sábado, 23 de abril de 2016

Ef 1.15-19 Que estranha oração...





Introdução:

Muitas pessoas me perguntam porque orar se a oração não muda a Deus, se seu propósito já esta estabelecido e se Deus já sabe de todas as coisas, e já que a história está nas suas mãos.
Deixe-me enumerar algumas razoes:
Primeira, oração não é para mudar o coração de Deus, mas para mudar o nosso coração. Quando oramos, alinhamos nossa visão à visão de Deus e experimentamos paz em saber que ele está dirigindo a história de forma santa, sábia e amorosa. 
Segunda, Jesus orou. Ele era Deus mas sempre o vemos orando intensamente, fazendo vigílias à noite toda, e fazendo retiros espirituais.
Terceiro, ele nos encorajou e até mesmo nos ensinou a orar.
Quarto, os discípulos de Cristo oravam e nunca questionavam porque deveriam orar, embora tivessem pedido a Cristo que lhes ensinasse a orar, talvez por perceberem quão difícil era a tarefa da vida devocional.
Quinto, O povo de Deus ora. Não encontramos na história da igreja uma comunidade crista que afirmasse não ser necessário orar. A experiência da comunidade cristã é sempre marcada pela luta e desafio de oração.
Este texto, porem, nos fala de outro aspecto da oração, ou de uma dimensão de oração que talvez ignoremos. Por isto colocou o titulo neste sermão de “que estranha oração...” Nesta oração, vemos o conteúdo da oração de Paulo. Quando leio atentamente est oração, fico assustado em constatar que tal oração é muito diferente do conteúdo das orações que diariamente faco.
a.     Ela é abrangente, não intimista;
b.     Ela é intensa, não superficial;
c.      Ela foco em profundos temas espirituais, enquanto minhas orações focam mais em temas cotidianos e coisas materiais.
Certamente esta oração não é estranha...
Minhas orações é que são estranhas, quando confrontadas com o conteúdo das orações dos discípulos e de Jesus. Se quiser entender melhor isto, veja o conteúdo da oração de Jesus na oração sacerdotal de Joao 17.

Vamos considerar estes aspectos enumerados acima:
a.     Abrangente, não intimista – considere seus pedidos e clamores e os compare aos temas propostos nesta oração bíblica. Quando você ora, se concentra em questões espirituais e coisas relacionadas ao reino de Deus e a vida espiritual das pessoas com as quais você se relaciona?
Lamentavelmente as orações que fazemos costumeiramente permanecem apenas num plano pessoal e intimista. São orações egocêntricas, voltadas para o eu: “dá-me, peço, ajuda-me, preciso”. Não ha nada errado em orar pensando naquelas coisas que estão acontecendo ao nosso redor e pelas pessoas que amamos, o problema é que ficamos apenas neste nível de oração. Não avançamos.
Não temos coração para orar por temas mais abrangentes como o reino de Deus, a paz mundial, o avanço missionário da igreja, batalhas espirituais. Eventualmente sequer oramos pelo nosso país e pela nossa cidade. O que ouvimos e lemos nas mídias não nos incomoda, o terremoto no Japão ou no Equador, os atentados terroristas na Nigéria, a incredulidade e secularismo das universidades, as centenas de jovens de são assassinados anualmente no Brasil, o dilaceramento das famílias, a destruição da moral e a corrupção institucionalizada em nosso país...
A oração de Paulo se parece estranha por ter maior abrangência que as orações introvertidas e narcisistas que fazemos.

b.     Intensa, não superficial – Sua oração envolve todo seu ser, penetra suas vísceras, não se trata apenas de uma declaração superficial. Ele realmente aprofunda o conteúdo das suas preces.
Na Epistola de Tiago lemos que Elias era um homem como nós, sujeito às mesmas variações de humor, teve profundas crises depressivas que o levaram a esconder-se de todos numa caverna, passou por sentimentos de vitimismo e de auto piedade, sentiu-se só e impotente diante dos desafios da vida, no entanto, a Bíblia registra que este homem frágil “orou com instancia, para que não chovesse sobre a terra, e, por três anos e seis meses, não choveu. O orou de novo, e o céu deu chuva e a terra fez germinar seus frutos”(Tg 1.17-18). Sabe qual a diferença entre sua oração e a nossa?
Uma palavra sintetiza. “Instância”, que muitos confundem com perseverança. O termo instância, porem, dá ideia de intensidade. Ele colocou seu foco no seu pedido. Sua oração era como um facho de luz concentrado que chamamos atualmente de lazer.
O problema de nossas orações é que oramos pouco e sem intensidade. Não penetramos nas questões mais profundas do âmago espiritual. Até oramos, mas superficialmente. Compare sua oração com a que Jesus fez no Getsêmani. Qual a diferença? Ele sua gotas de sangue. Isto é intensidade.
George Mueller, grande homem de oração na Inglaterra disse que o problema de sua mente na oração é que parecia ter passarinhos na sua mente, voando em todas as direções, impedindo de se concentrar. Já se sentiu assim?

c.      Foco em temas espirituais, não materiais. Isto tem a ver com o conteúdo. Em nenhum momento vemos nesta oração de Paulo qualquer pedido de bençãos materiais, ou mesmo por livramento da perseguição politica que estavam sobre a vida do povo de Deus. Ele não ora por prosperidade financeira ou sucesso profissional dos crentes.
É errado orar por estes temas? Não!
O problema é que só estes temas parecem ocupar nossas orações.
Paulo, pelo contrário, ora por temas espirituais pelos quais, talvez, nunca tenhamos orado.

Quais os temas que ocupavam sua oração?
1.     Espírito de sabedoria e prudência – quando recebemos a Cristo recebemos o Espirito Santo e somos selados por ele, como vimos nos vs 13 e 14. Fomos regenerados e selados com este Espírito. Então, por que Paulo pede espirito de sabedoria e prudência?
Estas duas palavras falam de orientação, e descrevem como devemos viver o dia de hoje. No AT, sabedoria (Hokma) significava “olhar a vida com os olhos de Deus, e então perceber o que ele está fazendo e envolver-se nisto”, ou, como afirma Gordon MacDonald, no seu livro Ponha em ordem seu mundo interior: “ver a vida através dos olhos de Deus”. Isto é perspectiva. Como Deus vê, este é o ponto fundamental.
Como precisamos disto. Nossos julgamentos e analises desconsideram ou não levam em conta Deus e seus santos propósitos. Como usar o tempo, os talentos, os recursos financeiros, o planejamento da vida, educação de filhos, cultuar a Deus. Por isto precisamos de espirito de sabedoria e prudência.

2.     Espírito de revelação – Dr. Shedd afirma: “revelação significa uma visão de todas as coisas, não apenas deste mundo que está desaparecendo (1 Co 7.30), mas uma visão de valores como são traduzidos no céu” (tão grande salvação, 26).
A verdade é que ninguém consegue fazer isto sem receber esta revelação, para entender e julgar a vida com tais valores  celestiais. Este texto mostra que uma coisa acompanhará esta atuação do Espirito: O pleno conhecimento de Cristo. Como precisamos conhecer a Cristo e nos identificarmos com sua obra e missão.

Este espírito de sabedoria e revelação traz iluminação aos olhos do coração – (Ef 1.18). Você sabia que coração tem olhos? Shedd afirma que iluminação originalmente é como o milagre de um homem cego que passa a ver. Em 2 Co 4.4 lemos: “O Deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos para que não lhes resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo”. Precisamos de iluminação interior para ter clara percepção das realidades espirituais. Não raramente agimos como pessoas andando no escuro, sem capacidade de julgar corretamente as coisas e tomar decisões moralmente corretas, ter sabedoria para discernir o certo do errado, o prioritário do urgente.
Quando os olhos do coração são iluminados, surgem três realidades maravilhosas em nossa vida. A expressão para (vs.18), dá ideia de resultado. Existem três elementos específicos deste conhecimento:

2.1. A esperança do chamamento – (vs.18). Você sabe porque você existe, e qual o plano de Deus para sua vida?
O mundo antigo e o atual sempre viveu sem esperança (Ef 2.12). para muitos, não ter nascido seria a maior felicidade, para outros, morrer seria um livramento. Li recentemente que o suicídio vem assustadoramente aumentando nos EUA, chegando a 30 em cada 100 mil pessoas. Na Noruega, existe mais suicídio que assassinato. As pessoas não sabem porque existem, perderam a esperança. Não saber o porque da existência causa um enorme buraco na alma, chamado no existencialismo de nihilismo. Vazio, nada, vaidade.
No dia 28 de marco faleceu a ultima irmã de minha mãe aos 89 anos. Tia Mariquinha teve uma vida conturbada, mas quando envelheceu foi assentando poeira, as inquietações aos poucos resolvidas e se converteu. Seis meses atrás , ultima visita que minha mãe lhe fez, ela lhe perguntou se ela tinha medo de morrer. Ela respondeu do seu jeitão simples e direto: “Medo de morrer? Eu tenho é dó dos que ficam”.
Ter esperança no chamado é uma maravilhosa benção. Paulo ora para que os cristãos de Éfeso pudessem experimentar a maravilhosa benção de ter sólida esperança.

2.2. A riqueza da glória de sua herança – Todos já ouvimos história de pessoas que receberam uma herança inesperada de um parente rico e distante que morreu sem deixar herdeiros e que pela proximidade de parentesco a herança lhes cabe. No dia 22 de Abril de 2016 faleceu Prince, um estranho, exótico e controvertido cantor pop. Prince deixou uma riqueza avaliada em 300 milhões de dólares, já era divorciado duas vezes, e não tinha contato com seus irmãos. Seu único filho morreu quando ainda era um bebê, e agora, a justiça americana terá de julgar quem pode ter direito aos seus bens, incluindo um jatinho particular.
Nem sempre somos capazes de entender a herança que temos em Cristo. “Nós jamais poderemos compreender o que significa para Deus ver completamente realizado o seu propósito, ver aqueles que suas mãos criaram, pecadores redimidos pela sua graça, refletindo a sua própria glória” (Bruce, Epistle to the Ephesians, pg. 40).
Você já parou para considerar a glória da sua herança em Cristo? Paulo ora para que a igreja pudesse saber a  riqueza que todos os santos em Cristo, redimidos pelo seu sangue, experimentarão.

2.3. A suprema grandeza de seu poder – vs. 19. Paulo ora para que os crentes pudessem saber que poder é este que se encontra à nossa disposição. Ele afirma que o poder que Deus disponibilizou para nós é o mesmo que ele exerceu em Cristo quando o ressuscitou dentre os mortos. Aquele mesmo poder que ressuscitou a Cristo dentre os mortos é o que opera na vida da igreja de Cristo. Paulo afirma que gostaria de conhecer o poder de sua ressurreição (Fp 3.11).

Será que entendemos isto?
Será que faz sentido esta estranha oração de Paulo para nossas vidas?
Este poder não apenas ressuscitou a Cristo, mas o colocou acima de todo principado e potestade (Ef 1.20,21). Este poder “dinamis” é eficaz e agiu de uma forma tão eficaz que todos poderes sobrenaturais e históricos não puderam contê-lo. O Império Romano, a maior potencia militar dos dias de Jesus, bem que tentou, selando o tumulo e colocando vigias, mas todo aquele aparato militar foi inútil diante do poder de Deus.
Paulo ora para que o povo de Deus soubesse qual a natureza do poder que estão sobre aqueles que creem em Cristo. Que extraordinário animo e coragem esta grande verdade pode trazer aos que creem em Cristo.

Conclusão:
Esta oração não é estranha por causa do seu conteúdo, nem porque é herética e sem sentido... A estranheza na verdade é a surpresa que temos quando oramos de forma completamente distinta deste conteúdo tão rico teologicamente e tão surpreendente nas suas verdades...
Então, se consideramos esta estranha oração de Paulo, e seus maravilhosos resultados. Por que oramos tão pouco? Por que os santos do passado gastam horas que sentiam passar como minutos, enquanto passamos momentos em oração que parecem horas?
Shedd afirma:
“Não entendo com profundidade o que significa ser escolhido ou predestinado, nem como as nossas orações, chegando à presença de Deus, mudam, transformam! Não sou da opinião de que Deus muda de atitude porque eu lhe peco que faca. Não. Ele já tencionava fazer o que estou pedindo, porque a minha oração é real quando eu penso junto com Deus os seus pensamentos. Mas, ao mesmo tempo, Deus restringe as suas bençãos de vida, de crescimento, de formar a sua imagem, se eu deixar de orar (...) Num sentido muito real, oração é colaboração com Deus” (Tão grande salvação, pg. 23).

Paulo ora esta estranha oração. Profunda, abrangente, com conteúdo espiritual. Precisamos aprender a orar, porque precisamos orar. Portanto,

“Ore quando sentir vontade de orar,
ore quando não sentir vontade de orar.

E ore, para que tenha vontade de orar”.

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