terça-feira, 26 de abril de 2016

2 Rs 4.1-7 Milagres com portas fechadas





Observações:

O que observamos aqui é o relato de um homem que apesar de ser temente a Deus, teve algumas situações complicadas: não deixou reservas para a sua esposa, e ainda morreu devendo.
O texto afirma que ele era temente a Deus. Não era um homem impio, indiferente, mas crente, fervoroso, contudo, isto não impediu que ele passasse por grandes privações. Escassez, enfermidades e morte. Este texto desmascara os falsos fundamentos da teologia da prosperidade.

O que observamos no texto?

i.               O temor do Senhor não impede tragédias – A situação desta família é catastrófica. Ela era esposa de um “discípulo de profeta”. Naqueles dias existiam muitas escolas com esta configuração em Israel ((2 Rs 2.3,5) Este rapaz era um aspirante ao oficio, seminarista, que hoje em dia ironicamente alguns chamam de “filhote de pastor”. Com o dinheiro curto este rapaz foi assumindo dívidas, e não foi capaz de resgatá-las enquanto vivia, lamentavelmente também adoeceu e morreu devendo. Como a esposa não podia pagar, os filhos estavam sendo exigidos em pagamento. Ela não apenas era viúva, mas herdara o débito do marido. Era um lar crente, mas vivendo debaixo de grandes perdas.

ii.              O temor do Senhor não impede escassez – Esta mulher não tinha nada em casa, e não apenas não tinha como sobreviver, mas ainda tinha saldo devedor. Teria que pagar a conta do marido que morreu. Uma coisa é você não ter, outra pior é ter ainda um saldo negativo. Sua situação era de carência em todas as direções.

iii.            O temor do Senhor não impede que nos sobrevenham questões insolúveis – Isto pode ser percebido pela resposta que Eliseu dá àquela mulher quando ela narra sua situação: “Que te hei de fazer?”. Identifico-me completamente com o profeta Eliseu neste texto. 

Muitas vezes ouço lamentos e dores, e fico com um nó na garganta, perguntando: “O que pode ser feito?”, e eu, simplesmente não sei o que fazer. As contas não fecham, os recursos são limitados, os desafios imensos, os problemas acumulam-se. É fácil fazer perguntas, mas muito difícil resolver as equações da privação, da doença e do luto. Nem sempre é possível ter respostas às duras questões da vida. É fácil trazer questionamentos, mas são poucos os que são capazes de trazer as soluções.

Muitas vezes as questões da própria fé  não parecem resolver tais dilemas. A vida torna-se meio incoerente, sem sentido, e não conseguimos juntar as contradições da vida, com a realidade de um Deus amoroso e providente. Quando isto acontece, ficamos filosoficamente divididos entre a certeza inabalável de um Deus que existe e é bom, e as condições reais da dor e das perguntas dialéticas e paradoxais que a vida nos apresenta. Como aplicar a fé quando enfrentamos questões que não sabemos responder. Por isto muitos vivem a fé à parte das coisas da vida, como se fosse possível conviver sem resposta num mundo de ambiguidade: Um que tem a ver com espiritualidade, de um Deus que cuida, e outro com o dia a dia, e estes mundos parecem incomunicáveis. Sejamos honestos, você realmente acredita que a vida cristã influencia seu dia a dia? Que Deus tangencia a sua história, que existe um Deus que interfere neste mundo caído?

Quando o profeta Ezequiel é levado por Deus a um vale de ossos secos, Deus lhe faz uma pergunta incômoda: "Poderão por acaso reviver estes ossos, filho do homem?" O que podemos responder quando não temos certeza. A resposta do profeta faz todo sentido para mim: "Senhor, tu o sabes". Esta é a resposta correta da fé que sabe que existe um Deus poderoso, que faz prodígios, e de uma realidade brutal onde a ausência de vida é tão perceptível. O que você responderia a Deus se você estivesse no lugar do profeta? O que você responde a Deus quando ele lhe coloca em situações delicadas, que exigem uma fé absolutamente contrária aos fatos, uma fé de Abraão, que "creu contra toda esperança?"

Este texto nos mostra que o fato de pertencer a Deus não nos imuniza, não nos protege de catástrofe. O marido era discípulo, temente a Deus, no entanto, passa por grandes lutas e morre na pobreza. Nosso erro teológico é pensar que tribulação diminui a Deus. Entretanto, pertencemos a Deus, não porque as coisas estão boas ou ruins, mas porque ele governa todas as coisas, tanto de fartura quanto escassez, tanto de dor quanto de alegria.

Este texto de crise, contudo, é também um texto com lições preciosas e inspiradoras para a nossa fé. Aprendemos com ele que Deus pode surpreender, como fez a esta mulher.

O milagre acontece quando:

  1. Milagres acontecem quando corremos em direção a Deus e não fugimos de Deus. Esta mulher tem todos os motivos para se queixar de Deus e negar sua fé. Deus permitiu que tudo isto acontecesse. Escassez, pobreza, luto e agora a possibilidade de seus filhos se tornarem escravos. No entanto, o que ela faz? Dirige-se a Eliseu, respeitado por ser um servo de Deus. Ela não tem as resposta, mas busca resposta. Ela “clamou a Eliseu”(2 Rs 4.1), contou sua situação.
Já observou como reagimos quando enfrentamos lutas? Já vi muitas pessoas numa espécie de conspiração e revolta contra Deus ao passarem por angústias e provações. Fogem da igreja, não buscam a Deus, viram o rosto, não oram, se distanciam da comunhão. Entram num movimento cíclico, tolo e inútil de questionar e até mesmo blasfemam contra o Senhor. Esta mulher, contudo, assimilou a grande promessa da Palavra de Deus: “Deus é nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente nas tribulações”. Refúgio é este lugar para onde corremos quando a tempestade sopra furiosamente. Fortaleza é este lugar de abrigo para onde a alma cansada pode se proteger.

É isto que ela faz. Ela se dirige ao profeta. Ela corre para Deus. Ela precisa de solução. Hoje não precisamos mais de profetas para nos aproximarmos de Deus, porque Jesus é o nosso sacerdote, e por meio do seu sangue, temos intrepidez para entrar no santo dos santos, como aprendemos na carta aos hebreus (Hb 4.14-16).

2. Milagres acontecem quando quando descobrimos que coisas insignificantes, podem ser potencializadas por Deus.Dize-me, o que tens em casa?” (2 Rs 4.2). Muitas vezes Deus opera a partir daquilo que a pessoa tem, embora ele não precisa de nada do que possamos oferecer. Eliseu vê neste pouco de azeite a solução para o problema daquela viúva. Moisés tinha apenas uma vara, e com ela ele abriu o mar vermelho para o povo hebreu passar. 

Talvez nunca saberemos porque Deus decide fazer a partir do que temos se ele pode fazer as coisas acontecerem do nada. Deus não precisa do que temos, principalmente quando os recursos são tão limitados. O profeta perguntou à viúva sobre o que ela tinha em casa, a resposta da mulher vem em um tom desanimador: “Tua serva não tem nada em casa, senão uma botija de azeite”. Contudo, Deus resolve instrumentalizar essa botija de azeite para abençoar aquela casa. Deus usou o que ela possuía para multiplicar os recursos e realizar o milagre. 

Ele pode usar o pouco que temos e transformá-lo em muito. Até mesmo uma botija de azeite. Deus potencializa nossos limitados recursos, transformando-os em instrumentos poderosos para sua glória.

Ouvi algum tempo atrás uma declaração que me tem feito pensar muito: “Deus vai usar o seu currículo!”. O pouco que temos, quando o trazemos e apresentamos a Deus, pode ser tornar um grande instrumento nas mãos do Senhor, que não precisa nem de nós, nem do que temos, mas resolve usar nossos parcos recursos. Muitas vezes penso nisto quando falamos de recursos financeiros. Vejo muitas pessoas enfrentando grandes batalhas espirituais, tornam-se infiéis no dízimo, e eu fico pensando que grande oportunidade tal pessoa tem de experimentar o milagre da multiplicação na sua vida.

Quando Jesus realizou o milagre da multiplicação dos pães, havia ali um rapazinho providente que havia trazido de casa, cinco pães e dois peixes. Seus recursos foram grandemente multiplicados e cinco mil pessoas puderam ser alimentadas naquele dia. Poucas coisas nas mãos de Deus podem ter grandes efeitos exponenciais. Já viu isto acontecer na sua vida?

3. Milagres acontecem quando quando nos ajuntamos, como família, em nome de Deus para experimentar um milagre – A ordem de Eliseu é clara: “Entra, e fecha a porta sobre ti e sobre seus filhos” (2 Rs 4.5). 

O ato de reunir como família para clamar a Deus, para buscar e depender de Deus, é uma das forças mais poderosas da terra.

Existem momentos em que a família precisa fechar a porta para os outros, para ter a grandiosa experiência do quarto fechado da qual Jesus falou em Mateus 6.6. Famílias reunidas em torno da palavra e oração, especialmente em tempos de crises, experimentam a maravilhosa benção do milagre dentro de casa. Eventualmente são famílias quebradas, divididas, por pecados, passando por crises, enfermidades, quem sabe má administração financeira, e que precisam de arrependimento e transformação. Que efeito tem um pai quando quebrantado e moído pela dor, confessa sua necessidade aos filhos e a esposa e juntos oram a Deus, pedindo um milagre.

Quando pastoreava a igreja de Vila Morais em Goiânia, acompanhei a situação de um funcionário de carreira de um banco privado, que foi demitido depois de 17 anos na empresa. Ele não sabia fazer outra coisa. Ele era um bancário, vida organizada, dívidas pagas, vida simples. E agora, tinha que dar a notícia à sua família de que estava desempregado. Sua filha caçula estava prestes a completar 5 anos e estavam planejando uma festa com os amigos. Quando ele contou a situação, seus três filhos juntos ouvindo e vendo a realidade do pai, que era o provedor, ali mesmo, resolveram orar e colocar suas vidas nas mãos do Senhor, pedindo a provisão de Deus. Foi quando, de forma surpreendente, sua pequena filha Wanessa virou e disse: “Pai, não precisa mais fazer a festa pra mim porque agora a gente não tem mais dinheiro. Eu não vou ficar triste”. Eventualmente este homem se preparou, foi aprovado num excelente concurso como fiscal do INSS, onde se aposentou.

Como é maravilhosa a experiência de uma família que na angústia corre para casa, fecha as portas, e busca o milagre de Deus. Muitas mudanças perenes aconteceriam se famílias cristãs, diante das crises, apresentassem seus pequenos e limitados recursos a Deus, e confiassem realmente na grande possibilidade do ilimitado poder de Deus, e não na capacidade pessoal.

4. Milagres acontecem quando quando dependemos de Deus e confiamos nas suas promessas - 
Logo após o conselho de Eliseu, ela tratou imediatamente de providenciar o que era necessário. Ela foi obediente. Além de declarar-lhe o que tinha em casa, ela obedeceu. Foi até seus vizinhos e juntou todos os vasos vazios possíveis. Com isso ela estava exercitando sua fé. De nada adianta dizer que temos fé, se não a exercitarmos. O segredo está na obediência que nos leva a ação. Para encher os vasos primeiramente pediram vasilhas emprestadas, porque nem isto tinham em casa, e não foram poucos. Chamou seus filhos, foi para o quarto e de forma obediente, cheia de expectativa, os vasos enchiam.

Portanto, leve a palavra de Deus para casa. Feche a porta, ali onde se encontram os segredos de família, onde as máscaras não funcionam, onde a dor é visível. O milagre acontece dentro de casa, família reunida. Veja a recomendação de Jesus: "Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechada a porta, orarás em secreto, e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará" (Mt 6.6).

Outra grande lição do texto é que o milagre só acaba quando acabam as vasilhas. Deus tem mais para dar que a família para receber. Fé é exercício para dentro de casa. Depois de enchidas as vasilhas, o azeite parou porque não havia mais vasilhas vazias. O azeite não acabou porque a graça e o poder de Deus foram limitados, pois enquanto existiam vasilhas vazias ele estava jorrando. A mulher recebeu tanto azeite quanto havia disponibilidade de vasilhas.

A mulher procurou o profeta e contou tudo o que aconteceu ao que ele lhe disse: “Vai, vende o azeite e pague a tua dívida, e tu e teus filhos, vivei do resto” (v.7).

Conclusão
Vendo esta narrativa na perspectiva do Evangelho

A cruz é o lugar no qual percebemos as possibilidades de Deus nos lugares e condições mais áridas da vida. Ali estava um homem, bem jovem, saudável, sendo exposto a um show de injustiça, dor, punição. Um homem bom sendo condenado por um sistema iníquo. 

Neste lugar infame, o milagre acontece. A vida brota da morte do crucificado. Do sangue do Cordeiro de Deus, toda nossa culpa desaparece. Ali, ele assume o meu lugar, derrama sua vida a meu favor. É a graça de Deus brotando nos lugares mais inesperados.

O grande milagre que você pode experimentar na vida não é aquele que resolve temporariamente sua condição, e reorganiza financeiramente sua vida. Não! o grande milagre de Deus é a vida eterna que é dada a nós, pecadores e falhos. A grande benção de sua vida não deve ser condicionada às situações temporárias de sua história. Existe uma benção maior. A vida eterna que gratuitamente nos é dada em Cristo Jesus. 

Este milagre se dá quando, pela fé, nos apossamos das promessas de redenção. Esta mulher viu o milagre do azeite que não parava de jorrar. Mas em Cristo, veremos o milagre da graça de Deus que nunca se esgota. um Deus renovando sua graça e amor por nós.

O grande milagre não é a interrupção da desesperança em situações terrenas. O grande milagre é Deus decidir nos libertar da condenação pela obra gratuita de seu filho. Assim como aquela mulher, precisamos crer na Palavra de Deus. Não há milagre sem fé. Não há salvação sem fé. Por isto a Palavra de Deus afirma: "Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais o vosso coração". Você precisa colocar sua confiança em Cristo para sua salvação. Você precisa se arrepender dos seus pecados e receber o perdão, pela fé.

Este é o maravilhoso milagre da Cruz.

sábado, 23 de abril de 2016

Ef 1.15-19 Que estranha oração...





Introdução:

Muitas pessoas me perguntam porque orar se a oração não muda a Deus, se seu propósito já esta estabelecido e se Deus já sabe de todas as coisas, e já que a história está nas suas mãos.
Deixe-me enumerar algumas razoes:
Primeira, oração não é para mudar o coração de Deus, mas para mudar o nosso coração. Quando oramos, alinhamos nossa visão à visão de Deus e experimentamos paz em saber que ele está dirigindo a história de forma santa, sábia e amorosa. 
Segunda, Jesus orou. Ele era Deus mas sempre o vemos orando intensamente, fazendo vigílias à noite toda, e fazendo retiros espirituais.
Terceiro, ele nos encorajou e até mesmo nos ensinou a orar.
Quarto, os discípulos de Cristo oravam e nunca questionavam porque deveriam orar, embora tivessem pedido a Cristo que lhes ensinasse a orar, talvez por perceberem quão difícil era a tarefa da vida devocional.
Quinto, O povo de Deus ora. Não encontramos na história da igreja uma comunidade crista que afirmasse não ser necessário orar. A experiência da comunidade cristã é sempre marcada pela luta e desafio de oração.
Este texto, porem, nos fala de outro aspecto da oração, ou de uma dimensão de oração que talvez ignoremos. Por isto colocou o titulo neste sermão de “que estranha oração...” Nesta oração, vemos o conteúdo da oração de Paulo. Quando leio atentamente est oração, fico assustado em constatar que tal oração é muito diferente do conteúdo das orações que diariamente faco.
a.     Ela é abrangente, não intimista;
b.     Ela é intensa, não superficial;
c.      Ela foco em profundos temas espirituais, enquanto minhas orações focam mais em temas cotidianos e coisas materiais.
Certamente esta oração não é estranha...
Minhas orações é que são estranhas, quando confrontadas com o conteúdo das orações dos discípulos e de Jesus. Se quiser entender melhor isto, veja o conteúdo da oração de Jesus na oração sacerdotal de Joao 17.

Vamos considerar estes aspectos enumerados acima:
a.     Abrangente, não intimista – considere seus pedidos e clamores e os compare aos temas propostos nesta oração bíblica. Quando você ora, se concentra em questões espirituais e coisas relacionadas ao reino de Deus e a vida espiritual das pessoas com as quais você se relaciona?
Lamentavelmente as orações que fazemos costumeiramente permanecem apenas num plano pessoal e intimista. São orações egocêntricas, voltadas para o eu: “dá-me, peço, ajuda-me, preciso”. Não ha nada errado em orar pensando naquelas coisas que estão acontecendo ao nosso redor e pelas pessoas que amamos, o problema é que ficamos apenas neste nível de oração. Não avançamos.
Não temos coração para orar por temas mais abrangentes como o reino de Deus, a paz mundial, o avanço missionário da igreja, batalhas espirituais. Eventualmente sequer oramos pelo nosso país e pela nossa cidade. O que ouvimos e lemos nas mídias não nos incomoda, o terremoto no Japão ou no Equador, os atentados terroristas na Nigéria, a incredulidade e secularismo das universidades, as centenas de jovens de são assassinados anualmente no Brasil, o dilaceramento das famílias, a destruição da moral e a corrupção institucionalizada em nosso país...
A oração de Paulo se parece estranha por ter maior abrangência que as orações introvertidas e narcisistas que fazemos.

b.     Intensa, não superficial – Sua oração envolve todo seu ser, penetra suas vísceras, não se trata apenas de uma declaração superficial. Ele realmente aprofunda o conteúdo das suas preces.
Na Epistola de Tiago lemos que Elias era um homem como nós, sujeito às mesmas variações de humor, teve profundas crises depressivas que o levaram a esconder-se de todos numa caverna, passou por sentimentos de vitimismo e de auto piedade, sentiu-se só e impotente diante dos desafios da vida, no entanto, a Bíblia registra que este homem frágil “orou com instancia, para que não chovesse sobre a terra, e, por três anos e seis meses, não choveu. O orou de novo, e o céu deu chuva e a terra fez germinar seus frutos”(Tg 1.17-18). Sabe qual a diferença entre sua oração e a nossa?
Uma palavra sintetiza. “Instância”, que muitos confundem com perseverança. O termo instância, porem, dá ideia de intensidade. Ele colocou seu foco no seu pedido. Sua oração era como um facho de luz concentrado que chamamos atualmente de lazer.
O problema de nossas orações é que oramos pouco e sem intensidade. Não penetramos nas questões mais profundas do âmago espiritual. Até oramos, mas superficialmente. Compare sua oração com a que Jesus fez no Getsêmani. Qual a diferença? Ele sua gotas de sangue. Isto é intensidade.
George Mueller, grande homem de oração na Inglaterra disse que o problema de sua mente na oração é que parecia ter passarinhos na sua mente, voando em todas as direções, impedindo de se concentrar. Já se sentiu assim?

c.      Foco em temas espirituais, não materiais. Isto tem a ver com o conteúdo. Em nenhum momento vemos nesta oração de Paulo qualquer pedido de bençãos materiais, ou mesmo por livramento da perseguição politica que estavam sobre a vida do povo de Deus. Ele não ora por prosperidade financeira ou sucesso profissional dos crentes.
É errado orar por estes temas? Não!
O problema é que só estes temas parecem ocupar nossas orações.
Paulo, pelo contrário, ora por temas espirituais pelos quais, talvez, nunca tenhamos orado.

Quais os temas que ocupavam sua oração?
1.     Espírito de sabedoria e prudência – quando recebemos a Cristo recebemos o Espirito Santo e somos selados por ele, como vimos nos vs 13 e 14. Fomos regenerados e selados com este Espírito. Então, por que Paulo pede espirito de sabedoria e prudência?
Estas duas palavras falam de orientação, e descrevem como devemos viver o dia de hoje. No AT, sabedoria (Hokma) significava “olhar a vida com os olhos de Deus, e então perceber o que ele está fazendo e envolver-se nisto”, ou, como afirma Gordon MacDonald, no seu livro Ponha em ordem seu mundo interior: “ver a vida através dos olhos de Deus”. Isto é perspectiva. Como Deus vê, este é o ponto fundamental.
Como precisamos disto. Nossos julgamentos e analises desconsideram ou não levam em conta Deus e seus santos propósitos. Como usar o tempo, os talentos, os recursos financeiros, o planejamento da vida, educação de filhos, cultuar a Deus. Por isto precisamos de espirito de sabedoria e prudência.

2.     Espírito de revelação – Dr. Shedd afirma: “revelação significa uma visão de todas as coisas, não apenas deste mundo que está desaparecendo (1 Co 7.30), mas uma visão de valores como são traduzidos no céu” (tão grande salvação, 26).
A verdade é que ninguém consegue fazer isto sem receber esta revelação, para entender e julgar a vida com tais valores  celestiais. Este texto mostra que uma coisa acompanhará esta atuação do Espirito: O pleno conhecimento de Cristo. Como precisamos conhecer a Cristo e nos identificarmos com sua obra e missão.

Este espírito de sabedoria e revelação traz iluminação aos olhos do coração – (Ef 1.18). Você sabia que coração tem olhos? Shedd afirma que iluminação originalmente é como o milagre de um homem cego que passa a ver. Em 2 Co 4.4 lemos: “O Deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos para que não lhes resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo”. Precisamos de iluminação interior para ter clara percepção das realidades espirituais. Não raramente agimos como pessoas andando no escuro, sem capacidade de julgar corretamente as coisas e tomar decisões moralmente corretas, ter sabedoria para discernir o certo do errado, o prioritário do urgente.
Quando os olhos do coração são iluminados, surgem três realidades maravilhosas em nossa vida. A expressão para (vs.18), dá ideia de resultado. Existem três elementos específicos deste conhecimento:

2.1. A esperança do chamamento – (vs.18). Você sabe porque você existe, e qual o plano de Deus para sua vida?
O mundo antigo e o atual sempre viveu sem esperança (Ef 2.12). para muitos, não ter nascido seria a maior felicidade, para outros, morrer seria um livramento. Li recentemente que o suicídio vem assustadoramente aumentando nos EUA, chegando a 30 em cada 100 mil pessoas. Na Noruega, existe mais suicídio que assassinato. As pessoas não sabem porque existem, perderam a esperança. Não saber o porque da existência causa um enorme buraco na alma, chamado no existencialismo de nihilismo. Vazio, nada, vaidade.
No dia 28 de marco faleceu a ultima irmã de minha mãe aos 89 anos. Tia Mariquinha teve uma vida conturbada, mas quando envelheceu foi assentando poeira, as inquietações aos poucos resolvidas e se converteu. Seis meses atrás , ultima visita que minha mãe lhe fez, ela lhe perguntou se ela tinha medo de morrer. Ela respondeu do seu jeitão simples e direto: “Medo de morrer? Eu tenho é dó dos que ficam”.
Ter esperança no chamado é uma maravilhosa benção. Paulo ora para que os cristãos de Éfeso pudessem experimentar a maravilhosa benção de ter sólida esperança.

2.2. A riqueza da glória de sua herança – Todos já ouvimos história de pessoas que receberam uma herança inesperada de um parente rico e distante que morreu sem deixar herdeiros e que pela proximidade de parentesco a herança lhes cabe. No dia 22 de Abril de 2016 faleceu Prince, um estranho, exótico e controvertido cantor pop. Prince deixou uma riqueza avaliada em 300 milhões de dólares, já era divorciado duas vezes, e não tinha contato com seus irmãos. Seu único filho morreu quando ainda era um bebê, e agora, a justiça americana terá de julgar quem pode ter direito aos seus bens, incluindo um jatinho particular.
Nem sempre somos capazes de entender a herança que temos em Cristo. “Nós jamais poderemos compreender o que significa para Deus ver completamente realizado o seu propósito, ver aqueles que suas mãos criaram, pecadores redimidos pela sua graça, refletindo a sua própria glória” (Bruce, Epistle to the Ephesians, pg. 40).
Você já parou para considerar a glória da sua herança em Cristo? Paulo ora para que a igreja pudesse saber a  riqueza que todos os santos em Cristo, redimidos pelo seu sangue, experimentarão.

2.3. A suprema grandeza de seu poder – vs. 19. Paulo ora para que os crentes pudessem saber que poder é este que se encontra à nossa disposição. Ele afirma que o poder que Deus disponibilizou para nós é o mesmo que ele exerceu em Cristo quando o ressuscitou dentre os mortos. Aquele mesmo poder que ressuscitou a Cristo dentre os mortos é o que opera na vida da igreja de Cristo. Paulo afirma que gostaria de conhecer o poder de sua ressurreição (Fp 3.11).

Será que entendemos isto?
Será que faz sentido esta estranha oração de Paulo para nossas vidas?
Este poder não apenas ressuscitou a Cristo, mas o colocou acima de todo principado e potestade (Ef 1.20,21). Este poder “dinamis” é eficaz e agiu de uma forma tão eficaz que todos poderes sobrenaturais e históricos não puderam contê-lo. O Império Romano, a maior potencia militar dos dias de Jesus, bem que tentou, selando o tumulo e colocando vigias, mas todo aquele aparato militar foi inútil diante do poder de Deus.
Paulo ora para que o povo de Deus soubesse qual a natureza do poder que estão sobre aqueles que creem em Cristo. Que extraordinário animo e coragem esta grande verdade pode trazer aos que creem em Cristo.

Conclusão:
Esta oração não é estranha por causa do seu conteúdo, nem porque é herética e sem sentido... A estranheza na verdade é a surpresa que temos quando oramos de forma completamente distinta deste conteúdo tão rico teologicamente e tão surpreendente nas suas verdades...
Então, se consideramos esta estranha oração de Paulo, e seus maravilhosos resultados. Por que oramos tão pouco? Por que os santos do passado gastam horas que sentiam passar como minutos, enquanto passamos momentos em oração que parecem horas?
Shedd afirma:
“Não entendo com profundidade o que significa ser escolhido ou predestinado, nem como as nossas orações, chegando à presença de Deus, mudam, transformam! Não sou da opinião de que Deus muda de atitude porque eu lhe peco que faca. Não. Ele já tencionava fazer o que estou pedindo, porque a minha oração é real quando eu penso junto com Deus os seus pensamentos. Mas, ao mesmo tempo, Deus restringe as suas bençãos de vida, de crescimento, de formar a sua imagem, se eu deixar de orar (...) Num sentido muito real, oração é colaboração com Deus” (Tão grande salvação, pg. 23).

Paulo ora esta estranha oração. Profunda, abrangente, com conteúdo espiritual. Precisamos aprender a orar, porque precisamos orar. Portanto,

“Ore quando sentir vontade de orar,
ore quando não sentir vontade de orar.

E ore, para que tenha vontade de orar”.

sexta-feira, 22 de abril de 2016

2 Rs 3.4-20 As surpreendentes manifestações de Deus


Este texto nos relata uma grande intervenção de Deus na história, e nesta narrativa aprendemos ainda como como Deus intervém na história humana.

Após a morte de Acabe, pai do rei Jorão, Mesa, rei de Moabe, conspirou contra Israel e não queria mais lhe pagar impostos, que eram bem altos, de “cem mil cordeiros e a lã de cem mil carneiros” (2 Rs 3.3). Então, Jorão, rei de Israel, se aliou com Josafá, rei de Judá, e o rei de Edom, e foram pelo caminho do deserto de Edom para guerrear.

No caminho, porém, um fato inusitado entrou em cena. Eles não previram a ausência de água, e os exércitos se viram em grande aperto, porque depois de sete dias, estavam exaustos e aflitos, sem ter onde aplacar a sede. Foi assim, então, que resolveram buscar a Deus. 

Por alguma razão não explicada no texto, Eliseu estava acompanhando o Exército e agora resolveram pedir sua intervenção. Não há relato de que tivessem buscado a Deus pedindo anteriormente sua orientação, mas agora, apurados, querem a ajuda de Deus. Não é exatamente assim que fazemos? Tomamos decisões e seguimos confiante para perceber lá na frente que estamos perdidos e só então buscarmos ajuda de Deus?

Eliseu se mostra extremamente resistente ao rei de Israel, por causa de sua idolatria, mas em respeito ao piedoso rei Josafá, chama os músicos, e assim, sendo ministrado pelos louvores, ficou cheio da graça de Deus e recebe sua palavra. É Assim que me sinto muitas vezes, depois de um louvor. Como é bom pregar após a ministração profunda de um louvor abençoado e ungido. Pregar sob a unção de músicos que amam a Deus é uma das coisas mais benditas da vida.

Neste cenário angustiante, Deus se manifesta de forma poderosa, e dá uma palavra de esperança ao profeta, que a comunica aos reis ali presentes. Deus iria manifestar sua glória e poder no meio daquele povo, e assim se deu.

Como é bom experimentar a manifestação do poder de Deus na nossa vida.

Como é bom participar de um momento na história quando vemos Deus intervindo de forma profunda, poderosa e surpreendente. Como afirmou o salmista: “Quando o Senhor restaurou a sorte de Sião, ficamos como quem sonha. Então a nossa boca se encheu de risos, e nossa língua de jubilo. Então, entre as nações se dizia: Grandes coisas o Senhor tem feito por nós. Com efeito, grandes coisas o Senhor tem feito por nós, por isto estamos alegres” (Sl 126.1-3)

Quando leio este texto em 2 Rs 3, fico impressionado ao perceber como são benditas e abencoaras estas manifestações celestiais, seus efeitos e resultados na vida. Porém, vemos que as manifestações de Deus possuem alguns traços que podem ser distinguidos:


1. As manifestações de Deus são resultado da sua graça – Veja o que acontece neste texto. O profeta Eliseu deixa claro sua repulsa pela vida espiritual que o rei Jorão levava. “Disse Eliseu: Tão certo como vive o Senhor dos Exércitos, em cuja presença estou, seu eu não respeitasse a presença de Josafá, rei de Judá, não te daria atenção, nem te contemplaria” (2 Rs 3.14).


Por que Eliseu reage assim?

Jorão era um rei ímpio e idólatra. Ele era filho de acabe e Jezabel, ícones da impiedade e oposição a Deus. Por isto Eliseu diz: “Que tenho eu contigo? Vai aos profetas de teu pai e aos profetas de tua mãe” (2 Rs 2.13). Jorão não tinha qualquer relação pessoal com o Deus de Israel, pelo contrário, tinha uma tendência a deuses e entidades pagãs. Agora que Eliseu estava diante dele e sabia de sua atitude e desprezo pelas coisas santas, age de forma dura. Manda que ele procure seus deuses falsos, afinal, ele não estava sempre dirigindo suas preces a estes deuses?

Apesar de sua vida espiritual torta, e seus vínculos com deuses demoníacos, Deus se manifesta de forma poderosa diante dele. Talvez por estar ao lado do rei Josafá (é bom andar com gente que anda com Deus, porque ao lado destas pessoas sempre vemos a graça de Deus em ação), e assim Jorão pode contemplar a intervenção sobrenatural de Deus diante do seu povo. Sua vida não lhe dava mérito algum para ser agraciado com a benção de Deus, entretanto, Deus age graciosamente com ele.

O texto mostra como Jorão é alguém que vive distante da compreensão de quem era Deus. Neste texto o vemos ironizando ou questionando, e sendo questionado, pelo menos três vezes:


A. Ele suspeita de Yahweh, o Deus de Israel – em 2 Rs 3.10 ao se ver em apuro pela falta de água, ele afirma: “Deus nos trouxe aqui para nos matar”. É como se ele estivesse cinicamente dizendo isto, ou apenas declarando isto. Ele não se move em direção a Deus para orar, apenas faz comentários de ironia, desprezo ou desconfiança de Deus.



B. Ele se opõe a Deus – Isto pode ser percebido pela forma como Eliseu reage diante dele. (2 Rs 3.13,14). Ele diz ao rei de uma forma popular: “Por que eu deveria orar por você? Você despreza a Deus, se curva diante de Deus, mas na hora que as coisas apertam você corre para ele?”



C. Ele vê Deus como rival – Isto pode ser constatado no seu cinismo: “Yahweh é quem chamou estes três reis para os entregar a Moabe” (2 Rs 3.13). Se esta afirmação viesse de um rei piedoso, seria uma declaração de fé, mas vindo de um homem ateu, parece deboche. A impressão que eu tenho é que ele está insinuando que Deus os trouxe ali para uma armadilha. Deus era rival, não aliado.


Apesar de tudo isto, Deus ainda revela sua misericórdia. Não é assim também conosco?

Apesar de não sermos merecedores da sua salvação, ele nos salva de forma amorosa, enviando seu Filho para morrer pelos nossos pecados. Deus nos resgata de forma gratuita, não há mérito. Não somos merecedores de sua benção, muitas vezes somos infiéis, apesar disto ele tem sido generoso conosco.

Muitas vezes nos sentimos como Davi, ao contemplar a maravilhosa graça de Deus sobre sua vida: “Então, entrou o rei Davi na casa do Senhor, ficou perante ele e disse: Quem sou eu, Senhor Deus, e qual é minha casa, para que me tenhas trazido até aqui?” (2 Sm 7.18).


2. As manifestações de Deus conspiram contra o óbvio – O que vemos neste Deus nos leva a concluir que Deus ironiza das impossibilidades. A ordem dada pelo profeta aos reis é estranha: “Assim diz o Senhor: fazei, neste vale, covas e covas. Porque assim diz o Senhor: Não sentireis vento, nem vereis chuva; todavia, este vale se encherá de tanta água, que bebereis vós, e o vosso gado, e os vossos animais” (2 Rs 2.16,17). Toda esta declaração nos parece um perfeito absurdo. 


Nonsense.

Cavar vales na areia seca? Fazer covas no deserto?
E ele adverte. 
Tem que ser pela fé mesmo... não haverá vento, não haverá chuva, todavia, este vale se encherá de água. Vai ser assim mesmo...

Ele não usa o meio convencional... muitos homens naquela época eram experts em descobrir canais aquíferos subterrâneos, já ouviram falar que isto também acontece no Brasil? Não é magia, embora pareça. Homens sertanejos, que descobrem filetes subterrâneos de água no nordeste, com pedaço verde de um galho de goiaba. Incrível, não?

Aqui o profeta não trabalha com o óbvio. Ele trabalha com o absurdo.

Cavem covas nos vales... não tem nuvem, não tem vento, não haverá chuva, mas um rio correrá neste lugar dando abundante água para todos vocês, e para seus animais. As águas vão chegar... apenas cavem buracos.

E daí a pouco, vemos um bando de “malucos”, cavando buraco no deserto, poeira levantando para todo lado. Então vem um soldado que não sabia da profecia dada por Eliseu e diz: “Ficou todo mundo doido? A falta de água já está causando alucinação coletiva?” ou, “estão se preparando para enterrarem seus corpos quando morrerem de sede?”

As manifestações de Deus resolvem conspirar contra tudo que parece óbvio.
É o Deus que diz a uma mulher de 90 anos que ela vai dar a luz a uma criança; que envia seu anjo para anunciar a uma jovem adolescente que ela vai engravidar-se sem ter qualquer envolvimento sexual com um homem. Deus parece rir-se das impossibilidades, zombar dos obstáculos, conspirar contra aquilo que parece ser normal. Elias, ao confrontar os profetas de Baal manda colocar água na lenha preparada para o altar. Ja tentou fazer fogueira com lenha molhada?

O que Eliseu pede para que os reis façam conspira contra o senso comum. “Assim diz o Senhor: fazei, neste vale, covas e covas” (2 Rs 3.16). Se eu estivesse lá, do meu jeito pragmático diria: “Não está vendo que estamos exaustos? Sedentos? Abrir buraco neste deserto seco só vai complicar a situação, só se formos para cairmos mortos dentro dele”. Contudo, apesar da obviedade, eles cavaram buracos, e “Pela manhã, ao apresentar-se a oferta de manjares, eis que vinham águas pelo caminho de Edom, e a terra se encheu de água” (2 Rs 3.20).

Não é interessante que o milagre ocorra na hora da oferta? Quando o povo adorava a Deus?


3. As manifestações exigem obediência – A ordem do profeta foi dada: “Fazei, neste vale, covas e covas” (2 Rs 3.17). Os reis, que ouviram a palavra do profeta, precisaram se submeter a esta “ridícula” condição.


Muitos milagres na Bíblia foram condicionados à obediência:

Em 2 Rs 5, Naamã é curado da lepra, sob uma condição: “Vai, lava-te sete vezes no Jordao, e ficarás limpo” (2 Rs 5.10). Naamã se irrita com a ordem. “Não são, porventura, Afana e Farfar, rios de Damasco, melhores que as águas de Israel?

Jesus em Caná da Galileia ordena que os servos encham de água as seis talhas de pedra, sendo que em cada uma cabiam cerca de 60 litros de água, numa região em que não havia água encanada, e a água deveria ser buscada numa fonte que servia toda vila.

A cura do cego de nascença: “Dito isto, cuspiu na terra, e, tendo feito lodo com a saliva, aplicou-o aos olhos do cego dizendo-lhe: vai, lava-te no tanque de Siloé (que quer dizer enviado). Ele foi, lavou-se, e voltou vendo” (Jo 9.6,7) Ele só foi curado depois que obedeceu às palavras de Jesus. Só passou a enxergar depois que se lavou.

Por que, em alguns casos como estes, Deus exige que algo fosse feito obter a cura? Só podemos entender isto como uma forma de demonstrar que cremos e por isto obedecemos. Deus não precisa de meios ordinários para realizar milagres, ja que ele faz como quer, mas muitas curas e vitórias se darão, não porque os milagres ja aconteceram, mas porque cremos nas promessas dadas por Deus.


4. As manifestações de Deus geram resultados que vão muito além das expectativas – Os reis procuram Eliseu porque a situação calamitosa da falta de água ameaça a vida deles e dos soldados. Por esta causa foram consultar o profeta, mas Deus não apenas lhes atende, como transcende o que pediam: “Isto é anda pouco aos olhos do Senhor, de maneira que também entregará Moabe nas vossas mãos” (2 Rs 3.18).


Deus não apenas lhes deu água para socorrer ao povo sedento, mas lhe deu ainda vitória contra os inimigos. Não haviam sequer pedido isto, mas Deus lhes dá além de suas expectativas e de seus pedidos.

Gostaria de mencionar dois aspectos pessoais que podem ilustrar:


Primeiro, a obra de Deus em minha vida pessoal sempre tem sido maior que eu esperava. Eu tenho tido mais honra, vitórias e bençãos que jamais poderia supor na minha história, na minha família. Eu sei que tudo isto é obra de sua graça em minha vida. Não há mérito algum nisto. Eu estou convencido desta verdade.



Segundo, a obra de Deus em meu ministério tem sido muito maior do que jamais poderia imaginar. Na verdade nunca tive grandes pretensões ministeriais, mas Deus foi me surpreendendo no decorrer da história e paulatinamente sua misericórdia foi me abençoando. Ao olhar tudo isto, só posso dizer como Davi: “Quem sou, e qual é a casa de meu pai, para o Senhor me abençoar tanto”.



Conclusão:

Gostaria de sintetizar o que até aqui foi dito:

A. As manifestações de Deus são resultado da sua graça – Deus foi misericordioso com Jorão, e assim tem sido conosco. Apesar de não sermos merecedores de sua benção, ele tem sido generoso conosco.

B. As manifestações de Deus conspiram contra o óbvio – Deus nos ordena apenas a crer. Precisamos crer diante das impossibilidades para experimentar a graça de Deus. Tem que ser pela fé mesmo... não haverá vento, não vereis chuva, todavia, este vale se encherá de água. Vai ser assim mesmo... O milagre se deu na hora da oferta de manjares, quando o povo adorava a Deus. Adore o Senhor...

C. As manifestações exigem obediência – Mesmo diante das aparentes “ridículas” condições. Muitos milagres na Bíblia foram condicionados à obediência.

D. As manifestações de Deus geram resultados que vão além das expectativas – Portanto, faça grandes coisas para Deus e espere grandes coisas de Deus.

sexta-feira, 15 de abril de 2016

2 Rs 2.19-22 Da esterilidade à vida




Este texto narra a história de Jericó, a cidade mais antiga do mundo, conhecida também pela suas belas palmeiras. Hoje é uma cidade árabe, onde existe um teleférico e se podemos apreciar à distância o Rio Jordão, marcado pela divisa com o deserto.

O texto bíblico afirma que ela tem um privilegio maravilhoso. É
geograficamente bem situada, próxima às campinas de Moabe, no entanto, sua geografia e posição estratégia perdiam valor porque suas águas eram más e a terra estéril.

Que alegoria da vida humana.

A realidade de Jericó se parece com a vida de muitas pessoas. Bem situadas, vários privilégios, família socialmente ajustada, condição de vida estável, no entanto, as suas águas são más. Hoje existe um fenômeno na classe média de São Paulo, de rapazes de família de classe média alta, que se metem em tráfico, drogas, brigas.

O problema não se encontra nas suas condições, que não são adversas, pelo contrário, frequentam boas escolas, tem oportunidade de viajarem, comprarem boas roupas, terem determinados luxos. O problema se encontra nas águas que saem delas. Suas águas são ruins, e por isto torna estéril toda terra ao seu redor. Agua sulfurosa, carregada de enxofre, parecidas com a lama da Sanmarco, poluídas de fortes metais que vai semeando a morte por onde passa.

Estas águas tem a ver com o coração, que são as fontes da vida. Ou não é exatamente isto que nos ensina a Palavra? “De todas as coisas que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem todas as fontes da vida” (Pv 4.23). Esta recomendação é importante porque Deus sabe que se as fontes do coração estiverem contaminadas, adoecidas, tudo mais o será.

Provérbios ainda nos ensina que “o coração alegre aformoseia o rosto”. Quando o coração está triste, todas as demais coisas ficam contaminadas.

Já viram adolescentes bonitos, de boas famílias, dinheiro, estilo de vida confortável, mas o coração deprimido, sem sentido, triste, sem esperança e razão para viver? As fontes estão contaminadas, as águas são más, e o que sai desta fonte é esterilidade, morte, sequidão. O texto diz: “As águas são más e a terra é estéril”. Podemos ler este texto da seguinte forma. Porque as águas são más, a terra ao redor se torna incapaz de produzir. A terra não produz porque a água insalubre, ao invés de dar vida, traz morte.

É o coração carregado de amargura e revolta, de tristezas e dores, que azedam todo o ambiente. É o marido cujo coração está adoecido que trata com grosseria e insensibilidade sua mulher e filhos, é a mulher cujas águas são más e não consegue dar vida para sua casa. É o coração carregado que azeda as vidas, e as coisas não fluem.

Muitas vezes, olhamos apenas para a terra que está estéril e sem vida, consideramos apenas os resultados das águas más, que são esterilidade e morte. Mas não paramos para considerar as fontes. A terra está ruim porque a água (fonte) é ruim. A vida está péssima, porque o coração está bagunçado. As pessoas não são apenas os resultados visíveis, as pessoas refletem o problema mais agudo do coração humano, que é o coração sem Deus.

Em psicoterapia, usa-se uma terminologia interessante para problemas que são diagnosticados, versus problemas que produzem os efeitos externos: “cortina de fumaça!”. O problema não são os comportamentos maus, mas o que está causando estas graves consequências. São as sombras do coração.

Jesus sempre colocava o problema aparente, aquilo que se observava, numa camada mais profunda, subjacente, causativa. Os fariseus viviam preocupados com os rituais externos de purificação, as lavagens de mãos, de vasos e até mesmo de cama, para suas purificações, de conformidade com a tradição. Mas Jesus afirma que “não há nada fora do homem que, entrando nele, o possa contaminar; mas o que sai do homem é o que o contamina” (Mc 7.15). “O que sai do homem, isto é o que o contamina. Porque de dentro, do coração dos homens, é que procedem os maus desígnios, a prostituição, os furtos, os homicídios, os adultérios” (Mc 7.20,21). O problema são as fontes.

Águas boas trazem nutrientes e fertilizam a vida.

Fico olhando o jardim de nossa casa.
Quando a seca do centro oeste vem, ela chega a durar até 4 meses. Durante este tempo, a grama vai secando, as arvores vão sofrendo, os pastos se tornam amarelos e as plantas se recusam a viver. Tudo se torna pálido e sem cor. Mas quando as saudáveis águas da chuva descem sobre a terra, elas geram vida porque trazem nutrientes importantes. Suas fontes que são as nuvens carregadas fazem a vida voltar e a terra a produzir.

Nossas fontes precisam ser restauradas.
Precisamos de tratar daquilo que está gerando morte ao nosso redor, indo ao cerne da questão.
É disto que nos fala o evangelho.

Eliseu pega um prato novo, cheio de sal, e o derrama sobre as fontes, e as águas se tornam saudáveis. Muitos tentam encontrar o significado no prato novo e no sal aqui presente no texto. Eu não me preocupo se eles possuem ou não simbolismo, porque o que vejo aqui é a manifestação do poder de Deus, quando interfere na vida.

Certa vez Jesus curou um surdo mudo, pegando saliva da sua boca e tocando-lhe na língua. Se buscarmos o significado aqui da saliva, podemos perder a lição.

Noutra, ele curou um cego, fazendo barro com sua saliva no chão, e tocando seus olhos. O ponto aqui é que Deus cura de qualquer forma, usando meios ou não. Dar poderes aos meios é perder de vista o poder daquele que se permite utilizar meios para a sua própria glória. Deus restaura com ou sem meios.

O texto nos ensina que as fontes foram restauradas, e a agua se tornou saudável. “Ficaram, pois, as águas saudáveis”.

Que maravilhosa benção é esta que Deus produz.

Pega a coisa estéril, venenosa, destrutiva, e a transforma em algo salutar e saudável. Pega o casamento sem gosto, só agua, e transforma a água em vinho. Restaura da vida de um jovem sem sonhos, dando sentido e valor à sua vida, de alguém promiscuo e entrando num processo de auto destruição e muda sua história. Opera na vida de um endemoninhado Gadareno e o transforma no primeiro missionário cristão em terras não cristãs.

Com a obra de Deus, as águas se tornam saudáveis e cheias de vida.

O texto nos ensina também que a restauração foi permanente. “Ficaram, pois, saudáveis aquelas águas”. (2 Rs 2.22). Não apenas para servir de espetáculo àqueles que presenciaram o milagre, mas para abençoar, para sempre, a vida da região. Imagine o efeito de uma fonte saudável numa terra seca como a de Jericó? Deus não restaura para um tempo determinado na história, mas para continuar abençoado a terra ao redor, para sempre. A efeito da obra de Deus em nossa vida tem impacto em gerações, filhos e netos. Por isto o texto diz que Eliseu, ao derramar o sal na água afirma que não haveria mais morte, nem esterilidade.

Conclusão:
O alvo de Deus, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, foi sempre de alcançar as fontes do ser humano.

Em Ezequiel Deus afirma: “Dar-vos-ei um novo coração. Tirarei de vós o coração de pedra e darei um coração de carne” (Ez 36.26) Deus promete chegar no centro, nas fontes da existência humana, tocar nos segredos. No coração é que estão as fontes da vida e da morte.

No Novo Testamento, Jesus fala de algo estranho e revolucionário: Novo Nascimento. 
Não se trata apenas de algumas reformas externas no visual, nem de alguns comportamentos mais civilizados que são emitidos. Deus sabe que estas coisas são insuficientes para o ser humano, e por isto propõe uma coisa radical. Veja que na raiz da palavra “regeneracao”, você vai encontrar o radical “gen”. Não é curioso pensar que na língua grega, também, a palavra regeneração, possui o mesmo radical? Tem a ver com a Genética, com o DNA do ser humano. O plano de Deus em nossa vida, é mudar nosso DNA. Ele precisa mudar as fontes.

Jesus purifica as fontes:
Motivos, desejos, aspirações, fontes.
As molas centrais da vida.

Davi ora da seguinte forma: “Quem há que possa discernir as próprias faltas? Absolve-me das que me estão ocultas” (Sl 19.12)

Você olha para sua vida, tomando decisões erradas, se prostituindo, saindo dos caminhos do Senhor, vivendo numa vida de auto destruição, infeliz e triste, as fontes estão más.

Além disto, você tem causado um efeito colateral destrutivo monstruoso: Você tem tornado estéril e sem vida, a terra, o solo, a natureza ao seu redor. Talvez você já tenha pensado em morrer, em desistir, esteja sem esperança. Mas este texto nos diz que a obra de Deus mudou as fontes de Jericó, tornando aquelas águas saudáveis, permanentemente.

Quem sabe hoje você não diga a Deus: “Senhor, restaura as nossas fontes como as torrentes do Neguev”. Ou, “Senhor, torna minhas águas saudáveis para que eu possa gerar vida ao meu redor, e não mais morte esterilidade.