quarta-feira, 13 de março de 2019

Jz 11 Jefté: O que realmente importa?



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Introdução:


O livro de Juízes é realmente surpreendente, pelas narrativas e pelo momento que o povo de Deus atravessava. Apesar de parecer breve, foi um tempo longo, que vai do ano 1370 a.C., até 1050 a.C., quando Saul assume o trono, tornando-se o primeiro rei em Israel.

A definição dada pelo próprio livro na sua narrativa expressa incerteza e insegurança: ‘ Naqueles dias não havia rei em Israel, cada um fazia o que queria”. Por não haver um governo central, não havia também quem aplicasse a lei, que acabava sendo interpretada como cada um queria. Não havia uma constituição clara embora a Lei houvesse sido dada a Moisés, para nortear práticas e ações civis. Israel vivia períodos de paz e de opressão. Esta realidade se transformou num ciclo vicioso e complicado.

Em Juízes 11, Israel está sendo oprimido por uma ameaça de invasão. Os amonitas alegavam que quando Israel subiu do Egito, eles haviam tomado um pedaço da terra que lhes pertenciam, isto era um evento de 300 anos antes (Jz 11.26), mas que eles reivindicavam agora (Jz 11.13). Na verdade isto não havia acontecido porque Deus impediu que Israel tomasse qualquer ação bélica contra este povo, por serem eles descendentes de Ló, sobrinho de Abraão (Gn 19.37-38).

Para defender seu povo Deus levanta Jefté, que tenta uma aproximação diplomática e procura resolver o impasse com diálogo, mas os amonitas não se convenceram e partiram para a guerra. “O Espírito do Senhor veio sobre Jefté” (Jz 11.28), dando-lhe uma vitória estupenda com um exército multifacetado e repleto de facções sem tempo para um treinamento apurado.

Jefté tinha uma história complicada: Ele era filho de uma prostituta e seu pai tentou levá-lo e ambientá-lo na família, mas ele sofreu violenta oposição dos irmãos que o rejeitaram e o expulsaram de casa dizendo: “Não herdarás em casa de nosso pai, porque és filho de outra mulher” (Jz 11.2). Desorientado ele foge de casa e se une a um grupo de homens levianos. Tudo leva a crer que se tornaram uma espécie de gang poderosa e ameaçadora na região, mas quando o problema e a ameaça externa surgiram, não hesitaram em chamá-lo para liderar um grupo e combater os amonitas. E foi isto que ele fez, e Deus lhe deu estupenda vitória.

Jefté se tornou um juiz e herói em Israel. Deus dispensou sobre ele o seu Espírito para libertar o povo, e apesar de sua posterior atitude num voto tolo que assumiu, isto não invalidou seu valor e seu nome foi incluído na lista de homens que figuram nos textos sagrados do povo judeu. 

Este texto nos ensina algumas lições preciosas sobre a vida:

Primeiro, Não importa de onde você vem, mas onde você chega

Jefté é um homem destinado ao fracasso e à revolta, mas se torna um herói nacional. Sua biografia era confusa e ele poderia facilmente se perder justificadamente numa vida de confusão e desatino. Entretanto, o que vemos? Um homem sendo alçado a uma posição de honra, apesar de toda sua história de vida.

Muitas pessoas são bem sucedidas na vida. Eventualmente os invejamos e desejaríamos estar na posição onde se encontram. Todavia, o grande aspecto a se observar não é onde esta pessoa se encontra, mas de onde ela saiu. Às vezes ela não figura como uma pessoa excepcional, mas se observarmos sua origem, ficamos impressionados em ver onde ela chegou.

Estatisticamente falando, no Brasil apenas uma em 14 pessoas sai da linha de miséria para a linha da pobreza, o mesmo se dá da classe baixa para a classe média. É difícil sair de uma classe para outra.  A diferença entre pobreza e miséria é que, na pobreza há uma falta de bens e serviços essenciais de qualidade, que normalmente envolve as necessidades básicas como alimentação, vestuário, moradia, cuidados de saúde e educação, enquanto que na miséria a pessoa nem ao menos tem acesso a serviços básicos para sobreviver. Portanto, considerando as estatísticas, uma pessoa que sai de uma situação de miséria para uma escala acima, já deu um salto gigantesco na sua condição social.

Certa vez estávamos na casa de uma família que fazia uma festa para comemorar o fato de que sua filha, uma jovem inteligente e aplicada, havia ingressado numa das faculdades mais importantes do mundo, e todos estavam felizes com a situação. Ao meu lado se assentou uma pessoa muito querida, que veio de um lar muito modesto, mas que conseguiu estudar, fazer uma belíssima carreira, ser uma profissional respeitada que me comentou: “Daria tudo para ter uma chance como a que esta menina teve”. Sua ambição era positiva, já que se tratava de uma oportunidade ímpar. Como eu conheço suas origens respondi que o que importava não era onde estávamos, mas de onde viemos. E sua reação foi muito positiva ao ouvir aquilo. Não é este princípio uma grande verdade?

Quem era Jefté? De onde vinha? Sua história de vida poderia transformá-lo em alguém hediondo, psicopata, mas o resultado? Deus lhe deu a graça de se tornar herói, liderar uma nação num tempo de extrema fragilidade.

Depois de tudo, o que realmente importa? Não importa de onde você vem, mas onde você chega.

Segundo, Não importa sua família, mas quem você é.

Se família fosse capaz de determinar a essência de alguém, Jefté jamais poderia ser um herói. Ele simplesmente era parte de uma família doente e disfuncional.

Apesar de ser casado, seu pai teve um caso com uma prostituta. Ele pagou para usar o corpo de uma mulher e ela se engravidou dele.

Sua mãe tinha uma história complicada e fez opções complicadas na sua vida. Por opção assumiu uma vida questionável moralmente, e se tornou uma prostituta. Pelo visto quando a criança nasceu ela abriu mão da paternidade e entregou Jefté para ser criado como uma criança clandestina e bastarda, numa família que o rejeitou tão frontalmente a ponto de expulsá-lo de casa.

Sua adolescência foi visivelmente pesada e sua rebeldia teve etiologia resultante de uma alienação parental. Ele foi rejeitado não apenas pela sua família mais intima, mas se tornou uma persona non grata por sua tribo. Ele também foi rejeitado pela tribo de Gileade, donde procedia.

Mas Jefté, ainda assim, conseguiu escrever uma história diferente e mesmo sendo tão impulsivo como o texto demonstra em toda sua narrativa, ainda assim conseguiu espaço no panteão dos “heróis bíblicos”.

A Bíblia afirma que a responsabilidade é individual. Que o pai não levará a culpa do filho nem o filho a culpa do pai. Em Ezequiel 18 lemos. “Nunca dirão este provérbios em Israel: os pais comeram uvas verdes e o dente dos filhos é que se embotou”. O fracasso de meu pai e de minha mãe não podem definir minha identidade. O que define quem sou são as decisões que tomo, as atitudes que assumo. Portanto, não importa de onde eu venho, nem minha história familiar, antes aquilo que eu decidi viver e a história que escrevi sobre mim mesmo.

Terceiro, não importa o que fizeram com você, mas o que você faz.

A questão não é o que me fizeram, mas o que estou fazendo com aquilo que me fizeram. Eu não sou julgado por ser humilhado, desprezado, abusado, ou privado de direitos e oportunidades, pelo contrário, sou julgado pelas respostas e atos que pratico.

Portanto, não funciona a atitude de vitimismo e de coitadinho.
Isto pode convencer as mães que querem filhos mimados, mas não convence os demais. Seu professor e seu patrão não vão levar em conta o seu passado e te absolver sua negligência e displicência porque você teve um passado difícil e uma família complicada. Sua performance negativa o levará à reprovação e demissão. Ninguém tem tempo para ficar terapeutizando o colega amargurado e repleto de reclamação de uma repartição, nem haverá reforços para aqueles que justificam seu fracasso culpando os outros.

O que você está fazendo com sua história é o que realmente importa...

Observe a vida de Jefté.
Ele precisava dar uma resposta diferenciada à agressão sofrida, e quando a primeira oportunidade surgiu, ele não hesitou em estabelecer as condições e se afirmar com pessoa. Seus irmãos o chamam para defender o povo contra os amonitas, ele assume a liderança, se recusando inicialmente, e livrando o povo do julgo cruel que os amonitas impunham sobre Israel.

A família o havia expulsado. Não sabemos exatamente as tensões latentes naquela casa, ainda que possamos imaginar. Jefté parecia uma pessoa de temperamento forte e evidentemente a relação na família não se tornou fácil na sua juventude. Ele era culpado disto ou vítima? Não sabemos e não vem ao caso. O fato é que ele não deixou que aquilo que fizeram o impedisse de assumir a liderança e a oportunidade que surgiu.

Conclusão

Quando lemos este texto, podemos ficar impressionados com a personalidade carismática de Jefté, seu maravilhoso estilo de liderança, e o exemplo de vida em que ele se tornou. Na verdade nada poderia estar mais equivocado.

Jefté era uma pessoa bem confusa e problemática.
Quando ele foi expulso de sua casa, que era, no mínimo disfuncional como vimos, ele não se tornou pastor ou missionário, pelo contrário, ele criou um movimento de rebelião que amedrontava as pessoas. habitou na terra de Tobe e se ajuntaram a ele homens levianos que saiam com ele. Ele formou um grupo ameaçador e perigoso. Não sabemos o que faziam quando saiam, mas o texto não parece indicar que era ação filantrópica.

E mesmo depois de ser usado por Deus para libertar Israel dos Amonitas, ao retornar ele fez um voto tolo, inconsequente, que revelava um pouco de seu desequilibrio pessoal. Ele fez um voto dizendo que, se fosse vitorioso, o primeiro que ele encontrasse à porta da sua casa, seria oferecido em holocausto. Este voto é tolo, e até mesmo proibido pelo Deus de Israel que não aceitava sacrifício de seres humanos. 

Quem ele encontra na porta de sua casa? Sua única filha. que vem toda alegre para saudar o seu pai. Ela era jovem e virgem, estava empolgada com a vitória do pai e vem dançando. Mas ele tinha feito um voto, sua filha se submeteu a ele e foi "sacrificada". 

Alguns pensam que ela morreu, mas se você levar atentamente o texto, observamos que ela "jamais foi possuída por um varão" (Jz 11.39). Seu sacrifício foi o de não poder ter uma vida normal, não poder amar, nem desenvolver uma família, experimentar o amor de um homem, como as suas amigas faziam. Ele colocou um jugo desnecessário sobre sua filha tão querida.

Então, Jefté não foi usado por Deus, nem foi vitorioso, porque você um gênio, mas por causa da graça de Deus que nos capacita a sermos e fazermos coisas que jamais seriamos capazes de fazer, se não fosse a graça de Deus. E para entender isto, é bom lembrar que Jefté figura entre os heróis da Bíblia, relatados em Hebreus 11. Seu nome aparece ali ao lado de homens notáveis como de Davi, Samuel e dos profetas, afirmando que a vitória destes homens se deu por causa da fé em Deus, e que por isto, "subjugaram reinos, praticaram a justiça, obtiveram promessas e fecharam a boca de leões" (Jz 11.32,33). A vitória deles se tornou possível, por causa da infinita graça de Deus que nos capacita a fazermos coisas que não somos capazes de realizar. 

Depois de tudo, o que realmente importa?
Não de onde viemos
Não o que fizeram conosco
Não quem foram nossos pais
Nem mesmo nossa história.
Mas se somos capazes de vislumbrar Deus neste contexto de agonia e dor e responder com graça.

O que realmente importa é a experiência maravilhosa da graça, que nos dá vitória por meio de Cristo e daquilo que ele realizou na cruz.

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