sexta-feira, 22 de abril de 2016

2 Rs 3.4-20 As surpreendentes manifestações de Deus


Este texto nos relata uma grande intervenção de Deus na história, e nesta narrativa aprendemos ainda como como Deus intervém na história humana.

Após a morte de Acabe, pai do rei Jorão, Mesa, rei de Moabe, conspirou contra Israel e não queria mais lhe pagar impostos, que eram bem altos, de “cem mil cordeiros e a lã de cem mil carneiros” (2 Rs 3.3). Então, Jorão, rei de Israel, se aliou com Josafá, rei de Judá, e o rei de Edom, e foram pelo caminho do deserto de Edom para guerrear.

No caminho, porém, um fato inusitado entrou em cena. Eles não previram a ausência de água, e os exércitos se viram em grande aperto, porque depois de sete dias, estavam exaustos e aflitos, sem ter onde aplacar a sede. Foi assim, então, que resolveram buscar a Deus. 

Por alguma razão não explicada no texto, Eliseu estava acompanhando o Exército e agora resolveram pedir sua intervenção. Não há relato de que tivessem buscado a Deus pedindo anteriormente sua orientação, mas agora, apurados, querem a ajuda de Deus. Não é exatamente assim que fazemos? Tomamos decisões e seguimos confiante para perceber lá na frente que estamos perdidos e só então buscarmos ajuda de Deus?

Eliseu se mostra extremamente resistente ao rei de Israel, por causa de sua idolatria, mas em respeito ao piedoso rei Josafá, chama os músicos, e assim, sendo ministrado pelos louvores, ficou cheio da graça de Deus e recebe sua palavra. É Assim que me sinto muitas vezes, depois de um louvor. Como é bom pregar após a ministração profunda de um louvor abençoado e ungido. Pregar sob a unção de músicos que amam a Deus é uma das coisas mais benditas da vida.

Neste cenário angustiante, Deus se manifesta de forma poderosa, e dá uma palavra de esperança ao profeta, que a comunica aos reis ali presentes. Deus iria manifestar sua glória e poder no meio daquele povo, e assim se deu.

Como é bom experimentar a manifestação do poder de Deus na nossa vida.

Como é bom participar de um momento na história quando vemos Deus intervindo de forma profunda, poderosa e surpreendente. Como afirmou o salmista: “Quando o Senhor restaurou a sorte de Sião, ficamos como quem sonha. Então a nossa boca se encheu de risos, e nossa língua de jubilo. Então, entre as nações se dizia: Grandes coisas o Senhor tem feito por nós. Com efeito, grandes coisas o Senhor tem feito por nós, por isto estamos alegres” (Sl 126.1-3)

Quando leio este texto em 2 Rs 3, fico impressionado ao perceber como são benditas e abencoaras estas manifestações celestiais, seus efeitos e resultados na vida. Porém, vemos que as manifestações de Deus possuem alguns traços que podem ser distinguidos:


1. As manifestações de Deus são resultado da sua graça – Veja o que acontece neste texto. O profeta Eliseu deixa claro sua repulsa pela vida espiritual que o rei Jorão levava. “Disse Eliseu: Tão certo como vive o Senhor dos Exércitos, em cuja presença estou, seu eu não respeitasse a presença de Josafá, rei de Judá, não te daria atenção, nem te contemplaria” (2 Rs 3.14).


Por que Eliseu reage assim?

Jorão era um rei ímpio e idólatra. Ele era filho de acabe e Jezabel, ícones da impiedade e oposição a Deus. Por isto Eliseu diz: “Que tenho eu contigo? Vai aos profetas de teu pai e aos profetas de tua mãe” (2 Rs 2.13). Jorão não tinha qualquer relação pessoal com o Deus de Israel, pelo contrário, tinha uma tendência a deuses e entidades pagãs. Agora que Eliseu estava diante dele e sabia de sua atitude e desprezo pelas coisas santas, age de forma dura. Manda que ele procure seus deuses falsos, afinal, ele não estava sempre dirigindo suas preces a estes deuses?

Apesar de sua vida espiritual torta, e seus vínculos com deuses demoníacos, Deus se manifesta de forma poderosa diante dele. Talvez por estar ao lado do rei Josafá (é bom andar com gente que anda com Deus, porque ao lado destas pessoas sempre vemos a graça de Deus em ação), e assim Jorão pode contemplar a intervenção sobrenatural de Deus diante do seu povo. Sua vida não lhe dava mérito algum para ser agraciado com a benção de Deus, entretanto, Deus age graciosamente com ele.

O texto mostra como Jorão é alguém que vive distante da compreensão de quem era Deus. Neste texto o vemos ironizando ou questionando, e sendo questionado, pelo menos três vezes:


A. Ele suspeita de Yahweh, o Deus de Israel – em 2 Rs 3.10 ao se ver em apuro pela falta de água, ele afirma: “Deus nos trouxe aqui para nos matar”. É como se ele estivesse cinicamente dizendo isto, ou apenas declarando isto. Ele não se move em direção a Deus para orar, apenas faz comentários de ironia, desprezo ou desconfiança de Deus.



B. Ele se opõe a Deus – Isto pode ser percebido pela forma como Eliseu reage diante dele. (2 Rs 3.13,14). Ele diz ao rei de uma forma popular: “Por que eu deveria orar por você? Você despreza a Deus, se curva diante de Deus, mas na hora que as coisas apertam você corre para ele?”



C. Ele vê Deus como rival – Isto pode ser constatado no seu cinismo: “Yahweh é quem chamou estes três reis para os entregar a Moabe” (2 Rs 3.13). Se esta afirmação viesse de um rei piedoso, seria uma declaração de fé, mas vindo de um homem ateu, parece deboche. A impressão que eu tenho é que ele está insinuando que Deus os trouxe ali para uma armadilha. Deus era rival, não aliado.


Apesar de tudo isto, Deus ainda revela sua misericórdia. Não é assim também conosco?

Apesar de não sermos merecedores da sua salvação, ele nos salva de forma amorosa, enviando seu Filho para morrer pelos nossos pecados. Deus nos resgata de forma gratuita, não há mérito. Não somos merecedores de sua benção, muitas vezes somos infiéis, apesar disto ele tem sido generoso conosco.

Muitas vezes nos sentimos como Davi, ao contemplar a maravilhosa graça de Deus sobre sua vida: “Então, entrou o rei Davi na casa do Senhor, ficou perante ele e disse: Quem sou eu, Senhor Deus, e qual é minha casa, para que me tenhas trazido até aqui?” (2 Sm 7.18).


2. As manifestações de Deus conspiram contra o óbvio – O que vemos neste Deus nos leva a concluir que Deus ironiza das impossibilidades. A ordem dada pelo profeta aos reis é estranha: “Assim diz o Senhor: fazei, neste vale, covas e covas. Porque assim diz o Senhor: Não sentireis vento, nem vereis chuva; todavia, este vale se encherá de tanta água, que bebereis vós, e o vosso gado, e os vossos animais” (2 Rs 2.16,17). Toda esta declaração nos parece um perfeito absurdo. 


Nonsense.

Cavar vales na areia seca? Fazer covas no deserto?
E ele adverte. 
Tem que ser pela fé mesmo... não haverá vento, não haverá chuva, todavia, este vale se encherá de água. Vai ser assim mesmo...

Ele não usa o meio convencional... muitos homens naquela época eram experts em descobrir canais aquíferos subterrâneos, já ouviram falar que isto também acontece no Brasil? Não é magia, embora pareça. Homens sertanejos, que descobrem filetes subterrâneos de água no nordeste, com pedaço verde de um galho de goiaba. Incrível, não?

Aqui o profeta não trabalha com o óbvio. Ele trabalha com o absurdo.

Cavem covas nos vales... não tem nuvem, não tem vento, não haverá chuva, mas um rio correrá neste lugar dando abundante água para todos vocês, e para seus animais. As águas vão chegar... apenas cavem buracos.

E daí a pouco, vemos um bando de “malucos”, cavando buraco no deserto, poeira levantando para todo lado. Então vem um soldado que não sabia da profecia dada por Eliseu e diz: “Ficou todo mundo doido? A falta de água já está causando alucinação coletiva?” ou, “estão se preparando para enterrarem seus corpos quando morrerem de sede?”

As manifestações de Deus resolvem conspirar contra tudo que parece óbvio.
É o Deus que diz a uma mulher de 90 anos que ela vai dar a luz a uma criança; que envia seu anjo para anunciar a uma jovem adolescente que ela vai engravidar-se sem ter qualquer envolvimento sexual com um homem. Deus parece rir-se das impossibilidades, zombar dos obstáculos, conspirar contra aquilo que parece ser normal. Elias, ao confrontar os profetas de Baal manda colocar água na lenha preparada para o altar. Ja tentou fazer fogueira com lenha molhada?

O que Eliseu pede para que os reis façam conspira contra o senso comum. “Assim diz o Senhor: fazei, neste vale, covas e covas” (2 Rs 3.16). Se eu estivesse lá, do meu jeito pragmático diria: “Não está vendo que estamos exaustos? Sedentos? Abrir buraco neste deserto seco só vai complicar a situação, só se formos para cairmos mortos dentro dele”. Contudo, apesar da obviedade, eles cavaram buracos, e “Pela manhã, ao apresentar-se a oferta de manjares, eis que vinham águas pelo caminho de Edom, e a terra se encheu de água” (2 Rs 3.20).

Não é interessante que o milagre ocorra na hora da oferta? Quando o povo adorava a Deus?


3. As manifestações exigem obediência – A ordem do profeta foi dada: “Fazei, neste vale, covas e covas” (2 Rs 3.17). Os reis, que ouviram a palavra do profeta, precisaram se submeter a esta “ridícula” condição.


Muitos milagres na Bíblia foram condicionados à obediência:

Em 2 Rs 5, Naamã é curado da lepra, sob uma condição: “Vai, lava-te sete vezes no Jordao, e ficarás limpo” (2 Rs 5.10). Naamã se irrita com a ordem. “Não são, porventura, Afana e Farfar, rios de Damasco, melhores que as águas de Israel?

Jesus em Caná da Galileia ordena que os servos encham de água as seis talhas de pedra, sendo que em cada uma cabiam cerca de 60 litros de água, numa região em que não havia água encanada, e a água deveria ser buscada numa fonte que servia toda vila.

A cura do cego de nascença: “Dito isto, cuspiu na terra, e, tendo feito lodo com a saliva, aplicou-o aos olhos do cego dizendo-lhe: vai, lava-te no tanque de Siloé (que quer dizer enviado). Ele foi, lavou-se, e voltou vendo” (Jo 9.6,7) Ele só foi curado depois que obedeceu às palavras de Jesus. Só passou a enxergar depois que se lavou.

Por que, em alguns casos como estes, Deus exige que algo fosse feito obter a cura? Só podemos entender isto como uma forma de demonstrar que cremos e por isto obedecemos. Deus não precisa de meios ordinários para realizar milagres, ja que ele faz como quer, mas muitas curas e vitórias se darão, não porque os milagres ja aconteceram, mas porque cremos nas promessas dadas por Deus.


4. As manifestações de Deus geram resultados que vão muito além das expectativas – Os reis procuram Eliseu porque a situação calamitosa da falta de água ameaça a vida deles e dos soldados. Por esta causa foram consultar o profeta, mas Deus não apenas lhes atende, como transcende o que pediam: “Isto é anda pouco aos olhos do Senhor, de maneira que também entregará Moabe nas vossas mãos” (2 Rs 3.18).


Deus não apenas lhes deu água para socorrer ao povo sedento, mas lhe deu ainda vitória contra os inimigos. Não haviam sequer pedido isto, mas Deus lhes dá além de suas expectativas e de seus pedidos.

Gostaria de mencionar dois aspectos pessoais que podem ilustrar:


Primeiro, a obra de Deus em minha vida pessoal sempre tem sido maior que eu esperava. Eu tenho tido mais honra, vitórias e bençãos que jamais poderia supor na minha história, na minha família. Eu sei que tudo isto é obra de sua graça em minha vida. Não há mérito algum nisto. Eu estou convencido desta verdade.



Segundo, a obra de Deus em meu ministério tem sido muito maior do que jamais poderia imaginar. Na verdade nunca tive grandes pretensões ministeriais, mas Deus foi me surpreendendo no decorrer da história e paulatinamente sua misericórdia foi me abençoando. Ao olhar tudo isto, só posso dizer como Davi: “Quem sou, e qual é a casa de meu pai, para o Senhor me abençoar tanto”.



Conclusão:

Gostaria de sintetizar o que até aqui foi dito:

A. As manifestações de Deus são resultado da sua graça – Deus foi misericordioso com Jorão, e assim tem sido conosco. Apesar de não sermos merecedores de sua benção, ele tem sido generoso conosco.

B. As manifestações de Deus conspiram contra o óbvio – Deus nos ordena apenas a crer. Precisamos crer diante das impossibilidades para experimentar a graça de Deus. Tem que ser pela fé mesmo... não haverá vento, não vereis chuva, todavia, este vale se encherá de água. Vai ser assim mesmo... O milagre se deu na hora da oferta de manjares, quando o povo adorava a Deus. Adore o Senhor...

C. As manifestações exigem obediência – Mesmo diante das aparentes “ridículas” condições. Muitos milagres na Bíblia foram condicionados à obediência.

D. As manifestações de Deus geram resultados que vão além das expectativas – Portanto, faça grandes coisas para Deus e espere grandes coisas de Deus.

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