Introdução:
Em 2010, um megaprojeto, com valor estimado em 10 bilhões de dólares, reuniu as maiores cabeças pensantes no mundo da física. Este grupo de pesquisadores construiu uma pista subterrânea de 27 Km na fronteira da França e Suiça, para descobrirem o bóson de higgs, ou a partícula de Deus, que já vem sendo estudada por mais de 40 anos, para “comprovar a existência de uma partícula que não tem utilidade prática” (Revista Super Interessante), embora seja muito útil no campo teórico.
Esta partícula chegou a ser chamada de “o Santo Graal” da física, porque sem ela, o planeta terra não teria surgido a 13.7 bilhões de anos atrás, de acordo com a arqueologia. “A partícula de Deus não deixa de ser uma aposta na magia. Na magia divinatória da ciência” ( Super Interessante). Seus idealizadores ganharam em 2013 o prêmio nobel de física, encabeçada por um cientista escocês. Em suma, estão procurando este elemento que é o ponto central, que dá sentido e liga toda espécie de vida humana e do surgimento do universo.
A Bíblia afirma nestes dois versículos, que Jesus é este centro, do qual emanam todas as coisas.
Desde o vs 3, temos considerado as bençãos espirituais que Deus deu ao seu povo, e no vs 9, vemos a quinta benção: Segundo sua abundante graça, Deus desvendou ao seu povo o mistério de sua vontade, proposto em Cristo.
Participar deste mistério é fruto de sua graça.
O que não é mistério
As antigas “religiões de mistério” sempre existiram e ainda exercem forte atração para a geração pós-moderna, que é “espiritualizada”, no sentido pagão da palavra. Tais religiões usavam o termo “mistério”, para se referir a alguma iniciação esotérica que dela participavam, algo oculto. A maçonaria e o ocultismo ainda hoje falam destas etapas espirituais que permitem aos seus seguidores que aprofundem nos segredos da ordem. Na medida em que aumentam os graus e ritos de passagens, mais informações místicas e novas fórmulas recebem, trazendo certos privilégios e respeito na comunidade.
No Novo Testamento, a palavra “mistério”, possui um significado especial: a verdade de Deus revelada em Cristo. Não se trata de um segredo místico ou iniciação religiosa baseada em fórmulas mágicas como queriam os gnósticos, nem novas revelações como as pretendidas por pessoas místicas que se achavam detentoras de determinadas informações dadas por Deus a um grupo mais “espiritual”. Não depende de força mental, nem de mais “espiritualidade”. A salvação, ao contrário do que pensam os espiritualistas não vem pelo acesso a um mundo esotérico.
A palavra “mistério”, também não é algo incompreensível à mente. O Cristianismo prega, expõe, proclama e deseja que todos conheçam esta mensagem. O termo “mistério” aparece seis vezes na carta a Efésios (1.9; 3.3,4,9; 5.32 e 6.19), e outras 20 em outros textos.
Este mistério se torna conhecido pela obra do Espirito Santo no ser humano. Deus descortina sua verdade ao coração. Deus abre os olhos, tira as vendas espirituais e as pessoas passam a entender seu plano.
Que mistério é este?
Este mistério encontra-se em Cristo. Todo este mistério, a pessoa de Cristo, estava oculto em Deus até o tempo de sua histórica manifestação. Pedro afirma que havia certo frisson espiritual nas esferas celestes. “Foi a respeito desta salvação que os profetas indagaram e inquiriram, os quais profetizaram acerca da graça a vós outros destinada, investigando, atentamente, qual a ocasião ou quais as circunstâncias oportunas, indicadas pelo Espirito de Cristo, que neles estava, ao dar de antemão testemunho sobre os sofrimentos referentes a Cristo e sobre as glórias que os seguiriam. A eles foi revelado que, não para si mesmos, mas para vós outros, ministravam as coisas que, agora, vos foram anunciadas por aqueles que, pelo Espirito Santo enviado de céu, vos pregaram o evangelho, coisas essas que anjos anelam perscrutar” (1 Pe 1.10-12).
Os profetas, cujos sensores espirituais estavam mais conectados com as verdades espirituais, sintonizavam algumas coisas meio indecifráveis e enigmáticas; os anjos, por sua vez, queriam penetrar e participar historicamente desta tarefa, mas foram igualmente impedidos. Por isto, nos confrontos espirituais que Jesus teve com alguns espíritos malignos, vemos uma certa perplexidade assumida pelos demônios. “Vieste atormentar-nos antes do tempo?”(Mt 8.29). Isto nos induz a pensar, que entidades e seres malignos sabiam de um plano final, mas esta “invasão“ espiritual de Cristo, tornando-se carne no “meio da história”, parecia-lhes surreal, e antecipou o tempo para os demônios.
Com a vinda de Cristo, este mistério foi revelado.
“O mistério que estivera oculto dos séculos e das gerações; agora, todavia, se manifestou aos seus santos; aos quais Deus quis dar a conhecer qual seja a riqueza da glória deste mistério entre os gentios, isto é, Cristo em vós, a esperança da glória” (Col 1.26-27).
Tanto em 1 Pedro quanto em Colossenses, existe uma ideia de que “agora” , neste tempo, tais verdades estavam se revelando em Cristo.
Paulo afirma em Ef 1.9, que Deus “propusera em Cristo” revelar seu magistral plano arquitetado na eternidade, isto é, “antes da fundação do mundo” (Ef 1.4).
Esta foi, portanto, a proposta de Deus. Cristo é o mistério de Deus.
Este mistério nos foi revelado. “Desvendando-nos o mistério de sua vontade, segundo o seu beneplácito que propusera em Cristo” (Ef 1.9).
Em Ef 1.10, vemos que o mistério que nos foi entregue é, nada menos que a verdade última acerca do destino final do universo. O mundo caminha nesta direção, Deus fará “convergir em Cristo, na dispensação da plenitude dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu como as da terra”. Deus mostra, em Cristo, o seu plano final para o cosmo.
No capítulo 5 de Apocalipse, vemos a descrição de um livro, escrito por dentro e por fora, que se encontra na mão direita do Pai, representando o plano eterno de Deus. Este livro , diz Jacques Ellul, é “o livro da história do homem”.[1] “É o livro dos segredos e do sentido da história humana, simultaneamente acabado, certificado, mas incompreensível, ilegível, que, por outro lado, se revela como uma sucessão de tempo que na verdade deve realizar-se continuamente. Este livro contém, portanto, o segredo da história dos homens, da humanidade, mas este segredo é forçosamente a revelação das forças profundas da história e mais ainda da ação de Deus na história dos homens”.[2] e somente o Cordeiro pode abri-lo. Só o Cordeiro pode abrir o sentido da história, já que tal sentido não é fruto de casualidade, de acasos, de automatismos, mas da soberania de Deus e um certo número de forças abstratas que serão reveladas na abertura do selo destes livros.
Ele está escrito por dentro e por fora, porque é completo, acabado, nada pode ser acrescentado ao seu conteúdo, e encontra-se selado. Selo significa um fechamento radical, não pode ser invadido nem violado. Abrir o rolo e desatar os selos significa não somente revelar o plano de Deus, mas realizá-lo. Por isso, um forte anjo clama: “Quem é digno de abrir o livro de desatar os selos?”(Ap 5.2).
Ninguém, em todo o universo, nem no céu, nem na terra, nem debaixo da terra pode abrir o rolo e desvendar seu conteúdo. O livro é selado e só o Leão da tribo de Judá, pode desatá-lo. Com isto percebemos que Jesus encontra-se no centro de todo o sentido da história, e somente por meio dele, a humanidade encontra sentido. Jesus é a hermenêutica da história, o eixo central de todas as coisas.
Esta é a benção que temos aqui na carta aos Efésios. Deus se revelou ao seu povo e desvendou o mistério de sua vontade, de que, um dia, todas as coisas convergirão em Cristo.
Dr. Russel Shedd afirma:
“Cristo abriu o seu livro de informes. Ele nos tem oferecido o seu plano para o futuro, o que é maravilhoso em todos os sentidos. Assim não há necessidade de ficarmos desesperados diante da maneira como o mundo parece estar se tornando cada vez mais sujeitos às forças do caos”. (Tão grande salvação, pg 16).
O vs 9 afirma que Deus já propôs tudo isto segundo sua vontade (eudokia), que é traduzido na versão bíblica RA, como beneplácito, ou livre vontade. Deus determinou a convergência de todas as coisas em Cristo. Tudo adquire sentido no Leão da tribo de Judá, que é digno de abrir o livro e desatar os selos.
“O propósito de Deus é o estabelecimento de uma nova ordem, uma nova criação” (Bruce, pg 32). A expressão “todas as coisas” refere-se a toda criação. “Um dia, o universo de Deus, no qual o pecado introduziu a desordem e a confusão, terá restaurado a sua primeira harmonia e unidade, sob a supremacia de Jesus Cristo” (Curtis Vanghan).
Plenitude dos tempos (Pleromatos ton kairon).
Plenitude dos tempos refere-se ao tempo de Deus.
Galátas 4.4 sugere um momento particular, estabelecido e disponibilizado por Deus, para o cumprimento dos seus propósitos na história. “Vindo, porém, a plenitude dos tempos, Deus enviou seu filho, nascido de mulher”. Na hora estabelecida por Deus, a despeito de toda oposição do dragão conforme lemos em Apocalipse 12, quando a ampulheta do tempo de Deus se cumpriu, Deus enviou seu filho. Assim se dará novamente, no tempo estabelecido por Deus, no seukairós, Deus cumprirá seu plano e não há força no ceu ou na terra que pode impedi-lo, porque “os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis” (Rm 11.39). A Bíblia Vida Nova afirma: “iniciada na sua ressurreição, a reconciliação do universo com Cristo como sua cabeça reinante, terá seu auge quanto toda oposição será posta debaixo dos seus pés na sua segunda vinda” (Ef 1.22; Rm 8.18-21; Hb 2.8).
Conclusão:
A história tem um propósito.
O caos, o acaso, o improviso, a desordem, serão substituídas pelo governo de justiça do Senhor e do seu Cristo, que reinará para sempre. Surge então a ordem, a objetividade. Este pensamento contraria o conceito humanista e secularista de que “tudo que é solido se desmancha no ar”. A história segue uma ordem divina, um calendário divino e um propósito divino. Ela não se encontra dando piruetas sem sentidos, repetindo-se indefinidamente como afirma a visão cíclica da história, mas caminha para uma teleologia e propósito, como nos ensinam as Escrituras Sagradas.
O Universo possui um eixo central
Jesus ocupa este lugar central na história. O propósito de Deus é "fazer convergir nele" (grego: anakefalaiostai), todas as forças cósmicas e tudo será integrado em Cristo, tanto as coisas dos céus (ouranois), quanto as da terra (gês). Todas as coisas serão colocadas numa verdadeira relação com Cristo. Ele estabelecerá a harmonia. Para que, pelo seu sangue “reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, quer sobre a terra, quer nos céus” (Col 1.20). Todas as coisas, (grego: "ta panta). Ele estabelecerá a harmonia cósmica.
A convergência para Cristo acontecerá com a submissão do mundo a ele como o cabeça. Cristo já é o cabeça do seu corpo (Ef 1.22), mas, um dia, todas as coisas reconhecerão nele sua autoridade.. Cristo é o ponto final de convergência de todo o cosmo, Ele é o soberano Rei da terra (Ap 1.5). É o logos divino que fez todas as coisas pela palavra de seu poder (Col 2.16-17), e aquele para qual todas as coisas convergirão inexoravelmente (Ef 1.10,110. Este é "O divino programa da História" (Simpson).
O "mistério" é a convergência final de todas as coisas em Cristo; Deus fez de Cristo o centro de tudo, “porque aprouve a Deus que nele, residisse toda a plenitude”. (Col 1.19). Tudo vai “convergir” nele. Todas as coisas. Tudo encontra significado em Jesus;
Ninguém tem acesso a estas verdades, senão pela ação reveladora do Espírito Santo. Por isto quando Pedro fez a notável declaração de fé: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”, Jesus lhe respondeu: “Bem aventurado és, Simão, filho de Jonas, porque não foi carne nem sangue quem tu revelou, mas meu Pai que está nos céus” (Mt 16.16-17).
A restauração não apenas atinge a natureza humana, mas todo o cosmos. Envolverá todos os seres e coisas. Todo o cosmos será atingido pela sua glória. Inclusive os poderes invisíveis, principados e potestades.
Sua vida tem um sentido maior
Qual a implicação desta grande verdade para nossas vidas?
Muitas vezes nos sentimos assustados com as coisas que acontecem ao redor. Precisamos manter a perspectiva e o olhar no lugar certo. Por esta razão, milhares de pessoas já morreram por causa de sua fé em Cristo. Elas sabiam que Jesus as esperava na glória, que este momento específico da história era apenas transitório.
Nesta semana, muitos de nós enfrentaremos lutas, decepções, medo. Será que seremos capazes de entender que Jesus está presente neste caos e tem o controle de todas as coisas? Será que podemos descansar na sua soberania e na sua autoridade? Será que poderemos encontrar paz no meio da oposição, do caos e da insegurança?
Gávea- Rio Fev. 90
Refeito em Anápolis, Abril 2016
[1] Ellul, Jacques - Apocalipse: Arquitetura em movimento, São paulo, Ed. Paulinas, 1979, pg. 161
[2] Idem, pg. 161
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