sábado, 16 de março de 2019

Atos 20 14 fundamentos básicos do ministério


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Introdução:

Estudar o livro de Atos é uma experiência realmente sobrenatural. Na medida em que estudamos este livro, observamos como era a dinâmica da igreja, a dinâmica das missões, o treinamento e a estratégia dos apóstolos, como se treinava os novos membros, e como o reino avançava. Por isto, estudar o livro de Atos é fundamental quando falamos de plantação e revitalização de igrejas.

O capítulo 20 de Atos faz parte dos relatos da terceira viagem missionária. Podemos imaginar que algumas avaliações de outras viagens estão sendo feitas, e as estratégias adotadas nas viagens anteriores certamente estão sendo checadas para observar sua aplicabilidade e efetividade. Neste capitulo temos uma espécie de direção e planejamento. Na verdade assim é o livro de Atos de uma forma particular. Se sua igreja e ministério está precisando de um novo fôlego e de revitalização, as verdades do Evangelho deverão ser observadas no livro de Atos. Embora seus relatos sejam narrativos e não doutrinários, nos revelam princípios que, se aplicados e quando aplicados, em qualquer cultura, em todo tempo, serão positivos.

O livro de Atos é o que os americanos chamam de "Back to the basics". 

Apenas no capítulo vinte, numa observação superficial, encontramos no mínimo, quatorze fundamentos para a obra ministerial e a ação da igreja.

1.     Discipulado intenso e contínuo – “...fortalecendo os discípulos com muitas exortações, dirigiu-se a Grécia, onde se demorou três meses” (At 20.2,3).

Paulo já estivera na Grécia quando, em Atenas, fez o seu famoso discurso falando do “Deus desconhecido”. Aparentemente sua experiência na pregação, não foi muito positiva, já que experimentou a zombaria dos filósofos da cidade. Entretanto, há um relato de que “Alguns homens se agregaram a ele e creram; entre eles estava Dionísio, o areopagita, uma mulher chamada Dâmaris e, com eles, outros mais” (At 17.34).

Estudiosos de missões afirmam que podemos afirmar que uma igreja se estabelece numa determinada cultura, quando nativos e indígenas se convertem. Enquanto Deus não levantar pessoas que estão culturalmente identificadas com a cultura e a língua, mesmo que haja frequentadores, a igreja não se forma. Deus levantou em Atenas, algumas pessoas, o suficiente para que uma comunidade cristã fosse ali estabelecida. Agora, Paulo volta para fazer um discipulado mais intenso, já que da primeira vez sua passagem fora muito rápida. Agora ele fica ali por três meses.

Sabemos como era o discipulado de Paulo.
Em Éfeso, ele ficou dois anos, onde formou uma escola, que se reunia na casa de Tirano (At 18.8-10) onde expunha diariamente a Palavra das 11 às 16hs. Por dois anos seguidos... Cinco horas por dia, seis dias por semana, 52 semanas por ano, seriam cerca de 3.120 horas de discussão bíblica e como estudamos anteriormente, isto é o equivalente a 130 dias de pregação de pregação ininterrupta, 24 horas por dia. Grande quantidade de informação, é quase um programa curricular de um Mestrado atual. Na verdade Paulo formou um seminário em Éfeso, com treinamento teológico, pastoral e missiológico.

Certamente as demais igrejas da Ásia (atual Turquia), que foram plantadas em seguida: Filadélfia, Esmirna, Tiatira, Laodicéia, etc, eram resultantes da educação teológica que aqueles alunos receberam e agora “davam ensejo a que todos os habitantes da Ásia ouvissem a palavra do Senhor, tanto judeus como gregos”(AT 19.10).

Agora na Grécia, talvez Atenas, Paulo forma um seminário intensivo. Ele fica nesta cidade por três meses (At 20.3), solidificando a fé dos discípulos, dos novos convertidos, para que sua fé permanecesse sólida, mas para que também avançasse às outras cidades e regiões. Era um treinamento acadêmico e pastoral.

2.     Treinamento supervisionado – “Acompanharam-no (Até a Ásia) Sópatro, de Bereia, filho de Pirro, Aristarco e Secundo, de Tessalônica, Gaio, de Derbe, e Timóteo, bem como Tíquico e Trófimo, da Ásia” (At 20.2,3).

Todos estes seguiam Paulo em sua viagem. Tempo de aprendizado, de discipulado, de oração. Eles passavam o dia inteiro com Paulo ouvindo, vendo e praticando seu estilo de ministério e pregação. Paulo usava o método peripatético de Sócrates, de andar com seus discípulos, mas acima de tudo, ele reproduzia o modelo de discipulado de Cristo, que andava com seus discípulos.

Tenho pensando em como isto poderia ser aplicado atualmente em nossas igrejas. Talvez licenciados indo para os campos com um mentor, estágio supervisionado. Era isto que Paulo fazia. Os discípulos não apenas recebiam uma grande quantidade de informação, mas aplicavam isto diretamente no campo. Esta foi a razão do crescimento das igrejas e da expansão missionária. Os discípulos eram treinados e supervisionados.

3.    Exposição prolongada da Palavra – “prolongou o discurso até à meia noite..” (At 20.2,3).

Nós sabemos o que aconteceu...
O jovem Êutico dormiu durante o sermão e caiu do terceiro andar. O texto diz que ele “Adormeceu profundamente durante o prolongado discurso de Paulo, vencido pelo sono, caiu do terceiro andar abaixo e foi levantado morto”  (At 17.34). Bem, certamente este não é o modelo de pregação que desejamos, nem os resultados que esperamos quando pregamos, mas o que se torna claro  é que Paulo aproveitava estas oportunidades para dar as instruções bíblicas que seriam seguidas pelas novas igrejas que estavam sendo formadas.

E se você acha que foi longo o discurso até à meia noite, leia mais atentamente o texto:
Subindo de novo, partiu o pão, e comeu, e ainda lhes falou largamente até o romper da alva. E assim partiu” (At 20.11). 
Depois do incidente com o jovem, e de um coffee break, o sermão se estendeu até clarear o dia. Isto nos leva a pensar que as discussões em torno das verdades bíblicas e a pregação paulina, duraram 12 horas... foi um verdadeiro intensivão... um corujão, como as escolas modernas gostam de afirmar.

Paulo usava todos os meios possíveis para pregar a palavra. Ele arrazoava (At 17.2) expunha (At 17.3); demonstrava (At 17.3); dissertava (At 19.8); persuadia (At 19.8); e discorria (At 19.9). De alguma forma, por meio persuasórios, Paulo pregava a Palavra e cria no seu efeito para transformar vidas.

Este era um dos pilares para efetivação do ministério. Não há ministério forte sem conhecimento bíblico.

4.     Cuidado especial com a liderança – “De Mileto, mandou a Éfeso chamar os presbíteros da igreja” (At 20.17).

Mileto ficava a uns 50kms de Éfeso. No tempo em que esteve em Éfeso, não há registro de que ele tivesse promovido eleições na igreja, mas a verdade é que ele assim o fez. Ele usou aquele tempo para descobrir líderes potenciais e colocá-los na liderança da igreja local. Se é certo observarmos que ele enviou muitos jovens para o campo missionário para alcançar novos campos, é bom observar também que ele fortaleceu as bases missionárias e as igrejas locais.

O convite de Paulo era específico: Ele chamou os presbíteros. Ele poderia ter chamado toda igreja, mas não o fez. Isto demonstra que ele queria dar uma ênfase especial na liderança, era necessário empoderar aqueles homens. Tempo de qualidade.

Muitos ministérios falham porque os líderes são muito mal preparados e nos descuidamos com seu treinamento e acompanhamento. É necessário uma atenção especial àqueles que estão na liderança porque a igreja nunca vai além de sua liderança. Se quisermos igrejas fortes precisamos de líderes capacitados e encorajados com o ministério. O ritmo dos líderes é o ritmo do time. Pastores desencorajados, desanimados, deprimidos, não conseguem ter uma igreja forte e pujante. Liderança fraca enfraquece a comunidade. Muitas vezes não temos igrejas sem potencial, mas lideres sem potencial. Não é a igreja o problema, mas sim a liderança.

5.     Consistência ministerial -  vós bem sabeis como foi que me conduzi entre vós todo o tempo, desde o primeiro dia em que entrei na Ásia. Servindo ao Senhor com toda a humildade, lágrimas e provações que, pelas ciladas dos judeus me sobrevieram” (At 20.18,19).

Um dos grandes segredos da efetividade ministerial é a consistência. Paulo afirma que a sua vida possuía consistência, pois as pessoas podiam ver que ele era o mesmo “desde o primeiro dia em que entrei na Ásia”. As pessoas viam que Paulo não agia de forma diferente, ele era o mesmo.

Um dos votos monásticos mais desconhecidos é a estabilidade. Os monges não poderiam ser pessoas com emoções instáveis. É muito difícil lidar com pessoas com constantes alterações de humor. Ao contratar uma pessoa uma das primeiras perguntas que faço é se ela tem bom humor. Pessoas mau humoradas não são benvindas na minha equipe pastoral. Emoções desequilibradas desequilibram o time e a instabilidade não permite que se saiba o que será no dia de amanhã.

6.     Serviço abnegado – Servindo ao Senhor com toda a humildade, lágrimas e provações que, pelas ciladas dos judeus, me sobrevieram” (At 20.19).


Paulo faz quatro declarações sobre o serviço que ele presta:
A.   Serviço ao Senhor - “Servindo ao Senhor” - O serviço de Paulo é horizontal, já que ele está ministrando às pessoas, mas sua grande dimensão é vertical, já que ele está “servindo ao Senhor”.

Muitas vezes transformamos nosso ministério em algo meramente humano e perdemos a perspectiva de quem estamos realmente servindo. Será que estamos entendendo realmente este princípio?

B.    Serviço sacrificial – “com humildade”. Ao escrever a 2 Carta aos Coríntios, Paulo afirma: “...em tudo recomendando-nos a nós mesmos como ministros de Deus: na muita paciência, nas aflições, nas privações, nas angústias” (2 Co 6.4).

C.    Serviço árduo – “com lágrimas e provações”. Ministério não é picnic, nem uma tarefa fácil de ser cumprida.

D.   Serviço em meio a provações – “ciladas dos judeus que me sobrevieram”

Nunca me esqueci de uma declaração feita acerca do ministério: “Só é possível servir ao ministério de duas formas: com apatia ou com paixão”.

Paulo disponibilizou de fato sua vida para a obra do Senhor. “Porém, em nada considero a vida preciosa para mim mesmo, contanto que complete a minha carreira e ministério que recebi do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho da graça de Deus” (At 20.24). Sua vida era marcada por completa submissão, doação e serviço.

Sua vida era dedicada ao ministério e pregação. Não à sobrevivência pessoal, nem estava interessado na sua auto preservação, nem no conforto e estabilidade. A fidelidade a Deus, e não sua segurança, eram suas prioridades.


7.     Estratégia diversificada – Jamais deixando de vos anunciar coisa alguma proveitosa e de vo-la ensinar publicamente e também de casa em casa” (At 20.20).

Paulo fala agora de como ele explorava as possibilidades de ser eficiente na pregação da Palavra.

A.   Publicamente – “Exposição da Palavra”. (At 20.20) – Isto pode ser percebido nitidamente na quantidade de horas empregadas para pregar e treinar os novos convertidos.

B.    Domesticamente – “De casa em casa” (At 20.20). Paulo visitava as pessoas e se reunia em suas casas para compartilhar o evangelho em pequenos grupos. Esta estratégia se mostrou extremamente eficaz em muitos ambientes, na forma de cultos familiares, e ainda hoje pode ser estratégica na formação de pequenos grupos.

C.    Individualmente: “A cada um” (At 20.31). Certamente Paulo gastou tempo com discipulado, assentando-se com pessoas diferentes, tirando dúvidas e transmitindo as verdades do evangelho e os conceitos cristãos.

Muitas vezes a deficiência do ministério é a insistência em usar uma única estratégia, quando deveríamos usar todas. A inflexibilidade nos métodos pode limitar o poder de influência e alcance da mensagem. Paulo usava todas as oportunidades.

8.     Ministração a grupos heterogêneos – “testificando a judeus e gregos” (At 20.21). É bem mais fácil comunicar a grupos homogêneos, e pregar a diferentes públicos exige uma maior sensibilidade, principalmente quando a mensagem precisa ser transcultural.

Isto pode ser percebido nas diferentes abordagens usadas por Paulo. Quando ele pregava aos judeus o ponto de partida deveria ser as Escrituras. Em Tessalônica, “Paulo, segundo o seu costume, foi procurá-los (os judeus) e, por três sábados, arrazoou com eles acerca das Escrituras” (At 17.2). O ponto de partida, portanto, era o Antigo Testamento, a Lei e os profetas.

Contudo, quando Paulo foi pregar aos habitantes de Listra, ele partiu da perspectiva religiosa daqueles homens, e da criação, para falar do Deus que tinha todas as coisas sob seu governo (At 14.15-17). Ao se dirigir aos atenienses, sem nenhum contato com as Escrituras judaicas, ele não citou, sequer uma vez, os textos sagrados, mas também partiu da criação, para anunciar o Deus verdadeiro (At 17.24-25). Nestas duas situações, ele usou a cosmovisão, a compreensão de determinadas verdades aceitas entre estas duas diferentes culturas, para comunicar a verdade sobre o Deus que fez todas as coisas pelo eu poder.

Como alcançar os diferentes segmentos que temos em nossa sociedade? Pessoas de comunidades ricas e pobres? Como adentrar condomínios ou favelas com uma mensagem que seja relevante para estes diferentes grupos? Será que deveríamos adotar o princípio da unidade homogênea defendido por Rick Warren, ou deveríamos tentar mesclar diferentes grupos para dar demonstrar o poder do evangelho nesta cultura, como defende Mark Dever?


9.     Mensagem imutável – “...para testemunhar o evangelho da graça de Deus” (At 20.24).

Observando com mais atenção este texto de Atos 20, é possível perceber o conteúdo da pregação de Paulo. Em nenhum momento ele prega auto-ajuda, nem teologia da prosperidade, nem mesmo milagres e cura (apesar de ser uma característica de seu ministério, este não era o foco de sua mensagem). Sua mensagem nunca variava, mas possuía a mesma ênfase. Embora o alvo fossem diferentes grupos e a estratégia fosse diversificada, o conteúdo era o mesmo, desde sempre. A metodologia, abordagem e estratégia poderia mudar, mas não a mensagem.

O que Paulo pregava?

A.   O Evangelho da graça de Deus (At 20.24). O evangelho consiste não em algo que fazemos, mas em algo que Deus fez, por isto são boas novas, e é gratuito. O evangelho foca na obra exclusiva e poderosa de Cristo, para tirar o perdido das trevas e dar direção.

B.    O reino de Deus – “...em cujo meio passei pregando o reino” (At 20.25). Sua mensagem tinha como centro a soberania de Deus sobre todas as coisas.

O reino de Deus tinha se revelado na pessoa de Cristo. O mundo estava sob o controle do Eterno. Deus, e não os homens tem o governo da história, faz a história e é Senhor da história. A revelação deste reino se dera visivelmente na vinda de Cristo, o Filho de Deus, para iniciar um novo tempo através de sua morte e ressurreição.

C.    Todo desígnio de Deus – “Porque jamais deixei de vos anunciar todo o desígnio de Deus” (At 20.27).

Paulo não se esquivava de temas controvertidos, mas queria ser fiel às verdades bíblicas e proféticas. Podemos correr o risco de nos tornarmos interessados em apenas um tema das Escrituras e só pregarmos sobre isto, e quando agimos assim, deixamos de demonstrar outras verdades preciosas da Palavra de Deus. Por isto devemos pregar toda mensagem e a mensagem toda, para fugirmos do risco de pregarmos “o evangelho dos santos evangélicos”, como afirmou Juan Carlos Ortiz.

10.  Integridade irrefutável – De ninguém cobicei prata, nem ouro, nem vestes” (At 20.33).

Integridade não é acessório na vida cristã, mas sua essência. Não pode ser algo periférico, mas central.
Na escolha de líderes para sua equipe, Bill Hybels sugere quatro elementos:
A.   Caráter
B.    Competência
C.    Cultura
D.   Química (em inglês Chemistry).

Veja como o caráter aparece em primeiro lugar.
Obviamente não basta ter caráter para ser aprovado. Muitos tem caráter mas são incompetentes. Muitos tem caráter mas não possuem a cultura da instituição e não entendem a filosofia da comunidade, muitos não possuem a química do time e por isto não é aprovado, mas caráter deve ser o primeiro item.

O que Paulo afirma é que nunca permitiu que qualquer motivo espúrio contaminasse sua liderança. As pessoas sabiam como ele se conduzia entre elas, desde o primeiro dia, e ele jamais deu ensejo para que alguém pudesse julgá-lo moralmente. Podemos ser julgados pelo nosso estilo de liderança, pelos métodos que temos, e eventualmente desagradar alguns pela direção que damos ao ministério, mas nunca podemos permitir que sejamos julgados por falha de caráter. Que o Senhor nos preserve!

11.  Uma compreensão clara de uma liderança saudável – De mileto, mandou a Éfeso chamar os presbíteros da igreja” (At 20.17).

Este texto revela como Paulo sentia necessidade de encorajar o coração e a mente dos lideres. O seu convite para que viessem de Éfeso, cerca de 50 kms de distância para se encontrar com ele, revela sua preocupação em estar próximo destes homens. Ele sabia que sem uma liderança sólida, não haveria uma igreja sólida. Nenhuma igreja vai além de sua liderança.

Três termos para liderança são empregados neste texto:

A.   Presbíteros – (At 20.17). Termo que literalmente significa “anciãos”. A cultura oriental antiga tinha um respeito muito grande pelos homens de idade. Atualmente a ideia de ancião tem mais a ver com maturidade que com idade. Por isto alguns presbíteros de igrejas atuais são muito jovens, mas já expressam grande compromisso e seriedade com a obra de Deus.

B.    Bispos – (At 20.28). Quem eram estes bispos? Eram os presbíteros que aqui recebiam uma nomenclatura diferente. A palavra “episcopois”(grego), significa literalmente “supervisores”. Pessoas que cuidam de todos os detalhes de uma comunidade ou instituição.  Para Paulo, não havia nenhuma diferença entre um grupo e outro, era apenas formas distintas de tratar o mesmo grupo. Presbíteros precisam ter um olhar atento sobre a comunidade, supervisionando e orientando a vida espiritual do rebanho.

A mesa ideia pode também ser encontrada em 1 Tm 3.1: “Se alguém aspira ao episcopado, excelente obra almeja”, e em seguida, passa a fazer a descrição daqueles que receberiam o oficio de presbíteros. Paulo não estabelece qualquer distinção entre uma função e outra.

C.    Pastores – “Atendei por vós e por todo rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispo, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual ele comprou com o sue próprio sangue” (At 20.28).

Os presbíteros, ou bispos, tinham uma função clara: pastoreio.
Eles são chamados para cuidar do rebanho de Cristo.

Isto me leva a considerar que Calvino, pudesse ter se equivocado na interpretação da função de presbíteros, ao dizer que alguns são regentes outros docentes. Não consigo perceber a diferença entre as duas funções. Todos os presbíteros possuem a função de pastorear. Creio que a interpretação errônea deste texto ensejou grandes equívocos práticos nas igrejas reformadas modernas, quando o presbítero se vê como alguém que administrar a igreja, já que é “regente”, e que não tem a responsabilidade da docência e do cuidado, que caberia aos presbíteros “docentes”. Este equivoco tem sido altamente prejudicial ao bom desempenho da obra do Senhor.

Os presbíteros precisam cuidar do rebanho, porque ele está sempre ameaçado:

i.               Ameaças importadas: “Eu sei, que depois da minha partida, entre vós penetrarão lobos vorazes que não pouparão o rebanho” (At 20.29). Há ameaças externas, reais, que usam o método da infiltração, penetrando no meio do corpo, para trazer prejuízos espirituais. Historicamente a igreja tem sido sempre bombardeada por falsos mestres, que se introduzem “com dissimulação...homens ímpios, que transformam em libertinagem a graça de nosso Deus e negam o nosso único soberano e Senhor, Jesus Cristo”(Jd 1.4).

ii.              Heresias auto produzidas – “Dentro de vós mesmos se levantaram homens falando coisas pervertidas para arrastar os discípulos atrás deles” (At 20.30).

Os ataques podem vir de fora, mas podem brotar dentro da comunidade. A igreja de Gálatas sofreu imensamente por um grupo legalista que em nome de um zelo religioso, estava voltando aos fundamentos da lei, esquecendo-se da obra graciosa de Cristo Jesus, criando um “outro evangelho”, que na verdade era o “anti-evangelho”.

12.  Sensibilidade misericordiosa – “Tenho-vos mostrado em tudo que, trabalhando assim, é mister, socorrer os necessitados e recordar as palavras do próprio Senhor Jesus: Mais bem aventurado é dar que receber” (At 20.35).

Ministérios relevantes são marcados pela misericórdia. Mostre-me uma igreja relevante que não tenha cuidado ou sensibilidade pelos que sofrem? Todas igrejas marcantes são generosas e amorosas. É nossa obrigação cuidar dos menos favorecidos.

A igreja primitiva entendeu tão claramente a importância disto no ministério que, nas recomendações feitas, deixou claro isto para seus missionários. “Recomendando-nos somente que nos lembrássemos dos pobres, o que também me esforcei por fazer (Gl 2.10). Paulo assimilou este princípio e está lembrando isto aos presbíteros. “É mister socorrer os necessitados”. A igreja precisa ter sensibilidade com aqueles que são privados de recursos financeiros e vivem às margens dos processos históricos. Paulo afirma que trabalhava para dar e abençoar as vidas.

Quatro motivos relevantes podem ser dados para cuidarmos dos pobres:

A.   Porque a Palavra de Deus nos diz que devemos fazer – “Mais bem aventurado é dar, que receber”. E esta mensagem não é dada para pugilistas e lutadores de MMA, mas para seu povo.

B.    Porque a pobreza fere a dignidade essencial da humanidade. A miséria rouba a dignidade. A fome dói. Se não fossemos cristãos, mas apenas humano, isto já seria motivo suficiente para fazermos isto.

C.    Porque cuidar dos pobres resgata nossa humanidade e sentido. Muitas doenças psicossomáticas e psicológicas, seriam resolvidas na classe rica se ela apenas parasse de olhar de forma tão egoísta para si mesmo. A sociedade moderna está adoecendo porque perdeu a capacidade de ser humana e cuidar dos outros.

D.   Porque glorifica a Deus. Paulo afirma em 2 Co 9.11-12: “Vocês serão enriquecidos de todas as formas, para que possam ser generosos em qualquer ocasião e, por nosso intermédio, a sua generosidade resulte em ação de graças a Deus. O serviço ministerial que vocês estão realizando não está apenas suprindo as necessidades do povo de Deus, mas também transbordando em muitas expressões de gratidão a Deus. Por meio dessa prova de serviço ministerial, outros louvarão a Deus pela obediência que acompanha a confissão que vocês fazem do evangelho de Cristo e pela generosidade de vocês em compartilhar seus bens com eles e com todos os outros”.

13.  Liderança piedosa e temente a Deus – “Tendo dito estas coisas, ajoelhando-se orou com todos eles” (At 20.36).

Não há ministério relevante sem vida de piedade. A presença de Deus norteia as decisões e atitudes. Esta mesma atitude será descrita adiante quando Paulo e um grupo de irmãos se reúnem na praia e oram pedindo direção a graça. “ajoelhados na praia, oramos” (At 21.5).

Uma vida de piedade transforma a história de uma igreja, de uma cidade e de uma cultura. Tenho ficado escandalizado com a superficialidade das nossas orações. Oramos pouco, sem intensidade e paixão e não sabemos orar. Quais são os motivos de nossas orações? Será que conseguimos pedir alguma coisa que não seja os motivos pessoais de nossas agendas? Será que oramos os temas relacionados às missões e ao reino de Deus?

Tive acesso a uma estatística que afirmava que, em média, os pastores americanos gastavam três minutos de seu dia em oração. Observe o detalhe: Apenas três minutos, em média. Isto significa que alguns pastores não oram nada, já que devemos supor que alguns oram um tempo maior. Por que oramos tão pouco? Por que não oramos mais? Será que realmente cremos na eficácia da oração?

14.  Afetividade contagiante – “Então houve grande pranto entre todos, e abraçando afetuosamente a Paulo, o beijavam” (At 20.37).

Nenhum ministério pode ser desenvolvido sem afetividade. O que vemos aqui é um grupo de homens chorando. Esta liderança era marcada não por inveja, porfia, disputas, mas por uma sensibilidade profunda e amorosa.

Nossos concílios precisam passar por um processo de enternuramento.
Muitas vezes nossas reuniões são marcadas por rispidez, oposição, falta de compaixão, ausência de perdão. Não são poucos os que se machucam e tombam pelo caminho. Não é possível conceber um grupo de homens crentes, sem a marca do afeto.

Muitas vezes vemos que o critério de escolha de um líder é marcada por uma liderança eficiente, por uma ortodoxia clara, mas o que aconteceria se a liderança de nossas igrejas incluísse um item adicional: Todos presbíteros, pastores e diáconos precisam ser conhecidos pela capacidade de lidar com a afetividade, respeito, cuidado e amor?

Conclusão:

Estes componentes aqui descritos não são exaustivos, nem abrangem todos os aspectos relacionados apenas neste capitulo vinte de Atos. Certamente outros leitores, observando o mesmo texto com outras lentes, encontrarão aspectos aqui negligenciados nesta análise.

Embora não exaustivos, estes são alguns dos elementos mais visíveis de um ministério sólido. Outros elementos podem ser adicionados, mas estes aqui descritos não podem ser ignorados nem omitidos. Todos eles, somados, dão excelência, efetividade e trazem glória a Deus.

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