domingo, 25 de junho de 2017

Ef 4.30 Não entristeçais o Espirito

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Muitas controvérsias históricas giraram em torno da pessoa do Espírito Santo e da Trindade.  A tradição teológica, tanto católica quanto protestante afirma e sustenta que o Espirito Santo é a terceira pessoa da Trindade, não apenas uma energia impessoal e uma força cega, mas uma personalidade.
A Bíblia fala do Espirito Santo tendo ciúmes por nós (Tg 4.5); afirma que podemos extinguir o Espirito Santo (1 Ts 5.18). o profeta Isaáis afirma: “Mas eles foram rebeldes e contristaram o seu Espirito Santo (Is 63.10), e neste texto somos exortados a “não entristecer o Espirito”.
Força e energia não podem ter ciúmes, nem contristar ou se entristecer. Só pessoas podem ter este tipo de sentimento.

Para termos uma boa perspectiva sobre o Espirito, a carta aos Efesios nos dá uma boa trilha:

è Ef 1.13: “Em quem também vós, depois que ouvistes a Palavra da verdade, tendo nele crido, fostes selados com o Espirito Santo da promessa”. Este texto fala da acao do Espirito nos selando, deixando uma marca, sinal de propriedade inviolável, tanto no que se refere ao selo real, quanto ao valor dos selos e postagens em nossos dias.

è Ef 1.14: “O qual é o penhor da nossa herança, em favor de sua propriedade até o resgate do dia do Senhor”. Ele não apenas sela, mas garante o cristão. A segurança espiritual que temos em Deus não é garantida por nos mesmos, mas pelo seu Espirito. Ele é o penhor, a garantia, a segurança.

è Ef 4.30: “Não entristeçais o Espirito de Deus, com o qual fostes selados para o dia da redenção”. Quando vivemos fora de sua vontade, causamos tristeza ao seu coração. O Espirito Santo é uma pessoa, e pode sentir tristeza e alegria, emoções relacionadas a quem possui personalidade.

è Ef 5.18: “E não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos do Espirito”.  O Espirito pode habitar em nós, mas sem santidade, com rebeldia e desobediência, rebelamos contra ele e dele nos esvaziamos.

Em Ef. 4.30, o texto que ora estudamos, vemos então a afirmação: “E não entristeçais o Espirito Santo”.
A conjunção aditiva “e” dá ideia de que o que até então havia sido dito no texto, está inteiramente conectado com o vs. 30. Uma vida guiada pelo Espirito Santo, que gerou em nós uma nova natureza (Ef 4.22-24), traz alegria ao Espirito Santo. Do vs. 25-29 observamos a Palavra nos ensinando sobre a verdade, ira, integridade e uso da palavra, para, em seguida dizer: “E não entristeçais o Espirito de Deus”.

O que vem a seguir, é uma continuação do eixo central do vs. 30.

Mentira, ira, furto, linguagem podre
=tristeza ao Espirito Santo,
assim como:
Amargura, cólera, ira, gritaria, blasfêmias e malícia.

Isto nos leva a entender que Nossos atos podem entristecer o Espirito. Algumas atitudes podem fazer com este Espírito que em nós habita se sinta triste.

Considere o que vem a seguir. De Ef 4.31 até 5.2.
A ira desemboca em duas direções, igualmente danosas: Amargura e cólera.

Amargura é a ira introjetada, aquela raiva não resolvida, sepultada viva, que deprime, adoece, entristece a contamina outros,
Estudiosos afirmam que “a ira é um pecado de superfície”, ela apenas aponta para algo mais profundo e não resolvido.
Em Hb 12.15, somos alertados para algo mais sutil em relação a amargura: Sua raiz. “Não haja entre vós, nenhuma raiz de amargura, que, brotando vos contamine, e por meio dela muitos sejam contaminados”.
O problema no coração do homem pode ser mais profundo – sua raiz, que pode brotar a qualquer momento e se tornar eventualmente uma frondosa arvore. O que esta raiz pode fazer: Ela pode nos contaminar e contaminar outros. A radiação da ira é tão devastadora quanto o Césio 137 e a usina atômica de Chernobyl.

Cólera é uma ira manifesta
É a ira que se projeta, saindo da pessoa, atingindo outros. É igualmente devastadora, só que no primeiro caso, ela é voltada contra si mesmo, no segundo, contra os outros. Em geral ela vem acompanhada de gritarias e blasfêmias (xingatórios, acusações pesadas). 
A cólera é uma das manifestações desta ira se manifesta em forma de agressões e violência. Ela é o lado externo da ira.

Nós sabemos os seus efeitos: explosões, violência, assassinatos.
Muitas famílias sofrem severos danos por causa da adrenalina de um pai desequilibrado ou de uma mãe descompensada. São as gritarias

A Malicia surge no texto, como um dos comportamentos que entristecem o Espirito Santo.
Malícia tem a ver com o mal, com as intenções do coração.
a.     Podemos ser maliciosos ao induzir determinadas pessoas ao engano e à mentira;
b.     Podemos ser maliciosos no trato com pessoas de outro sexo, na forma de olhar, insinuar, agir com atitudes carregadas de sensualidade e olhares impuros.
c.      Podemos ser maliciosos na linguagem de duplo sentido, no qual você diz algo, sem dizer. A Pessoa maliciosa quando confrontado pode se defender dizendo que não quis dizer o que o outro entendeu, etc.
d.     Podemos ser maliciosos no julgamento critico ou analise que fazemos de outras pessoas.

Malicia tem a ver com o coração desalinhado, com motivos tendenciosos e fúteis. Podemos fazer coisas aparentemente boas, mas com intenções e motivações deliberadamente malignas.

Novo jeito de ser (Ef 4.32)
No vs 32, alguns princípios são descritos, que trazem alegria e louvor a Deus. São eles:

a.     Benignidade – Bondade em ação. São gestos e atitudes que refletem nosso compromisso com Deus. Num mundo auto-centrado, a benignidade nos convida a olhar para fora de nós mesmos e estendermos as mãos àqueles que precisam de nosso apoio e suporte;
b.     Compassividade – tem a ver com compaixão. Diferente da dó, ou pena, que não necessariamente nos move em direção ao outro, embora nos sintamos “tocados” pela miséria e dor. Compaixão nos tira do conforto e comodismo e nos leva a agir em favor do necessitado e do desemparado.
c.      Perdão – é o ato de liberarmos os outros das falhas cometidas. Gosto da metáfora que alguém fez ao afirmar que quem perdoa, sofre a perda, fica no prejuízo. Perdoar é ficar no prejuízo. Perdão, por sua vez, seria o aumentativo da perda: uma grande perda!
No entanto, para aqueles que não querem perdoar porque sabem que “estão perdendo”, vale a pena a recomendação de Dallas Willard: “Se você não quer perdoar porque não quer perder, pense na perda que você terá em viver sem perdoar”.

Conclusão: Nosso modelo
Nosso modelo é Cristo: “Como também, Deus em Cristo, vos perdoou”.
A Bíblia fala um pouco mais: “Andai em amor, como também Cristo vos amou e se entregou a si mesmo, por nós, como oferta e sacrifício a Deus, em aroma suave”(Ef 5.2).
O que nos move e nos inspira à compaixão, bondade e perdão é Cristo!
Foi assim que ele nos tratou. Nós o desprezamos, fomos rebeldes, sem mérito algum, mas ele se sacrificou por nós, apesar de tudo isto, e nos amou sacrificialmente.
Certa vez recebi uma pessoa precisando de ajuda em minha casa. Ele andava pela rua, mas ainda assim o levei para tomar banho em casa, dei comida, e depois ele começou a acusar a igreja, falar contra pastores, mesmo sabendo que eu era um pastor, e falar contra Deus.
Em determinado momento da conversa nada amigável, eu lhe disse: “Você sabe porque estou recebendo você em minha casa? Eu não teria nenhum motivo para me expor, expor minha família e acolher alguém que nem sei de onde vem ou para onde vai. Sabe porque estou fazendo isto? Por causa deste Jesus que você acusa e deste Deus contra o qual você blasfema. Não estou recebendo nada em troca. Só Jesus pode inspirar-me a isto.
Depois disto ele ficou mudo e pensativo...

O que nos move?
Retribuição?
            Reciprocidade?
                        Reconhecimento?
                                    Glória pessoal?
                                                Benefícios?
Não!
Jesus não se moveu em direção a nós movido por qualquer um destes interesses.
Ele fez isto por amor.
Ele sacrificialmente se ofereceu por nós.


Como podemos, portanto, entristecer o Espirito Santo que ele nos deu?

sexta-feira, 23 de junho de 2017

Quem é Jesus?


É fascinante estudar a Pessoa de Jesus na Bíblia. Basta uma olhada rápida apenas no Evangelho de João para nos impressionarmos com a descrição que é feita da pessoa de Jesus. Na verdade, uma pessoa curiosa encontrou 121 descrições sobre a majestade de Jesus apenas neste Evangelho.
Eis algumas delas.

1. Deus (Jo 1.1); 
2. A Palavra (Jo 1.1);
3. Criador; (Jo 1.10); 
4. Filho único do Pai (Jo 1.14); 
5. O Cordeiro de Deus (Jo 1.36); 
6. O Messias (Jo 1.41; 6.69); 
7. O Noivo (Jo 3.29) 
8. Água viva (Jo 4.14); 
9. O Salvador (Jo 4.42); 
10. O Pão da Vida (Jo 6.35); 
11. Aquele em quem devemos crer (Jo 6.39); 
12. O libertador (Jo 8.36); 
13. O Eterno (Jo 1.15; 8.58); 
14. A luz do mundo (Jo 9.5); 
15. A porta (Jo 10.7); 
16.A ressurreição e a vida (Jo 11.25); 
17. O Senhor (Jo 13.13); 
18. O Caminho (Jo 14.6); 
19. A Verdade (Jo 14.6); 
20. A vida (Jo 14.6); 
21. A videira verdadeira (Jo 15.1); 
22. O Rei (Jo 18.36); 
23. O cumprimento das Escrituras (Jo 19.29); 
24. Aquele que deu o Espírito Santo aos Seus discípulos (Jo 20.22); 
25. Aquele que disse aos Seus discípulos. “Sigam-me!” (Jo 21.19); 
26. O bom pastor (Jo 10.11); 
27. O Intercessor (Jo 17.9).



quinta-feira, 22 de junho de 2017

Gal 3.15-29 A História do Evangelho


Introdução:
A Bíblia é uma unidade, e seu único tema é o Evangelho. Ela não é um conjunto de fábulas morais isoladas, mas cada passagem aponta e revela o propósito de Deus para salvar a humanidade através de Cristo. A promessa de Deus a Abraão (3.15-18) é confirmada por Moisés (3.19-24) e finalmente cumprida em Cristo (3.25-29). Nós somos membros de seu povo redimido, apenas uma parcela entre todas as gerações. (3.26-29 cf. Rm.8.28).
Uma das coisas fascinantes das Escrituras é esta unidade essencial, no qual a cruz encontra-se no centro. Muitas pessoas se assustam quando começam a ler a Bíblia e se deparam com o sacrifício de animais, especialmente no livro de Levítico. Mas quando lemos a carta aos hebreus no Novo Testamento, nos deparamos com a seguinte afirmação: “Com efeito, quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam com sangue; e, sem derramamento de sangue, não há remissão” Hb 9.22). Desta forma entendemos, que todas as coisas da lei apontavam para o sacrifício de Cristo, sendo figuras, ou tipos, de Cristo (Hb 10.1). Esta unidade e coerência entre os mais 40 escritores, que viveram em contextos culturais, geográficos e históricos diferentes, é uma das coisas mais fascinantes da Bíblia.

Abraão e a Promessa apontam para Jesus.
Quando Deus fez sua promessa a Abraão, este pacto foi firmado para sempre. Para todos os efeitos, ainda estamos debaixo do mesmo pacto da promessa que Deus fez a Abraão. Mesmo quando a lei surgiu, 430 anos depois, Deus não desfez sua aliança com Abraão, o pacto está firme (Gl 3.15). Paulo faz uma interpretação curiosa deste texto. Ele não entende que Deus fez pactos com os “descendentes” (plural), mas com o “descendente”(singular). O pacto, na verdade foi feito com Jesus, pacto este realizado desde os tempos eternos no conselho trinitário do Deus Pai, Filho, e Espirito Santo. Por isto, em Apocalipse 13.8 vemos a referência de que o Cordeiro de Deus foi morto, antes da fundação do mundo.
Por que o pacto foi feito com Jesus e não com os homens. Porque o homem não consegue cumprir a sua parte. Quando Deus propôs a Abraão, ainda no Éden, que ele o obedecesse, este primeiro homem, poderia muito bem resistir à tentação, no entanto a sucumbiu.
Agora, então, Deus faz uma nova aliança, com Jesus.

Esta aliança não foi baseada na obediência, mas na promessa.
Mesmo quando a lei chegou, 430 anos depois, ela não pode “ab-rogar”ou desfazer a Promessa. A Lei de Moisés não mudou os propósitos de Deus. A promessa (gratuita) opera de forma distinta da Lei (retribuição). O pacto está firmado na obra de Cristo, e não na competência moral e espiritual do homem. Moisés e a Lei apontam para Cristo. O propósito da Lei não era o de providenciar meios de auto-salvação, mas mostrar nossos pecados e, portanto, nossa necessidade de Jesus. v.19-20.
Enquanto não entendermos que somos incapazes e sem poder de obedecer a lei, nós ainda não entendemos o ponto principal do ensino da lei. v.21-22            Uma visão limitada da lei nos conduz a uma limitada visão da graça. Apenas aqueles que se sentem acuados e prisioneiros da lei podem ser conduzidos a Cristo. v.23-24

Cristo e o Evangelho.
Cristo introduziu um novo capítulo na história da Redenção (Gl 3.25). Ele retira de nós a dependência da Lei, e nos leva à fé. A lei é temporária e jamais poderia resolver nosso problema. v.25-26 e, pelo Evangelho, nos traz maturidade (vs 24) A lei é incapaz, porque fundamenta-se em regras, não princípios. Por isso é necessário o aio.
O aio é um tutor designado pelos homens para conduzir crianças numa fase em que elas não possuem maturidade para tomar decisões pessoais. Este foi o papel da lei, nos tutoriar, nos proteger, criar uma cerca para que o homem não se perdesse.

Cristo, porém, faz algo maior. Ele nos dá sentimento de aceitação e segurança. Ele nos adota. (Gl 3.26). Ele nos reveste de seu poder (vs 27). O relacionamento com Deus é baseado na intimidade, não na performance. Há uma nova forma de poder baseado na comunhão com o Filho. Cristo faz-nos herdeiros irrestritos da herança Abrâmica (Gl 3.29).

Gálatas 4.21-31 Sara e Agar: Alegorias do Evangelho



Este texto pode levar muitas questões sobre como interpretar a Bíblia. Ele usa o nascimento dos dois filhos de Abraão – Ismael e Isaque - como alegoria. Devemos interpretar a Bíblia da mesma forma? Uma das regras que adotamos para interpretar corretamente a Bíblia é discernindo o propósito original do autor. Quando dissemos: quebrei a cara! Não necessariamente estamos dizendo que sofremos uma fratura na nossa mandíbula, ou que sofremos um acidente, mas podemos estar usando isto para se referir ao fato de que fizemos alguma coisa tola, ou tomamos uma decisão equivocada. Quando Paulo lê esta passagem, no entanto, ele alegoriza uma história real, um fato acontecido.
Em geral, a Igreja Reformada rejeita a interpretação alegórica, preferindo o método histórico gramatical. Isto é, resgatar o contexto geográfico, cultural e da história e analisar gramaticalmente o significado da frase, buscando entender, o mais próximo possível, qual era a ideia do autor ao usar o termo e a frase que usou.

O que este texto nos ensina?
Primeiro, há duas formas de se aproximar de Deus: Pela lei ou pela graça. Como foi Ismael (Agar), e como foi Isaque (Sara).

 Dos versículos 21-23, começamos entender o que aconteceu.  Deus disse a Abraão e Sara que eles deveriam ter uma criança de forma sobrenatural no entanto, o que fizeram? Confiaram nos seus recursos humanos para gerar um filho, através de Agar.

Agar e Sara, falam de Sinai e Sião, representam dois caminhos para aproximar-se de Deus. Um, confiando na capacidade humana outro depositando sua confiança nos atos sobrenaturais de Deus.
De forma prática, o que disseram com suas atitudes?
ü  “Não precisamos de Deus” ... Isto é autonomia
ü  “Podemos fazer do nosso jeito!” ... Isto é independência.
ü  “Quem precisa de Deus?” ... Isto é orgulho.

O que fez Sara?
Deus fizera uma promessa, mas os anos vao se arrastando e as palavras de Deus começam não mais a criar esperança, mas gerar desilusão. Os anos se passam, Sara agora está com 90 anos. Vendo-se deprimida, começa a bolar um plano para Deus ou interpretar a palavra de Deus do seu jeito. “-Será que Deus realmente disse que ´eu´ geraria filhos ou está falando disto simbolicamente?”. “Eis que o Senhor me tem impedido de dar à luz filhos; toma, pois, a minha serva, e assim me edificarei com filhos por meio dela” (Gn 16.1). Sara resolve o problema. A palavra de Deus não iria se cumprir, mas ela dá um “jeitinho” na promessa de Deus.

O que fez Abraão?
Na conversa com Sara, o texto responde laconicamente: “E Abrão anuiu ao conselho de Sarai” (Gn 162).
Sara realmente queria que seu marido se envolvesse com uma escrava jovem? Que mulher, em sã consciência faria isto? Se não queria, porque fez a proposta.
Na verdade, Sara faz o que comumente as mulheres fazem: Elas dizem sim quando querem dizer não e não quando querem dizer sim.
O que Abraão deveria ter feito?
  1. Como marido, cuidar afetivamente de Sara. O que ela queria é ouvi-lo dizendo que não faria isto, que ela a amava, e que tudo daria certo, e apenas a abraçasse afetuosamente.

  1. Como crente, ele deveria ter reafirmado o que tão claramente ouviu: “Deus falou que me daria um filho por meio de você. Vamos manter firme a nossa confiança, porque para Deus não haverá impossíveis em todas as suas promessas”. Se ele assim procedesse, reafirmaria a fé de sua esposa. Não fazendo isto, ele reforçou sua suspeita. “-Será que Deus realmente falou com meu marido?”

Portanto, Agar e Sara apontam dois diferentes caminhos: Um confiança nos recursos humanos e o outro, confiança plena na promessa de Deus. Independentemente das circunstâncias.

No caminho das “obras humanas”, somente pessoas férteis como Agar podem gerar frutos, mas no caminho da graça, mesmo pessoas estéreis como Sara, podem ser produtivas. A graça nos faz produzir frutos independentemente de nosso passado ou condição, e de forma muito mais frutífera que o esforço humano pode fazer.

Segunda lição:
O texto afirma que “Como, porém, outrora, o que nascera segunda a carne perseguia ao que nasceu segundo o Espírito, assim também agora” (Gl 4.29). O filho da escrava perseguia o filho da promessa. Paulo estava vendo isto acontecer novamente na igreja da Galácia. Os judaizantes estavam impondo rituais, fazendo exigências desnecessárias, praticando bullying com aqueles que aprenderam a confiar apenas na graça. A dependência apenas da graça os levava a serem acossados pelo legalismo judaico.
É isto que faz a religião quando distanciada da graça.
Agar agride Sara. Ismael humilha e rejeita Isaque.  
Os filhos da graça serão sempre incompreendidos e sofrerão ataques dos filhos da religiosidade de escravidão, aqueles que ainda se firmam naquilo que podem fazer, isto é, nas suas obras, sempre cobrarão dos filhos da graça, mas isto não pode nos fazer retornar novamente à escravidão.
Paulo mostra como estavam sendo acusados:
Gl 5.8: “Esta persuasão não vem daquele que vos chama”
Gl 5.9: “Um pouco de fermento, leveda toda a massa”. O fermento do legalismo é contagiante.
Gl 5.10: “...Aquele que vos perturba...” A Lei pressiona de todos os lados. Ela perturba, é reincidente. Faz exigências. Acusa.

Resultados:
Optar por viver debaixo da Lei (Agar), ou da aliança da graça (Sara), fará uma enorme diferença na nossa adoração e na forma de viver.

ü  O da escrava vive de acordo com a carne. Baseia-se no recurso, na competência, naquilo que a carne pode fazer e nas soluções que ela apresenta: “Eu mesmo faço!” Quem vive na graça, baseia-se na promessa e não na habilidade humana. “Se Deus não fizer, ninguém fará; é impossível!”
ü  Agar gera escravidão (Gl 4.23). Sempre dependendo do que devemos fazer, oscilando entre conquistas pessoais e fracassos. O da graça, vive na dependência daquele que pode fazer muito mais, porque “para Deus não haverá impossíveis em todas as suas promessas”. Sara riu quando soube da notícia. Ela, como nós, somos mestres em confiar nas nossas estratégias: “Vá, e possua Agar!”, ao invés de confiar nas promessas (Gn 18.10-15).
ü  Agar resulta em auto glorificação: “Yes, we can!”. Graça resulta em louvor: “Yes, He can!”
ü  Agar não precisa da promessa. “Por que depender de Deus se temos nossas soluções?” Se necessário, é só providenciar um atalho para Deus e chamar Agar. Ela pode gerar. Quem precisa de Deus? Mas os que vivem sob a graça, são filhos da promessa. São surpreendidos pelo Deus maravilhoso que pode todas as coisas (Gl 5.28).

Conclusão:
Lança fora a escrava e seu filho, porque de modo algum o filho da escrava será herdeiro com o filho da livre!” (Gl 5.30). Os dois filhos não podem coexistir, nem compartilhar o mesmo espaço. A Graça não transige com a lei.
Abraão teve que confiar nas promessas.
“Abraão creu em Deus e isto lhe foi imputado por justiça!”
Enquanto Abraão caminhou firme nas promessas, Deus fez o sobrenatural.
Quando Abraão decidiu fazer seus próprios caminhos, isto resultou no conflito milenar entre judeus e árabes que perdura até hoje.
A rebeldia de Abraão resultou em fracasso
A fé nas promessas (graça), resultou em milagre.




quarta-feira, 21 de junho de 2017

Sofonias: Quatro maneiras de se aproximar de Deus?




Sofonias foi um dos profetas que viveu quase nos dias em que Jerusalém foi tomada pela Babilônia. Apesar de não sabermos exatamente quando ele viveu, suas profecias rondam pelos anos 630-609 a.C., e Jerusalém foi invadida em 598 a.C., portanto, ele viveu cerca de 10-30 anos antes da queda. Ele deve ter ouvido os rumores de guerra que rondavam uma região quando algum grande exército estava se aproximando. A situação da cidade, certamente, se tornava quase impossível de se sustentar, de tanta tensão. Os babilônios, como geralmente acontecia com grandes impérios, faziam grandes arrastões, deixando atrás de si uma legião de órfãos e milhares de mortos.

Sofonias era homem de Deus. Ele percebia espiritualmente as causas de tamanho fracasso do povo de Deus. Apesar dos insistentes apelos de Deus ao arrependimento, o povo se recusava a mudar. a situacao espiritual do povo era lamentável, atingindo todos os setores da sociedade: Executivo, judiciário e religioso (Sf 3.3-4). Profetas e sacerdotes, pastores e padres, todos, estavam na mesma situação moral lamentável. 

A relação do povo com Deus estava profundamente abalada. Os profetas pré-exílicos estavam constantemente clamando ao povo para que voltasse a Deus, se arrependessem de sua idolatria e seus pecados, se convertessem. Entretanto, os clamores eram vazios. A rebeldia, obstinação, desobediência, marcavam aquela geração. Nada mudava.

Sofonias descreve em rápidas palavras, as quatro formas equivocadas do povo em relação a Deus:

1.     Espiritualidade sincrética – “Os que sobre os eirados adoram o exército do céu e os que adoram ao Senhor e juram por ele e também por Milcom” (Sf 1.5). A adoração a Deus era idolátrica e confusa. Adoravam o exército do céu, uma referência à adoração aos astros, aos ídolos babilônicos tão mesclados com misticismo relacionado aos astros. A astrologia era muito aceita entre estes povos do oriente.

É interessante observar, que entre a adoração eles mesclavam Yahweh e Milcom. O primeiro, o Deus das alianças no Antigo Testamento. O nome mais sagrado entre o povo judeu. O segundo, um deus canaanita. O texto afirma que adoravam ao Senhor e também Milcom. Uma enorme confusão de divindades.

O Deus das Escrituras Sagradas, porém, nao divide sua glória com ninguém. Por isto Elias exortava o povo de Israel no seu tempo: "Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se Baal é Deus, segui-o; se Yahweh é Deus, segui-o" (1 Rs 18.21). Jesus diz a mesma coisa: "Não podeis servir a dois senhores..." (Mt 6.24).

2.     Apostasia – “Os que deixam de seguir ao Senhor, e os que não buscam ao Senhor, nem perguntam por ele” (Sf 1.6). Se no primeiro cenário há um grupo sincrético, no segundo vemos um cenário de apostasia, pois eles “abandonaram a Deus e nem sequer perguntavam mais por ele”. Deus havia sido abandonado. O texto não afirma que deixaram de crer, eles ainda mantinham certos pressupostos sobre Deus. Eles, contudo, pararam de " seguir". Obedecer a Deus, fazer sua vontade, não cabia mais no estilo de vida que adotavam.


3.     Indiferença – O terceiro grupo é o dos “...que não buscam ao Senhor, nem perguntam por ele” (Sf 1.6). Isto é, Deus não fazia parte da cultura e da conversa daquele povo. Deus fora esquecido.

A indiferença e a frieza, são muito comuns aos nossos corações. Simplesmente esfriamos o coração e nos distanciamos da sua presença. Na maioria das vezes isto ocorre de forma paulatina e gradual. Esfriamos na comunhão, não lemos a Palavra, não temos mais desejo de orar, nos distanciamos do povo de Deus, a indiferença toma conta do nosso coração. Não o buscamos nem perguntamos por ele.

4.     Secularismo – “...dizem no seu coração: O Senhor não faz bem, nem faz mal” (Sf 1.12). Este é outro grupo igualmente complicado. Não é que eles questionassem a existência de Deus, antes criam que Deus era ausente da vida terrena. Deus não intervém na história.

Um exemplo clássico de secularismo pode ser encontrado no relato da destruição de Sodoma e Gomorra. Quando os anjos anunciam a Ló que Deus destruiria a cidade, ele logo procurou sua esposa, filhas e futuros genros para dizer o que estava para acontecer (Gn 19). Vocês acham que isto gerou quebrantamento e arrependimento no coração daqueles jovens? Pelo contrário, o texto afirma: “Acharam, porém, que ele gracejava com eles” (Gn 19.14). Eles acharam que era uma gozação, uma piada, ou uma brincadeira de mau gosto do sogro. Afinal, desde quando Deus intervém na história da humanidade?

O secularismo, lamentavelmente, pode atingir efetivamente o coração do povo de Deus.
Creio que o fato de orarmos tão pouco, e das reuniões da igreja serem tão esvaziadas, se deve ao fato de não acreditarmos que Deus “realmente” ouve nossas orações e que elas gerem algum efeito na história humana e na nossa vida pessoal.

Não descremos de Deus, mas intimamente achamos que ele “não faz bem nem mal”. Curiosamente em nenhum destes cenários vemos pessoas negando a existência de Deus. Não existe um ateísmo conceitual, eles não negam a realidade de Deus, mas vivem como se ele não existisse.

Aplicações:
Diante deste cenário, o que Deus fala ao seu povo?

A.   Deus o convida a auto-reflexão: “Concentra-te e examina-te” (Sf 2.1). Deus convida o seu povo a pensar neste quadro, a repensar seus conceitos sobre Deus e sobre a sua forma de agir na história. Kierkegaard afirma que “uma vida não analisada não é uma vida digna de ser vivida”.

Precisamos considerar nossa história. Não nos descuidarmos de tudo isto que o povo de Israel estava vivendo. Infelizmente não há muita diferença entre a espiritualidade daquele povo e a nossa. Ou achamos que estamos em momento diferente?

B.    Deus chama seu povo a buscá-lo – “Buscai o Senhor, vós todos os mansos da terra, que cumpris o seu juízo; buscai a justiça, buscai a mansidão, porventura  lograreis esconder-vos no dia da ira do Senhor” (Sf 2.3).
Nossa espiritualidade é superficial, precisamos admitir que buscamos pouco a face de Deus, embora Deus constantemente desafie seu povo: “Buscar-me e me achareis quando me buscardes de todo coração”. “Buscai o Senhor enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto” (Is 55.6).

Estranhamente o povo pagão e os místicos tem buscado recursos esotéricos. Não são poucos pagãos que consagram suas vidas a rituais e sacrifícios que requerem alto nível de consagração. Veja as exigências do paganismo, e como tais religiosos se consagram aos seus sacrifícios. Assim como nos dias de Jesus, os magos saem do Oriente para se encontrar com Jesus porque “viram uma estrela no Oriente”, enquanto os escribas e sacerdotes que lidam diariamente com a palavra de Deus, são indiferentes aos acontecimentos na pequena vila de Belém, que ficava a apenas 10 kms de Jerusalém. Nem sequer se dão o cuidado de verificar se aquilo que ouvem tem validade.

C.    Deus reafirma seu juízo – “Está perto o grande Dia do Senhor; está perto e muito se apressa. Atenção! O Dia do Senhor é amargo, e nele clama até o homem poderoso” (Sf 1.14). Sofonias está ouvindo o rufar dos tambores. Profeticamente anuncia uma tragédia que aconteceria 10-20 anos depois. O juízo de Deus estava chegando. “Atenção!”, não descuide! Não brinque! O Senhor vem.

O conceito do Dia do Senhor é declarado várias vezes em Sofonias, que é também chamado de “O profeta do Dia do Senhor”.  O juízo de Deus veio. A hora chegou. Mas apesar do anúncio profético, o povo de Deus não se arrependeu, nem lamentou sua situação e destruição.

D.   Deus reafirma sua misericórdia – Este é o outro aspecto dialético da mensagem de Sofonias. O dia do juízo é uma realidade, mas Deus deseja anunciar também o dia da redenção. A nota final do profeta do “Dia do Senhor”, é de júbilo e redenção.

Tanto o juízo quanto a misericórdia se deram.

O juízo veio cerca de 20 anos depois, quando Jerusalém foi saqueada e destruída. O juízo de Deus chegou sobre aqueles que achavam que “Deus não fazia bem nem mal”, e que haviam se esquecido de Deus.

A misericórdia foi anunciada pelo profeta, mas ele não viu seu cumprimento. Apenas 70 anos depois a palavra de Deus dita pelo profeta Jeremias se cumpriria. O povo de Deus retornaria do cativeiro. Mas aquela geração só viu o juízo, não viu a misericórdia.

Buscar ao Senhor, e voltar para ele, é uma forma de escaparmos do seu juízo iminente. É a única forma de vivenciarmos antecipadamente sua graça.

O Senhor, teu Deus, está no meio de ti, poderoso para salvar-te; ele se deleitará em ti com alegria; renovar-te-á no seu amor, regozijar-se-á em ti com jubilo” (Sf 3.17).

Conclusão:

O livro de Sofonias não termina com um lamento, mas com um louvor: “Naquele tempo, eu vos farei voltar e vos recolherei; certamente, farei de vós um nome e um louvor entre todos os povos da terra, quando eu vos mudar a sorte diante dos vossos olhos, diz o Senhor” (Sf 3.20). E isto de fato se deu. Mas infelizmente aqueles a quem esta mensagem do profeta Sofonias anunciou, só experimentaram o juízo. A misericórdia e glória só chegariam 70 anos depois. “A misericórdia prevalece sobre o juízo”, mas o juízo é duro. Não precisaríamos passar por ele se nos voltássemos a Deus e quebrantamento e humildade. 

sábado, 17 de junho de 2017

Jo 6.1-14; 25-27 Igreja consumista


Um dos grandes perigos da igreja moderna é deixar de ser uma igreja repleta de discípulos, seguidores de Cristo, e se transformar numa igreja consumidora, que se aproxima da comunidade para receber, e não para servir.
Este texto narra a multiplicação dos pães.
De forma maravilhosa Jesus lida com um problema muito comum na vida de muitas pessoas em tempos de escassez. Ele alimentou cinco mil homens, por causa do seu maravilhoso poder. Embora estejamos certos de que o milagre seja resultante de uma operação sobrenatural de Deus, é importante observar alguns princípios aplicados por Jesus neste texto.

Como vencer a escassez?
Jesus usa quatro princípios aplicáveis a cada um de nós, em qualquer realidade que estejamos vivendo.

1.     Organização“Disse Jesus: fazei o povo assentar-se” (Jo 6.10). Princípio simples. Em tempos e situações de escassez, com dinheiro curto, recursos limitados, é importante dar um pouco de ordem ao caos. Um pequeno planejamento pode gerar grande efeito.

Muitas pessoas estão com suas contas bancárias estouradas, devendo no cartão de crédito e cheque especial, a juros exorbitantes, sem saber como pagar, sofrendo pressões e angustiado por seus débitos, dando mau testemunho, perdendo sono, enfraquecendo o testemunho do evangelho. Precisam gastar um tempo, ainda que pequeno, para organizar a vida.
Jesus sabia que se não fosse estabelecida uma mínima ordem naquele ambiente de pessoas cansadas e com fome, seria impossível resolver o problema. Então seu primeiro princípio foi: “sente e organize!”
Quando assentamos, avaliamos, pensamos, descobrimos o que é supérfluo e necessário, repensamos prioridades, fazemos cortes e diminuímos gastos. Quando assim fazemos, descobrimos que é possível viver com menos, e mais simplicidade, podendo desfrutar tempo de refrigério. Sem organização não é possível ter ideia de como as coisas estão. Não há economia que funcione quando se gasta mais do que se recebe, quando as despesas são maiores que as receitas.

2.     Gratidão – “Então, Jesus tomou os pães e, tendo dado graças, distribui-os entre eles” (Jo 6.11). Jesus agradece o pão que eles ainda não possuíam. Quando nos organizamos para resolver o problema da escassez, a primeira coisa a fazer é orar, agradecendo a Deus.

Deus abençoa fidelidade. Quando as pessoas dependem de Deus, e levam sua gratidão e oração a Deus, muita coisa linda acontece. A botija de azeite começa a jorrar. A oração multiplica os recursos. Considere, porém, que não adianta orar sem organizar. Há muitas pessoas orando e gastando, com a contabilidade destroçada e sem planejamento, mas mesmo devedoras, não deixam de ir ao shopping e comerem em restaurantes. Precisamos pedir graça, mas considerando a real situação que temos.
Em relação ao dinheiro, pelo menos dois princípios, duas regras simples, podem ser apreendidas na Bíblia:

a.     Deus abençoa pessoas que tratam seus bens com seriedade. Sabem viver dentro dos seus limites. Como Deus pode abençoar uma pessoa desregrada?

b.     Deus abençoa pessoas fieis. O princípio da fidelidade na Bíblia está sempre associada com prosperidade e benção. São muitos textos bíblicos, tanto no AT, como no NT, que trazem promessas de Deus àqueles que colocam seus bens a serviço do reino. Como Deus abençoaria a infidelidade?

3.     Generosidade - “Então, Jesus tomou os pães e, tendo dado graças, distribui-os entre eles” (Jo 6.11). Jesus olhou os parcos recursos e fez algo impensável: mandou seus discípulos distribuírem.

É comum retermos quando temos pouco e não distribuirmos. Um conhecido ditado nordestino afirma: “farinha pouca, meu pirão primeiro”. Jesus contraria este princípio, ao tomar cinco pães e dois peixes, e começar a distribuir. Este é o poder da generosidade, assim funciona a lei da semeadura. Quem quer colher, planta... para plantar é necessário abrir mão da semente. Muitos ainda insistem em comer a semente...
Aprenda a dar, contribuir, distribuir. Desafie-se a abençoar outros, a investir no reino de Deus. Use seus bens para glorificar a Deus, edificar o reino de Deus e abençoar outras vidas.

4.     Não desperdice – “E quando já estavam fartos, disse Jesus aos seus discípulos: recolhei os pedaços que sobraram, para que nada se perca” (Jo 6.12). Ora, Jesus tinha poder para multiplicar muito mais, e parece ser um contrassenso mandar recolher o que sobrou, mas foi o que ele teve cuidado de fazer.

O princípio aqui é de que não podemos jogar fora a benção daquilo que Deus nos dá. O Brasil tem sido campeão de desperdício. Ha muitas famílias com dificuldade de ajudar, mas com grande facilidade em desperdiçar. Compra-se o que não precisa, joga comida fora, vive na cultura do supérfluo. Isto não se encaixa com a visão do reino de Deus, como nos ensina Jesus.
No final do texto, há uma lição de bom senso: “E encheram doze cestos de pedaços dos cinco pães de cevada, que sobraram aos que haviam comido”(Jo 6.13).

Os consumidores
Depois de toda esta experiência maravilhosa da multiplicação, o texto narra a interessante reação de um grupo: “Vendo, pois, os homens, o sinal que Jesus fizera, disseram: Este é verdadeiramente o profeta que devia vir ao mundo. Sabendo, pois, Jesus, que estavam para vir com o intuito de arrebatá-lo para o proclamaram rei, retirou-se novamente, sozinho, para o monte” (Jo 6.15).
No meio de todo este milagre, surge uma vertente curiosa: Os adoradores, que reconhecem  a majestade de Cristo como Senhor, agora se confundem com os consumidores, que se aproximam de Jesus para tirar proveito dele.

Surge aqui o grupo dos adoradores/consumidores.

Na verdade não há adoradores que sejam consumidores, pois estas duas formas de se aproximar de Deus são antagônicas e inimigas, mas no meio dos adoradores, surge gente interessada em outra coisa. Eles viram Jesus como um produto, para alcançar e atingir determinadas ambições pessoais.

Esta é uma grande ameaça à fé em Cristo na pós-modernidade.
Ovelhas estão se transformando em clientes, consumidores, que querem ou buscam a igreja para receber os benefícios da fé, mas que não entenderam a importância do serviço, do arrependimento, do discipulado, nem a necessidade de seguir Jesus. São apenas consumidores.
Eugene Peterson, faz a seguinte afirmação: “Essa mentalidade de igreja-loja, onde esperamos encontrar um sabor que sacie cada preferência é espiritualmente destrutiva. Não vejo nada de bom surgindo do louvor de uma igreja que atende nossa preferencia de adoração”.
Podemos distinguir algumas marcas deste tipo de adoradores:

Primeiramente, é um grupo exigente, sofisticado
Tem uma agenda pessoal sobre o tipo de produto que deseja, buscando melhor preço, comodidade e um bom custo/beneficio.

Frequentam a igreja como se vai a um supermercado. Em busca de melhores disposições das prateleiras, melhores preços e ofertas. Se encontrarem outra igreja servindo coca-cola no bebedouro, com dízimo de 8%, vão se mudar de comunidade. Não são discípulos, mas apenas consumidores.
Querem uma música de qualidade, uma boa palavra (que, preferencialmente não os incomode, não fale de seus pecados), mas não querem pagar por isto. Não contribuem, mas são críticos, não ofertam mas reclamam do calor e do banco duro. Tem bom gosto, mas não querem servir como garçons e preferencialmente se assentam como clientes de um restaurante, trazendo seus guardanapos para serem servidos ao invés de virem à igreja com avental, prontos para servir. Qualquer sacrifício é dolorido. Qualquer esforço, penoso. Querem o melhor que a igreja pode dar, mas não querem ser discípulos de Cristo. Por isto é fácil verem pessoas querendo cuidados especiais com seus filhos mas que nunca abriram suas casas, jamais ofereceram um lanche, e nunca dispuseram de tempo para ajudar e apoiar os lideres de ministérios.
Consumismo é o gene do capitalismo. Os consumidores exigem e as companhias suprem suas exigência. É o que chamamos de On-Demand Society (Sociedade On-Demand). 

Em segundo lugar, estão sempre insatisfeitos
Parecem crianças mimadas, querendo satisfazer desejos e necessidades, mas não entenderam o evangelho.

Crentes consumidores apreciam programas, estratégias, adrenalina nas programações, mas seus corações não estão sendo transformados pela submissão ao Evangelho e à Cristo. A adrenalina substitui a autêntica experiência com Deus. O consumismo religioso não é apenas uma força a ser domada, mas um sistema de valor anti-bíblico.

Não tem compromisso
Não sacrificarão nada de sua “boa vida”, para a obra do Senhor. Se a programação da igreja estiver num horário adequado, ele pode até atender, desde que não surja outra programação mais interessante. Nenhum sacrifício. A verdade, porém, é que fé que não custa nada, não vale nada.

Assentam-se confortavelmente em seus bancos, gostam do programa, do cardápio que a igreja oferece, mas se um programa infantil para seus filhos for melhor em outro lugar, se encontrarem um pastor com voz “mais aveludada”, que seja “politicamente correto”, que fale de um cristianismo soft , mudarão de endereço. A lógica é de um supermercado, o pensamento é de consumidor.

Conclusão:
Sabendo, pois, Jesus, que estavam para vir com o intuito de arrebatá-lo para o proclamaram rei, retirou-se novamente, sozinho, para o monte” (Jo 6.15).

Jesus percebe o movimento do coração destas pessoas e se afasta.
Por que?

Jesus não quer ser rei de soluções terrenas, mas quer ser rei de seus corações. A obra de Cristo não é satisfazer o desejo político e consumista de alguns daqueles seguidores vorazes em sugar e ter ganhos pessoais.

Em seguida afirma: “Em verdade, em verdade vos digo: Vós me procurais, não porque vistes sinais, mas porque comestes dos pães e vos fartastes”(Jo 6.26). Jesus censura a atitude consumista deste grupo, que se aproxima de forma interesseira, sem entender a centralidade de sua mensagem. São pessoas atrás de respostas rápidas, querem transformar Jesus naquilo que ele nunca quis ser. As pessoas estavam com uma visão equivocada sobre seu ministério. A proposta do evangelho era outra.

E então, Jesus adverte: “Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela que subsiste para a vida eterna, a qual o Filho do Homem vos dará; porque Deus, o Pai, o confirmou com o seu selo” (Jo 6.27).

A mentalidade consumista dos seguidores de Cristo precisa ser quebrada e confrontada.

Igreja não existe para atender todas necessidades e demandas de um povo consumista. Igreja é uma comunidade que deve ter a preocupação de transformar seus participantes em pessoas desejosas de servir, adorar, sacrificar e se necessário morrer para que o reino de Deus progrida.
É muito fácil transformar uma comunidade num supermercado, shopping  ou restaurante, para onde vamos quando queremos, se quisermos, e se for conveniente. É necessário entender que há uma comida, pela qual você deve trabalhar. Jesus te convida para participar de seu reino, mas como súdito. O “reizinho”, exigente que governa sua vida precisa ser quebrado, para que a glória de Deus seja revelada.