sexta-feira, 29 de março de 2019

Atos 21 Os misteriosos caminhos de Deus



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Introdução:

Não entendo Deus! Esta é uma queixa comum dos crentes e dos ateus, que embora afirmem não crer em Deus, estão sempre se contradizendo nesta questão. Nesta semana, um físico brasileiro recebeu o premio nobel da espiritualidade e ele afirma que que “O ateísmo é uma crença. A crença na não-crença!”

Deus nem sempre anda pelos caminhos mais fáceis e convencionais. Naum afirma que “Deus caminha no meio da tormenta e da tempestade”. Caminhos difíceis e cheio de percalços. A tormenta torna a visibilidade reduzida e confusa. Faz parte da natureza do Sagrado não se submeter às categorias tão caras e comuns da nossa espiritualidade manipuladora. Deus é Deus, e anda pelos caminhos mais inesperados.

Ao ler este texto de Atos 21, me deparei com uma questão complicada. Paulo está voltando para Jerusalém, depois de ter saído corrido de lá, e para complicar, ele decide entrar no templo de Jerusalém, onde a possibilidade de ser descoberto e causar um motim, era imensa, mas ainda assim resolve ir.

Por que Paulo insistiu tanto em voltar para Jerusalém?
Algumas notas sobre este assunto percorrem todo o capitulo 21 de Atos:

a.     Ele diz estar constrangido em ir para Jerusalém (At 20.22-23), pois o Espírito Santo lhe revelara que ele seria preso. Então, por que caminhar numa direção que ele sabe ser arriscada. O texto não diz que Deus lhe deu ordem para voltar, antes revela que Paulo criou uma certa obsessão (não sei se esta é a palavra correta), nesta direção. Deixar de ir não se caracterizava numa desobediência a Deus.

b.    Em Cesareia, cidade portuária, antes de viajar para Jerusalém, trajeto que deveria ser feito por terra, Ágabo profetiza que os judeus o amarrariam e o entregariam às autoridades romanas (At 21.11).

c.     Quando ele chega a Jerusalém, se encontra com Tiago e os presbíteros, que fazem uma correta leitura da situação e demonstram grande apreensão por aquele irmão, querido, mas que corria grande risco de ser preso, como de fato foi (At 21.20-24). Isto comprometia a vida de Paulo e a segurança da igreja.

Então, por que, apesar de tudo isto, Paulo ainda insistiu em se dirigir a Jerusalém?

Este “constrangimento” seria teimosia? Insegurança? Desobediência às profecias? Não. Talvez a melhor ideia é que havia um “impulso no seu coração”, em ir nesta direção. Agostinho afirma: “quando Deus se agita, o homem se levanta”. Muitas obras missionárias se deram exatamente por este mover do coração.

ü  Por que uma mulher solteira, com formação em medicina, deixaria Londres para cuidar das aldeias e tribos ribeirinhas do Araguaia nos idos de 1924?

ü  Por que alguém, com formação em medicina, deixaria a terra de seus pais na Europa e por um impulso interno criaria um hospital em Anápolis, região quase desabitada do centro oeste goiano?

A resposta seria: Só pessoas com falta de noção.
Há um lema na MPC, que diz: “Deus ama gente sem noção!” Não foi assim com Abraão? A Bíblia diz que ele saiu sem saber para onde ia. Como sair sem GPS, sem planejamento? Abandonando família, a não ser por um impulso motivador na alma?

Podemos inferir que a decisão de Paulo estava alinhada com a obra de Deus.
Algumas coisas podem ser observadas:

Primeiro, seu impulso fazia parte de um projeto maior de Deus – Afinal, a obra missionária se inicia no coração de Deus. Deus é o autor de missões. Ele é quem infunde sentimentos, dá direção e orienta, e quando o missionário chega ao campo, Deus já chegou antes dele. Afinal, esta é natureza do Deus missionário da Bíblia, que só teve um filho e fez dele um missionário.

Segundo, Paulo entendeu que sua vida só faria sentido se estivesse conectada a um projeto maior – Portanto, até mesmo sua sobrevivência estava em segundo plano. “Porém, em nada considero a vida preciosa para mim mesmo, contanto que complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho da graça de Deus” (At 20.24). Sua vida estava imbuída de um claro senso de comissionamento e missão, e era isto que importava. Morrer ou viver, ter sucesso ou ganhar dinheiro, nada disso importava. Então, ele menospreza as ameaças e segue em direção ao impulso do coração.

Terceiro, porque Paulo, mesmo sem saber, precisava ser preso para que assim cumprisse plenamente o propósito de Deus para sua vida.

A.     Por ter ido para a cadeia, Paulo pode testemunhar a autoridades diferentes nas situações e oportunidades que surgiram.

o   Em Jerusalém ele testemunha sua fé no Sinédrio – (At 23.1-10). Muitos daqueles homens o conheciam. Ele transitava neste universo da religião e da política por causa de seus estudos teológicos.

o   Ainda em Jerusalém, teve oportunidade de testemunhar a Cláudio Lísias, comandante, que fora designado por Roma para manter a ordem naquela província (At 23.13-30).

o   Em Cesareia, por dois anos testemunhou ao governador Félix (At 24) e posteriormente ao seu substituto Festo (At 24.27).

o   Também em Cesareia, testemunhou ao Rei Agripa e sua esposa Berenice, que ficaram profundamente impressionados com a pregação  – At 26

o   Paulo é enviado para a Itália, e o navio naufragou, indo parar na Ilha de Malta, onde ficaram por dois meses. (At 28). Ali testemunharam de sua fé a Públio, curando-o, e impactando toda a ilha.

o   Em Roma, testemunha aos jovens, filho dos senadores e políticos importantes, que estavam em treinamento e assim teve acesso, de dentro da prisão, à casa de César. Isto é o que podemos chamar de “reação em cadeias”.

B.     Sua prisão desembocaria no seu envio, com despesas do governo, para Roma, sede do império que dominava o mundo de então para testemunhar o evangelho. Ali em Roma, de dentro da prisão, ele conseguiu alcançar membros da elite do Senado romano e gerar uma subversão de dentro para fora.

o   Paulo afirma que “Suas cadeias se tornaram conhecidas de toda guarda pretoriana” (Fp 1.12,13).

Quem era a guarda pretoriana? Os filhos dos senadores, que precisavam prestar o serviço militar, mas faziam parte de uma elite e não iam para as guerras na sua juventude, mas eram destacados para funções mais tranquilas, como a de fazer guarda na casa onde se encontrava um pregador maluco vindo de Jerusalém, que falava de um Deus que se encarnou, morreu na cruz para salvar os pecados da humanidade e que ressuscitou.

A mensagem do Evangelho, desta forma, chegou ao coração da burguesia da corte. Paulo jamais teria condições de ser tão efetivo, se não tivesse ido para a prisão.

o   Ao concluir a carta aos Filipenses ele afirma: “Todos vos saúdam, especialmente os da casa de César” (Fp 4.22). De quem ele está falando? Dos jovens guardas que agora se converteram e estavam dentro do palácio. A guarda pretoriana foi o caminho para o evangelho penetrar na casa de César, o Imperador.

C.     Ao ir para a prisão, sem planejamento de Paulo, Deus permitiria que Paulo pudesse escrever e sistematizar o pensamento cristão. Ele jamais teria condições de fazer isto, se não fosse obrigado a parar. Ali na cadeia, o dia inteiro, Paulo teve tempo para organizar as ideias.

Conclusão:
O que isto tem a ver com minha vida e a sua? A verdade é que Deus usa razões aparentemente imperceptíveis para cumprir seus propósitos.

a.     Quando Paulo se converteu, Deus profetizou que Paulo seria “um instrumento escolhido para levar meu nome perante os gentios e reis, como perante os filhos de Israel” (At 9.15). Deus estava usando este impulso de Paulo para ir à Jerusalém, porque esta era a forma de Deus cumprir seus planos através de sua vida.

Normalmente nos desesperamos quando as coisas saem do nosso controle. Não deveríamos... afinal, quem está conduzindo nossa história?
Paulo afirma que era “prisioneiro de Cristo” (Ef 4.1). Desde quando Jesus anda prendendo as pessoas? Paulo entendia que ele não estava na cadeia por causa da inveja dos judeus, nem pelo poder do império romano. Sua razão de estar na cadeia era uma só: Jesus o colocou ali para que seu nome fosse glorificado na sua vida.

b.    No meio de muita turbulência e risco de vida, no capítulo 23 de Atos, Deus dá uma visão para Paulo: “Assim também importa que também o faças em Roma” (At 23.11).

Deus estava usando seus caminhos para o levar a Roma.
Deus estava no controle de todas as coisas, e nenhum de seus planos pode ser frustrados.

§  Deus usa o impulso de Paulo em ir para Jerusalém, quando isto parecia um plano absurdo e não recomendado.
§  Deus usa os judeus para perseguirem a Paulo no templo e dali para o tribunal romano
§  Deus usa o sistema político corrupto e perverso, de um governador inescrupulosa e populista como Félix, mantendo-o por dois anos em Cesareia, até que chegasse Pórcio Festo, que dá andamento ao processo (At 25.11-12), e o envia a Roma.

Deus está usando sua história.
os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis” (Rm 11.29).

Tente perceber o seu lugar no projeto de Deus em nossos dias.
Por que você está onde está, fazendo o que você faz? O que Deus planeja através de sua vida?
Precisamos de pessoas para testemunhar diante dos corruptos sistemas, apodrecidos pelo pecado e ambição.

Nosso sistema midiático - Abra os jornais? Todos eles conspiram contra valores, contra a família e contra Deus. Qual foi a mulher mais celebrada no Brasil? Pablo Vittar, que na verdade é um homem. Em 2017, ele (ela) foi eleita a “mulher do ano”. Por que não foi aquela professora que, depois de um atentado na creche onde trabalhava, morreu salvando a vida de crianças?

Nosso sistema educacional – Nas mãos dos marxistas, ideologia pesada. Você hoje dificilmente vai conseguir uma vaga de mestrado na área de ciências humanas, ou uma bolsa de estudos se você não alinhar com a visão do materialismo dialético, ou questionando a ideologia do gênero... Há uma ditadura do saber. Deus precisa levantar acadêmicos respeitáveis para infiltrar como aqueles jovens da guarda pretoriana, e fazer o evangelho chegar aos palácios. A fortaleza de César precisa ser implodida e se for necessário Deus vai mandar pessoas para a prisão para cumprir seus planos.

Precisamos de homens e mulheres crentes, bem preparados, que façam as coisas com excelência, que se insiram em boas faculdades, sejam aprovados em cargos públicos, sem barganhar a consciência, sem se venderem ao poder, para testemunharem com poder sua fé em Cristo.

Paulo foi preso em Jerusalém e levado para Roma.
Havia nele um “constrangimento”, um “impulso inconsciente”, uma força vocacional inspiradora.
Paulo foi a Jerusalém para ser preso.
Era assim que Deus queria.
Paulo era prisioneiro de Cristo.

E, desta forma, o evangelho alcançou aquela sociedade decadente, depravada, distanciada de Deus, alheia à cosmovisão do Deus de Israel.

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