua
vida, seu estilo, seu currículo, a sua forma de ser, seja ela simples ou
sofisticada; seu conhecimento, superficial ou profundo; sua formação, elitizada
ou modesta. Não interessa. Use sua roupagem. Não vista a roupa do outro. Você
nunca será o outro, você não tem o corpo do outro, a ginga do outro. A roupa do
outro não serve para você.
Tudo tem a ver com Deus. Quando
ele quer usar apenas uma funda e pedras de seixo, para derrotar um gigante, ele
fará. A pedra será certeira e eficaz, as coisas simples se tornam poderosas nas
mãos de Deus. Não tem a ver contigo, mas tem a ver com Deus. Não é o seu braço
forte, mas o Deus que usa você e realiza seus propósitos através de sua vida.
4.
Davi não toma as decisões
confiado na sua capacidade, mas na capacidade de Deus. Ele não busca sua glória,
mas a de Deus.
Três textos demonstram isto:
a. “Quem é, pois, esse incircunciso filisteu para afrontar os exércitos do
Deus vivo” (1 Sm 17.26). O problema de Golias foi desafiar o Deus que
estava por detrás do exercito.
b. “O Senhor me livrou das garras
do leão e do urso; ele me livrará das mãos deste filisteu” (1 Sm 17.37). Confiança
depositada em Deus. Seu combate está firmado em Deus.
c. “O Senhor salva, não com espadas, nem com lança; porque do Senhor é a
guerra, e ele vos entregará nas nossas mãos” (1 Sm 17.47). Esta declaração
demonstra qual era a base de Davi para se lançar nesta batalha.
Conclusão
O que isto tem a ver com o Evangelho?
Primeiro, achamos que nossa salvação tem a ver com nossa competência
moral, currículo de bondade, boas obras e justiça pessoal, e não com Deus.
Por esta razão, quando analisamos
este texto, temos a tendência de transformar Davi em herói e não colocarmos os
olhos naquele que faz o impossível se tornar real. O autor desta vitória é o
próprio Deus.
Davi não fez por sua força
Davi não enfrentou esta batalha
baseado na sua performance de guerreiro.
Seus olhos estavam em Deus, o
único que poderia dar vitória.
Os irmãos de Davi quando viram
sua sugestão de enfrentar o gigante, acharam que era presunção (1 Sm 17.28); O
rei Saul achou sua missão suicida (1 Sm 17.33), mas Davi não olhava para sua
potencialidade, mas para Deus.
Nossa salvação não tem a ver com
nossa moralidade, religiosidade, legalismo, boas obras, competência espiritual,
mas com a graça de Deus.
Paulo afirma: “Não que por nós mesmos sejamos capazes de
pensar alguma coisa como se partisse de nós, pelo contrário, a nossa
suficiência vem de Deus” (2 Co 3.6).
Segundo, quem faz a obra é Deus, não tem a ver com nossa habilidade e
competência: Deus é quem faz!
Este é o fundamento do Evangelho!
Deus é quem faz!
O Filho de Deus se dirige
resignadamente para a cruz. Ele morre a nossa morte. Ele assume nosso lugar,
Ele nos substitui diante de Deus. Sacrifício expiatório a favor dos pecadores.
Não é o homem quem faz: é Deus!
Qual é nossa função? O que
devemos fazer?
O profeta: Isaías anuncia:
“Porque assim diz o Senhor Deus, o santo de Israel: Em vos converterdes
e em sossegardes, está a vossa salvação; na tranquilidade e na confiança, a
vossa força, mas não quisestes. Antes dizeis: Não, sobre cavalos fugiremos,
portanto, fugireis; e: Sobre cavalos ligeiros cavalgaremos; sim, ligeiros serão
os vossos perseguidores” (Is 30.15-16).
O evangelho tem a ver com fé na
provisão de Deus, e não confiança na nossa própria capacidade. Não adianta
fazer para ir para o céu, mas confiar naquilo que já foi feito. O Filho de
Deus, que tira o pecado do mundo, morreu em nosso lugar, precisamos descansar
na obra de Cristo.
“Assim também Cristo, tendo-se se oferecido uma vez para sempre, para
tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o
aguardam para a salvação” (Hb 9.28).
o que fazemos não é suficiente,
mas a obra de Cristo sim.
Ele fez a obra da redenção, da
salvação.
Tudo tem a ver com Deus.
Por isto, o autor aos hebreus
adverte: “Como escaparemos nós, se
negligenciarmos tão grande salvação? A qual, tendo sido anunciada pelo Senhor,
foi-nos depois confirmada pelos que a ouviram” (Hb 2.3).
Que risco corremos ao
erroneamente acharmos que tem a ver conosco, e não com Deus.
Que grande risco corremos na
nossa alma de negligenciar a obra de Cristo, para confiarmos na nossa
capacidade de sermos salvos por nossos esforços ou pelos sacrifícios.
Davi não era o herói, mas o herói
era Deus.
Davi não concentrou sua energia
nas suas possibilidades, mas na de Deus.
Davi sabia, que não era sua
competência, mas de Deus.
Afinal, tudo tem a ver com Deus.
El Rancho,
23.abril.2019
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