terça-feira, 5 de março de 2019

At 19.21-30 Evangelho e Cultura


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Introdução:

Este texto descreve o impacto que a mensagem de Jesus causou na cidade de Éfeso e posteriormente em toda Ásia Menor, uma vez que a mensagem do evangelho pregada nesta cidade, atingiria em pouco tempo a cidade de Filadélfia, Esmirna, Laodicéia, Tiatira e as demais cidades do Apocalipse. Paulo se reuniu na Escola de Tirano (At 19.8), e por dois anos ministrou nesta cidade que era uma das mais impressionantes da Ásia (atualmente na Turquia), onde ficava o templo de Diana dos Éfesos ou Ártemis (nome grego), cuja arquitetura foi considerada uma das sete maravilhas do mundo antigo.

Na verdade este templo era o maior edifício do mundo, com 137 mts de comprimento, 68 mts de largura e 18 mts de altura com 127 colunas, cada uma com 6 metros de espessura e na base de cada coluna havia figuras em tamanho natural. Uma obra prima da ciência e da arquitetura antiga.

Éfeso era belíssima, ainda hoje nas ruinas podemos ficar impressionados com os prédios com seis andares que estão sendo restaurados, a avenida principal, sistema de esgoto e de água. Uma cidade rica, portuária (atualmente não é mais, o mar se afastou da cidade!). Neste centro religioso, criou-se uma estrutura de poder em torno da religião. É nesta cidade que o Evangelho vai penetrar de forma profunda.

Ao lermos o texto percebemos que o evangelho traz profundas implicações.

1.     O Evangelho ameaça a cosmovisão  – Este negócio é assustador para os antropólogos e objeto de estudos para as missões. o Evangelho altera cosmovisão, isto é, a forma como você se posiciona frente aos acontecimentos do mundo. Qual sua opinião sobre casamento, aborto, sexualidade, política... etc.

Sua resposta para depende do que você crê. O cristianismo oferece respostas adequadas a cada uma destas questões e possui uma perspectiva sobre trabalho, ética e família. Portanto, cosmovisão é um conjunto de suposições e crenças que alguém usa para interpretar e formar opiniões acerca do  propósito de vida, interpretação da verdade e questões sociais, etc. Todo ser humano possui uma cosmovisão, mesmo que ele não saiba.

Uma cosmovisão define o que a pessoa é, o que ela irá defender e até como irá viver. É a maneira pela qual a pessoa vê ou interpreta a realidade. É uma visão que direcionará a maneira como você verá e interpretará o mundo. Ela é como um óculos e para que a realidade faça sentido é preciso usar “lentes corretas". Ela é um mapa mental.

Na Cosmovisão Cristã,  o universo é percebido como criação de Deus, e não há nenhuma esfera que não seja importante. por isto a Bíblia nos ensina que "quer comais, ou bebais, ou façais qualquer coisa, fazei-o para a glória de Deus" (1 Co 10.31). Esta cosmovisão serve como contraponto aos sistemas ideológicos atuais. O mundo diz que a moral é relativa, a Bíblia diz que ela é absoluta, afirma que cada um pode ter uma interpretação que quiser sobre qualquer assunto, enquanto a Bíblia afirma aquilo que Deus diz ser certo; enquanto o mundo afirma que a verdade está dentro de cada um de nós, a Bíblia afirma que valores eternos nos foram dados por Deus para que vivamos neles e os cumpramos. O mundo secular exalta o homem, a Bíblia exalta a Deus e sua Soberania.

Como precisamos de uma cosmovisão cristã... O relativismo e o politicamente correto têm tomado conta da mídia e das pessoas. A sociedade promove a gratificação imediata dos prazeres, e o culto ao homem tomou lugar do culto a Deus, e a família se tornou descartável, perdeu sua importância, tornou-se apenas um mero arranjo entre pessoas. A fé cristã não é uma “questão religiosa” para o domingo, apenas para dentro das igrejas, mas precisa orientar cada aspecto de nossa vida. Muitas ideologias são pagãs e satânicas, e precisamos olhar para a visão de Cristo em cada uma destas situações. .

Quando uma pessoa se torna cristã, muita transformação acontece. 

Religião e cultura
Uma pergunta que incomoda a muitos é se a religião tem o direito de mexer com a cultura de um povo? Esta discussão é muito atual e divide o pensamento do homem secular e daquele que crê.

Os missiólogos cristãos afirmam que o Evangelho não pode ser entendido como imposição cultural, e que ele transcende as diferenças sendo adaptável a qualquer cultura, e por isto, não deve se preocupar em impor seu ponto de vista achando que ela é superior e que a outra por sua origem pagã, é inferior. Isto já aconteceu demais na obra missionária e atualmente os missionários tem estudado sobre isto. A verdade é que nenhuma cultura é espiritualmente superior a outra.

Mas há um problema que não pode ser negligenciado: E quando a cultura está enfronhada e mesclada com elementos de um paganismo que agride a Deus? Deveríamos deixar os nativos e indígenas subjugados por entidades espirituais e forças demoníacas, porque isto faz parte de sua cultura? 

Por exemplo, no Brasil há tribos que acreditam que crianças com deficiências físicas ou que apresentam quadro de epilepsia, ou mesmo se são gêmeas, precisam morrer. Qual deve ser a atitude cristã. Deixá-las morrer ou protegê-las? 

Na Índia, William Carey descobriu que quando os maridos morriam, as viúvas deveriam ser enterradas vivas (particularmente não sou muito contrário a isto...) Qual deve ser a atitude de um cristão em questões como estas? Interfere ou não? 

Rev. Paul Long, que trabalhou aqui no Brasil plantando igrejas no Norte de Goiás e Tocantins, conviveu em Togo com a cultura dos pigmeus e no seu primeiro encontro, o chefe dos pigmeus ofereceu sua esposa para dormir com ele e a recusa além de ser uma afronta pessoal era uma questão espiritual: “Se ele não dormisse com aquela mulher, os deuses matariam os pigmeus”. Como Paulo Long respondeu? Ele disse que se ele dormisse com ela, o seu Deus o mataria. Felizmente os pigmeus aceitaram sua explicação e tudo se resolveu em paz.

Quando Paulo chegou a Éfeso, havia uma cultura religiosa. As pessoas viviam em torno do culto a Diana, vendiam símbolos religiosos, estatuetas, souvenirs e logo que a verdade do evangelho começou a se disseminar, Demétrio, o ourives, chefe dos Diretores Lojistas de Éfeso, percebeu que isto afetaria a cosmovisão religiosa e impactaria o mundo dos negócios.

Não é possível evangelizar sem que as “estruturas de pensamento” de uma determinada cultura sejam atingidas.

Podemos dizer o mesmo individualmente: Não há possibilidade de você ser um verdadeiro cristão, se em algumas áreas essenciais, o pensamento de Cristo não começar a destruir antigas formas de interpretar a vida, o comportamento e a ética. Sua percepção, lógica, sistematização de pensamento precisa ser tocada. Por isto Paulo afirma que “as armas de nossa milícia não são carnais, mas poderosas em Deus para destruir fortalezas, anulando sofismas e toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo pensamento à obediência em Cristo” (2 Co 4,5).

A mente cristã é uma mente renovada, transformada. Novos valores e princípios precisam encharcar nossa compreensão de valores relacionados à espiritualidade, ética, família, sexualidade e finanças, isto implica numa nova hermenêutica da vida, uma nova forma de avaliar e julgar as coisas.

Se você se diz cristão mas traz uma forma de pensamento secular ou agnóstico, enxerga a vida como o pensamento moderno do homem sem Deus, certamente há alguma coisa errada no seu cristianismo.

Então, na evangelização dos povos, qual deve ser o limite no que concerne à cultura?
A.    Evangelizar não é impor uma cultura sobre a outra. Evangelizar não é ocidentalizar, cristianizar, nem impor uma cultura dominante. Não é renúncia à herança cultural.

B.     Por outro lado, a evangelização sempre vai confrontar elementos específicos de uma determinada cultura, porque todas as culturas são pecaminosas e sua ética ou prática religiosa pode ser uma afronta ao Deus verdadeiro.

A pregação em Éfeso, teve profundo impacto sobre a religiosidade da cidade. Os novos convertidos fizeram uma fogueira em praça pública para destruir os livros de ocultismo, que sustentavam a cosmologia da cidade.

Neste sentido, o evangelho ameaça a cultura vigente e questiona seus fundamentos.
Posteriormente, quando Paulo escreveu a carta aos Efésios, ele demonstra isto de forma clara. como o pensamento secular difere da visão cristã: 
"Assim, eu lhes digo, e no Senhor insisto, que não vivam mais como os gentios, que vivem na futilidade dos seus pensamentos. Eles estão obscurecidos no entendimento e separados da vida de Deus por causa da ignorância em que estão, devido ao endurecimento dos seus corações. Tendo perdido toda a sensibilidade, ele se entregaram à depravação, cometendo com avidez toda espécie de impureza. Todavia, não foi assim que vocês aprenderam de Cristo" (Ef 4.17-20).

Cristo dá uma nova forma de interpretar a vida.

2.     O Evangelho impacta a economia de um povo – Não há como ser diferente. Se a mensagem de Cristo gera uma nova forma de ler e interpretar a vida, isto afetará a forma como você também vai ganhar o dinheiro, vai se entregar ao trabalho. Sua relação com o mundo dos negócios também vai ser impactada.


Demétrio, o ourives de Éfeso, percebe isto em primeiro plano. A conversão de muitos homens ao cristianismo começou a afetar os dividendos. As pessoas pararam de comprar os nichos religiosos que eram vendidos nas bancas públicas e que sustentava o artesanato local e a economia.

Isto aconteceu com Jesus quando confrontou os ladrões do templo e ao expulsar o demônio que possuía o gadareno. Tão logo aquele homem ficou livre do maligno, ao invés dos homens da cidade ficarem feliz com sua a libertação, eles fizeram as contas e descobriram que o diabo não lhes dava prejuízo, mas Jesus sim e “entraram a rogar-lhe que se retirasse da cidade deles” (Mc 5.7). Moral da história: quando Jesus mexe com o chiqueiro das pessoas, ele se torna dispensável e precisa ir expulso. Muitas pessoas deixam de seguir a Cristo porque precisariam mudar seus negócios e teriam prejuízos financeiros. 

O mesmo aconteceu com Paulo quando expulsou o demônio da jovem adivinhadora em Filipos, e que dava grandes lucros aos seus senhores (At 16). Ela era escrava e suas premonições se tornaram fonte de lucro aos patrões. A espiritualidade estava a serviço do mundo dos negócios e de interesses pecuniários Em Éfeso, o mesmo problema se torna evidente. A razão de expulsarem Paulo tinha a ver com os riscos de perdas financeiras que teriam. A rejeição de Deus se dava pelo medo de perderem seus lucros. Não se tratava de um grande amor que tinham pela Diana dos Éfesos, mas do grande amor que aqueles homens tinham com seus lucros.

Quando a mensagem de Cristo chega a uma cultura, negócios escusos começam a ser expurgados. a presença de Cristo altera a forma de lidar com dinheiro, aplicação de recursos, forma de lidar com negócios, lucro. O homem de Deus precisa ver o dinheiro não como um meio de lhe dar lucro, mas como forma de promover o reino de Deus. Ao contrário do que os teólogos da prosperidade afirmam, muitas vezes seguir a Jesus dá prejuízo e não lucro. Algumas formas de ganhar dinheiro ilicitamente, perde o impacto. Um cristão deveria investir seus recursos em empresas que produzem armas bélicas, ou que destroem o meio ambiente ou prejudicam a saúde das pessoas?

Demétrio não se importa em saber se a mensagem de Paulo é verdadeira ou não, este não é o ponto central ou não, mas qual o impacto disto nos seus negócios e lucros.

Os quatro princípios de Charles Stanley sobre o dinheiro deve ser sempre recordado pelos cristãos:

Ganhe honestamente
Invista sabiamente
Doe  generosamente
Desfrute abundamente

O cristão não deve entrar num negócio lucrativo apenas por causa do lucro (que é desejável), mas ele também deseja saber se isto glorifica ou não a Deus. Por isto, o evangelho impacta poderosamente a economia. Paulo agora está sendo acusado de mexer com a economia de Éfeso. O raciocínio deles era claro: “...sabeis que deste ofício (de ourives), vem a nossa prosperidade” (At 19.25). Se o cristianismo continuar avançando, nossa lucratividade vai recuando...

Não é isto ainda muito atual? Abadiânia (João de Deus); o comércio religioso em Juazeiro do Norte (CE); em Aparecida do Norte (SP); Trindade (GO). Se o evangelho penetrar na cultura destas cidades, a idolatria e paganismo serão enfraquecidos. A mensagem de Cristo pode impactar a economia de um povo.

Quando Paulo escreve aos cristãos de Éfeso, afirma: "Aquele que furtava, não furte mais; antes, trabalhe, fazendo com as próprias mãos o que é bom, para que tenha com que acudir ao necessitado" (Ef 4.28). A forma de um cristão lidar com dinheiro precisa ser diferente. Dinheiro não é apenas para acumular, mas uma forma de glorificar a Deus e promover o seu reino. 

3.     O Evangelho confronta falsos deuses – Certamente esta é a verdade central do texto: a mensagem de Cristo confronta as divindades pagãs.

Quando Paulo e Timóteo  pregaram em Listra, as pessoas quiseram transformá-los em semi deuses. Sua palavra desfaz o mau entendido: “Senhores, porque fazeis isto? Nós também somos homens com vós, sujeitos aos mesmos sentimentos, e vos anunciamos o evangelho para que destas coisas vãs vos convertais ao Deus vivo, que fez o céu, a terra, o mar e tudo que há neles” (At 14.15).

O objetivo do evangelho é essencialmente, livrar as pessoas do paganismo, da idolatria, da superstição e das crenças vãs. Por esta razão, o primeiro nível de conversão é a conversão dos deuses falsos para o Deus verdadeiro.

Os habitantes de Éfeso, ouvindo a mensagem maravilhosa de Deus, queimam seus livros de ocultismo, de magia, de horóscopo, a falsa mensagem já não os cativa mais.

Qual era o conteúdo da mensagem paulina? Ele falava de uma fé simples com tal impacto que quando uma pessoa se rendia a Cristo, a antiga mensagem não mais fazia qualquer sentido. A mensagem do evangelho afirmava que Jesus estava disponível para os homens e aqueles homens, que viviam consumidos nas trevas e na superstição, consumido pelo medo, encontravam o amor genuíno de Deus que o paganismo não fazia mais sentido. Thomas Chalmer's afirmou que trata-se do “o poder poderoso de um novo afeto”.

o nível de conversão mais básico é na fé cristã é o abandono de velhas crenças, falsos ídolos e superstições. Certo dia evangelizamos um rapaz que tinha um altar budista na sua casa, e levamos um bom tempo para destruir aquele altar, e foram necessárias vários sacos de lixo para remover o lixo daquele altar pagão que se encontrava na casa daquela pessoa.

Paulo afirma: "Assim que, por nós, daqui por diante, a ninguém conhecemos a Cristo segundo a carne, já agora não o conhecemos deste modo" (2 Co 4.16).
          Conversão muda a compreensão espiritual
                Conversão muda a compreensão de Deus e de Cristo,
                       Conversão muda o estilo de vida,
                                bem como a compreensão do que é servir a Deus, o que é igreja, etc.

Se você ainda possui os mesmos pressupostos espirituais de antigamente, mas já se considera um cristão, precisa fazer uma revisão da sua compreensão da fé cristã. 

Paulo recorda o conteúdo da mensagem que foi anunciado à igreja de Éfeso, ao escrever: "Pois, outrora, éreis trevas, porém, agora sois luz no Senhor; andai como filhos da luz" (Ef 5.8). Quando uma pessoa abandona os falsos deuses, passa a andar na orientação e na luz de Cristo. O Evangelho nos faz abandonar os falsos deuses e ídolos, para seguir somente a Cristo. 


Conclusão:

Por meio deste texto, aprendemos três lições:

O evangelho confronta a cosmovisão e a cultura – afeta o pensamento

O evangelho desestrutura o modelo financeiro explorador – Afeta a economia

O evangelho desmascara o paganismo – Afeta a teologia.

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