Introdução:
Como você reage ao
natal?
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Para
muitos, Natal é um tempo estranho: Apesar de todas as festas, e talvez por
causa delas, é um tempo no qual aumenta consideravelmente o número de suicídios
e de enfermidades.
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Talvez
por criar expectativas não concretizáveis que acabam se tornando um forte
elemento depressivo. Talvez a maneira como as músicas e propagandas falam do
natal, e dos automáticos “feliz ano novo”, pessoas que se sentem deprimidas,
podem aumentar sua desolação e senso de vazio.
ü
A
exploração comercial. Muitos por falta de dinheiro, ou talvez pelo excesso
dele, podem reagir ao natal de forma completamente diversa do que os lojistas
desejam.
Contexto:
O texto de Mt 2.1-13 nos fala do encontro dos magos do
Oriente com o menino Jesus. A Bíblia não diz que eram três nem que eram reis
como popularmente ouvimos.
O texto fala apenas que eram "magos do
Oriente".
A palavra “magoi” se
refere a homens versados no estudo das estrelas. Provavelmente astrólogos ou
alquimistas, considerados os primeiros cientistas da história, tentando
associar pesquisa e misticismo para abrir novos caminhos. Este homens não eram
tradicionalmente envolvidos com revelações divinas, nem tinham conhecimento das
profecias judaicas. Eles moravam no Oriente. Podem ter sua origem no Iraque ou na
Pérsia, ou quem sabe de alguma tribo sacerdotal ou casta dos medo-persas que
eram reconhecidamente os mestres da religião e da ciência. Eles cultivavam
astrologia, adivinhação e encantamento. Eram espiritualistas, não espirituais.
Estavam mais para “Paulo Coelho” do que para os profetas judaicos.
O texto nos surpreende por isto. Encontramos várias
reações distintas ao Natal
- Surpresa: Os que consultavam diariamente a Bíblia não tinham
interesse real nas coisas da Bíblia. Temos aqui os principais sacerdotes e
escritas. Seriam atualmente os sacerdotes, padres, pastores e teólogos.
Quando consultados, afirmaram pronta e corretamente onde nasceria o
menino, mas não eram capazes de se encantar com as verdades de Deus.
A profecia sobre o local de nascimento do Messias é uma
das coisas mais extraordinárias da Bíblia. Miqueias, um profeta judaico quase
obscuro, profetizara 700 anos antes que o Messias nasceria em Belém: “"Mas tu, Belém-Efrata, embora sejas pequena entre os clãs de Judá, de ti
virá para mim aquele que será o governante sobre Israel. Suas origens estão no
passado distante, em tempos antigos " (Mq 5.2).
Este é um perigo
constante para a alma daqueles que lidam diariamente com a religião. Por
lidarem constantemente com as verdades, eles podem perder o encanto. Ocorre
então o que chamamos de “dessacralização do Sagrado”, uma perda da capacidade
de admiração por Deus e por suas verdades. Podem ter a Bíblia na mente, mas a
Palavra de Deus não os move, não os impulsiona, não os aproxima de Deus. Temos
aqui uma situação de magos, mais próximos de Deus que os líderes religiosos,
guardiões das profecias bíblicas.
O texto nos mostra pessoas e cidades reagindo de formas
distintas:
- Indiferença: Os que estavam mais próximos geograficamente, se
encontravam mais distante espiritualmente
Jerusalém ficava apenas 12 Kms de Belém. Eles estavam no
epicentro da revelação divina. Herodes consulta os principais líderes, eles dão
a resposta exata, mas embora estivessem tão próximos não se deram ao cuidado de
verificar se algo extraordinário estava acontecendo, se esta era a hora do
cumprimento das promessas.
Após o comentário dos escribas, houve um silêncio.
Afinal, aquilo poderia não passar de alarme. "Haviam aqueles que não
queriam que a situação fosse perturbada, nem mesmo para a introdução do reino
messiânico" (Broadus). Pobre
Jerusalém , nem mesmo este grande anúncio é capaz de despertá-la para a busca
do verdadeiro.
"O Oriente viu
aquilo que Belém podia ter visto. Muitas vezes aqueles que estão mais perto
quanto ao lugar, estão mais longe quanto a afeição". (Hall).
"A estrela
esteve sobre a terra e sobre as cabeças dos judeus e eles não a viram e assim
tem sido desde então" (Lutero).
- Perturbação: O nascimento de Cristo gera ameaça, espanto e medo.
Jesus é uma ameaça para Herodes. Embora ele não fosse judeu legítimo, chegou a fazer uma
genealogia falsa para ser aceito pelos judeus, era, entretanto influenciado
pelo pensamento judaico, e de certa forma acreditava no que os profetas diziam
de forma particular quanto ao pensamento messiânico. Isto se reflete na
imediata atitude dele em buscar uma resposta dos religiosos. Apesar disto, ele
tornou-se um opositor ao nascimento do Messias, procurando destruir o menino
que nascia.
A Bíblia afirma que ele "alarmou-se". Como tirano ganancioso, sentia-se ameaçado pela
chegada de um novo rei. "Vendo-se
iludido pelos magos, enfureceu-se grandemente". Era inconstante, e por
isto mandou eliminar todos os meninos de Belém e arredores. Gente valentona
normalmente é frágil e insegura internamente.
Os magos não conheciam o caráter de Herodes, e por isto
não suspeitaram de sua verdadeira intenção, sendo advertidos em sonho para não
voltarem à presença do rei. Herodes procura as profecias, apenas para seus
propósitos egoístas.Muitas vezes a religião é sacrificada na mão de políticos
inescrupulosos que manipulam a fé de pessoas simples.
- Reverência: O Nascimento de Jesus gera adoração – Esta atitude pode ser
percebida na atitude dos Magos. Místicos por sua própria vocação e
ambiente, quando viram o sinal nos céus entenderam logo se tratar de um
fenômeno divino.
Os magos estão atentos aos sinais dos céus ."Vimos sua estrela no Oriente e viemos
adorá-lo". Neste povo desconhecedor das promessas de Deus brotaram os
interesses mais puros pelas realidades eternas. Deus pode usar os erros de
homens sinceros para guiá-los à verdade. A astrologia estimulou o estudo da
aastronomia, a alquimia suscitou a química, a fé incipiente e mística os levou
ao encontro das verdades celestiais, por estarem atentos ao que Deus podia lhes
falar.
Muitas vezes percebo isto em pessoas tão distantes de
Deus...
Eventualmente sinto muito prazer em pregar a pessoas que
estão distanciadas das verdades do Evangelho, quando percebo nelas uma sede
descomunal às límpidas verdades de Deus. Chegam cheias de pressupostos, crendo até
mesmo em coisas bizarras como extra terrestres, fazendo perguntas periféricas, mas
quando estão abertas às verdades divinas são profundamente impactadas pelas revelações
de Deus.
O resultado de vidas impactadas são notórios:
4.1.
Disposição em seguir os sinais dos céus- "Vimos, viemos.” (Mt 2.2).
Gosto muito destes verbos associados: ver/vir.
Perceber as verdades de Deus geram neles atitudes
transformadoras. Por isto se movimentam. Muitos veem as verdades, mas não se
mobilizam em direção ao que Deus deseja lhes ensinar. Scofield diz que “eles chegaram alguns meses depois de seu
nascimento", isto é, foi necessário uma grande disposição para fazer
uma viagem tão grande e dispendiosa. É possível avaliar que viajaram em torno
de 1700 kms, andando com camelos no deserto, até chegarem a Belém. Viagem que
levaria em torno de três meses.
Temos, portanto que considerar, que não moravam perto de
Belém. Eles vieram do Oriente. Mas estavam dispostos a pagar o preço, demonstraram
disposição em aprender, em sacrificar.
Uma das coisas que tenho aprendido na vida é que pessoas que não demonstram
interesse em se sacrificar, doar, se envolver, ainda não entenderam o valor de
sua fé. Fé que não custa nada, não vale nada. Se você não está disposto a
sacrificar sua vida, seu tempo, seus recursos, pela compreensão de uma verdade
tão preciosa quanto o nascimento de Cristo, você deve fazer um sério auto exame
da sua fé.
4.2. Disposição
para adoração- "Viemos
para adorá-lo." (Mt 2.2)
Saíram de sua terra convencidos de uma verdade que ainda
não era totalmente clara para eles, mas em seus corações havia temor, vontade
de adorar. O vs. 11 aponta para o fato de que eles "prostrando-se o adoraram".
Estar diante de Cristo deve gerar em nós desejo de
adoração.
Encantados com as manifestações de Deus em suas vidas,
não tiveram dúvida alguma em se dispor para exaltar aquela criança.
A compreensão do Sagrado deve gerar profunda devoção em
nossos corações.
4.3. Prontidão
em doar –"Entregaram suas
ofertas." (Mt 2.11)
Que contraste com a nossa situação. No Natal pensamos
muito em receber e dar presentes, mas não consideramos a possibilidade de
adorar a Deus com aquilo que temos. Os magos trouxeram preciosos presentes que
foram dados a Jesus:
-Ouro -
símbolo da realeza;
-Incenso
- resina aromática colhida de certas árvores, símbolo de seu sacerdócio;
-Mirra -
perfume tirado de uma árvore, apreciado pelos antigos Sl 45.8, Ct 3.6. Além de ser medicinal era
usado para embalsamento (muitos acreditam que isto apontava para sua morte). Os
presentes não foram dados porque Jesus necessitasse deles, antes por reverência
e amor. Assim devem ser nossos presentes a ele, nossa vida e a entrega de nossos
bens.
Conclusão:
São visíveis os resultados de vidas impactadas: A
disposição em seguir os sinais dos céus; a disposição para adoração e a
prontidão em trazer presentes. Mas o texto bíblico mostra ainda o que tais
atitudes geraram grandes revoluções no coração daqueles adoradores que vieram
de tão longe:
O primeiro
resultado foi uma alegria contagiante. “E, vendo eles a
estrela, alegraram-se com grande e intenso júbilo” (Mt 2.10). Quem
se aproxima de Cristo, com sincero coração, com atitude de adorador, vai
experimentar grande e marcante alegria. Quem vai a Belém, ao encontro de
Cristo, não pode continuar triste, afinal, eles se encontram diante de Deus,
que é a fonte de toda alegria.
O verdadeiro natal não pode ser aumento de depressão e de
suicídio. O comentarista Hall faz uma belíssima afirmação sobre isto: "Aqueles sábios fizeram uma viagem
feliz, porque alcançaram maior conhecimento de Deus".
O segundo resultado
foi a mudança de caminho. "Regressaram por outro
caminho à sua terra". (Mt 2.12).
Como voltar pelo mesmo caminho se há um novo roteiro para
nossa história?
O encontro com Jesus é transformador.
Você não pode voltar mais pelo mesmo caminho depois do
encontro com Jesus de Nazaré. Sua vida nunca mais será a mesma. O mais leve
toque do sobrenatural pode derrubar o maior plano da sagacidade humana. Paulo
estava indo para Damasco, contudo o encontro com Jesus de Nazaré, mudou
radicalmente seus projetos e sua visão da vida.
Belém torna-se para nós, não o local geográfico, mas o
local que aponta para o encontro com Deus. Herodes deseja matá-lo, mas Deus abre
novos caminhos para aqueles que o adoram.
Tal é a natureza do Natal.
Samuel Vieira
Rio, 27.12.90
Refeito Dezembro 2019
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