Introdução:
Não entendo Deus! Esta é uma
queixa comum dos crentes e dos ateus, que embora afirmem não crer em Deus,
estão sempre se contradizendo nesta questão. Nesta semana, um físico brasileiro
recebeu o premio nobel da espiritualidade e ele afirma que que “O ateísmo é uma
crença. A crença na não-crença!”
Deus nem sempre anda pelos
caminhos mais fáceis e convencionais. Naum afirma que “Deus caminha no meio da
tormenta e da tempestade”. Caminhos difíceis e cheio de percalços. A tormenta
torna a visibilidade reduzida e confusa. Faz parte da natureza do Sagrado não
se submeter às categorias tão caras e comuns da nossa espiritualidade
manipuladora. Deus é Deus, e anda pelos caminhos mais inesperados.
Ao ler este texto de Atos 21, me
deparei com uma questão complicada. Paulo está voltando para Jerusalém, depois
de ter saído corrido de lá, e para complicar, ele decide entrar no templo de
Jerusalém, onde a possibilidade de ser descoberto e causar um motim, era
imensa, mas ainda assim resolve ir.
Por que Paulo insistiu tanto em
voltar para Jerusalém?
Algumas notas sobre este assunto
percorrem todo o capitulo 21 de Atos:
a. Ele diz estar constrangido em ir para Jerusalém (At
20.22-23), pois o Espírito Santo lhe revelara que ele seria preso. Então, por
que caminhar numa direção que ele sabe ser arriscada. O texto não diz que Deus
lhe deu ordem para voltar, antes revela que Paulo criou uma certa obsessão (não
sei se esta é a palavra correta), nesta direção. Deixar de ir não se
caracterizava numa desobediência a Deus.
b. Em Cesareia, cidade portuária,
antes de viajar para Jerusalém, trajeto que deveria ser feito por terra, Ágabo
profetiza que os judeus o amarrariam e o entregariam às autoridades romanas (At
21.11).
c. Quando ele chega a Jerusalém, se
encontra com Tiago e os presbíteros, que fazem uma correta leitura da situação
e demonstram grande apreensão por aquele irmão, querido, mas que corria grande
risco de ser preso, como de fato foi (At 21.20-24). Isto comprometia a vida de
Paulo e a segurança da igreja.
Então, por que, apesar de tudo
isto, Paulo ainda insistiu em se dirigir a Jerusalém?
Este “constrangimento” seria
teimosia? Insegurança? Desobediência às profecias? Não. Talvez a melhor ideia é
que havia um “impulso no seu coração”, em ir nesta direção. Agostinho afirma:
“quando Deus se agita, o homem se levanta”. Muitas obras missionárias se deram
exatamente por este mover do coração.
ü Por que uma mulher solteira, com
formação em medicina, deixaria Londres para cuidar das aldeias e tribos
ribeirinhas do Araguaia nos idos de 1924?
ü Por que alguém, com formação em
medicina, deixaria a terra de seus pais na Europa e por um impulso interno
criaria um hospital em Anápolis, região quase desabitada do centro oeste
goiano?
A resposta seria: Só pessoas com
falta de noção.
Há um lema na MPC, que diz: “Deus
ama gente sem noção!” Não foi assim com Abraão? A Bíblia diz que ele saiu sem
saber para onde ia. Como sair sem GPS, sem planejamento? Abandonando família, a
não ser por um impulso motivador na alma?
Podemos inferir que a decisão de
Paulo estava alinhada com a obra de Deus.
Algumas coisas podem ser
observadas:
Primeiro, seu impulso fazia parte
de um projeto maior de Deus – Afinal, a obra missionária se inicia no coração de Deus.
Deus é o autor de missões. Ele é quem infunde sentimentos, dá direção e
orienta, e quando o missionário chega ao campo, Deus já chegou antes dele.
Afinal, esta é natureza do Deus missionário da Bíblia, que só teve um filho e
fez dele um missionário.
Segundo, Paulo entendeu que sua
vida só faria sentido se estivesse conectada a um projeto maior – Portanto, até mesmo sua
sobrevivência estava em segundo plano. “Porém,
em nada considero a vida preciosa para mim mesmo, contanto que complete a minha
carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho
da graça de Deus” (At 20.24). Sua
vida estava imbuída de um claro senso de comissionamento e missão, e era isto
que importava. Morrer ou viver, ter sucesso ou ganhar dinheiro, nada disso
importava. Então, ele menospreza as ameaças e segue em direção ao impulso do
coração.
Terceiro, porque Paulo, mesmo sem
saber, precisava ser preso para que assim cumprisse plenamente o propósito de
Deus para sua vida.
A.
Por
ter ido para a cadeia, Paulo pode testemunhar a autoridades diferentes nas
situações e oportunidades que surgiram.
o
Em
Jerusalém ele testemunha sua fé no Sinédrio – (At 23.1-10). Muitos daqueles
homens o conheciam. Ele transitava neste universo da religião e da política por
causa de seus estudos teológicos.
o Ainda em
Jerusalém, teve oportunidade de testemunhar a Cláudio Lísias, comandante, que
fora designado por Roma para manter a ordem naquela província (At 23.13-30).
o Em Cesareia, por
dois anos testemunhou ao governador Félix (At 24) e posteriormente ao seu
substituto Festo (At 24.27).
o Também em
Cesareia, testemunhou ao Rei Agripa e sua esposa Berenice, que ficaram
profundamente impressionados com a pregação
– At 26
o Paulo é enviado
para a Itália, e o navio naufragou, indo parar na Ilha de Malta, onde ficaram
por dois meses. (At 28). Ali testemunharam de sua fé a Públio, curando-o, e
impactando toda a ilha.
o
Em
Roma, testemunha aos jovens, filho dos senadores e políticos importantes, que
estavam em treinamento e assim teve acesso, de dentro da prisão, à casa de
César. Isto é o que podemos chamar de “reação em cadeias”.
B.
Sua
prisão desembocaria no seu envio, com despesas do governo, para Roma, sede do
império que dominava o mundo de então para testemunhar o evangelho. Ali em
Roma, de dentro da prisão, ele conseguiu alcançar membros da elite do Senado
romano e gerar uma subversão de dentro para fora.
o Paulo afirma que “Suas cadeias se tornaram conhecidas de toda
guarda pretoriana” (Fp 1.12,13).
Quem era a guarda pretoriana? Os
filhos dos senadores, que precisavam prestar o serviço militar, mas faziam
parte de uma elite e não iam para as guerras na sua juventude, mas eram
destacados para funções mais tranquilas, como a de fazer guarda na casa onde se
encontrava um pregador maluco vindo de Jerusalém, que falava de um Deus que se
encarnou, morreu na cruz para salvar os pecados da humanidade e que
ressuscitou.
A mensagem do Evangelho, desta
forma, chegou ao coração da burguesia da corte. Paulo jamais teria condições de
ser tão efetivo, se não tivesse ido para a prisão.
o
Ao
concluir a carta aos Filipenses ele afirma: “Todos vos saúdam, especialmente os da casa de César” (Fp 4.22). De
quem ele está falando? Dos jovens guardas que agora se converteram e estavam
dentro do palácio. A guarda pretoriana foi o caminho para o evangelho penetrar
na casa de César, o Imperador.
C.
Ao
ir para a prisão, sem planejamento de Paulo, Deus permitiria que Paulo pudesse
escrever e sistematizar o pensamento cristão. Ele jamais teria condições de
fazer isto, se não fosse obrigado a parar. Ali na cadeia, o dia inteiro, Paulo
teve tempo para organizar as ideias.
Conclusão:
O que
isto tem a ver com minha vida e a sua? A verdade é que Deus usa razões aparentemente imperceptíveis para cumprir seus
propósitos.
a. Quando Paulo se converteu, Deus
profetizou que Paulo seria “um
instrumento escolhido para levar meu nome perante os gentios e reis, como
perante os filhos de Israel” (At 9.15). Deus estava usando este impulso de
Paulo para ir à Jerusalém, porque esta era a forma de Deus cumprir seus planos
através de sua vida.
Normalmente
nos desesperamos quando as coisas saem do nosso controle. Não deveríamos...
afinal, quem está conduzindo nossa história?
Paulo
afirma que era “prisioneiro de Cristo”
(Ef 4.1). Desde quando Jesus anda prendendo as pessoas? Paulo entendia que ele
não estava na cadeia por causa da inveja dos judeus, nem pelo poder do império
romano. Sua razão de estar na cadeia era uma só: Jesus o colocou ali para que
seu nome fosse glorificado na sua vida.
b. No meio de muita turbulência e
risco de vida, no capítulo 23 de Atos, Deus dá uma visão para Paulo: “Assim também importa que também o faças em
Roma” (At 23.11).
Deus
estava usando seus caminhos para o levar a Roma.
Deus
estava no controle de todas as coisas, e nenhum de seus planos pode ser
frustrados.
§ Deus usa o impulso de Paulo em ir
para Jerusalém, quando isto parecia um plano absurdo e não recomendado.
§ Deus usa os judeus para
perseguirem a Paulo no templo e dali para o tribunal romano
§ Deus usa o sistema político
corrupto e perverso, de um governador inescrupulosa e populista como Félix,
mantendo-o por dois anos em Cesareia, até que chegasse Pórcio Festo, que dá
andamento ao processo (At 25.11-12), e o envia a Roma.
Deus
está usando sua história.
“os dons e a vocação de Deus são
irrevogáveis” (Rm 11.29).
Tente
perceber o seu lugar no projeto de Deus em nossos dias.
Por que
você está onde está, fazendo o que você faz? O que Deus planeja através de sua
vida?
Precisamos
de pessoas para testemunhar diante dos corruptos sistemas, apodrecidos pelo
pecado e ambição.
Nosso
sistema midiático
- Abra os jornais? Todos eles conspiram contra valores, contra a família e contra
Deus. Qual foi a mulher mais celebrada no Brasil? Pablo Vittar, que na verdade é um homem.
Em 2017, ele (ela) foi eleita a “mulher do ano”. Por que não foi
aquela professora que, depois de um atentado na creche onde trabalhava, morreu
salvando a vida de crianças?
Nosso
sistema educacional
– Nas mãos dos marxistas, ideologia pesada. Você hoje dificilmente vai
conseguir uma vaga de mestrado na área de ciências humanas, ou uma bolsa de
estudos se você não alinhar com a visão do materialismo dialético, ou
questionando a ideologia do gênero... Há uma ditadura do saber. Deus precisa
levantar acadêmicos respeitáveis para infiltrar como aqueles jovens da guarda
pretoriana, e fazer o evangelho chegar aos palácios. A fortaleza de César
precisa ser implodida e se for necessário Deus vai mandar pessoas para a prisão
para cumprir seus planos.
Precisamos
de homens e mulheres crentes, bem preparados, que façam as coisas com
excelência, que se insiram em boas faculdades, sejam aprovados em cargos
públicos, sem barganhar a consciência, sem se venderem ao poder, para
testemunharem com poder sua fé em Cristo.
Paulo
foi preso em Jerusalém e levado para Roma.
Havia
nele um “constrangimento”, um “impulso inconsciente”, uma força vocacional
inspiradora.
Paulo
foi a Jerusalém para ser preso.
Era
assim que Deus queria.
Paulo
era prisioneiro de Cristo.
E, desta
forma, o evangelho alcançou aquela sociedade decadente, depravada, distanciada
de Deus, alheia à cosmovisão do Deus de Israel.
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