sexta-feira, 1 de março de 2019

Dt 28 A obediência da Lei à luz do Evangelho



Resultado de imagem para imagens obediência


Introdução:

Um dos maiores desafios do intérprete da Bíblia e do devoto estudioso da Bíblia é entender o papel da obediência da Lei. Qual sua validade? Se sou salvo pela graça, por que deveria guardar os mandamentos? Se eu desobedecer não corro o risco de "perder a minha salvação?" Os riscos imediatos são o legalismo e antinomismo.

Legalismo
Neste caso, aqueles que são estritos na guarda da lei, cumprindo rigorosamente todas as prescrições, sendo criteriosos em tudo e com forte tendência de julgar os outros, apontar seus defeitos, e, inevitavelmente achar que, por que guardam a lei de Deus, este lhe deve alguma coisa. Este grupo se torna religioso, cioso, e Jesus os criticou mais do que qualquer outro grupo. Jesus chegou a afirmar que “publicanos e meretrizes os precederiam no reino dos céus”, porque apesar do rigor externo na guarda do mandamento, o coração não era atingido e transformado pelo amor, misericórdia e justiça.

O legalista observa rigorosamente a lei, mas está sob sua servidão. Uma vez que não é capaz de cumprir integralmente a lei, acaba vivendo de aparências. Pauta seu comportamento pela religiosidade hipócrita. Observa excessivamente o exterior, mas não é capaz de examinar o próprio interior. Aponta os pecados alheios, mas não enxerga os próprios erros.


Antinomismo ou libertinagem
O Segundo grupo é aquele que acredita na graça de Cristo, e já que são salvos, não precisam se preocupar com a guarda dos mandamentos. Tendem a se tornar descuidados na sua santidade e compromisso com o reino, e desenvolvem uma “graça barata”, como bem apontou Bonhoeffer. Erroneamente afirmam: “Se é pela graça imerecida que Deus dá todas as coisas, nada do que eu fizer, vai mudar o coração de Deus”. A vida de descaso espiritual, mundanismo e futilidade facilmente dominam tais corações.
O antinomista detesta a lei e a lança fora. Transforma a liberdade em libertinagem. Rejeita integralmente a lei e se declara completamente livre de suas exigências. Vive sem normas ou limites.

O Modus operandi da Lei
O princípio da Lei é claro: o homem viverá diante de Deus pela guarda da Lei. “Faça isto e viverás”, a desobediência traz morte e condenação. Deus desejava trazer vida por meio da obediência. o modus operandi da lei é: "Faço, portanto sou amado!" o modus operandi da lei é: "Sou amado, por isto faço!".
Por esta razão, a leitura de Dt 28 nos desafia, porque ela fala das bençãos da obediência e os trágicos resultados da desobediência. Como a lei o evangelho se complementam quando o assunto é obediência? 

A lei tinha objetivos claros:

Dt 5.33: “Andareis em todo caminho que vos o manda o Senhor, para que vivais, e bem vos suceda, e prolongueis os dias na terra que haveis de possuir” (Dt 5.33).

Dt 6.3: “Ouve, pois, ó Israel, e atenta em os cumprires, para que bem te suceda e muito te multipliques na terra que mana leite e mel, como te disse o Senhor Deus de teus pais”.

Dt 6.18: “farás o que é reto e bom aos olhos do Senhor, para que bem te suceda, e entreis e possuas a boa terra, a qual, o Senhor, sob juramento prometeu dar a teus pais”.


O Objetivo da Lei

A obediência era a forma de receber as bençãos de Deus. Os mandamentos foram dados para a vida. O alvo de Deus era abençoar seu povo por meio dos seus mandamentos. Deus estava cuidando do seu povo através da sua lei. O objetivo era “para que vivais”.
Muitos acham os mandamentos de Deus opressivos, repressivos, mas Deus os deu para que, através de seu cumprimento, recebêssemos vida em abundancia. Por isto as leis de Deus tinham objetivos distintos:

A.    Leis humanitárias – Visavam proteger os escravos, e o grupo que classicamente representa àqueles de quem foram tirados os privilégios e cidadania: orfão, viúva e o estrangeiro.

B.    Leis ecológicas – Algumas destas leis tinham objetivo de proteger a natureza contra a ambição humana, como aquelas que estavam relacionadas ao jubileu da terra e ao seu sabático. “de sete em sete anos a terra deveria “descansar”. Nem mesmo o pensamento ecológico mais moderno jamais pensou em algo tão sensível quanto isto. Havia os mandamentos voltados para proteção dos animais, que não poderiam ser maltratados. Deus providenciou que os animais tivessem descanso, comida, proteção contra ferimentos e ajuda quando enfrentassem dificuldades (Ex 23.4,5; Dt 22.10; 25.4). Em provérbios lemos: “O justo atenta para a vida dos seus animais, mas o coração do perverso é cruel” (Pv 12.10).

C.    Leis de higiene – Várias leis nos parecem estranhas como ter que se manter recluso depois de tocar num cadáver, as severas leis acerca da lepra, os rituais de lavar as mãos antes da comida e mesmo a circuncisão. Curiosamente, o menor índice de câncer no colo do útero no mundo é entre as mulheres israelitas, por causa da obrigatoriedade da circuncisão nos homens.

D.    Leis civis – Muitas leis tinham objetivo de legislar a relação dos direitos humanos, da aplicação da justiça, direito à propriedade, à vida, a honradez. Era uma forma de regulara sociedade. Não sem razão a justiça do ocidente tem como base princípios e valores contidos nas leis judaico-cristãs, enfim, Proporcionar bem-estar e preservação da raça humana.

E.    Leis cerimoniais – Relacionadas ao culto, ao sacrifício, o local da adoração, sacerdócio, responsabilidade diante de Deus, uso do tempo, adoração. O objetivo delas era direcionar a forma de adorar a Deus.

O Lugar da Lei no Evangelho

Quando chegamos ao Novo Testamento, vemos que existe uma diretriz clara na forma como o cristão deve ser aproximar da lei. O princípio básico é:

Nenhum de nós é capaz de guardar toda lei.
A lei não tem problema em si, mas os homens são
Incapazes de obedecê-la por causa do pecado.

Veja o que ensina a Bíblia:

“Que diremos então? A lei é pecado? De maneira nenhuma! De fato, eu não saberia o que é pecado, a não ser por meio da lei. Pois, na realidade, eu não saberia o que é cobiça, se a lei não dissesse: "Não cobiçarás".
Mas o pecado, aproveitando a oportunidade dada pelo mandamento, produziu em mim todo tipo de desejo cobiçoso. Pois, sem a lei, o pecado está morto.
Antes, eu vivia sem a lei, mas quando o mandamento veio, o pecado reviveu, e eu morri”(Rm 7.7-9).

Ao ler este texto percebemos que se alguém ainda acredita que será salvo pelo seu currículo moral ou espiritual, ou crê na sua justiça pessoal para ser salvo, não entendeu ainda o evangelho nem a importância da obra de Cristo. A Bíblia afirma que “aquele que não conheceu pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nele fossemos feitos justiça de Deus” (2 Co 5.21).

A nação de Israel considerava a lei uma salvaguarda contra o pecado, mas a religião vivida sob o domínio de códigos de leis não possibilita mérito diante de Deus. A salvação, bem como a luta contra o pecado e a prática dos preceitos de Deus, deve ser entendida a partir da fé na obra redentora do Senhor Jesus Cristo.

A salvação nos é dada, gratuitamente, por meio dos méritos de Cristo. O céu não é ganho por merecimento. A lei é santa; e o mandamento, santo, e justo, e bom” (Rm 7.12). Segundo F. F. Bruce, os ouvintes de Paulo entendiam que, devido à penosa conformidade com um código de leis, era possível adquirir mérito para salvação diante de Deus.

O correto lugar da lei

Os cristãos respeitam, amam e obedecem à lei. Se alegram pela libertação do regime da lei e pela liberdade que Deus dá para cumpri-la. Regozijam-se pela oportunidade de observar a revelação de Deus.
O problema da lei encontra-se quando os homens acreditam que possam ser salvos através do seu cumprimento. A lei é ineficaz para nos justificar, não porque haja qualquer problema nela mesma, mas por causa da incapacidade do homem em cumpri-la. Paulo explica isto cuidadosamente em Rm 7.10-12. Depois do seu desespero diante da lei, Paulo dá um brado de alegria pela compreensão da obra de Cristo. “Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor! De modo que, com a mente, eu próprio sou escravo da lei de Deus; mas, com a carne, da lei do pecado” (Rm 7.25). Apenas em Cristo podemos ser justificados diante de Deus.

Há algo errado com a lei? A resposta de Paulo é enfática: “De modo nenhum!” (Rm 7.7). O apóstolo precisava ter certeza de que seus ouvintes não deturpariam seus ensinos sobre a lei. A verdade, porém, é: “visto que ninguém será justificado diante dele por obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno conhe­cimento do pecado” (Rm 3.20).

Como a lei se aplica aos cristãos ainda hoje?

Então, ao lermos tudo isto, podemos ficar confusos em relação à validade da lei de Deus para nossos dias. Entretanto, precisamos entender a lei na perspectiva do evangelho, caso contrário, corremos o risco de pegar Dt 28 e jogá-lo no lixo.

Primeiro lugar: Orientação.

A lei serve como placas de advertência no trânsito. Fazemos bem em obedecê-la, porque elas estão ali para nos proteger.
Muitas vezes olhamos as placas e achamos que não faz sentido e desta forma as ultrapassamos pela nossa própria vontade. A partir deste momento, você está correndo risco não apenas de levar uma multa, mas de sofrer consequências.
O objetivo da lei é o de orientar o povo de Deus.

Segundo Lugar: benção

A lei traz bençãos para nossa vida quando a obedecemos (Dt 28.1) e graves consequências para nossa alma quando a desobedecemos (Dt 28.15-58).
É impressionante ler atentamente a consequência da desobediência para o ser humano:

ü  Confusão e ameaça – (Dt 28.20)
ü  Loucura e perturbação de espirito (Dt 28.28)
ü  Fracasso pessoal (Dt 28.29)
ü  Quebra da unidade familiar (Dt 28.32)
ü  Até a semente parece não frutificar (Dt 28.38)
ü  Angústia e aperto (Dt 28.53)
ü  Mesquinhez dos afetos (Dt 28.56-57)
ü  Desanimo, falta de brilho nos olhos (Dt 28.65)
ü  Falta de esperança (Dt 28.66)

A obediência não é para obter salvação, mas plenitude de alma, alegria e satisfação interior, “pois afastado de Deus, quem pode comer ou quem pode alegrar-se?” (Ec 3.25). F. F. Bruce afirma que a vida e a justiça são o resultado da união com Cristo.

A regra é simples: “Não viole os princípios de Deus se você deseja ganhar ou manter as bençãos de Deus” (Andy Stanley). Deus não tem compromisso com infidelidade, e não pode abençoar a infidelidade.

Conclusão
O lugar da lei no Evangelho

Então, é fundamental entender o papel da lei e como ela se aplica às nossas vidas, quando estamos vivendo debaixo da graça de Cristo e do evangelho.

1.    Nenhum de nós é capaz de guardar a lei. Como vimos, não há problema na lei em si mesma, mas em nós, e na incapacidade de obedecê-la. Portanto, se você acredita que será salvo pelo seu currículo moral ou espiritual, ou crê que sua bondade e justiça pessoal, boas obras e caridade, podem lhe dar salvação, você não entendeu as verdades do evangelho e nem compreendeu a importância da obra de Cristo.
A salvação é dada gratuitamente pelos méritos de Cristo Jesus.

2.    Dois grandes equívocos podem sobrevir quando equivocamos na compreensão do lugar da lei: Acreditar que posso confiar em mim mesmo e obedecer a lei de Deus ou acreditar que a salvação é obra de Cristo e já que é de graça, não preciso viver em santidade diante de Deus. Jesus afirmou que “pelos frutos podemos conhecer as árvores”. A consequência de uma vida na presença de Cristo é o desejo de santidade. Não podemos viver no relativismo moral nem de forma libertina (Hb 6.11-12; 12.28-29).
John Stott alerta para o fato de que estar emancipado da escravidão da lei não significa estar livre para fazer o que quiser. Libertação da lei não significa liberdade para pecar, e sim liberdade para servir a Deus (Rm 7.6).

3.    Podemos ficar obcecados pelas bençãos de Deus e não pelo Deus das bênçãos – Entretanto, o alvo de nossa vida não são as bençãos, mas uma vida de adoração a Deus. Bençãos são resultados, como bem afirmou Nani Azevedo:
… Eu não correrei atrás de bênçãos 
Sei que elas vão me alcançar 
Onde eu colocar a planta dos meus pés 
Sei que a sua bênção chegará

Nosso alvo é o próprio Deus, glorificar a Cristo em nossa vida e não a obsessão pelas bençãos que ele pode nos dar. Todos os que vivem desta forma, terminam amargurados com Deus porque acham que são merecedores de bençãos que Deus não quer mas que deveriam ser entregues por causa de seus méritos; por conseguinte, eles são bons e Deus é mau.

É óbvio que estar com Cristo, obedecer a Deus e sua palavra, sempre redundará em riqueza e benção, mas o alvo não é buscar bençãos, mas buscar a Deus.

Um dos grandes problemas da raça humana é querer buscar a alegria como um fim em si mesma. Alegria não é o objetivo, mas resultado. Da mesma forma nos equivocamos quando andamos buscando a Deus por interesse de bençãos, ao invés de o buscarmos porque ansiamos sua intimidade.







Nenhum comentário:

Postar um comentário